1. INTRODUÇÃO – Como funciona ?
Criamos uma Exposição
A CARA DA VIOLÊNCIA para circular por vários ambientes distintos com públicos
diversos visando interagir, registrar e pesquisar as várias percepções da
violência. Conhecer de perto os autores de atos violentos, ver como as pessoas
reagem aos programas policiais ou filmes editados em uma sequência de uma hora que
mostram as violências e seus diversos personagens; e criar meios numa segunda e
terceira tela para que pessoas diversas possam dialogar sobre as violências em
suas vidas é o que buscamos.
Os lugares?
A Exposição circulara
em Presídios, Terminais de ônibus, Escolas públicas e em Cursos de Arte. Ela é
composta por 3 data shows e suas respetivos projetores e telas além de uma
câmera que registra a percepção das pessoas sobre as imagens exibidas numa
terceira tela.
O que filmamos?
A ideia central é que
as imagens registradas em um dos ambientes possam ser mostradas em outras ao
lado de filmes e programas policiais violentos. Esta síntese de filmes e
programas policiais editados em capítulos de uma hora como uma serie também
estarão disponíveis na internet. Sendo os últimos 20 minutos o registro das
reações, percepções e comportamentos das pessoas que assistem as cenas de
violência. O diálogo entre estas Caras da violência durante o processo vão
sendo editadas para gerar o filme da exposição A CARA DA VIOLÊNCIA. O filme é o
resultado de um mosaico digital de imagens de várias caras dialogando entre si
sobre as violências em suas vidas formando uma só imagem. O objetivo é que
partes deste filmes possam circular em celulares via WhatsApp.
2 AS PESQUISAS DOS IMPACTOS DA INSTALAÇÃO A
CARA DA VIOLÊNCIA
Estas imagens e cenas
exibidas durante a exposição em vários lugares são expressões diretas da
violência, refletem a brutalidade dos fatos sem narrativas para “explica-las”. Uma sequência de uma 1 hora expondo uma
variedade caótica, onde as violências se criam e reproduzem por variações
múltiplas em nossas vidas e cidades. Como se elas tivessem uma sequência que
dependesse de nossos atos? Como se tivéssemos que após assisti-las tivéssemos que
expurga-las, sublima-las, gerar cartasses ou apenas nega-las, se anestesiar
emocionalmente ou fugir?
“De várias formas,
incluindo a arte, nos também desenhamos a violência em nossas vidas e cidades.
Cada um de nós, e não apenas os criminosos, somos a cara da violência” Este
trecho do texto conceitual da instalação A CARA DA VIOLËNCIA nos convida a
refletir e interagir com atitudes sobre as diversas violências que vivenciamos
e suas consequências múltiplas sobre as caras e as vidas de outras pessoas.
As perguntas essenciais!
São três questionamentos
que realizamos depois que as pessoas assistem os filmes.
1. Quais as consequências destas violência em
suas vidas e como você reage a eles ou não?
2. Que atitudes violentas você assim como eles
exerce em sua vida?
3. Após assistir estas imagens o que mais lhe
atrai? O que sente ou pensa sobre o que vê?
Os filmes e Programas
de TV escolhidos.
Selecionamos apenas
três filmes que por serem bastante conhecidos por se tornaram ícones pops de
nossa cultura. O primeiro” Sin City “de Robert Rodriguez e Frank Miller, o
segundo “Kill Bill” de Tarantino e o terceiro uma edição de lutas do UFC e
programa policial “Barra pesada.
“Observamos neles personagens
emergirem a ícones da cultura pop das novas gerações. Se eles foram criados
pela arte do cinema ou são reflexos de pessoas reais que vivem no mundo do
crime pouco importa. O que me interessa nesta instalação é saber por que eles
nos atraem? O que eles despertam em cada um de nós? Quanto carregamos em nossos
instintos da violência apesar de todo processo civilizatório, também forjado
pela violência, das leis, cultura de paz e do valor que atribuímos a arte do
belo que deveriam ser antídotos a violência.”
Acredito que durantes
anos vários nossa sociedade planta e colhe vários símbolos da violência. Eles
iniciam em uma escala cult que retrata histórias reais de nossa sociedade que
vão se tornando práticas e comportamentos culturais até se tornarem símbolos de
poderes inconscientes que se multiplicam como vírus e reações as doenças de
nossa sociedade.
3. UMA SEGUNDA LINHA DE PESQUISA.
Esta é uma segunda
linha de pesquisa buscamos entrevistar presos que assistiram estes filmes e que
em determinados momentos de suas vidas foram significativos para suas ações.
Por isso as imagens dos filmes se conectam com cenas dos criminosos em
programas policiais. Eles nos ajudam a entender os processos sociais como
pequenas sociedades se formam ao nosso redor com suas próprias éticas, leis e
comportamentos. Como no caso das máfias, narcotráficos e outras.
4. REFERENCIAIS TEÓRICOS.
Por isso busquei
fundamentar esta instalação em quatro livros que falam sobre abordagens e
métodos de como lidar em situações como estas.
1. O primeiro livro “ZEROZEROZERO” de Roberto Saviano
autor de outro livro Gamorra que também gerou o filme com o mesmo nome. Ele
retrata como o narcotráfico forma jovens para realizar assassinatos. Estes
jovens são colocados em casas durante três meses assistindo filmes e jogando
games violentos. Um deles assim que saiu cumpriu uma missão matou 15 pessoas
numa operação. Ao ser preso ele disse ao Juiz sem sentimentos que tinha falhado
na missão pois era para matar 12. Ela não fazia nenhuma diferença entre os
filmes, Game e a realidade.
2. O segundo livro “A Psicologia vai ao Cinema
“de Skip Dine Young retrata os impactos psicológicos em quem assiste filmes
violentos em suas vidas.
3. O terceiro livro” Altíssima pobreza “do
filosofo Giorgio Agamben reflete das relações entre hábitos, regras e modos de
viver. Discutindo pessoas que difundiram seu modo viver pelos seus
comportamentos a outras pessoas como Francisco de Assis, Marques de Sade e
outras. Eles nos ajudam a entender como novas culturas e comportamentos emergem
e se tornam pop tendo as imagens e símbolos um importante papel mesmo que na época
as pessoas tivessem que criar as imagens em suas cabeças hoje elas se
reproduzem por milhares de telas.
4. O quarto livro “O que é loucura? – Delírio
e sanidade na vida cotidiana do psicanalista inglês Darian Leader reflete sobre
o comportamento de pessoas consideradas normais e respeitáveis em nossa
sociedade que em momentos de surto cometem assassinatos em série.
5. INSTALAÇÕES COMO
BBB REAIS
Portanto “Na
instalação A CARA DA VIOLÊNCIA vamos registrar pequenas atitudes que em
contextos de maior perigo, medo, necessidade, raivas, ou mesmo de disputa pelo
poder, mulheres ou homens, sexo, dinheiro e outros nos transformaria em seres
violentos e perigosos.” Esta exposição atua ou busca gerar um case para BBBs
filmado na vida real aonde as quatro paredes são as nossa mentes. Afinal como
podemos ajudar a expandi-la ao interagir com os diferentes sobre problemas
comuns que compartilhamos em nossa sociedade. Sem culpados ou inocentes podemos
ir além em redes sociais na vida real que gerem atitudes complementares e
diálogos que nos despertem dos pequemos mundos e paredes que criamos para nos
proteger as vezes de nós mesmos e de nossas violências. Muitos destes “jogos vorazes”
de poder e do Capital que nos fazem de fantoches reproduzindo sua cultura e
suas desigualdades brutais.
O RPG DE OUTRAS
SOCIEDADES COM SUAS REGRAS E PRÊMIOS.
“Sem hipocrisia hoje
vários psiquiatras afirmam que em sociedades como a nossa a probabilidade de
psicopatas chegarem ao poder em suas organizações tem sido cada vez mais maior
e natural, que vença o mais forte, o que não tem sentimentos pela dor ou
sofrimentos dos outros. E assim como filmes psicológicos retratam psicopatas
como Haniball também se tornaram ícones pop. Cada vez mais este processo se
propaga em outros filmes e personagens como Zumbis ou games como o GTA ocupando
lugares centrais em nossa cultura. As caras dos lutadores no UFC nos revelam
muito mais sobre a pós-modernismo das violências.
6. A TERCEIRA LINHA DE PESQUISA DA INSTALAÇÃO A
CARA DA VIOLÊNCIA.
Esta observação a
partir do quarto livro gerou a terceira linha de pesquisa mais interdisciplinar
em parceria com psicólogos e sociólogos que estão nos ajudando a partir dos
depoimentos em identificar “origens” de comportamentos violentos que são
difundidos pela cultura em serie com a criação e atualização de personagens que
desempenham papeis centrais em nossa sociedade ou na criação de outras.
“Dentro de nossa
Sociedade “oficial” outras sociedades tem ganhado cada vez mais espaço como a
do narcotráfico que funcionam sobre outras regras, leis, violências, crimes, e
impactos sobre nossas vidas e da sociedade oficial que vivemos. O narcotráfico
entra no cotidiano das cidades e ser reverbera na vida de milhões de pessoas,
na arte, no imaginário do poder, consumo, dinheiro e outros reduzindo as violências,
crimes e vidas como meros efeitos colaterais sem importância e sem tempo a
perder.”
7. A MEDIAÇÃO DA ARTE
NESTA JORNADA DA EXPOSIÇÃO A CARA DA VIOLÊNCIA.
Acho que provocar
experiências e reflexões é melhor do que decorar leis ou se adaptar as racionalidades
que não foram sentidas ou expressas pelas pessoas. Ampliar o que o olhar pode
enxergar para além de modelos preconcebidos ou configurados por sistemas que
empurram de cima para baixo suas visões de mundo não tem sido boas opções.
Aprender a enxergar e conviver com o outro diferente é um desafio coletivo cada
vez mais urgente. Afinal não existe uma Cara mais milhões de caras das
violências que podem ser reduzidos não apenas a personalidades mas alguns
comportamentos multiplicados em series.
“Na minha visão a
arte tem um papel de expressão e mediação diante destes desafios em nossas
vidas e cidades. Antes dele serem expressões corporais são políticas,
estéticas, econômicas, e culturais, mas exatamente o que isso quer dizer?
Quantas caras a
violência tem? Incluindo a nossa em nossos comportamentos? Elas conseguem
dialogar entre si? Conseguimos compreender este fenômeno complexo que a
violência se torna cada dia mais? A arte ou uma Educação ética, estética ou
política pode reduzir a violência nas cidades não só entre pobres mas entre
ricos também?”
8. CONCLUSÕES: AS
DIMENSÕES ARTÍSTICAS, PSICOLÓGICAS E POLITICAS DAS CONCLUSÕES TRAÇAM TRAJETÓRIAS AONDE AS INSTALAÇÕES TEM UM PAPEL PEDAGÓGICO NA DIFUSÃO DE
ESTÉTICAS, ÉTICAS E QUESTIONAMENTOS DAS FORMAS DE VIVER VIOLENTAS.
Assim como observamos
uma pincelada de Bacon, uma cena de Tarantino, um ato numa peça de Teatro
podemos observar estes “detalhes” no cotidiano. E ver como eles são produzidos
socialmente, politicamente, culturalmente e outras dimensões da vida.
A Pedagogia das
Instalações.
As Instalações são
laboratórios pedagógicos em processos complexos e sistêmicos como este por seus
múltiplos olhares e interações que ocorrem despertando não apenas o pesquisador
mas o que compartilham desta experiência. Estes processos de aprendizados coletivos
fazem com que possamos no enxergar no outro, nos despertar de nossas crises e
silêncios pelas imagens que não cabem em palavras e nem em conceitos. A mudança
ou acupuntura em nossos comportamentos não precisam ser precisos pois as
cirurgias sociais não acontecem em uma parte do corpo mas sim nos chamados
sistemas ou como o cinema chamou de Matrixs.
“As reconfigurações
das sensações, dos olhares, palavras, comportamentos traduzem a violência no
cotidiano, nas artes, nos desejos, na política, cultura, consumo ou em qualquer
meio que ela possa se propagar e expressar suas formas. Registar e interagir
com estes indícios no momento em que se produzem e por vários meios como ao
assistir um filme violento, nos terminais de ônibus ao pegar um ônibus lotado, nas
escolas, no convívio entre assassinos nos presídios, nos amores e ciúmes, na
disputa política pelo poder, na guerra dos traficantes, na luxuria e
desperdício dos ricos, nas incapacidades de amar e sentir os sofrimentos dos
outros, e na busca de apreender o bem e o belo podemos registrar AS CARAS DA
VIOLÊNCIA. E mais do que isto podemos ver as reações, opiniões, Caras dos que
assistem e compartilham estes vídeos e ou experiências realizadas em locais
públicos.
Desta forma um
terceiro olho pode registrar esta dinâmica de culpados e inocentes, das
relações que nos formam e deformam, do lado silencioso que não conhecemos até
explodir e deixar suas marcas e consequências em nossas vidas e cidades.
Sim devemos apreender
a dançar com a violência obedecendo em primeiro lugar seu ritmo para
conhecê-la, apreendê-la, observa-la e perceber como ela se constrói e se
desfaz, afirmá-la e negá-la em sentidos e contextos diversos. Não ter medo de
olhar sua cara nem a nossa, não negando o lugar e a cultura de onde vivemos, talvez
possamos ajudar a transformá-la. “
Os caminhos no
Labirinto se conectam em Instalações de várias dimensões da vida.
Portanto na
Instalação formam-se caminhos em labirintos cada vez mais densos de
acontecimentos e explicações lineares que ao invés de curar aponta as armas e
as diversas violências para outros inimigos, culpados, doentes e outros.
Hoje se consome a
violência como um produto cada vez com mais valor nas diversas sociedade que
vivemos nas empresas, politica, nas relações sociais, crimes, drogas ou na
solidão dos filmes e games como meros espectadores sem voz. Precisamos escutar e ver as singularidades das
multidões que nos atravessam e nos transformam. A Arte pode nos libertar muitas
vezes mais do que as políticas ou as armas.