SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

ORIGENS DO PENSAMENTO PSICOLÓGICO NA VIDA.


Se cada um de nós conhecesse alguns conceitos da psicologia para utilização em nossa vida , no cotidiano e nas atitudes que nos movem , serviria como uma bussola para refletir sobre os mapas que temos usados para conduzir nossos passos.

Por exemplo, numa reunião de condomínio dominado por neuróticos que querem comandar e controlar tudo e todos se fazem necessário este exercício. As vezes eles querem impedir que os funcionários e domesticas que trabalham no prédio conversem entre si, assistam televisão e outros. Simplesmente porque não suportam as pequenas alegrias da vida que todos no mundo têm direito.

Outro exemplo é que para muitos a solução para os jovens seria impor mais limites, voltar as regras e a moral do passado para que nem os jovens nem os pais, tenham que enfrentar as questões da liberdade humana .

Portanto é preciso lidar com idéias como pulsão de morte e de vida, compreender o Narcisismo e a Angustia, em como o Eu tem sido servo de três grandes senhores: a censura do super eu, o mundo externo e o que penso, sinto, como me comporto. Entender que este  Eu não é o lugar do conforto nem do consumo, mas do desassossego, aonde temos que lidar com os sentimentos de culpa, vergonha, inferioridade e outros.Entender que o mundo não é pesado mas que somos nós que colocamos este peso.E como diria o Doutor em Psicologia Clinica Contardo Calligaris devanear é preciso para sobreviver  a este mundo.

Antes de evoluir neste debate vamos primeiro compreender como o pensamento psicológico nasceu e foi construído na humanidade a partir do livro Nascimento da clinica de Foucault e de outro livro Estrutura e Constituição da clinica psicanalítica de Dunker.

Como nasce o vinculo do saber com o sofrimento?   No primeiro momento a presença da doença no corpo, nas entranhas, se faz necessário construir uma linguagem, conceitos, para falar sobre as doenças,  algo que possa ser “racional”. Foucault nos lembra que “As lâminas esbranquiçadas e avermelhadas de Bayle tem, para um discurso cientifico,  valor diferente,  solidez e objetividade maior do que as pequenas lâminas endurecidas descritas pelos médicos do Século 18 antes do nascimento da Ciência e da Clinica?

Antes da Clinica e da Ciência as coisas e as palavras ainda não se separaram para dar origem aos conceitos que vão mapear e classificar as doenças. Cada dia mais nos hospitais e nas Universidades, formando médicos que se comunicam entre si e os remédios. 

Antes na linguagem modo de ver  e de dizer ainda se comunicam diretamente. “Será preciso questionar a distribuição originária do visível e do dizível, na medida em que este ligado a separação do que se anuncia e do que é silenciado: surgira então, em uma figura única, a articulação da linguagem medica com seu objeto.” Agora as doenças têm espaços e denominações que se revelam patológicas aonde nasce o olhar “que o medico põe sobre o coração venenoso das coisas.”

A medicina moderna nasce nos últimos anos do Século 18. Outra percepção sobre as coisas ganha forma e bussolas em nossas vidas. O olhar, agora a fonte da clareza, não este mais voltado às idéias do Iluminismo, ele se torna moderno. O discurso racional apoiasse na espessura do objeto da doença, em sua presença obscura, onde estão a origem, o domínio e o limite da experiência.

Cabe agora a esta linguagem das coisas, autorizar, a respeito do individuo, um saber para além do histórico ou estético. O olhar não é mais redutor mais fundador do individuo em sua qualidade irredutível. Recolhemos em um prontuário individual, a totalidade das informações que dispomos a seu respeito. Nós observamos como uma experiência de laboratório. Estamos entregues a paciente construção de discursos sobre discursos, a tarefa de ouvir o que já foi dito nas cadeiras das Universidades e nos hospitais.

Porem muitas coisas não é ditas nas palavras nem são exclusivas daquele objeto que quer determinar tudo a doença, a cura, a vida.
 
A  clinica e seu empirismo, atenção e cuidado para que as coisas se “apresentem ao olhar”, é na verdade uma construção de um discurso sobre a doença. Este discurso pretende submeter todos os dogmas as regras da boa lógica e definir palavras para circunscrever  as definições de cada doença.

Isto resulta num quadro nosológico onde o parentesco entre as doenças assim como nas plantas e animais é formalizável. É a partir dai que vamos buscar o encadeamento entre efeitos e causas, a serie cronológica dos acontecimentos e de seu trajeto visível no corpo. E este espaço e linguagens construídos tornam-se anterior as percepções e é dirigido de longe; “é a partir dele, das linhas que cruza, das massas que distribui ou hierarquiza, que a doença, emergindo ao olhar, insere suas características próprias em um organismo vivo.”

A designação entre causas próximas é o primeiro passo. Ao se definir uma região no corpo, aonde as perspectivas se nivelam, o efeito tem o mesmo estatuto que sua causa, o antecedente coincide com o que se segue. Neste espaço homogêneo, o tempo se aniquila, não se leva em questão sua rede de determinações recíprocas ou seu entrecruzamento temporal.

A racionalidade da vida é idêntica daquilo que  a ameaça. Elas não estão uma com relação à outra. O paciente é apenas algo exterior em relação aquilo de que sofre. Claro é preciso conhecer a estrutura interna de nosso corpo; mas isso para melhor subtrair e libertar, sob o olhar do medico, “a natureza e combinação dos sintomas, das crises e das outras circunstâncias que acompanham a doença. Não é o patológico que funciona com relação à vida, mas o doente com relação a própria doença.

O conhecimento das doenças é a bussola do medico, o sucesso da cura depende de um exato conhecimento da doença. O olhar do medico não se dirige inicialmente ao corpo concreto, mas a classificação das doenças. Forma-se uma rede que oculta o doente real e impede toda terapia. Quando administrado muito cedo, o remédio contradiz e confunde a essência da doença, a impede de aceder sua verdadeira natureza e, fazendo-a irregular, torna-a intratável.

O medico fica na expectativa, pois “os começos da doença existem para fazer conhecer sua classe, seu gênero e sua espécie; quando os sintomas aumentam e ganham amplitude, basta diminuir sua violência e suas dores.

O que gera tudo isto é o pensamento classificatório das doenças que se dá num espaço essencial. O belo espaço plano do retrato é, ao mesmo tempo, a origem e o resultado ultimo; o que torna possível, na raiz, um saber médico racional e certo.Este olhar , progredindo recua, visto que só atinge a verdade da doença, deixando-a vencê-lo, esquivando-se e permitindo ao próprio mal realizar, em seus fenômenos, sua natureza.

“Como o espaço plano, homogêneo das classes pode se tornar visível em um sistema geográfico de massas diferenciadas por seu volume e sua distância? Como uma Doença, definida por seu lugar em uma família, pode se caracterizar por sua sede em um organismo? neste espaço corporal em que circula livremente, a doença sofre metástases e metamorfoses. Os deslocamentos remodelam em parte. Daí a ideia de uma causalidade que se manifesta  em um ligeiro deslocamento temporal. A causalidade assegura as simultaneidades e os intercruzamentos que misturam as purezas essenciais.

O tempo é integrado não como variável orgânica, mas como parte da doença. O tempo do corpo não modifica, e muito menos determina o tempo da doença. Ela independe do corpo, do meio ambiente e outras causas sociais.

O que faz o corpo essencial da doença se comunicar com o corpo real do doente não são, portanto, nem os pontos de localização, nem os efeitos da duração; é antes, a qualidade. A doença e o corpo só se comunicam através do elemento não espacial da qualidade.

Os médicos devem se limitar a conhecer as forças dos medicamentos e das doenças por meio de suas operações; deve-se observá-las com cuidado, se aplicar em conhecer suas leis e não se esgotar na investigação das causas físicas.




É no hospital, um lugar artificial em que a doença, transplantada, corre o risco de perder seu aspecto essencial. Ela se mistura com outras doenças. “Com efeito, nenhuma doença no hospital é pura.”
O hospital, criador de doenças. Esta separação destinada a proteger, comunica a doença e a multiplica infinitamente.

Portanto são estas as origens do pensamento classificatório e disciplinador de como foi gerada a medicina, as doenças, os remédios, o hospital, a clinica. Dele emergem a necessidade de um saber psicológico sobre o homem, a vida, suas loucuras, e agora sofrimentos psíquicos. A racionalidade classificatória dá lugar ao irracional, aos sonhos, a histeria, ao sexo, aos complexos em Freud.


As origens do pensamento psicológico vêm também com a Revolução Francesa, a guilhotina, a ideia de perder a cabeça, ou seja, ser cortada por perseguição política ou perder a cabeça na loucura como 46 pacientes que deram entrada no Hospício achando que era Napoleão. Pinel estava lá com seus hospícios, isolamento, choque ate entendermos que tudo isto e apenas humano, demasiadamente humano, mas também todos os dias mais complexos, sistêmico, social e ecológico. Novas palavras, novos conceitos, novas doenças e formas de tratá-las. 

Novas origens do pensamento psicológico  nos desafiam em outros textos.     

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