SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

domingo, 25 de junho de 2017

JORNADA EDUCACIONAL NA TERRA DA SABEDORIA








“(...) o sujeito não podia mais compreender o que estava sendo dito e não podia mais, portanto, ser o árbitro das “verdades” mais profundas. Este papel transferiu- se para a autoridade, o “cientista”: o papel não apenas de incitar a “verdade” e de interpretar essas verdades profundas, mas também de reconstruir a experiência que o sujeito tem da sexualidade e do discurso, controlando, assim o sujeito.

(...) do ato de conhecer o próprio eu por meio da ação de falar a verdade, libertando, assim, o próprio eu dos aspectos repressivos através dos atos de falar e reconstruir o eu.

(...) Através da função performativa da fala, então, começamos a nos construir a nós mesmos.

(...) De acordo com FOUCAULT (1982 a), a máxima délfica “conhece-te a ti mesmo” sucedeu à outra noção da antiguidade grega, “cuida-te de ti mesmo”. Ele argumenta que a “necessidade de cuidar de si colocou a máxima délfica em funcionamento” e que a segunda estava subordinada à primeira. Isso não ocorre na cultura ocidental moderna, ele argumenta, na medida em que a noção de cuidado de si passou a ser vista como uma imoralidade, um meio de escapar das regras e respeito pela lei. Dada ainda a herança cristã de que o caminho para a salvação passa pela autorrenúncia, conhecer a si mesmo parece, paradoxalmente, ser o caminho para a autorrenúncia e para a salvação. Em segundo lugar, ele argumenta, a filosofia teórica, desde Descartes, colocou uma importância sempre crescente no conhecimento do eu como o primeiro passo da epistemologia. Sua conclusão é que a ordem de prioridade dessas duas máximas foi revertida: “conhece-te a ti mesmo” passou a ter prioridade. ” (SILVA, p.26-28)12


Se juntarmos estas ideias relatadas no livro de TOMAZ TADEU DA SILVA – O SUJEITO DA EDUCAÇÃO, onde ele discursa sobre os estudos foucaultianos, dentro do campo da filosofia da educação, a ideias de PAULO GHIRALDELLI JR & SUSANA DE CASTRO no livro A NOVA FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO, quando eles trazem algumas noções do conhecimento e educação, na obra de Nietzsche, a partir dos conceitos de BILDUNG E GELEHRSAMKEIT – cultura e ciência. Neste texto, é afirmado que Nietzsche opõe ao

12 TOMAZ TADEU DA SILVA, O SUJEITO DA EDUCAÇÃO – editora vozes, rio de janeiro.

saber da cultura e o saber da ciência. E de que o homem ocidental priorizou, a partir da Renascença, o conhecimento científico e a informação e se distanciou da cultura humana.

“Na concepção científico-burocrática da educação, o cânone humanista formado pela trinca filosofia, literatura e letras clássicas é suplantado pelo cânone da modernidade, formado, segundo Nietzsche, pela dupla ciência e jornalismo. ” (GHIRALDELLI JR & CASTRO, p. 127)13

Não se trata aqui de defender uma ou outra estratégia educacional, mas levantar algumas ideias que podem nos ajudar e refletir, como, através de uma jornada participativa, o jovem pode pensar e elaborar uma autorreflexão, se posicionar diante dos dez mundos, e imaginar aonde ele quer chegar, ou iniciar a sua jornada.

Acreditamos que o cuidado de si, é uma ação extremamente importante para apoiar o jovem em busca de si mesmo, e estimulá-lo a melhorar sua autoestima, fortalecer suas subjetivações, o imaginário e suas fabulações.

Precisa-se, urgentemente, criar novos ambientes educacionais, para desconstruir a ideia de que a escola é uma “prisão”, o que com esta frase de senso comum, temos um encontro com a crítica que Foucault faz, da sociedade disciplinar.

Se o processo pedagógico moderno corporifica as relações de poder entre os professores e aprendizes, e onde o saber não passa por experimentações, e sim, pela autoridade do discurso, sobre valendo as verdades sobre a verdade do sujeito, poderíamos imaginar, que a auto narrativa, o contato entre os conceitos e as experiências no mundo virtual e real, podem criar elos de saber novos, dando autonomia ao aprendiz.

Podemos religar estas ideias, ao ato de produção de presença. Segundo GUMBHESCHT, em seu livro A PRODUÇÃO DE PRESENÇA (o que o sentido não consegue transmitir), e fazendo ainda um retorno à cultura grega, este autor defende que na contemporaneidade, a partir da modernidade, sobressaltou-se as noções de sentido – significado e significante, na estrutura linguística, no campo do simbólico, e pouco se valorou as experiências tangíveis da presença dos mundos, dos afazeres, das emoções e sentimentos.

A produção de presença estar no reconhecimento das verdades experimentadas, tocadas, e não apenas nos jogos dos significados. A abstração dos sentidos é de vital importância, na descoberta dos conceitos e fatos, contudo, tocar a presença dos objetos, do imaginário é de igualmente valor e importância.

Em artigo “Em-feitiço 03: uma fraternura = explorar intensividades da língua, escrito por SILVIO GALLO, ANTONIO CARLOS AMORIM E WENCELSLAO MACHADO DE OLIVEIRA JUNIOR, coloca algumas ideias de Deleuze, que nos é bastante frutífero de pensar sobre o ato da escrita e da narrativa, no processo pedagógico, em sua frase “ a sintaxe é o conjunto dos desvios necessários criados a cada vez para revelar a vida nas coisas” (GALLO, p. 94)14

13 PAULO GHIRALDELLI JR & SUSANA DE CASTRO – A NOVA FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO, editora MANOLE.

“O processo pelo qual “o verbo se faz carne”, por meio do qual a ideologia se torna força material, ao ser assumida na esfera pré-reflexiva é, em sua mais intima essência, um processo de socialização. É esse processo que faz do indivíduo uma “célula ideológica”, que o leva a participar e a pertencer a uma sociedade, que vê refletida e reproduzida em seus atos, em seu próprio ser.”15 (GALLO, p. 87)

Se desejamos reinserir estes jovens, em suas comunidades, e famílias, é preciso trazer e retomar seu sentimento de pertencimento a aquela cultura, realidade, e principalmente, faze-lo reviver seus processos sociais. Acreditamos, assim, que o processo de conhecer um conceito, experimentar o conceito no mundo real e virtual, poderá religar abstração a cultura e sua narrativa o fará refletir, em essência, sobre sua realidade e sua história de vida.

Nos livros iniciais da vida acadêmica de Deleuze ele parte do empirismo como caminho para dialogar com a ciência, arte e a vida. No livro Espinosa Filosofia pratica ele cita que “ Para Espinosa, a vida não é uma ideia, uma questão de teoria. A vida é uma maneira de ser, um mesmo modo eterno em todos os seus atributos. E é somente desse ponto de vista que o método geométrico assume todo o sentido. O método geométrico, na Ética, opõe- se ao que Espinosa chama de sátira, e sátira é tudo aquilo que se deleita com a impotência e a pena dos homens, tudo que exprime o desprezo e o escarnio, tudo que se nutre de acusações, malevolências, depreciações, baixas interpretações, tudo o que despedaça as almas. (O tirano necessita de almas despedaçadas, como almas despedaçadas necessitam de um tirano)

O método geométrico deixa de ser um método de exposição intelectual; não se trata mais de uma exposição professoral, mas de um método de invenção. Ele se torna um método de retificação vital e ótica. Se o homem é de certa forma torcido, retificar-se- a este efeito de torsão religando-o as sus causas., more geométrico. Essa geometria ótica, atravessa toda Ética. Interrogamos no se a Ética devia ser lida em termos de pensamento ou em termos de potência.

Portanto seguindo os caminhos de Espinoza e Deleuze buscamos transformar este geometria ótica num Game aonde no encontro do ser com os 10 mundos da vida ele construísse sua ética, governando a si e aos outros como nos relata Foucault, para nos lembrar que mesmos homens frágeis fisicamente , vivendo em um mundo conturbado e perseguido politicamente e espiritualmente pode devolver a esta mesma sociedade com as reflexões em sua vida uma Ética e um Tratado político que ate hoje influencia a humanidade a seguir sua narrativa.

Para além da jornada pessoal em busca de uma ética, nesta mesma direção Deleuze no livro Empirismo e Subjetividade seguindo a jornada de Hume nos influenciou a pensar a Jornada na Terra da Sabedoria em várias dimensões da vida e de setores da sociedade quando reflete “ que o problema da sociedade não o é de limitação, mas de integração. Integrar as simpatias é fazer com que a simpatia ultrapasse sua contradição, sua parcialidade natural, tal integração implica um mundo moral positivo, e se efetua na invenção positiva de tal mundo.

14 CONEXÕES; DELUZE E IMAGEM E PENSAMENTO – SILVIO GALLO, ANTONIO CARLOS AMORIM E WENCELSLAO MACHADO DE OLIVEIRA JUNIOR (ORG).

15 SUBJETIVIDADE, IDEOLOGIA E EDUCAÇÃO – SILVIO GALLO.

O que denominamos uma Terra da Sabedoria. Aonde “ a realidade do mundo moral é a constituição de um todo, de uma sociedade, a instauração de um sistema invariável, esta realidade não é natural é artificial.” (MACLUHAN)

Marshall Mcluhan o pensador que anunciou que vivemos numa ladeia global em sua Tese de Doutorado nos lembra que os meios de comunicação são extensão do homem ou seja que o meio é mensagem e que tanto quanto as escolas e as universidades a mídia forma homens.

E que arte vinculada pelas mídias tem um papel essencial na Educação da juventude. Portanto ousamos seguindo esta jornada de McLuhan “ Por exemplo, foi em virtude da exegese cínica e do saber popular de Homero que a figura de Ulisses passou a desempenhar um papel importante na Educação, pois a exegese alegórica foi rapidamente integrada a corriqueira atividade de instruir os jovens na poesia e nos costumes. Virgílio passou pelo mesmo processo ainda em vida. Podemos notar na Saturnalia de Macrobio, como ele se tornou para os romanos a mesma fonte de sabedoria cientifica e ética, que Homero se tornara para os gregos. Desta maneira, para o gramatico Macrobio, “ é o que Virgílio ensina o que seduz os homens, e não sua poesia. ”

O que trabalhamos na pedagogia do game é como transformar homens como Espinoza, Deleuze, Homero, Virgílio e outros em personagens de nossa história com suas ideias, atitudes e reflexões visando guiar as buscas e bússolas das narrativas dos jovens ao construir suas jornadas e objetivos de vida impactando sobre a mídia do game, as ideias e vidas dos pensadores como instrumentos de transformação social de forma lúdica e pedagógica.

Seguindo esta jornada escolhemos o Game como uma mídia que integra várias outras mídias e tecnologias para existir ao ler o livro de Friedrich Kittler que faz uma história das mídias óticas quando ele cita Nietzsche questionando o nosso modelo educacional num trecho do livro “Quando um estudante deseja conhecer nosso sistema universitário, sua primeira pergunta é “ como um estudante se vincula a Universidade? “ Respondemos “ Por meio do ouvido como ouvinte “ Só por meio do ouvido? “ Repetimos. O estudante ouve. Quando fala, quando vê, quando convive, quando pratica as artes, ou seja, quando vive, é considerado autônomo, isto é, independente do estabelecimento de ensino.

Escolhemos portanto o caminho da arte para ensinar as verdades misturando sempre na pedagogia do Game os clássicos que são citados por livros atuais lançados em 2017 em sua grande parte, assim como no Pôs Capitalismo que parte da teoria de Marx , Deleuze que busca em Espinosa e Hume seu caminho,ou o alemão Friedrich Kittler que para contar a história das mídias óticas necessita de Nietzsche, assim como na Astucia cria o mundo de Lewis Hyde ele também cita Nietzsche para dialogar sobre que verdade devemos ensinar ou apreender:

A Verdade, disse ele é uma famosa passagem, é “um exército móvel de metáforas, metonímias e antropomorfismos, em resumo, uma soma de relações humanas, que foram poética e retoricamente intensificadas, transferidas e adornadas e, depois de longo uso, parecem a uma nação fixas, canônicas e vinculativas. As verdades são as ilusões, sobre as quais se esqueceu que são ilusões. “ (NIETZSCHE)

Nada melhor que uma narrativa de vida para encontrar nossas verdades. Lewis Hyde nos lembra que aí inteligência surge do apetite e que temos que satisfazer nossas necessidades de fome em várias áreas da vida, antes de comer, aprender a nos distanciar da comida e agir com reflexão em vez de reflexo. E assim como temos armadilhas do apetite e temos armadilhas da cultura que as pessoas tecem com linguagens e devemos investiga-las em nossas vidas.

A vida é um jogo como nos recorda Johan Huizinga em Homo Ludens e muitos “abordam diretamente o jogo, utilizando –se dos métodos quantitativos das ciências experimentais, sem antes disso prestarem atenção a se u caráter profundamente estético. ”

E continua “ se verificarmos que o jogo se baseia na manipulação de certas imagens, numa certa “ imaginação” da realidade (ou seja a transformação desta em imagens) nossa preocupação fundamental será, então, captar o valor e o significado, dessas imagens e dessa imaginação. Observaremos a ação desta no próprio jogo, procurando assim compreende-las como fator cultural da vida.

Por estes caminhos escolhemos as narrativas de cada jogador diante de missões e desafios na vida real em 10 mundos como melhor jornada para vivenciarmos uma pedagogia de nossa ética e estética capaz de iluminar nossa vida como cidadãos e do mundo que habitamos.

Ou seja, como a biografia de cada um se liga a história de todos. Buscamos “encarnar um ponto de unidade secreto, um princípio organizador que dá uma forma essencial ao caos da vida, como dissera Goethe. O herói torna um só tempo solidarias e complementares as forças vitais periféricas, que, anteriormente, puxavam em todos os sentidos, enquanto o historiador assinala o ponto cardeal, o ponto que reflete o universo inteiro. ”

Por certo o ser humano está impregnado de história: nasce no seio de uma família ou falta dela, de um povo, de uma linguagem, de um Estado, de uma religião, e assim por diante. Como recorda Johann Gustav Droysen, “ sem se aperceber, ele se apropria e interioriza o que encontrou, ...funde-se a tal ponto com seu próprio ser, que o utiliza de maneira imediata, do mesmo modo como dispõe de órgãos e membros de seu próprio corpo”. Mas conhece a liberdade. Está em condições de se colocar questões, de pensar, de tomar decisões, de agir, de insistir, cessa de um objeto passivo e se torna sujeito do mundo.

Este é a pedagogia que dá vida ao game e os habitantes da Terra da Sabedoria e m suas jornadas.

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