O Povo VS o Sistema Escolar
Advogado de Acusação (AA):
Albert Einstein certa vez disse: “Todo mundo é um gênio, mas se você julgar um peixe pela sua habilidade em subir numa árvore, ele viverá sua vida inteira acreditando que é estúpido!”
Senhoras e senhores do júri, hoje, em julgamento, temos a Escola Moderna. Que bom que vieram.
A Escola Moderna não apenas faz peixes subirem em árvores, mas ainda os fazem descer e correr 10 milhas. Me diga, escola, você se orgulha das coisas que tem feito? Transformando milhões de pessoas em robôs? Você acha isso engraçado? Você tem ideia de quantas crianças se identificam com esse peixe, nadando contra a corrente nas aulas, nunca encontrando seus dons, pensando que são estúpidas, acreditando que são inúteis?
Mas a hora chegou, sem mais desculpas! Eu chamo a escola a se levantar, acusada de matar a criatividade, a individualidade e por ser intelectualmente abusiva.
Ela é uma instituição antiga que tem feito sobreviver o seu costume. Então, Meretíssimo, isso conclue a minha declaração de abertura, e se eu puder apresentar as evidências do meu caso, eu irei provar.
Juíz (J):
Proceda.
AA:
Exposição A: Esse é um telefone moderno, reconhecem? Esse é um telefone de mais de 150 anos atrás. Grande diferença, certo?
Me acompanhem! Esse é um carro de hoje. E esse é um carro de 150 anos atrás. Grande diferença, certo?
Bem, saca essa: Aqui está uma sala de aula atual. E essa é uma sala de aula que utilizávamos há 150 anos atrás!
Auditório:
Uaaaauuuu!!!
AA:
Não é uma vergonha? E, literalmente, em mais de um século, nada mudou! Você ainda clama que prepara os alunos para o futuro? Mas com evidências assim, eu devo questionar: você prepara alunos para o futuro ou o passado?
Eu fiz uma verificação de antecedentes sobre você, e deixemos os registros mostrarem que você foi feita para treinar pessoas para trabalharem nas fábricas, o que explica porque você coloca os alunos em filas estreitas, bonitos e arrumados, lhes diz: “Sentem-se!”, “Levantem a mão se quiserem falar!”, lhes dá pequenos intervalos para comerem, e de fato durante 8 horas por dia lhes diz o que pensar. Ah, e as fazem competir para conseguirem um “A”, uma letra que determina a qualidade de produtos. Daí “carne tipo A”.
Eu compreendo, naquele tempo era diferente, todos temos um passado, eu mesmo não sou um Gandhi, mas hoje não precisamos fazer zumbis robôs. O mundo progrediu, e agora precisamos de pessoas que pensem de forma criativa, inovadora, crítica e independente, com a habilidade de se conectar.
Veja, todo cientista lhe dirá que não há dois cérebros iguais, e que todo pai ou mãe com dois ou mais filhos confirmará essa alegação. Então, explique porque você trata os alunos como formas de biscoito ou bonés, dando-lhes essa porcaria de “um tamanho que serve a todos”?
J:
Olha o linguajar!
AA:
Desculpe, Meretíssimo.
Mas se um médico prescreve exatamente o mesmo medicamenteo para todos os seus pacientes, os resultados serão trágicos! Muitas pessoas ainda ficariam doentes. Quando se chega à escola, é exatamente o que acontece. Essas má práticas educacionais, em que um professor fica de pé em frente a 20 crianças, cada uma delas com diferentes pontos fortes, diferentes necessidades, diferentes dons, diferentes sonhos… e você ensina a mesma coisa do mesmo jeito? Isso é horrível!
Senhoras e senhores, a ré não deveria ser absolvida. Esse talvez seja o pior crime de todos os tempos a ser cometido!
E mencionemos o modo como você trata seus empregados…
Advogado de Defesa:
Objeção!
J:
Negada. Eu quero ouvir essa.
AA:
É uma vergonha! Quero dizer, os professores têm o mais importante trabalho do planeta, e ainda assim eles são mal pagos?! Não se admira que tantos estudantes mudem tão pouco. Sejamos honestos, os professores deveriam ganhar tanto quanto os médicos, porque um médico pode realizar uma cirurgia cardíaca e salvar a vida de uma criança, mas um bom professor pode tocar o coração daquela crianças e permitir que ela verdadeiramente viva! Vejam, os professores são heróis frequentemente acusados, mas eles não são o problema, eles trabalham num sistema sem muitas opções ou direitos.
Os currículos são criados por legisladores, muitos dos quais nunca lecionaram um dia em suas vidas, apenas obsecados com testes padronizados. Eles pensam que assinalar numa questão de multipla escolha irá determinar o sucesso. Isso é estranho!
De fato, esses testes são tão rudes de serem usados, que deveriam ser abandonados. Mas não tomem minhas palavras por isso, tomem Frederick J. Kelly, o cara que inventou os testes padronizados, que disse e eu cito: “Esses testes são muito rudes para serem usados e deveriam ser abandonados”.
Senhoras e senhores do júri, se continuarmos nessa estrada, os resultados serão letais. Eu não tenho muita fé na escola, mas eu tenho fé nas pessoas. E se podemos personalizar os cuidados com a saúde, os carros e páginas do Facebook, então é nosso dever fazer o mesmo com a educação para atualiza-la, modifica-la, abolir o espírito escolar, porque ele é inútil, a menos que estejamos trabalhando por trazer o espírito de cada e de todos os alunos. Essa deveria ser a nossa tarefa!
Não mais “Common Core” [algo como currículo comum, ou núcleo comum], ao invés disso, toquemos o núcleo de cada coração em cada sala. Claro, Matemática é importante, mas não mais que Arte ou Dança. Ofereçamos a cada dom chances iguais.
Eu sei que isso soa como um sonho. Mas países como a Finlândia estão fazendo coisas impressionantes, eles reduziram os dias letivos, os professores têm um salário decente, tarefas de casa não existem, e focam na colaboração ao invés da competição. Mas aí vai o inesperado, meninos e meninas, o sistema educacional deles supera o de qualquer outro país do mundo. Outros lugares como Singapura estão obtendo êxito rapidamente. Escolas como Montessori, programas como o Khan Academy… não há uma solução única, mas nos mexamos, porque enquanto os estudantes possam ser 20% da população, eles são 100% do nosso futuro. Então, atentemos para os seus sonhos, e não se dirá o que não poderemos alcançar.
Esse é um mundo no qual acredito, um mundo onde peixes não são mais forçados a subir em árvores.
Encerro o meu caso.
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