A sala de aula é a ponta do iceberg abaixo temos camadas profundas que impactam a educação, e a vida de milhões de crianças e professores brasileiros. Não se pode falar em educação infantil sem pensar quem é a família dessas crianças, em que condições vivem em suas casas e comunidades, como o crime e diversas violências e desigualdades afetam suas vidas, ou outras questões como em que fase do aprendizado se encontram em questões como atenção, percepção, memória, pensamento, linguagem? Em que espaços desenvolvem a aprendizagem pela corporeidade e sua capacidade motora? E os afetos e a interação social? Que zona de desenvolvimento proximal se encontra? Qual a singularidade e o potencial de cada criança? E a autonomia e a individuação de cada criança que se dá por caminhos múltiplos, produção da diferença e a formação de um pensamento complexo.
O presente e o futuro de todos os países são construídos na educação infantil e em especial como sabemos de 0 a 6 anos. Existem diversas questões que afetam as crianças como a saúde delas, como se alimentam, onde vivem, afetos e não violências entre outras que impactam suas vidas e não serão resolvidas oprimindo professores e gerenciando notas. Essas questões estão sendo respondidas na Finlândia, Canadá, Emília Romana e no Brasil pelos caminhos da ética e da estética e envolve vários personagens nessa história que se escreve todos os dias. As crianças, os pais, os professores, diversos gestores públicos que impactam a educação de diversas formas, a comunidade, e a sociedade como um todo. Infelizmente até empresas que querem moldar a educação, incluindo a infantil, para formar trabalhadores e lhe negarem diversas expressões do seu ser e existências. Cada personagem compreende a educação infantil de diversas formas e muitas vezes ao invés de construirmos uma orquestra que cuida de nossas crianças estamos criando ruídos que buscam eliminar a construção de saberes e pesquisas realizadas nas escolas e nas vidas das crianças que nos educam para enfrentar essas realidades que não são tratadas em cases espetáculos ou algoritmos.
Todos querem falar de educação infantil no Brasil, mas é a mesma que defendemos para os filhos dos ricos e as crianças pobres do Brasil? Os professores têm acesso a melhores condições de vida e capacitação para melhorar a qualidade de seu trabalho? Eu poderia citar que os filhos do Governador Ratinho do Paraná, conforme matéria divulgada na imprensa, tem uma educação de uma escola inglesa que atua em Curitiba baseada em filosofia, política e outras que é bem diferente da oferecida nas escolas públicas paranaenses. Eu poderia citar que enquanto a Fundação Lemann diz apoiar escolas públicas, o Empresário Jorge Paulo Lemann, dono da fundação, compra redes de escolas no Brasil, e impõe um modelo sem Democracia como foi feito na aprovação da BNCC ou em vários movimentos políticos de junho que levaram ao golpe de Dilma apoiados por Lemann. Porém todos mencionam em seus discursos a Democracia e as Universidades americanas em suas ações. Porém no Brasil temos empresas acostumadas com incentivos fiscais e enriquecimento pelos caminhos dos acordos das privatizações agem diferente? Como diria o educador americano John Dewey, a educação e democracia andam juntos com a ética e estética construídas coletivamente como nos educa Malaguzzi, visando espaços de afetos, interação social e autonomia que devem ser exercidos em casa, na escola e na sociedade. Não adianta discutir currículos, avaliação, ou reduzir material didático aos interesses do mercado, sem tratar essas questões de forma complexa e a médio e longo prazo como fazem todos os países que se destacam no PISA. Em primeiro lugar não se separa política educacional de social.
Os dias das crianças e dos professores só serão felizes se não negarmos a realidade brutal em que vivem a maioria de nossas crianças e professores, se vários atores entre Governos e fundações deixarem de criar e propagar falsos "cases espetáculos" que excluem a maioria das crianças e jovens, focando nas notas de português e matemática de uma minoria, mas oprimem as vidas dessas crianças e professores em outras áreas sem melhoraras pela educação ou gerar ascensão social, colocando elas a serviço de interesses políticos e mercantis.
O nome disso não é educação. As condições extremas que vivem nossas escolas, incluindo nossas creches, a vida dos pais e professores nas comunidades onde vivem, hoje dominadas pelo tráfico, é preciso melhorar de verdade; isso é o que vai gerar melhores notas e qualidade de ensino e vida para todos. Antes de estudar ciência de dados e seus algoritmos, é melhor estudar a História e os pensamentos de educadores que muito mais que nossos políticos e empresários doam suas vidas ao presente e futuro desse Brasil.
Dia do Professor: menos da metade dos brasileiros creem que docentes são respeitados
Mariana Alvim
Da BBC News Brasil em São Paulo
14 outubro 2022
A maioria dos brasileiros, 74%, acreditam que ser professor é tão ou mais difícil do que ser médico, engenheiro ou advogado — mas apenas 25% da população considera que os docentes são tão valorizados quanto aqueles profissionais.
Este descompasso entre um enorme reconhecimento pela população da importância do professor e a percepção de que eles são pouco valorizados em suas comunidades foi revelado por uma pesquisa realizada pelo IPEC e pelo Instituto Península e divulgado na véspera do Dia do Professor, celebrado neste sábado, 15 de outubro.
A partir de uma amostra de entrevistados com características semelhantes à população brasileira, a pesquisa estimou que nada menos de 98% dos brasileiros acreditam que bons professores são capazes de transformar a vida de uma pessoa e 86% que esses profissionais estão sempre agindo no melhor interesse dos estudantes.
"Foi uma grata surpresa saber o quanto as famílias e a sociedade de fato reconhecem a importância do professor e o quanto elas têm clareza sobre a complexidade dessa profissão", afirmou Morel à BBC News Brasil por telefone.
"Levando em consideração alguns estudos que nós fizemos durante a pandemia, temos a percepção de que, quando a escola entrou para dentro da casa das famílias (com aulas remotas, por conta do isolamento social), isso deixou muito evidente, quase palpável para cada um dos brasileiros a real complexidade do que é ser professor."
Para a diretora do instituto, formada em engenharia química e com uma carreira anterior na área de negócios, a mesma sociedade que entende a importância do professor considera que as condições para o trabalho dele não são favoráveis.
"O sistema educacional e as escolas não oferecem todas as melhores condições de trabalho para que o professor possa exercer o ofício dele da melhor maneira. Então não é uma questão da sociedade não enxergar o professor. É que se você olha para as condições de trabalho do professor, para o desenvolvimento profissional e o reconhecimento dele, você vê que tem algumas peças faltando nesse tabuleiro", diz Morel.
"Quando você pergunta para os professores o que significa a valorização profissional, eles falam do reconhecimento das famílias, eles falam de salário, claro, mas eles também falam de formação continuada, eles falam do ambiente escolar, eles falam de jornada de trabalho", acrescenta, enumerando diferentes fatores que influenciam o desenvolvimento profissional e o reconhecimento dos professores.
Para Morel, a percepção majoritária de que os professores não são cuidados e respeitados por colegas, alunos e famílias não é um reflexo apenas de casos de agressões — verbais ou físicas — contra docentes.
"Os casos extremos, com toda razão, recebem muita divulgação, mas eles não representam o dia-a-dia da escola. A minha percepção é que a gente ainda tem um universo importante de crianças, estudantes e pais que respeitam profundamente os professores."
Uma questão prática que é parte do cotidiano de boa parte dos professores brasileiros e pode explicar alguma "peça faltando" na relação entre colegas é o acúmulo de trabalho em diferentes escolas — com professores trabalhando em duas, três ou até mais escolas.
"Esse profissional tem menos tempo de planejamento das aulas, menos tempo de engajamento na comunidade escolar e de troca com colegas. Muitas vezes, o professor se sente muito solitário."
O professor é o foco do Instituto Península, fundado em 2010 pela família de Abilio Diniz, que se propõe apoiar iniciativas que lidem com o desenvolvimento emocional, cognitivo, relacional e social desses profissionais.
A pesquisa foi realizada pelo IPEC no início de junho e contou com 2 mil participantes, entrevistados pessoalmente.