o olho divino |
Depois de vários anos lutando nas pastorais, grêmio, UNE, empresa júnior, ONGS, Empresas, Partidos, Banco Mundial, Projetos, Governo, ONU...Chegou a hora de parar. Nesses caminhos busquei encontrar algo, e de uma certa forma encontrei uma parte de mim em cada lugar desse, em cada sonho realizado, em cada desafio, conhecimento e valores compartilhados, porém o preço pago pela vida pessoal é muito alto e as formas de diálogo e relação entre as pessoas nas instituições estão se tornando cada vez mais troca entre mercadorias. De fato depois de lutar por ser e seres, chegou a hora de parar para não correr o risco, de transformar-me em mercadoria. Porém como sempre disse, daqui para frente é tudo bônus, digo que posso morrer a qualquer momento, morro super feliz, realizei quase tudo que sonhei, e esses sonhos nunca couberam nas instituições, muito menos em mercadorias ou relação de trocas entre pessoas. Fazer política nos partidos é pouco; achar que a Universidade representa o saber, menos ainda; que as empresas desenvolvem as capacidades das pessoas, pelo contrário; que as igrejas têm espiritualidade; há tempos é dizimo. Enfim, a questão ética e estética estão cada vez mais distantes da arte, mas graças a Deus tudo isso continua pulsando de outras formas para além das instituições; se organizando por outros meios, inclusive pela internet; e outros seres já não cabem mais nos lugares e tarefas que querem que eles ocupem. Depois que cada ser se expande e encontra seu ritmo, a música, a vida, caminham para mudar a história e os múltiplos sentidos que iluminam novos horizontes e lutas. É para lá que estou indo, você quer caminhar junto? Sozinho não dá mais! É hora de parar entre o vermelho e a sensibilidade da chuva. A razão dos bastidores castra e não ilumina mais...Por isso que o parar é sem recomeço . Quero que os lugares sangrem, não se pode sangrar sem buscar a cura das dores que crescem, gritar em seu lugar, aonde os sentidos desaparecem, já que até hoje a razão silencia em acordos e os encontros entre os seres comecem para encontrarem a si mesmos. Muitos hoje se escondem de si mesmo, se entregando aos vazios da cachaça quando pobres ou dos poderes vazios quando ricos. Sem luz, consomem a si mesmos, quando poderiam despertar para vida com novas ideias e horizontes. Nesses casos o fogo congela ao invés de aquecer, as virtudes são silenciadas. A sensibilidade da beleza que desperta nosso olhar busca conquistar a estética e a ética de nossa vida, mas muitos não querem ver nem pensar, apenas esquecer, apenas brincar, quer limpar a sujeira, mais um novo dia, mais mortes na TV e mensagens no facebook, as mesmas preocupações, dinheiro,.... É hora de parar entre o azul e o terror do cotidiano. O que cada um quer mais? Mais pimenta na comida, um carro a mais nas ruas, uma noite de sexo com mais novidades, mais uma cerveja, menos prazer, menos amor, menos fé?... Bem que poderíamos navegar, brincar de forma alegre e livre, deixar as palavras, os lugares, fluírem com seu próprio encanto, enquanto perdemos o medo de amar, de ter fé, pois é hora de parar! Você acha que consegue? Sem continuar a ler este texto, sem lutar, sem se divertir, parar de olhar para o sol, trocar de roupa, visitar novos lugares, novos amores, novas resistências, entre o branco e a vontade de morrer lutando? Entre a melancolia dos ricos e doença dos pobres, entre uma escola que adestra, uma igreja que repete palavras e perdões, o trabalho que você paga com a vida mais batata frita e cerveja, entre a arte idiota de monstros e seres fantásticos, cada vez mais velozes e destruidores? Olho para meu filho. Enquanto pinguins, soldados, cruzes, melancias, fumaças, dançam uma música sem ritmo, sem sentido nas propagandas. Todos querem o real, as mercadorias para se vestir, moldar seus corpos, ir a festas. Entre o preto e o idiota que vive sem pensar, é melhor parar! As nuvens carregam ácido, os olhos também, vamos comer etanol ao invés de trigo, vamos vender o sabor como sabonete para limpar tudo que se envergonha dos delírios, vamos queimar o fim de tudo e lançar uma nova moda. Porém enquanto várias destruições acontecem ao nosso redor, um novo vulcão explode, multidões se movem, gente nova nasce. Enquanto o amarelo não virar ouro, a luz não deixa que eu pare, os ventos, as máscaras caem, a neblina, o nevoeiro desaparece, os escombros desta sociedade vira poeira. Os pássaros voltam a voar, o declínio do capitalismo europeu e americano, abre espaços para novas hegemonias. Não preciso mais dos jornais e das velhas mídias. Posso andar de bicicleta e não comer carne; posso amar sem sexo e fazer sexo sem amor; posso lutar contra a corrupção e denunciar empresas e políticos pela internet, independente dos falsos juízes; posso respeitar a sabedoria da terceira idade e proteger o que é sagrado pra mim; posso escrever estas palavras entre o cinza e o desequilíbrio das cores e das dores; despertar uma nova consciência. Uma barbárie que ao mesmo tempo em que nega, afirma uma paz violenta em cada ser e na sociedade, capaz de despertar a dignidade de novas ideias, valores, imagens, atitudes e sonhos. Não posso parar! O balé de pássaros e pessoas, os fogos de artifício, a música, os ecos da natureza, despertam o olhar e a curiosidade das crianças. Novas explosões, o silêncio absoluto, cartazes de dores que não voltam mais, nascer de novo, de novo, de novo entre o verde e as certezas tecnológicas. Porque afinal quem somos nós? Que mesmo querendo não podemos parar, que mesmo chegando às conclusões entre poesias e razões não paramos de pensar e sentir, que mesmo sofrendo, não deixamos de amar, que mesmo que mintam, roubem, traiam, não destroem nossa fé, que potência é esta que carregamos? Assim como a natureza, essas dores e desesperanças, no silêncio emergem como furações. Destruindo e criando novas paisagens, complexidades, tecnologias, que como linhas se entrecruzam a milhares de outras formas, para tecer novas realidades, seres, cores, imagens, poesias, que afirmam a vida entre o invisível e o visível destas palavras e cores que não paro de ser escolhido por elas.