Os Desafios da violência necessitam de respostas criativas e não mais do mesmo em serie. Transformar a energia da violência em paz significa potencializa-la em outras direções para transformar os ambientes e as vidas que a compartilham. A arte é essencial nas várias dimensões e níveis deste processo.
Dizem que a violência é instinto mas também a arte desde que pintamos as cavernas. Algumas artes descritas por Deleuze como do pintor Francis Bacon são expressões diretas da intensidade da violência sobre uma imagem. Ela expõe a brutalidade dos fatos contra narrativas. A variedade caótica dos fatos e sentidos. Onde a violência se cria e reproduz por variações múltiplas em nossas vidas e cidades.
Cercados hoje como estamos diante de
catástrofes e histerias com o aumento da criminalidade
e da violência, cada vez mais somos inseridos neste contexto
ao vivenciarmos algo, assistirmos ou pelo medo. De várias
formas, incluindo a arte, nos também desenhamos a
violência em nossas vidas e cidades. Cada um de nós, e não apenas
os criminosos, somos a cara da violência.
Em filmes como Sin City de
Robert Rodriguez e Frank Miller assim como nos filmes de Tarantino
observamos personagens emergirem a ícones da cultura pop das novas
gerações. Se eles foram criados pela arte do cinema ou são
reflexos de pessoas reais que vivem no mundo do crime pouco importa.
O que me interessa nesta instalação é saber por que eles nos
atraem? O que eles despertam em cada um de nós? Quanto
carregamos em nossos instintos da violência apesar de todo processo
civilizatório, também forjado pela violência, das leis, cultura de
paz e do valor que atribuímos a arte do belo que deveriam ser
antídotos a violência.
Na instalação A CARA DA
VIOLÊNCIA vamos registrar pequenas atitudes que em contextos
de maior perigo, medo, necessidade, raivas, ou mesmo de disputa pelo
poder, mulheres ou homens, sexo, dinheiro e outros nos
transformaria em seres violentos e perigosos. Sem hipocrisia hoje
vários psiquiatras afirmam que em sociedades como a nossa a
probabilidade de psicopatas chegarem ao poder em suas organizações
tem sido cada vez mais maior e natural, que vença o
mais forte, o que não tem sentimentos pela dor ou sofrimentos dos
outros. E assim como filmes psicológicos
retratam psicopatas como Haniball também se tornaram
ícones pop. Cada vez mais este processo se propaga em outros filmes
e personagens como Zumbis ou games como o GTA ocupando lugares
centrais em nossa cultura. As caras dos lutadores no
UFC nos revelam muito mais sobre a pós-modernismo das
violências .
Dentro de nossa Sociedade “oficial”
outras sociedades tem ganhado cada vez mais espaço como a do
narcotráfico que funcionam sobre outras regras, leis,
violências, crimes, e impactos sobre nossas vidas e da
sociedade oficial que vivemos. O narcotráfico
entra no cotidiano das cidades e ser reverbera na vida de milhões de
pessoas, na arte, no imaginário do poder, consumo, dinheiro e outros
reduzindo as violências, crimes e vidas como meros efeitos
colaterais sem importância e sem tempo a perder.
Na minha visão a arte tem um papel
de expressão e mediação diante destes desafios em
nossas vidas e cidades. Antes dele serem expressões
corporais são políticas, estéticas, econômicas, e culturais, mas
exatamente o que isso quer dizer?
Quantas caras a violência tem?
Incluindo a nossa em nossos comportamentos?
Elas conseguem dialogar entre si? Conseguimos
compreender este fenômeno complexo que a violência se torna cada
dia mais? A arte ou uma Educação ética, estética ou
política pode reduzir a violência nas cidades não só entre pobres
mas entre ricos também?
As reconfigurações das sensações,
dos olhares, palavras, comportamentos traduzem a violência no
cotidiano, nas artes, nos desejos, na política,
cultura, consumo ou em qualquer meio que ela possa se propagar e
expressar suas formas. Registar e interagir com estes indícios no
momento em que se produzem e por vários meios como ao assistir um
filme violento, nos terminais de ônibus ao pegar um ônibus lotado,
nas escolas, no convívio entre assassinos nos presídios, nos amores
e ciúmes, na disputa política pelo poder, na guerra dos
traficantes, na luxuria e desperdício dos ricos, nas incapacidades
de amar e sentir os sofrimentos dos outros, e na busca de apreender o
bem e o belo podemos registrar AS CARAS DA VIOLÊNCIA. E mais do que
isto podemos ver as reações, opiniões, Caras dos que assistem e
compartilham estes vídeos e ou experiências realizadas em locais
públicos.
Desta forma um terceiro olho pode
registrar esta dinâmica de culpados e inocentes, das relações
que nos formam e deformam, do lado silencioso que não conhecemos
ate explodir e deixar suas marcas e consequências em
nossas vidas e cidades.
Sim devemos apreender a dançar com
a violência obedecendo em primeiro lugar seu ritmo para conhecê-la,
apreendê-la, observa-la e perceber como ela se constrói e se desfaz,
afirmá-la e negá-la em sentidos e contextos diversos. Não ter
medo de olhar sua cara nem a nossa, não negando o lugar e a
cultura de onde vivemos, talvez possamos ajudar a transformá-la. Não
com a cara de anjos, Deuses ou mágicos mas usando a própria arte
para expressar nossas violências e nos tornar
conscientes e inconscientes delas.
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