Enquanto para uns tudo é gestão para outros tudo é politica e da mesma forma disfarçam os interesses de seu grupo com maiorias construídas momentaneamente com aquele fim. Usam os cargos e o dinheiro público para cooptar burocracias ao invés de instrumento de dialogo e aperfeiçoamento coletivo de políticas construídas publicamente. No meio de tudo isto entre os gestores e a nova casa grande politica ainda aparece os defensores dos pobres, excluídos... Como setores da igreja, ONGS, empresas que tem programas de responsabilidade social que dizem que não precisam da politica e vão resolver a pobreza sem o estado utilizando a mágica da “gestão social” misturando a moral com a ética, o pessoal e o coletivo.
Porém a verdade é que precisamos dos 3 e das diferenças entre elas. Necessitamos de um moral que não se reduza a política, de uma política que não se reduza a moral, e de uma gestão que não se reduza a política e nem a moral. Este é nosso desafio como equilibrar os três saberes a luz das vozes das comunidades que demandam aos gestores e políticos, politicas publicas capazes de mudar suas vidas ? Enquanto a questão politica busca a relação entre o justo e o injusto, a moral foca no debate entre o bem e o mal, ou melhor, entre o humano e o inumano. Mas qual o sentido deste debate quando não há um consenso sobre a sociedade ideal entre o que seria a justiça hoje no meio de tantas injustiças tão banais ao nosso lado? Quais os sentidos do bem e do mal quando Deus não unifica mais a coesão da sociedade em torno de uma espiritualidade única ou hegemônica? Hoje a busca deste sentido é a maior expressão politica de nosso tempo pois hoje a legitimidade do Estado não vem mais das suas forças feudais cada vez mais transparentes em suas ousadias de se considerarem reis e rainhas no meio de tantos ídolos ;mas da capacidade do Estado em transformar as injustiças no bem de uma maioria ao acessar seus direitos. Estes direitos não podem ser construídos de fora para dentro mas devem respeitar a capacidade das pessoas de construírem os sentidos de suas vidas. Pois mesmos Espartacos derrotados carregados de sentidos são mais heróis do que generais vitoriosos a custa da força do poder das armas ; e muitas vezes as politicas publicas e o Estado tem se transformado em armas para os poderosos concentrarem mais renda negando a dignidade básica de seu povo.
E de que adianta vencer quando não se sabe por que viver? As pessoas não acreditam mais no mundo e nos seus políticos porque tem sido negado a elas o acesso aos direitos , espaços que nos permitem, a construção de sentidos comunitários em suas vidas, de busca do saber, de realização pelo trabalho, de prazeres e alegrias na cultura enfim daquilo que nos torna humano . Porque é este compartilhar direitos que nos torna comunidade. Sem vínculos, não há comunidades, não há sentidos, nao ha politica. Não nos reduzimos como seres humanos ao consumo e ao dinheiro. Como disse no inicio, mais do que a gestão ou as lutas politicas ideológicas o que esta em jogo na validação das politicas públicas é os sentidos que permitem que indivíduos exerçam suas capacidades e os direitos universais que dão forma e vida as comunidades. Portanto as regras e os valores que as leis e o Estado, seus gestores e políticos, devem querer implementar nascem da reconstrução dos tecidos sociais que voltam a religar as pessoas em torno mais que de bens econômicos e sim do bem que podemos compartilhar em nossa humanidade. Isto é que devemos orquestrar, que as diversas pessoas possam exercer a partir do Estado um pouco de sua autonomia, de seus direitos, de suas vozes, de seus sentidos. Eu sei que a política assim como a economia é dominada pelo neoliberalismo e age por interesses ou dos negócios ou dos políticos e de seus grupos , porem é o inverso do que defendemos; afinal uma ação só pode ser considerada moral ou ética se agir por desinteresse. Esta é a grande diferença entre ser líder publico por dever ou por amor!
É urgente que coletivamente devemos construir limites para a economia e o Estado no neoliberalismo que vivemos.Portanto quais são os limites da economia? Para ela não ser usada como armas destruidoras de vida? e da politica e do Estado? Afinal hoje ,onde tudo é possível, é cada vez mais assustador as formas como estes poderes econômicos e políticos tem sido usados. Só podemos limitar estes poderes pela ética e a moral atribuindo sentidos a cada ato de nossos governos, empresas, Universidades, ONGS,.... para que elas não usem as vidas dos sujeitos que compartilham e usufruem estes espaços e poderes como estatísticas dos projetos,que elas desenvolvem com recursos públicos,em nome de legitimidades sem participação,cada vez mais vazias de sentidos e comunidades de fato e de direitos.
A soberania continua do povo e não dos governos, leis e juízes que podem e são mudados historicamente quando se confunde democracia como tentativa de anular as consciências e competências que continuam reescrevendo a história a luz da moral, da ética, da espiritualidade e dos sentidos que atribuímos inclusive aos governos. A consciência de um homem de bem é mais exigente que um legislador, afinal o individuo tem mais deveres que um cidadão. Portanto os caminhos possíveis de fortalecer as democracias e governos são criando as condições para que a educação, a liberdade e a humanidade avancem por indivíduos cada vez mais conscientes e críticos de seus sentidos e dos sentidos de sua sociedade. Seres humanos que além de respeitar as leis e cumprir todos os seus deveres possam amar. Por isso precisamos de lideres que busquem criar as condições para que vínculos, sentidos, possam se religar em suas comunidades e em suas vidas. Os cidadãos não são meros objetos , consumidores ou eleitores de políticos. Eles são pessoas que as politicas publicas têm impactos múltiplos em suas vidas.
Entendo moral tudo que se faz por dever e ética tudo que se faz por amor , aprendi com o sociólogo André Comte-sponville. É na potência de agir , no comando de nossas vidas, que exercemos nossas capacidades, nas pequenas vitórias que plantamos como seres,que damos um salto qualitativo na luta e conquista de nossos direitos. A justiça não existe,precisamos fazê-la, assim como o amor tem que ganhar vida em nossas atitudes , na construção de novas formas de governar, que emergem de baixo para cima, dos vínculos entre os indivíduos e suas diversas comunidades e expressões como trabalho, educação, cultura e outras.A política e os líderes só existem com educação,com liberdades, com vínculos,com comunidades,ela é feita dos elos capazes de reconstruir os sentidos,o tecido social,as capacidades, e tudo aquilo que só podemos fazer coletivamente, muito mais que os governos,como preservar a natureza,gerar trabalho,melhorar a educação,reduzir a violência e a criminalidade,por que isto necessita das atitudes das pessoas e da capacidade do poder público de orquestrar estas “músicas” potencializando as vidas e as comunidades.
Porem infelizmente grande parte dos políticos a confundem com seus interesses e seus podres poderes, frutos de suas incapacidades e das maquinas inúteis que os produziram confundindo-os com seus egos e vaidades. A Democracia morre quando o vazio da não realização de sentidos nas vidas das pessoas deixam elas ser devoradas pela escuridão de um ser reduzido a objeto por sua comunidade e seus líderes ditos públicos.
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