SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

domingo, 23 de novembro de 2014

A CARA DA VIOLÊNCIA – PROJETO TECNICO


1.       INTRODUÇÃO – Como funciona ?

Criamos uma Exposição A CARA DA VIOLÊNCIA para circular por vários ambientes distintos com públicos diversos visando interagir, registrar e pesquisar as várias percepções da violência. Conhecer de perto os autores de atos violentos, ver como as pessoas reagem aos programas policiais ou filmes editados em uma sequência de uma hora que mostram as violências e seus diversos personagens; e criar meios numa segunda e terceira tela para que pessoas diversas possam dialogar sobre as violências em suas vidas é o que buscamos.

Os lugares?

A Exposição circulara em Presídios, Terminais de ônibus, Escolas públicas e em Cursos de Arte. Ela é composta por 3 data shows e suas respetivos projetores e telas além de uma câmera que registra a percepção das pessoas sobre as imagens exibidas numa terceira tela.

O que filmamos?

A ideia central é que as imagens registradas em um dos ambientes possam ser mostradas em outras ao lado de filmes e programas policiais violentos. Esta síntese de filmes e programas policiais editados em capítulos de uma hora como uma serie também estarão disponíveis na internet. Sendo os últimos 20 minutos o registro das reações, percepções e comportamentos das pessoas que assistem as cenas de violência. O diálogo entre estas Caras da violência durante o processo vão sendo editadas para gerar o filme da exposição A CARA DA VIOLÊNCIA. O filme é o resultado de um mosaico digital de imagens de várias caras dialogando entre si sobre as violências em suas vidas formando uma só imagem. O objetivo é que partes deste filmes possam circular em celulares via WhatsApp.  

2       AS PESQUISAS DOS IMPACTOS DA INSTALAÇÃO A CARA DA VIOLÊNCIA

Estas imagens e cenas exibidas durante a exposição em vários lugares são expressões diretas da violência, refletem a brutalidade dos fatos sem narrativas para “explica-las”.  Uma sequência de uma 1 hora expondo uma variedade caótica, onde as violências se criam e reproduzem por variações múltiplas em nossas vidas e cidades. Como se elas tivessem uma sequência que dependesse de nossos atos? Como se tivéssemos que após assisti-las tivéssemos que expurga-las, sublima-las, gerar cartasses ou apenas nega-las, se anestesiar emocionalmente ou fugir? 
“De várias formas, incluindo a arte, nos também desenhamos a violência em nossas vidas e cidades. Cada um de nós, e não apenas os criminosos, somos a cara da violência” Este trecho do texto conceitual da instalação A CARA DA VIOLËNCIA nos convida a refletir e interagir com atitudes sobre as diversas violências que vivenciamos e suas consequências múltiplas sobre as caras e as vidas de outras pessoas.

As perguntas essenciais!

São três questionamentos que realizamos depois que as pessoas assistem os filmes.

1.       Quais as consequências destas violência em suas vidas e como você reage a eles ou não?
2.       Que atitudes violentas você assim como eles exerce em sua vida?
3.       Após assistir estas imagens o que mais lhe atrai? O que sente ou pensa sobre o que vê?

Os filmes e Programas de TV escolhidos.

Selecionamos apenas três filmes que por serem bastante conhecidos por se tornaram ícones pops de nossa cultura. O primeiro” Sin City “de Robert Rodriguez e Frank Miller, o segundo “Kill Bill” de Tarantino e o terceiro uma edição de lutas do UFC e programa policial “Barra pesada.

“Observamos neles personagens emergirem a ícones da cultura pop das novas gerações. Se eles foram criados pela arte do cinema ou são reflexos de pessoas reais que vivem no mundo do crime pouco importa. O que me interessa nesta instalação é saber por que eles nos atraem? O que eles despertam em cada um de nós? Quanto carregamos em nossos instintos da violência apesar de todo processo civilizatório, também forjado pela violência, das leis, cultura de paz e do valor que atribuímos a arte do belo que deveriam ser antídotos a violência.”
Acredito que durantes anos vários nossa sociedade planta e colhe vários símbolos da violência. Eles iniciam em uma escala cult que retrata histórias reais de nossa sociedade que vão se tornando práticas e comportamentos culturais até se tornarem símbolos de poderes inconscientes que se multiplicam como vírus e reações as doenças de nossa sociedade. 

3.  UMA SEGUNDA LINHA DE PESQUISA.

Esta é uma segunda linha de pesquisa buscamos entrevistar presos que assistiram estes filmes e que em determinados momentos de suas vidas foram significativos para suas ações. Por isso as imagens dos filmes se conectam com cenas dos criminosos em programas policiais. Eles nos ajudam a entender os processos sociais como pequenas sociedades se formam ao nosso redor com suas próprias éticas, leis e comportamentos. Como no caso das máfias, narcotráficos e outras.  

4.       REFERENCIAIS TEÓRICOS.

Por isso busquei fundamentar esta instalação em quatro livros que falam sobre abordagens e métodos de como lidar em situações como estas.

1.       O primeiro livro “ZEROZEROZERO” de Roberto Saviano autor de outro livro Gamorra que também gerou o filme com o mesmo nome. Ele retrata como o narcotráfico forma jovens para realizar assassinatos. Estes jovens são colocados em casas durante três meses assistindo filmes e jogando games violentos. Um deles assim que saiu cumpriu uma missão matou 15 pessoas numa operação. Ao ser preso ele disse ao Juiz sem sentimentos que tinha falhado na missão pois era para matar 12. Ela não fazia nenhuma diferença entre os filmes, Game e a realidade. 

2.       O segundo livro “A Psicologia vai ao Cinema “de Skip Dine Young retrata os impactos psicológicos em quem assiste filmes violentos em suas vidas.

3.       O terceiro livro” Altíssima pobreza “do filosofo Giorgio Agamben reflete das relações entre hábitos, regras e modos de viver. Discutindo pessoas que difundiram seu modo viver pelos seus comportamentos a outras pessoas como Francisco de Assis, Marques de Sade e outras. Eles nos ajudam a entender como novas culturas e comportamentos emergem e se tornam pop tendo as imagens e símbolos um importante papel mesmo que na época as pessoas tivessem que criar as imagens em suas cabeças hoje elas se reproduzem por milhares de telas.

4.       O quarto livro “O que é loucura? – Delírio e sanidade na vida cotidiana do psicanalista inglês Darian Leader reflete sobre o comportamento de pessoas consideradas normais e respeitáveis em nossa sociedade que em momentos de surto cometem assassinatos em série. 

5. INSTALAÇÕES COMO BBB REAIS

Portanto “Na instalação A CARA DA VIOLÊNCIA vamos registrar pequenas atitudes que em contextos de maior perigo, medo, necessidade, raivas, ou mesmo de disputa pelo poder, mulheres ou homens, sexo, dinheiro e outros nos transformaria em seres violentos e perigosos.” Esta exposição atua ou busca gerar um case para BBBs filmado na vida real aonde as quatro paredes são as nossa mentes. Afinal como podemos ajudar a expandi-la ao interagir com os diferentes sobre problemas comuns que compartilhamos em nossa sociedade. Sem culpados ou inocentes podemos ir além em redes sociais na vida real que gerem atitudes complementares e diálogos que nos despertem dos pequemos mundos e paredes que criamos para nos proteger as vezes de nós mesmos e de nossas violências. Muitos destes “jogos vorazes” de poder e do Capital que nos fazem de fantoches reproduzindo sua cultura e suas desigualdades brutais. 

O RPG DE OUTRAS SOCIEDADES COM SUAS REGRAS E PRÊMIOS.

“Sem hipocrisia hoje vários psiquiatras afirmam que em sociedades como a nossa a probabilidade de psicopatas chegarem ao poder em suas organizações tem sido cada vez mais maior e natural, que vença o mais forte, o que não tem sentimentos pela dor ou sofrimentos dos outros. E assim como filmes psicológicos retratam psicopatas como Haniball também se tornaram ícones pop. Cada vez mais este processo se propaga em outros filmes e personagens como Zumbis ou games como o GTA ocupando lugares centrais em nossa cultura. As caras dos lutadores no UFC nos revelam muito mais sobre a pós-modernismo das violências.

6.  A TERCEIRA LINHA DE PESQUISA DA INSTALAÇÃO A CARA DA VIOLÊNCIA.

Esta observação a partir do quarto livro gerou a terceira linha de pesquisa mais interdisciplinar em parceria com psicólogos e sociólogos que estão nos ajudando a partir dos depoimentos em identificar “origens” de comportamentos violentos que são difundidos pela cultura em serie com a criação e atualização de personagens que desempenham papeis centrais em nossa sociedade ou na criação de outras.

“Dentro de nossa Sociedade “oficial” outras sociedades tem ganhado cada vez mais espaço como a do narcotráfico que funcionam sobre outras regras, leis, violências, crimes, e impactos sobre nossas vidas e da sociedade oficial que vivemos. O narcotráfico entra no cotidiano das cidades e ser reverbera na vida de milhões de pessoas, na arte, no imaginário do poder, consumo, dinheiro e outros reduzindo as violências, crimes e vidas como meros efeitos colaterais sem importância e sem tempo a perder.”

7. A MEDIAÇÃO DA ARTE NESTA JORNADA DA EXPOSIÇÃO A CARA DA VIOLÊNCIA.

Acho que provocar experiências e reflexões é melhor do que decorar leis ou se adaptar as racionalidades que não foram sentidas ou expressas pelas pessoas. Ampliar o que o olhar pode enxergar para além de modelos preconcebidos ou configurados por sistemas que empurram de cima para baixo suas visões de mundo não tem sido boas opções. Aprender a enxergar e conviver com o outro diferente é um desafio coletivo cada vez mais urgente. Afinal não existe uma Cara mais milhões de caras das violências que podem ser reduzidos não apenas a personalidades mas alguns comportamentos multiplicados em series.

“Na minha visão a arte tem um papel de expressão e mediação diante destes desafios em nossas vidas e cidades. Antes dele serem expressões corporais são políticas, estéticas, econômicas, e culturais, mas exatamente o que isso quer dizer?

Quantas caras a violência tem? Incluindo a nossa em nossos comportamentos? Elas conseguem dialogar entre si? Conseguimos compreender este fenômeno complexo que a violência se torna cada dia mais? A arte ou uma Educação ética, estética ou política pode reduzir a violência nas cidades não só entre pobres mas entre ricos também?”

8. CONCLUSÕES: AS DIMENSÕES ARTÍSTICAS, PSICOLÓGICAS E POLITICAS DAS CONCLUSÕES TRAÇAM TRAJETÓRIAS AONDE AS INSTALAÇÕES TEM UM PAPEL PEDAGÓGICO NA DIFUSÃO DE ESTÉTICAS, ÉTICAS E QUESTIONAMENTOS DAS FORMAS DE VIVER VIOLENTAS. 

Assim como observamos uma pincelada de Bacon, uma cena de Tarantino, um ato numa peça de Teatro podemos observar estes “detalhes” no cotidiano. E ver como eles são produzidos socialmente, politicamente, culturalmente e outras dimensões da vida.

A Pedagogia das Instalações.

As Instalações são laboratórios pedagógicos em processos complexos e sistêmicos como este por seus múltiplos olhares e interações que ocorrem despertando não apenas o pesquisador mas o que compartilham desta experiência. Estes processos de aprendizados coletivos fazem com que possamos no enxergar no outro, nos despertar de nossas crises e silêncios pelas imagens que não cabem em palavras e nem em conceitos. A mudança ou acupuntura em nossos comportamentos não precisam ser precisos pois as cirurgias sociais não acontecem em uma parte do corpo mas sim nos chamados sistemas ou como o cinema chamou de Matrixs.    


“As reconfigurações das sensações, dos olhares, palavras, comportamentos traduzem a violência no cotidiano, nas artes, nos desejos, na política, cultura, consumo ou em qualquer meio que ela possa se propagar e expressar suas formas. Registar e interagir com estes indícios no momento em que se produzem e por vários meios como ao assistir um filme violento, nos terminais de ônibus ao pegar um ônibus lotado, nas escolas, no convívio entre assassinos nos presídios, nos amores e ciúmes, na disputa política pelo poder, na guerra dos traficantes, na luxuria e desperdício dos ricos, nas incapacidades de amar e sentir os sofrimentos dos outros, e na busca de apreender o bem e o belo podemos registrar AS CARAS DA VIOLÊNCIA. E mais do que isto podemos ver as reações, opiniões, Caras dos que assistem e compartilham estes vídeos e ou experiências realizadas em locais públicos.

Desta forma um terceiro olho pode registrar esta dinâmica de culpados e inocentes, das relações que nos formam e deformam, do lado silencioso que não conhecemos até explodir e deixar suas marcas e consequências em nossas vidas e cidades.

Sim devemos apreender a dançar com a violência obedecendo em primeiro lugar seu ritmo para conhecê-la, apreendê-la, observa-la e perceber como ela se constrói e se desfaz, afirmá-la e negá-la em sentidos e contextos diversos. Não ter medo de olhar sua cara nem a nossa, não negando o lugar e a cultura de onde vivemos, talvez possamos ajudar a transformá-la. “


Os caminhos no Labirinto se conectam em Instalações de várias dimensões da vida.

Portanto na Instalação formam-se caminhos em labirintos cada vez mais densos de acontecimentos e explicações lineares que ao invés de curar aponta as armas e as diversas violências para outros inimigos, culpados, doentes e outros.

Hoje se consome a violência como um produto cada vez com mais valor nas diversas sociedade que vivemos nas empresas, politica, nas relações sociais, crimes, drogas ou na solidão dos filmes e games como meros espectadores sem voz.  Precisamos escutar e ver as singularidades das multidões que nos atravessam e nos transformam. A Arte pode nos libertar muitas vezes mais do que as políticas ou as armas.  

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