É repetitivo dizer que as escolas e os governos são as instituições que menos mudaram ao longo dos dois últimos séculos, mas devido a pandemia começaram a mudar e rápido. O melhor caminho para mudar a escola é compreender os espaços não escolares que educam através de outros meios que não são salas de aula, disciplinas tradicionais, currículo e os professores ocupam outra missão que vai muito além do conteúdo. Hoje o Professor Google disponibiliza vários conteúdos mas o que ele não ensina ? O que os Big Datas e inteligência artificial não conseguem ensinar ? Essas perguntas nos educam sobre a necessidade urgente da escola quebrar seus muros como cantou Pink Floyd e ampliar seus espaços não escolares. Da mesma forma os professores tem que compreender que o aluno tem outros professores que não são da Escola mas que impactam sua formação para o bem e para o mal, e temos que educar para lidar com essas circunstâncias de forma crítica, reflexiva, fortalecer suas personalidades e valores, lidar com os medos, angústias, e sentimentos que impedem seu livre desenvolvimento e liberdades incluindo econômicas, sociais e cada vez mais ecológicas.
Os bairros ou comunidades que vivemos ensina muito, assim como aplicativos cada vez mais integrados com realidade expandida interagindo com os lugares, os livros e os filmes, os esportes, a arte, os projetos sociais e ambientais, diversas experiências, a espiritualidade, as causas políticas e sociais, o trabalho, as novas tecnologias, nossa saúde, a família, enfim a vida. Todos esses espaços não escolares nos ajudam a compreender mais quem somos e o mundo que vivemos, aí as disciplinas como história, matemática, física, química, biologia, geografia, filosofia e outras tem o poder de aprofundar esses conhecimentos e expandi-los ao infinito. Porém, essas disciplinas isoladas visando decorá-las para passar no vestibular ou ter um diploma não serve ao ser nem à vida. Sim, os contextos importam, lidar com a diversidade cognitiva e múltiplos caminhos de aprender, capacidades críticas e criativas revelam nossa autonomia de pensar e construir nossa vida e moldar nossos destinos. Um caminho é pensar a educação no horizonte dos últimos duzentos anos, outros é na cultura judaica de mais de 5780 anos e múltiplas transgressões assim como na História da diversa Humanidade e dos bilhões de anos do qual somos apenas um dos frutos, que não se reduz a redução que passamos a tratar o conhecimento.
Outros aspectos a pensar sobre a educação dada hoje nas Escolas ou Universidades é compreender que educação é mais ampla do que método científico, e não se trata de negar a ciência mas ao mesmo tempo não tratá-la como dogma, Deus e ideologia. É compreender que estamos vivendo uma transição tecnológica, mudanças climáticas, brutais desigualdades e violências. No ritmo da escola ou da Universidade até que chegue esse capitulo o mundo acabou! Mesmo antes do Mestrado ou Doutorado temos que ensinar o que é certo, atualizar o conhecimento, ampliar a diversidade dos autores que lemos e não nos render a ilha dos especialistas que querem contemplar o éter linear e esquecer o real complexo.
Por exemplo, a título de conclusão deste artigo vamos falar do Estado e sobre o valor da ficção em relação ao método científico como caminhos não escolares que modificam nossa percepção da Escola e da Educação. Muito do que compreendemos como Escola é filha do Estado e da Economia. Porém, se o Estado e a Economia estão mudando, será que a escola pode se emancipar e seguir seu próprio caminho ? O Estado rendido por vários interesses nada públicos nos coloca os desafios de nos autogovernar ou dar autonomia ao lugar que vivemos garantindo segurança alimentar, energética, hídrica, trabalho, diversão, arte, esporte, saúde, e educação independente do Estado ou do mercado e sim pelo fortalecimento dos laços e vínculos comunitários, familiares e sociais. A Escola pode ajudar a comunidade que está inserida nessa jornada ? isso pode ajudar no currículo ? Hoje vivemos uma má educação no Brasil mesmo com milhares de mortes na Pandemia ainda não são lições suficientes para muitos que continuam a desprezar o vírus com o risco de morrer outros milhares devido a nosso comportamento inclusive de políticos e outros.
Lembro também que educação mais do que ciência é arte como processo de construção da aprendizagem diante de múltiplos caminhos. O que distingue a ficção da realidade não é déficit de realidade, mas um acréscimo de racionalidade como nos educa Jacques Rancière. A arte é mais filosófica que a história porque essa última diz apenas como as coisas acontecem umas após outras, em suas particularidades, enquanto a arte pode nos educar como as coisas podem acontecer de modo geral . Na História elas podem acontecer por acaso mas na arte como encadeamento de causas e efeitos. Da infelicidade à felicidade não é algo agora imposto por um Deus mas resultado da ação humana e a relação que ela mantém com o conhecimento. A infelicidade do herói trágico é consequência de um erro: um erro qualquer na condução de sua ação e não mais uma transgressão da ordem divina. A peripécia que a arte produz no universo das expectativas muitas vezes a ciência, a economia, a política, a educação quer nos esconder os efeitos adversos de nossas ações mas porque nem sempre alcançamos os resultados prometidos ? A verdadeira educação não se restringe à escola mas dialoga com a vida e nos educa sobre a prosperidade e o infortúnio, a espera e o inesperado, ignorância e o saber. No próximo artigo vamos continuar a dialogar como muitas vezes o infortúnio é efeito da ignorância que a realidade inesperada acontece, enquanto a escola nega educar para um mundo em transformação . E nem falamos sobre as desigualdades, as violências, e as máfias politicas e do crime organizado que estão inviabilizando nossas escolas, sociedade e a vida em comum.