Entretanto, este debate deve se aprofundar discutindo as absurdas desigualdades produzidas também pelas atuais políticas públicas, fazendo a autocrítica delas e de seus impactos. Isto significa também que nossa Democracia gera herdeiros das desigualdades, sendo que tem os que sofrem as consequências e os que sāo eleitos por elas. Existe uma poupança política formada por cargos comissionados, acordos políticos, contratos e outros que podem em muitos casos destruir a democracia, perpetuar príncipes no poder e impactar negativamente o desenvolvimento das políticas públicas. É obvio que é impossível eliminar a Política, porém mais do que as ideologias o que importa é salvar a vida de um jovem numa sociedade em que a vida de um jovem para muitos não vale nada e a justiça não chega a todos e quando chega o Direito deve prevalecer 100 %, inclusive na democratização e participação no desenvolvimento das políticas públicas do Estado. O Comitê Cearense pela Prevenção e Redução de Homicídios na Adolescência pode ser um bom exemplo para resolver desafios que o Estado prova nāo conseguir resolver. Drogas, criminalidade, destruição da natureza...desde suas origens e consequências são desafios coletivos que emergem da sociedade e de seus vários poderes. Mas insisto, qual o impacto de suas políticas públicas ? Quais vidas são transformadas de verdade por elas? Do jovem ? Dos funcionários ? Dos políticos ? Quanto dos recursos tem impacto direto na transformação da vida destes jovens ?
Perguntas simples, porém respostas muitas vezes vazias. Qual a História e a trajetória das políticas públicas produzidas em gabinetes para chegar onde chegamos ? Nesta hora ninguém é responsável pelo fracasso? 25 anos de participação de vários políticos juntos em um grupo no poder , não é suficiente para construir respostas eficazes ? Porque Pernambuco alcançou melhores resultados em menor tempo com o Pacto pela vida ?
Porque as respostas desenvolvidas pela sociedade civil com muito mais impacto e menores custos não foram integradas as políticas públicas ? Como o caso da EDISCA e outros ? Qual a real capacidade de nossos gestores conhecerem realidades que nunca vivenciaram e nunca em suas vidas ousaram transforma-la? Porque assim como Brasília os partidos são priorizados e assim como o PMDB o jogo de cargos se perpetua para manter um grupo no poder ? Porque quando chegamos no fundo do poço em relação a morte dos jovens , os holofotes são deslocados para um Comitê? A resposta pra todas estas perguntas é que o jovem nem morto teve ou tem valor para um projeto de poder que se estende por 25 anos? Estes jovens pagam o preço com a vida ocasionado pelo desgoverno com a juventude de uma geração de políticos.
Esta é a diferença da luz que a transparência e controle social pode fazer diante da escuridão com a qual esta questão sempre foi tratada. Da voz diante do silêncio. Do ideal diante de um poder vazio. Do sagrado da vida e do Direito diante da morte. O fato é que diante da vida destes jovens o poder esta nu, sem legitimidade nem desculpas para tantas omissões e erros fatais para muitos.
O sofrimento desses jovens que fortalece a bancada da bala, mas também prejudicam carreiras políticas concorrentes, denunciam estilos monárquicos e consumo ostentatório dos governos, geram prazer em rivalizar discursos que buscam defender posições sociais e submissões diante da opinião pública. Essa sociedade de amigos, tenta esquecer a morte e a violência em nossa sociedade. Já passou o tempo de mudar essa história, e o Comitê Cearense pela Prevenção e Redução de Homicídios na Adolescência gerado por Ivo e Renato pode ser um caminho de render a bancada da bala, que propagam os interesses difusores da violência . O caminho mais longo, porém mais eficaz, é pelo sonho e criatividade, onde devemos junto com o Judiciário remodelar os espaços de aprendizagem, assim como as comunidades onde vivem. Gerar elos e alianças compartilhando estes desafios de baixo pra cima (e não imposto de cima) para que estas vozes ganhem vida e bons impactos em nossa Sociedade.
Sim precisamos de uma visão sistêmica, integrada, e orgânica sobre este desafio. Ao mesmo tempo micro sobre a vida de cada um e macro sobre a Sociedade. Não será pão e circo nem mais espetáculos que irá resolver , não será trata-los como animais ou números que vai resolver, não será fragmentando suas vidas ainda mais, nem negando suas revoltas; mas será pela construção e transformação conjunta de cada vida que deve ser expressa em suas dores e conquistas de pequenas vitórias, pela integração das políticas públicas com ações de Empresas, ONGS, Universidades e outras formando uma rede de proteção. Por uma educação do bem , justiça social e o belo para que possam compreender as correntes que os prendem, pela mesma chance em oportunidades, pela solidariedade com familiares compartilhando desafios, pelo uso da tecnologia e arte, enfim por vários caminhos pelos quais várias organizações se propõem a construir em conjunto outras formas deles serem e viverem em nossa sociedade. Talvez conhecendo suas histórias de vidas possamos enxergar os próximos passos.
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