SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

terça-feira, 17 de dezembro de 2024

SOBRE OS 70 ANOS DA UFC E A PERSISTÊNCIA DA EXCLUSÃO, VIOLÊNCIAS E DESTRUIÇÃO DO MEIO AMBIENTE NO CEARÁ.





O que define o conhecimento superior nas Universidades no mundo é a capacidade crítica e criativa. Se faz necessário refletir o contraditório, a antítese do que em 70 anos as Reitorias da UFC não fizeram ou poderiam ter feito mais. Afinal muitos discursos públicos são em nome dos pobres, dos estudantes, suas famílias, e das comunidades mais vulneráveis onde muitas vezes são produzidos e negados os conhecimentos. Sobre a função social da UFC. 

Carcará
Pega, mata e comeCarcaráNão vai morrer de fomeCarcaráMais coragem do que homemCarcará
Pega, mata e come.



A homenagem a Maria Bethânia é um bom começo sobre as razões de sua arte, cultura e poesia. As letras falam por si mesmas, assim como sua crítica aos muros da Universidade no discurso que agradeceu o Doutorado e o pedido de outra educação na Universidade que enfrente a exclusão, que una sentido, sentimentos e razão. Mas o quanto as Reitorias em 70 anos fizeram  em prol dessa mudança na educação ? O quanto reforçam um modelo de educação em que 60 % dos cearenses não concluíram o ensino médio, que reforça bilionários e uma economia que privilegia poucos em detrimento da pobreza e desigualdades que atingem a maioria da população, uma UFC que lutou contra a ditadura militar mas cala para Ditadura da corrupção e oligarquia que mantém esses modelos nas últimas décadas. É simbólico que um prédio da UFC funcionará no antigo Aquário, onde se enterrou centenas de milhões em corrupção no Governo da Oligarquia. No Ceará, com milhares de jovens mortos pela violência, o crime enterra corpos, não podemos como sociedade nos calar para corrupção e enterrar os direitos de vidas dos pobres cearenses roubados em prédios. Nem fazer parte de uma política cultural comandada pela oligarquia que privatizou equipamentos culturais sobre o controle da Oligarquia, e nega a democracia, o acesso à cultura e a falta de transparência como vimos recentemente na lei Paulo Gustavo. O corredor cultural para além da Avenida da Universidade, Reitoria e Dragão do Mar tem que ser pensado no que gera a exclusão e negação da autonomia de milhares de produtores de culturas neste estado. 

Afinal a violência histórica no Ceará se dá pela construção de prédios, praias para estrangeiros, bilhões em incentivos fiscais, que nega um mínimo de cidadania e dignidade para maioria dos cearenses. Ao invés disso, fortalecemos privilégios de famílias que vivem da política há décadas com péssimos resultados sociais, morte de milhares de jovens e mulheres. Negando inclusive a ciência e a crítica social como nas politicas públicas, apesar da existência dos cientistas chefes, ou no caso do TCE com um fake news da futura conselheira sobre a luta das mulheres. 

A política de construção e abandono de prédios na UFC merece uma pesquisa, principalmente se comparado com a política de extensão e estudantil que exclui e leva ao abandono de jovens pobres e das comunidades onde moram. Jovens que levaram décadas de suas vidas estudando para chegar à Universidade merecem condições melhores de ensino, aprendizagem e permanência na Universidade. Assim como o conhecimento que melhore as vidas das comunidades pobres que pagam os salários dos professores e mantém a Universidade pública. A extensão é um dos melhores caminhos agora por lei.  

Nos últimos dois anos temos lutado com a Reitoria da UFC para levar projetos de extensão com ciência para o Jangurussu com poucos avanços. Assim como no último mês levar a comunidade para comemorar os 70 anos na UFC, não com cursos e projetos sociais que não mudam vidas, conforme os parâmetros da ciência ou as vozes democráticas da comunidade, poucos escutadas e negadas. Não se trata de um grande evento, nem da entrega de homenagens a privilegiados, nem de prédios, nem vender projetos de professores para o Governo, mas um ato para escutar o que pensam as comunidades sobre a Universidade, mas que também não teve nenhum apoio, pelo contrário.

Claro que vários professores da UFC ao longo de 70 anos dedicaram suas vidas às lutas políticas e sociais, a extensão e produção de conhecimento em nome dos excluídos e trabalhadores. Em nome deles, uma outra Universidade é possível como Maria Bethania homenageada nos 70 anos da UFC clamou a gestão universitária presente no evento. Essa é a maior homenagem que a UFC pode fazer nesses 70 anos; essa é a maior diferença que o atual Reitor Custodio pode fazer é plantar um legado social que olhe de frente para a pobreza e as desigualdades que sofrem os cearenses, quer seja para propor caminhos ou denunciar.  Nunca mais a omissão de gestões anteriores é a nossa esperança.         



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sábado, 16 de novembro de 2024

A epidemia de ansiedade com matemática no Brasil e no mundo revelada por estudo da OCDE.

 

A epidemia de ansiedade com matemática no Brasil e no mundo revelada por estudo da OCDE

Professora mostra lousa com cálculos para aluno

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Houve um aumento na ansiedade em relação à matemática na grande maioria dos 81 países avaliados

A principal pesquisa internacional sobre educação, feita pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), mostra que os estudantes estão desenvolvendo uma postura cada vez mais negativa em relação ao aprendizado de matemática.

O Pisa (Programa para a Avaliação Internacional dos Estudantes, na sigla em inglês) mostra que houve um aumento acentuado no nível de ansiedade em relação à matemática entre os alunos da grande maioria dos 81 países avaliados, especialmente no Brasil.

Na média dos países da OCDE e parceiros, 65% dos estudantes têm ansiedade em relação às suas notas em matemática e cerca de 40% dos estudantes ficam nervosos, tensos ou desamparados resolvendo problemas matemáticos. No Brasil, esses índices são ainda mais altos: 79,5% e 62,3% respectivamente.

Divulgados nesta quarta (13/11), os dados mostram uma análise mais profunda dos resultados dos testes aplicados em 2022, pouco após o fim da epidemia de covid-19.

O relatório é a continuação da primeira parte do estudo, publicada em 2023. O Pisa é realizado a cada três anos pela OCDE em 81 países, entre membros e parceiros da organização. Na edição de 2022, que teve participação de cerca de 700 mil estudantes de 15 e 16 anos, a matemática foi o foco da prova.

Na maioria dos países houve um aumento nesses índices de ansiedade em relação à matemática em comparação com 2012, com Europa e América Latina tendo aumentos significativos. Coreia do Sul, Singapura e Tailândia foram os únicos países onde os índices de ansiedade caíram entre 2012 e 2022.

Segundo a OCDE, esses resultados são preocupantes. “Isso pode impactar não apenas desempenho, mas sua prontidão para o aprendizado ao longo da vida”, diz o relatório. “Essa descoberta também sugere que o bem-estar dos jovens se deteriorou, e são necessárias políticas públicas para cuidar da saúde mental dos alunos.”

A cada edição, o Pisa escolhe um tema para fazer um aprofundamento — em 2022, o estudo se dedicou a entender como os alunos lidam com estratégias de aprendizado e quais suas posturas em relação à vida.

Questão de confiança

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Episódios

Fim do Novo podcast investigativo: A Raposa

Um dos principais índices analisados foi a chamada autoeficácia dos alunos: “o quanto os alunos acreditam em suas habilidades e capacidades de praticar certas atividades e realizar tarefas, mesmo quando encontram dificuldades”.

“A autoeficácia tem a ver com o aluno aprender a controlar seus impulsos e emoções para ter disciplina de aprendizagem voltada para o atingimento de metas”, explica a especialista em educação Cláudia Costin, ex-diretora global de Educação do Banco Mundial.

“Tem a ver com o quanto o aluno consegue ser o protagonista da própria vida escolar para realizar seu projeto de vida”, explica Costin.

O Pisa 2022 mostrou que paises com os menores níveis de autoeficácia foram também os que tiveram maiores níveis de ansiedade com a matemática. É o caso da Argentina, do Brasil, de Brunei, Camboja, Chile, Costa Rica, República Dominicana, Guatemala, Malásia, México e Filipinas.

“Alunos mais confiantes e alunos menos ansiosos fazem mais perguntas quando não entendem algo que está sendo ensinado”, diz o relatório. “Eles são mais proativos e mais motivados em seu aprendizado.”

“Todas as estratégias de aprendizado e motivações sustentadas ao longo da vida estão relacionadas a alunos que se sentem mais confiantes para resolver tarefas matemáticas e menos ansiosos sobre matemática, independentemente de seu desempenho”, destaca o trabalho.

Alunos em sala de aula

Crédito,AFP

Legenda da foto,Autoconfiança é um fator fundamental no desenvolvimento dos alunos

Pensar matematicamente

No Brasil, os problemas no ensino da matemática vão ainda mais longe, afirma Claudia Costin.

“Temos um problema grave de ensino de matemática independentemente de ansiedade e independente da pandemia”, afirma ela.

Nos resultados da primeira parte do Pisa 2022, que mostravam o desempenho dos alunos nas provas, a média de pontos do Brasil (veja os gráficos abaixo) foi de 379 em Matemática, 93 pontos abaixo da média da OCDE (de 472 pontos).

gráfico

Como em todas as outras edições da avaliação, realizada desde 2000, os resultados de 2022 mostram que a condição socioeconômica dos alunos está diretamente relacionada ao desempenho em matemática. O fator socioeconômico é responsável por 15% da variação no desempenho dos alunos tanto no Brasil quanto na média da OCDE.

No entanto, mesmo os alunos mais ricos no Brasil tiveram um desempenho em matemática abaixo da média da OCDE. Os alunos brasileiros em todos os estratos sociais tiveram um desempenho em matemática abaixo dos alunos com perfil socioeconômico parecido em países com o mesmo perfil do Brasil, como Turquia e Vietnã, diz o relatório da OCDE.

“Os resultados mostraram que 73% dos alunos brasileiro não chegaram ao nível básico de conhecimento. Isso é gravíssimo, realmente inaceitável”, diz Costin.

A especialista aponta que este resultado está ligado ao fato de que no Brasil não ensinamos os alunos a pensar matematicamente.

“É uma questão de método e de preparo do professor. É preciso que os professores tenham uma didática específica para matemática, que ensine os alunos a pensar matematicamente em vez de apenas resolver exercícios”, afirma ela.

Como o ensino de matemática no Brasil é muito focado em fórmulas e na resolução de exercícios, diz Costin, o aluno memoriza e sabe responder nas provas, mas em uma prova minimamente diferente, como a do Pisa, ou na aplicação do conhecimento na vida real, o aluno fica perdido.

Os resultados do Pisa sobre a ansiedade mostraram essa dificuldade: mesmo os alunos que se mostraram confiantes em sua habilidade de resolver exercícios na sala de afirmaram ter pouca confiança para aplicar os conhecimentos no dia a dia.

Para mudar esse cenário, é fundamental que o Brasil mude a formação que os professores têm recebido na faculdade, segundo Costin. Além de uma didática específica para matemática, é preciso maior diálogo entre teoria e prática.

“Os professores precisam ser ensinados da mesma forma que vão ensinar os alunos”, afirma. “Como o professor vai passar confiança, melhorar a autoeficácia dos alunos, se muitas vezes ele próprio não tem essa autoeficácia?”

Para Costin, outro fator é o tempo de aula.

“Países com bons sistemas educacionais têm entre sete e nove horas de aula por dia. No Brasil, o ensino fundamental tem só quatro horas de aula. Isso é muito insuficiente”, afirma Costin.

Segundo a OCDE, países que tiveram menores índices de ansiedade e melhor desempenho em matemática, como Coreia do Sul e Singapura, se destacaram também pela relação positiva dos professores com os alunos.

“Países como Coreia e Singapura demonstraram que é possível estabelecer um sistema educacional de primeira linha mesmo partindo de um nível de renda relativamente baixo, priorizando a qualidade do ensino e com mecanismos de financiamento que alinham recursos com necessidades”, escreve Mathias Cormann, secretário-geral da OCDE, no relatório.

Para garantir que todos os alunos atinjam um nível mínimo de conhecimento, Singapura oferece opções de aulas diferentes para alunos de acordo com seu grau de aprendizado.

Segundo o estudo, isso faz com que os alunos com mais dificuldade recebam o reforço necessário para ter os conhecimentos que vão usar durante a vida, ao mesmo tempo que fornece aprofundamento para os que têm mais interesse e aptidão.

quarta-feira, 6 de novembro de 2024

UM MAL EXEMPLO PARA O MUNDO! AS ELEIÇÕES VIROU BUSINESS DE APRENDIZES SEM LEI, INSENSÍVEIS ÀS VIDAS E A MISSÃO DO ESTADO, CONSTITUIÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS.



O tamanho de nossa luta é pequena que não altera em nada toda essa estrutura, mas ela não nos impede de pensar e dizer a verdade de forma honesta e sincera para construirmos a História por outros caminhos. E assim como a luta de Gandhi, Mandela e milhares de líderes espalhados pelo mundo. Nós buscamos conscientizar pessoas ampliando suas capacidades críticas e revoltas para construir outros caminhos para suas vidas. É muito fácil culpar os pobres, negros, imigrantes, gays e outros pelos problemas de nossa sociedade, como faz Trump, quando a verdadeira culpa é das brutalidades e violências de nossa elite. Será que os filhos da elite ou mesmo da classe média estudariam se não tivesse comida, casa, saúde ?  A resposta é sua, mas não há ética em nossa sociedade quando brutalidades e violências de políticos são aplaudidas em troca de bens de consumo e dinheiro.


Não existe Estado, Constituição e Democracia com a insensibilidade das elites as dores, sofrimentos e vidas dos pobres. A sensibilidade nos ensina a Democracia, aprender a escutar e sentir a voz e a dor do outro ou mesmo a nossa. A sensibilidade nos ensina a ouvir os sonhos, entender o poder da imaginação para criar novos horizontes para nossas vidas e cidades. Mas não podemos esquecer os traumas psíquicos e as expressões de corpos das pessoas pobres como nos ensina Dostoievski, Victor Hugo e Tostoi; pois esses corpos revelam fome, doenças, e violências que irão impactar as políticas públicas a vida toda. 




https://www.youtube.com/watch?v=JWOzNkw17Qk


O Estado e as eleições são o grande negócio das elites que fabrica e gera impunidade para bilionários. Várias pesquisas têm provado como empresas tem se transformado em instrumento de poder e loucuras para psicopatas, somada a uma educação neoliberal individual que busca enriquecer a qualquer preço por meio da liberação de impostos, corrupção, violências e insensibilidades as custas do coletivo, da sociedade, da democracia e da justiça social. Um mundo sem lei cada vez mais dominado por vários tipos de máfia e seus ditadores.     


Qual a diferença entre Trump, Putin e Maduro? Nenhuma. Trump com 37 crimes julgados na Justiça, Putin invadindo países, e Maduro comandando uma Ditadura. Bilionários influenciando votos e campanha com muito dinheiro. Hitler foi eleito pelo sentimento de desespero e ódio para fazer a Alemanha grande de novo e deu em guerra mundial. Assim como Putin quer a Grande Mãe Russia grande de novo. Muitos na justiça, bilionários, imprensa, políticos, ninguém mais está preocupado com o Estado, a Democracia e as políticas públicas. Tudo virou business e aprendizes de falsos empresários. Sim o mundo preferia uma mulher negra, pobre, filha de imigrantes como a maioria do mundo, mas 1% feito pelas elites da extrema direita escolheram outros caminhos para lidar com as eleições.  

E há tempos, nem os santosTêm ao certo, a medida da maldadeE há tempos, são os jovens que adoecemE há tempos, o encanto está ausenteE há ferrugem nos sorrisosE só o acaso estende os braçosA quem procura abrigo e proteção.


terça-feira, 22 de outubro de 2024

4 dados que mostram por que Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, segundo relatório.

 

4 dados que mostram por que Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, segundo relatório

Pessoas buscando comida entre alimentos descartados, em foto de outubro de 2021

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,A metade mais pobres do Brasil ganha 29 vezes menos do que os 10% mais ricos
  • Author,Daniela Fernandes
  • Role,De Paris para a BBC News Brasil

O Brasil permanece um dos países com maior desigualdade social e de renda do mundo, segundo o novo estudo lançado mundialmente nesta terça-feira (7/12) pelo World Inequality Lab (Laboratório das Desigualdades Mundiais), que integra a Escola de Economia de Paris e é codirigido pelo economista francês Thomas Piketty, autor do bestseller O Capital no Século 21, entre outros livros sobre o tema.

O novo Relatório sobre as Desigualdades Mundiais é o segundo realizado desde 2018 e teve a colaboração de cerca de uma centena de pesquisadores internacionais.

O documento de mais de 200 páginas inclui análise sobre o impacto da pandemia de covid-19, que exacerbou o aumento da fatia dos bilionários no total da riqueza global. Pela primeira vez o estudo inclui dados sobre as desigualdades de gênero e ecológicas (a pegada de carbono entre países ricos e pobres, mas também entre as categorias de renda).

O estudo se refere ao Brasil como "um dos países mais desiguais do mundo" e diz que a discrepância de renda no país "é marcada por níveis extremos há muito tempo".

O texto afirma que as diferenças salariais no país foram reduzidas desde 2000, graças sobretudo à política de transferência de renda do Bolsa Família e ao aumento do salário mínimo. Ao mesmo tempo, os níveis extremos de desigualdade patrimonial no país continuaram aumentando desde meados dos anos 90.

"Entre os mais de 100 países analisados no relatório, o Brasil é um dos mais desiguais. Após a África do Sul, é o segundo com maiores desigualdades entre os membros do G20", disse à BBC News Brasil Lucas Chancel, principal autor do relatório e codiretor do Laboratório das Desigualdades Mundiais.

A seguir, quatro dados do novo relatório que mostram por que a desigualdade de renda e de patrimônio no Brasil é uma das maiores do mundo:

1. Os 10% mais ricos no Brasil ganham quase 59% da renda nacional total

No Brasil, a renda média nacional da população adulta, em termos de paridade de poder de compra (PPP, na sigla em inglês), é de 14 mil euros, o equivalente a R$ 43,7 mil, nos cálculos dos autores do estudo. Os 10% mais ricos no Brasil, com renda de 81,9 mil euros (R$ 253,9 mil em PPP), representam 58,6% da renda total do país. O estudo afirma que as estatísticas disponíveis indicam que os 10% mais ricos no Brasil sempre ganharam mais da metade da renda nacional.

Área mais rica do Rio de Janeiro em contraste com favelas

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Área mais rica do Rio de Janeiro em contraste com favelas; no Brasil, 10% mais ricos concentram quase 60% da renda nacional

O Chile, que não integra o G20, tem números equivalentes (58,9%) ao Brasil em relação à fatia de renda dos mais ricos. O país sofreu nos dois últimos anos uma onda de violentos protestos por melhores condições de vida. Nos Estados Unidos, país com fortes desigualdades sociais, os 10% mais ricos ganham 45% da renda geral do país, ressalta Chancel. Na China, esse índice é de 42%. Na Europa, ele se situa entre 30% e 35%, completa o economista.

Já o 1% mais rico no Brasil, com uma média de renda de 372 mil euros (quase R$ 1,2 milhão), em paridade de poder de compra, leva mais de um quarto (26,6%) dos ganhos nacionais.

2. Os 50% mais pobres ganham 29 vezes menos do que os 10% mais ricos

A metade da população brasileira mais pobre só ganha 10% do total da renda nacional. Na prática, isso significa que os 50% mais pobres ganham 29 vezes menos do que recebem os 10% mais ricos no Brasil. Na França, essa proporção é de apenas 7 vezes.

"O Bolsa Família conseguiu reduzir uma parte das desigualdades nas camadas mais pobres da população", diz Chancel. Mas em razão da falta de uma reforma tributária aprofundada, além da agrária, a desigualdade de renda no Brasil "permaneceu virtualmente inalterada", já que a discrepância se mantém em patamares muito elevados, aponta o estudo.

3. A metade mais pobre no Brasil possui menos de 1% da riqueza do país

As desigualdades patrimoniais são ainda maiores do que as de renda no Brasil e são uma das mais altas do mundo. Em 2021, os 50% mais pobres possuem apenas 0,4% da riqueza brasileira (ativos financeiros e não financeiros, como propriedades imobiliárias). Na Argentina, essa fatia da população possui 5,7% da fortuna do país.

4. O 1% mais rico possui quase a metade da fortuna patrimonial brasileira

Os 10% mais ricos no Brasil possuem quase 80% do patrimônio privado do país. A concentração de capital é ainda maior na faixa dos ultra-ricos, o 1% mais abastado da população, que possui, em 2021, praticamente a metade (48,9%) da riqueza nacional. Nos Estados Unidos, o 1% mais rico detém 35% da fortuna americana.

O relatório afirma que a desigualdade de riqueza cresceu no Brasil desde meados dos anos 90, em um contexto de desregulação financeira e falta de uma reforma fiscal mais ampla.

Sem-teto em São Paulo, em foto de arquivo

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,metade mais pobre dos brasileiros possui menos de 1% da riqueza total do país

De acordo com o estudo, o patrimônio do 1% da população mais rica do planeta vem crescendo entre 6% e 9% ao ano desde 1995, enquanto, na média, o crescimento de toda a riqueza gerada no mundo foi de 3,2% ao ano. Esse aumento global, diz o relatório, foi exacerbado durante a pandemia de Covid-19. O Brasil seguiu essa tendência: o patrimônio do 1% mais rico no Brasil passou de 48,5% em 2019 para 48,9% do patrimônio total em 2021, afirma Chancel, que considera a progressão "significativa".

Segundo ele, os ultra-ricos no mundo aumentaram suas fortunas porque há uma desconexão entre a economia real, duramente afetada pela crise sanitária, e as bolsas de valores.

Sistema tributário

O estudo sobre a Desigualdade Mundial sugere opções de políticas para redistribuir renda e riqueza, como a taxação progressiva de multimilionários, o que permitiria investimentos em educação, saúde e transição ecológica. O texto defende que o surgimento de Estados de bem-estar social no século 20 estava ligado ao aumento de impostos progressivos.

O principal autor do estudo à BBC News Brasil defende que a falta de uma reforma fiscal ambiciosa no Brasil, que tornasse o sistema tributário mais progressivo, dificulta a redução das desigualdades.

O Brasil é um dos poucos países no mundo que não cobra imposto sobre dividendos (uma parcela do lucro das empresas distribuído aos acionistas), por exemplo.

Para Lucas Chancel, a criação de um imposto sobre dividendos, paralisada no Congresso, é uma boa iniciativa, mas é necessário ir além. Ele sugere o aumento da tributação sobre a herança no Brasil (na França, a alíquota pode chegar a 60%) e a taxação progressiva do estoque de capital, o que poderia incluir um imposto sobre a fortuna.

Notas de real
Legenda da foto,Ausência de reforma fiscal ambiciosa no Brasil, que tornasse o sistema tributário mais progressivo, dificulta a redução das desigualdades, ressalta pesquisador

Ele diz que o Bolsa Família, uma iniciativa positiva que contribuiu na redução de parte das desigualdades, acabou sendo pago, em parte, pela classe média e camadas populares. Isso porque o programa de transferência de renda não foi acompanhado de uma reforma fiscal que aumentasse a contribuição da elite econômica de acordo com suas capacidades.

O país, diz ele, acaba sendo "um exemplo infeliz da adoção de um programa de redistribuição de renda sem modificar estruturalmente, ao mesmo tempo, quem vai pagar o imposto" que financia a medida, ressalta. O mesmo ocorre agora em relação ao novo Auxílio Brasil.

Dados globais do estudo

Na Argentina, que vem enfrentando graves crises econômicas, as desigualdades se situam um pouco abaixo da média na América Latina, embora permaneçam elevadas, ressalta do estudo. Os 10% mais ricos do país ganham quase 43% da renda nacional e possuem 58,2% da fortuna (no Brasil esse número é de 79,8%).

As regiões com maiores desigualdades sociais no mundo são a África e o Oriente Médio. Na Europa, a renda dos 10% mais ricos representa cerca de 36%% do total, enquanto no Oriente Médio e Norte da África, ela atinge 58%, número similar ao do Brasil.

Os 10% mais ricos do mundo ganham 52% da renda mundial, enquanto os 50% mais pobres recebe apenas 8,5% do total. As diferenças são ainda maiores em relação ao patrimônio: a metade mais pobre possui apenas 2% da riqueza mundial (no Brasil é menos de 1%), enquanto os 10% mais abastados possuem 76% da fortuna global.

Desde 1995, o 1% mais rico do mundo levou 38% do aumento da riqueza global, enquanto os 50% mais pobres ficaram com apenas 2% da fortuna adicional acumulada no mundo nesse período.

A pandemia de covid-19 exacerbou as disparidades. O ano passado marcou o maior aumento na fortuna dos bilionários, que cresceu US$ 3,7 trilhões, o equivalente aos orçamentos de saúde do mundo todo, segundo o relatório.

O estudo afirma que após três décadas de globalização comercial e financeira, as desigualdades globais permanecem extremamente significativas. Em 2021, elas estão no mesmo nível do que eram no início do século 20, época do chamado imperialismo moderno ocidental, com colônias e territórios que criaram disparidades econômicas entre os países. Além disso, a renda dos 50% mais pobres no mundo hoje é a metade do que era em 1820.

O relatório também leva em conta a desigualdade de renda relacionada ao gênero. No mundo, as mulheres ganham, em geral, um terço dos homens. O Brasil tem desempenho igual à média dos países ricos da Europa: os salários da população feminina brasileira representam 38% da renda total do país.