SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

terça-feira, 21 de janeiro de 2025

Doppelgänger: Uma viagem através do Mundo-Espelho


 Doppelgänger : palavra de origem alemã que significa “duplo ambulante”. Refere-se à ideia de que cada indivíduo tem o seu sósia, muitas vezes uma cópia maligna, circulando por aí. É com esse termo que a canadense Naomi Klein identifica a “Outra Naomi”, uma jornalista com quem passa a ser confundida. O problema é que, enquanto Klein é uma das vozes mais respeitadas entre intelectuais de esquerda no mundo todo, sua doppelgänger se torna, em plena pandemia, assumida negacionista, antivacina e difusora de teorias da conspiração das mais variadas, com ampla interlocução nos canais da extrema direita.

Em Doppelgänger – uma viagem através do Mundo-Espelho , a escritora Naomi Klein faz uma investigação de fôlego no submundo online da desinformação e das teorias conspiratórias. Autora de vários best-sellers e traduzida em mais de trinta idiomas, ela analisa como funciona essa realidade paralela, um mundo invertido no qual as pessoas embarcam em uma teia de verdades facilmente contestáveis e assumem discursos fanáticos, repletos de violência e paranoia, expandindo a polarização das redes sociais para diversas outras esferas da sociedade.

No paralelo com Alice, que se lança do outro lado do espelho, mergulha na toca do coelho e vê o mundo invertido, Naomi Klein usa a “cultura doppelgänger ” como ponto de partida e de análise em sua envolvente narrativa. Ao longo dos capítulos, ela entrelaça temas aparentemente tão diversos como a cultura digital e a luta antirracista, os esquecidos do capitalismo e o conflito Israel-Palestina. Uma viagem que passa obrigatoriamente pelo Brasil, que vive então sob o governo Bolsonaro.

A edição da CARAMBAIA tem tradução de Renato Marques e conta com posfácio do filósofo e professor da PUC-Rio Rodrigo Nunes.

O segredo da Dinamarca para o equilíbrio saudável entre trabalho e vida pessoal.

 

O segredo da Dinamarca para o equilíbrio saudável entre trabalho e vida pessoal

Gabriel Hoces

Crédito,Gabriel Hoces

Legenda da foto,Gabriel Hoces é funcionário de uma empresa de tecnologia em Copenhague
  • Author,David Silverberg
  • Role,Repórter de negócios

Gabriel Hoces repete uma palavra sete vezes ao falar sobre como é trabalhar na Dinamarca: "confiança".

"Ninguém está tentando te microgerenciar ou olhar por cima do seu ombro", diz ele, que trabalha para uma empresa de tecnologia em Copenhague.

"Os chefes não vêm verificar se você trabalhou oito ou nove horas por dia, pois eles só se importam se você concluiu seus projetos."

"Há muita confiança na Dinamarca neste sentido, e não sinto uma hierarquia no meu trabalho. É tudo muito democrático."

Não é surpresa para Hoces, que é casado e pai de duas filhas pequenas, o fato de a Dinamarca estar constantemente entre os cinco países do mundo com melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

Apenas 1,1% dos dinamarqueses precisam trabalhar 50 horas ou mais por semana, de acordo com os dados mais recentes da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A proporção é significativamente menor do que a média mundial, de 10,2%.

Para efeito de comparação, no Reino Unido o percentual é de 10,8% e, nos Estados Unidos, de 10,4%.

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Meik Wiking, autor do livro The Art of Danish Living ("A arte de viver dinamarquesa, em tradução livre), considera há muito tempo sua terra natal como um exemplo no qual outros países deveriam se inspirar ao formularem suas políticas relacionadas ao ambiente de trabalho.

"Os dinamarqueses são realmente felizes no trabalho", diz ele à BBC.

"Quase 60% dos dinamarqueses afirmam que continuariam a trabalhar se ganhassem na loteria e se tornassem financeiramente independentes."

Wiking, que também é chefe do think tank dinamarquês The Happiness Research Institute ("instituto para pesquisa da felicidade", em tradução literal), enumera várias políticas que, em sua avaliação, ajudam a gerar um forte equilíbrio entre vida pessoal e profissional na Dinamarca.

Entre elas estão o direito a um mínimo de cinco semanas de férias remuneradas por ano, além dos feriados nacionais. No Reino Unido, a maioria dos trabalhadores tem direito a um número próximo, 5,6 semanas de férias remuneradas, mas nos EUA o total pode chegar a apenas 11 dias.

A Dinamarca também oferece seis meses de licença maternidade e paternidade remuneradas. No Reino Unido, o pai, ou parceiro que não deu à luz, normalmente recebe de uma a duas semanas.

Nos EUA, há apenas uma garantia federal de licença parental não remunerada, embora alguns Estados, como a Califórnia, agora ofereçam licença remunerada após o nascimento de um filho. Funcionários públicos federais podem obter 12 semanas de licença remunerada.

Meik Wiking

Crédito,Meik Wiking

Legenda da foto,Meik Wiking afirma que a maioria dos dinamarqueses gosta de ir trabalhar

Wiking é outro dinamarquês que cita o conceito de chefes que confiam em seus funcionários para fazer a coisa certa. Ele usa o exemplo dos funcionários do parque de diversões Tivoli Gardens, em Copenhague, onde eles seguem a regra dos três metros.

A ideia é que você seja o CEO de tudo que está dentro de um raio de três metros.

"Se você vir lixo em um raio de três metros, você o recolhe e, se vir um cliente procurando algo, você para e pergunta se pode ajudar", explica Wiking.

Ele acrescenta que, quando os funcionários se apropriam do seu próprio espaço, isso pode ajudá-los a se sentir empoderados e valorizados, o que contribui muito para um sentimento saudável em relação ao local de trabalho.

Janine Leschke, professora do departamento de administração, sociedade e comunicação da Copenhagen Business School, afirma que a Dinamarca definitivamente "não pratica uma cultura de trabalho em que você tem que aparecer e estar disponível o dia todo, a noite toda, para mostrar que está trabalhando duro o tempo todo".

Em vez disso, ela diz que a flexibilidade durante a jornada de trabalho oferece aos funcionários o tempo necessário para, por exemplo, buscar os filhos na escola ou na creche.

"O dia não precisa terminar oficialmente às cinco ou seis horas da tarde, e isso é atraente para muitos dinamarqueses com filhos."

Hoces notou que alguns empregadores nos Estados Unidos podem esperar que seus funcionários estejam disponíveis nos fins de semana para responder e-mails ou mensagens. Este tipo de hora extra não se encaixa em sua perspectiva de equilíbrio positivo entre vida pessoal e profissional.

"Se eu tivesse que atender ligações no fim de semana, isso seria um grande sinal de alerta para mim, e eu provavelmente mudaria de emprego", diz ele.

"Mas até agora isso não aconteceu comigo nem com ninguém que eu conheça."

Casper Rouchmann, CEO e fundador da empresa de tecnologia SparkForce, em Copenhague, acredita que sua política de liderança descontraída seria familiar para a maioria dos dinamarqueses.

"Você não precisa me pedir para sair mais cedo", afirma.

"Ninguém se aproveita da minha gentileza."

O executivo acrescenta que o elemento da confiança está tão arraigado na cultura dinamarquesa que os visitantes da Dinamarca muitas vezes se surpreendem com o grau de confiança.

Ele também destaca o generoso Estado de bem-estar social e o fato de que as empresas precisam dar uma indenização financeira aos funcionários que são demitidos.

"Se você perder o emprego, o governo está lá para ajudar", acrescenta Rouchmann.

Por mais que outros países possam aprender com o equilíbrio entre vida pessoal e profissional da Dinamarca, ele observa que há algumas desvantagens.

"Algumas pessoas podem confiar demais nessa rede de segurança, e isso pode dizer a elas que não precisam correr riscos reais, e é por isso que podemos ser menos empreendedores em comparação com os EUA."

Casper Rouchmann

Crédito,Casper Rouchmann

Legenda da foto,Ninguém 'se aproveita' da generosidade dos chefes, diz Casper Rouchmann

Samantha Saxby, especialista americana em recursos humanos, acredita que a Dinamarca tem um equilíbrio positivo entre vida pessoal e profissional porque o país "prioriza o bem-estar coletivo".

Por outro lado, ela destaca que os EUA "há muito tempo enfatizam a conquista e a ambição individuais, o que impulsionou uma tremenda inovação, mas muitas vezes às custas do equilíbrio entre vida pessoal e profissional".

Mas, segundo ela, as empresas americanas e de outras partes do mundo podem estar finalmente seguindo o exemplo da Dinamarca e de outras nações nórdicas.

"As organizações progressistas estão introduzindo benefícios como folgas remuneradas ilimitadas, dias dedicados à saúde mental e programas de bem-estar para incentivar os funcionários a priorizar o autocuidado", diz Saxby, que é diretora de marketing da Associação Nacional de Recursos Humanos dos EUA.

"Estas medidas não apenas aliviam a pressão, como também demonstram que os empregadores valorizam o bem-estar geral da sua força de trabalho."

"Mais empresas estão reconhecendo que funcionários bem descansados e equilibrados apresentam novas ideias, têm melhor capacidade de resolução de problemas e maior engajamento. Os funcionários estão começando a se sentir empoderados para tirar o tempo que precisam sem sacrificar o avanço da carreira profissional."

domingo, 5 de janeiro de 2025

A clínica rebelde: Uma biografia de Frantz Fanon

 


Uma biografia reveladora do escritor e ativista que inspira até hoje a luta por justiça social e racial.

A vida de Frantz Fanon se lê como um verdadeiro thriller da descolonização. É também o testemunho essencial das convulsões políticas e intelectuais do século XX, cujas consequências chegam até nós.
Após combater na Europa e no Norte da África durante a Segunda Guerra, e tendo estudado medicina na França, Fanon, um jovem psiquiatra carismático e talentoso vindo da Martinica, publica Pele negra, máscaras brancas com apenas vinte e sete anos: uma obra profética que com o tempo se tornará um clássico incontornável do pensamento antirracista.
Num texto que preza pela clareza e erudição exemplares, 
A clínica rebelde é a melhor e mais profunda apresentação da vida e obra de Frantz Fanon. Traçando com minúcia o extraordinário destino de seu personagem, o autor mostra por que o revolucionário negro é cada vez mais importante nos dias de hoje.
Fanon teve uma vida dedicada ao pensamento e à ação. Contraditória, como mostra 
Adam Shatz, mas cada vez mais essencial.

sábado, 4 de janeiro de 2025

Aumentar imposto para ricos permite isentar IR de até R$ 5 mil sem rombo nas contas públicas, diz estudo

 

Mão contando notas de cem reais

Crédito,José Cruz/Agência Brasil

  • Author,Mariana Schreiber
  • Role,Da BBC News Brasil em Brasília

A ideia do governo Luiz Inácio Lula da Silva de aumentar a isenção do Imposto de Renda (IR) para pessoas que ganham até R$ 5 mil por mês não vai agravar o rombo das contas públicas se de fato for implementada com o aumento da tributação sobre os mais ricos, estima o Sindifisco Nacional, sindicato que representa os auditores-fiscais da Receita Federal.

A proposta — anunciada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no início de dezembro — foi mal-recebida pelo mercado financeiro e dividiu economistas acadêmicos justamente pelo temor de que a perda de arrecadação piore o rombo nas contas da União e aumente o endividamento público.

Esse contexto é apontado como um dos fatores que acelerou a escalada do dólar no Brasil — a moeda americana bateu patamares recordes nas últimas semanas, chegando a superar R$ 6,30.

O governo, porém, argumenta que as mudanças propostas no IR terão impacto neutro na arrecadação, ou seja, não vão nem aumentar nem reduzir o valor total recolhido hoje pela Receita Federal.

Segundo Haddad, o compromisso firmado com o Congresso é de que a isenção até R$ 5 mil só será aprovada em conjunto com o aumento da tributação para os que ganham mais de R$ 50 mil por mês.

Críticos da proposta temem que isso não seja cumprido e que o Parlamento autorize a perda de receitas sem aprovar juntos o imposto mais alto sobre os mais ricos, o que agravaria a crise fiscal.

Já as estimativas do Sindifisco apontam que, se as medidas foram de fato implementadas conjuntamente, pode até haver ganho de arrecadação (entenda os números ao longo da reportagem).

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Uma tonelada de cocaína, três brasileiros inocentes e a busca por um suspeito inglês

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Para o auditor-fiscal Isac Falcão, que presidiu o sindicato até o final de 2024 e quando o estudo foi feito, a proposta do governo vai na direção certa ao reduzir as distorções no IR brasileiro. Hoje, pessoas de menor renda pagam proporcionalmente mais imposto que os mais ricos, pois uma parcela relevante dos ganhos da elite é isenta, como os lucros e dividendos distribuídos por empresas para seus acionistas.

Essa diferença fica clara ao se analisar a alíquota efetiva média — proporção da renda total efetivamente paga em IR — de diferentes categorias e grupos de renda.

Dados da Receita Federal analisados pelo Sindifisco mostram que professores universitários, por exemplo, pagam, em média, uma alíquota efetiva de 12,8%. Já contribuintes com renda anual acima de R$ 2,7 milhões pagam, em média, menos de 6% de IR.

Para Falcão, a implementação conjunta do aumento da isenção com a taxação maior sobre os ricos vai reduzir essas distorções, além de impactar positivamente o crescimento da economia.

"A reação negativa à proposta do governo se explica mais pela resistência dos mais ricos em pagar mais imposto", acredita.

"Os efeitos econômicos tendem a ser altamente positivos, porque os recursos liberados com a isenção até R$ 5 mil provavelmente retornarão para a economia, com a compra de produtos e serviços [pelos contribuintes beneficiados]. Já a tributação sobre altas rendas não gera retração econômica, porque essas pessoas já têm suas necessidades de consumo satisfeitas", argumenta ainda.

Hadad e Lula conversam

Crédito,EPA-EFE/REX/SHUTTERSTOCK

Legenda da foto,Haddad diz que há acordo com o Congresso para aprovar medidas sem reduzir arrecadação

Entenda melhor a proposta e as estimativas de impacto

Os detalhes das mudanças do IR pretendidas pelo governo só serão conhecidos em 2025, com o envio das propostas ao Congresso, a partir fevereiro, quando acaba o recesso parlamentar.

No entanto, com base no que foi anunciado até o momento, espera-se que o governo proponha um mecanismo tributário — a chamada dedução simplificada — para isentar rendas de até R$ 5 mil e uma redução do IR para quem ganha acima desse patamar até o limite de R$ 7 mil.

Atualmente pelo mecanismo de dedução simplificada, quem ganha até dois salários mínimos (R$ 2.824), não paga imposto de renda.

As pessoas que ganham mais do que isso tem um patamar menor de isenção, hoje em R$ 2.259. Ou seja, quem ganha, por exemplo, R$ 15 mil, paga IR sobre R$ 12.741.

A princípio, esse patamar geral de isenção não vai mudar com a proposta do governo que vai acabar com o IR de quem ganha até R$ 5 mil.

E quem ganha de R$ 5 mil a R$ 7 mil terá uma redução ainda não especificada pelo governo.

O mecanismo de dedução simplificada permite ao governo beneficiar os grupos de menor renda, sem adotar uma isenção ampla, o que reduziria demais a arrecadação.

Caso seja aprovada uma proposta nesses termos, aliada a uma redução do IR de quem ganha acima de R$ 5 mil até R$ 7 mil, o Sindifisco estima que a mudança beneficiará 16,1 milhões de contribuintes, somando cerca de R$ 35,5 bilhões em renúncia fiscal para o governo.

Por outro lado, Haddad anunciou que as perdas serão compensadas com a criação de uma taxa mínima de até 10% sobre a renda de quem ganha mais de R$ 50 mil por mês.

Hoje, é comum que milionários brasileiros paguem menos de 10% de IR sobre sua renda total porque uma parcela importante dos seus ganhos não é tributada, como no caso de lucros e dividendos.

O Sindifisco simulou quanto pode ser arrecadado caso seja implementada uma alíquota mínima progressiva, que partiria de 0% para ganhos anuais de R$ 600 mil (média de R$ 50 mil por mês) e subiria gradativamente até 10% para ganhos que superem R$ 1,2 milhão ao ano (cerca de R$ 100 mil por mês).

A expectativa é que isso elevaria a arrecadação em R$ 41,06 bilhões, superando as perdas projetadas de R$ 35,5 bilhões com o aumento da isenção até R$ 5 mil e a menor tributação até R$ 7 mil.

Para o Sindifisco, essa margem extra de arrecadação é importante para manter o impacto neutro das medidas porque os grupos mais ricos costumam ter estratégias de planejamento tributário que, na prática, reduzem o valor recolhido em IR. Essas estratégias usam brechas das regras tributárias para pagar menos impostos.

Parcela pequena dos contribuintes pagaria mais, diz Sindifisco

De acordo com os dados da Receita Federal analisados pelos Sindifisco, cerca de 400 mil pessoas ganham mais de R$ 600 mil ao ano no país, o que representa cerca de 1% do total de contribuintes. No entanto, segundo a simulação do sindicato, apenas cerca de 160 mil de fato seriam afetados e pagariam mais impostos com a medida.

Isso porque parte dos que ganham acima de R$ 600 mil ao ano já paga alíquota efetiva acima dos patamares mínimos propostas na simulação e, por isso, não teriam acréscimo de tributação.

Por exemplo, a simulação do Sindifisco projeta que a alíquota mínima para contribuintes que ganham cerca de R$ 1 milhão ao ano ficaria em 7,5%. Esse grupo, no entanto, paga em média uma alíquota efetiva de 8,11%, o que significa que boa parte não teria que pagar nada a mais, caso a proposta passe no Congresso.

Na visão do Sindifisco, poderiam ser adotadas alíquotas mínimas ainda maiores do que as que o governo está propondo. A instituição fez uma segunda simulação, em que a alíquota mínima chegaria a até 12,8%, a mesma paga em média por professores universitários, em vez dos 10% propostos pelo governo.

Nesse cenário, haveria uma arrecadação extra de R$ 35,5 bilhões em comparação à primeira simulação.

"Para se ter uma ideia, o valor corresponde ao gasto com segurança pública realizado em 2023 por todos os Estados do Nordeste e Centro-Oeste juntos, segundo informações do Anuário Brasileiro de Segurança Pública", afirma o Sindifisco, no estudo.

Silhueta de homem obseva uma imagem de leão, símbolo do Imposto de Renda

Crédito,Joédson Alves/Agência Brasil

Legenda da foto,Ricos pagam proporcionalmente menos impostos no Brasil, aponta Sindifisco

Reforma mais ampla do IR foi adiada

A expectativa era de que o governo enviaria ao Congresso, em algum momento, uma ampla reforma do IR, para simplificar e corrigir distorções tanto da tributação de renda das pessoas físicas como de empresa.

A proposta do governo de criar uma alíquota efetiva mínima sobre os mais ricos foi uma forma mais simples de enfrentar essas distorções.

Na prática, isso vai permitir a taxar ao menos parte dos lucros e dividendos, que hoje são isentos, sem realizar uma reforma mais ampla.

Isso porque alguns economistas defendem que a taxação direta da renda distribuída aos acionistas só deveria ser implementada junto com a revisão da tributação dos lucros das empresas.

Em entrevista à BBC News Brasil no início de dezembro, o economista Samuel Pessôa, pesquisador do Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), criticou a opção do governo pela solução mais simples, de criar um imposto mínimo.

"Eu acho que o esforço de mudar a legislação brasileira, tributando mais os ricos, é positivo. Há sinais de que as altas rendas no Brasil pagam pouco imposto. Mas essa medida é um esparadrapo, vai pegar um monte de coisa diferente", disse Pessôa.

"A questão é que há vários regimes tributários. Tem gente que pagou na Pessoa Jurídica 34% e outros que pagaram na Pessoa Jurídica 5%. Se na Pessoa Física ambos pagarem menos do que 10% da renda declarada, eles serão cobrados pela diferença até atingir 10% de alíquota média efetiva [segundo a nova proposta do governo], sem considerar que pagaram valores diferentes na jurídica", disse ainda.

O Sindifisco, por sua vez, tem visão diferente.

"A gente precisa sim enfrentar [as distorções] do Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas. Esse é um problema importante que o Brasil tem que resolver. Mas isso não é condição para se tributar as pessoas físicas mais ricas", afirma Falcão.

"Quando a gente vai amarrando muitos problemas difíceis de resolver todos juntos, e decide que só pode resolver se for resolver todos eles conjuntamente, o que acontece, na prática, é que você não resolve problema nenhum", ressalta.

OS LIMITES DA EDUCAÇÃO CONTEUDISTA, REPETITIVA E ADESTRADORA.

 



Quando verificamos os resultados do Brasil no PISA e no Timss, a posição em rankings internacionais, e comparamos com índices nacionais, temos que fazer sérias reflexões sobre os vencedores. Entre os 56 países participantes (membros da OCDE e parceiros) no PISA, o Brasil ficou no fim da lista, na 44ª posição, atrás de outras nações latino-americanas, como Uruguai, Colômbia e Peru. O Brasil está entre os piores países em ranking global, Timss, que apresenta o desempenho de estudantes do 4º e 8º anos do ensino fundamental na área de matemática. A primeira pergunta é: nós estamos nos enganando ou queremos enganar quem ? Como reduzir a educação a duas notas e negar o impacto de outras variáveis sobre o ensino e o aprendizado ? E tenta-se apagar a História e as políticas educacionais que geram não apenas boas notas mas cidadania, justiça social, riquezas, inovação, tecnologias, políticas públicas e outras.
Os marqueteiros ou coaches educacionais vendem falsos modelos de educação conteudistas, repetitivos e adestradores. Essa má educação destrói escolas e as vidas de alunos e professores. Esse modelo além de destruir a capacidade crítica e reduzir a criatividade, tem por critério passar no vestibular, conseguir um diploma de falsas universidades precárias em ensino, pesquisa e extensão; afetando nossa economia e mais do mesmo em relação aos nossos desafios econômicos, sociais e ambientais. 


Já a educação duradoura está alicerçada no fortalecimento de indivíduos e coletivos a médio e longo prazo, se enraíza na cultura e necessita desenvolver autonomia freiriana, interações sociais a luz de Vygotsky em torno do bem comum, afetos que reduz as violências como fez Wallon, a imaginação que ilumina inovações, o processo de individuação que é necessário ser potencializado na escola, caminhos múltiplos de aprendizagem, e outros. Esses processos educacionais se somam, regem e fortalecem o estudo das ciências, português e matemática, capazes de produzir pensamentos complexos, interdisciplinares e sistêmicos com capacidade crítica e criativa. Não apenas como instrumentos para uma prova e notas. O letramento em português , matemática e ciências se dá por múltiplos caminhos nas escolas, casas e sociedade. As aulas requerem inovações educacionais que dialoguem com o cotidiano e a vida dos alunos e professores, os desafios são bem vindos, assim como práticas que lidem além da razão com a coragem, liberdades, e a imaginação de exercer seus caminhos intelectuais com autonomia.


O foco nas respostas das questões, depois de ler livros didáticos e aulas expositivas, foco nos conteúdos que perde seus contextos e relações, é reforçado com mais questões do mesmo, e funciona como um processo de repetição e adestramento. Ao invés disso, o amor ao saber deve ser o horizonte que a educação e as escolas alicerçam e pavimentam os caminhos da vida.


Porém os limites de nossa educação não está nas escolas, professores e alunos, mas sim muitas vezes nos gestores dito educacionais, seus interesses, falsas propagandas e corrupções. É sobre essas ignorâncias e brutalidades que devemos canalizar o diálogo e ser escutados de forma democrática e republicana. A educação não pode ficar refém de tecnocratas, oligarquias e gangues partidárias que atuam como máfias. 


A História e a educação mudam com ideias, inovações, múltiplas vozes, respeito aos contextos onde as escolas atuam, ampliando os limites que reduzem o ser humano, o saber, a cidadania e a nação. Lutamos contra os ridículos poderes e interesses que durante 525 anos negam uma educação de qualidade ao seu povo, incluindo o acesso a creches, educação superior e outras. E infelizmente assim continuamos a viver de vender commodities, diversos tipos de crimes e corrupções, sustentando os privilégios de elites com escravidão, baixos salários e desigualdades da maioria, continuamos a exportar cérebros, o autoritarismo domina, sem a mesma chance de oportunidades para todos. Enquanto a política pública exclui, geramos a segunda população carcerária do mundo, uma das maiores desigualdades, destruindo a natureza brasileira e sofrendo os impactos da pobreza, violências e mudanças climáticas. A Educação é o caminho mais barato e eficaz em relação aos custos das consequências de uma educação conteudista, repetitiva e adestradora de lidar com todos esses problemas de uma vez só; como fizeram outras nações pelo mundo. A responsabilidade da Educação no Brasil é de todos os setores, Governos, Empresas, ONGs, Movimentos sociais, gestores, professores, alunos, famílias e comunidades. Uma Educação para todos contra os privilégios, corrupção, violências, desigualdades. Pílula vermelha ou azul ?