Carta ao Cineasta Fernando Meirelles.
Um dos sonhos dos brasileiros além de ganharmos a Copa do Mundo e a Fórmula 1 é ganharmos o Oscar e o Prêmio Nobel vencendo as desigualdades juntos. Infelizmente somos campeões das desigualdades e injustiças sociais no mundo. Nenhum dos graves problemas sociais e ambientais brasileiros vão ser atenuados ou resolvidos sem reduzir as desigualdades. Mesmo se colocarmos todos os brasileiros, sem exceção, incluindo jovens, adultos e idosos em nosso sistema educacional, a educação tivesse qualidade, e todos se formassem no ensino superior, aumentando suas rendas e produtividade da economia, levaria décadas e isso não reduziria nem 10 % a desigualdade brasileira de tão absurda e injusta ela é em pleno século XXI. É o que demonstra, em detalhes, o Sociólogo brasileiro Marcelo Medeiros que hoje se encontra na Universidade de Columbia em Nova York no livro "Ricos e Pobres".
No filme de Fernando Meirelles " Cidade de Deus" ele relata violência e criminalidade brasileira sem falar de milícias, cartéis de drogas e infiltração do Estado por criminosos que de décadas para cá multiplicou o avanço das violências, mortes, estéticas e leis do crime organizado imposta, às centenas milhões de pessoas no Brasil. O que o filme narra de forma acelerada, hoje, os brasileiros podem cada um criar seu filme em suas comunidades sobre a mesma realidade. De certa forma todos nós brasileiros somos cineastas e produzimos e somos afetados por essas narrativas em nossas vidas, cotidiano, pelas redes sociais, mídias. Mas passou da hora de também dialogarmos e criarmos narrativas e filmes com as vozes dos brasileiros sobre diversas e brutais desigualdades que afetam suas vidas, todos os dias, há décadas e séculos em todos os governos, sendo uma das principais causas que junto com a corrupção geram pobreza, crime e violências. Um outro filme de Fernando Meirelles sobre mudanças climáticas poderia demonstrar também como a emissão de carbono, a destruição da Amazônia, e algumas empresas do agrobusiness e minérios são as grandes responsáveis pela mudança climáticas no Brasil e no mundo.
Sim relatar as vozes dos que sofrem as desigualdades, as consequências na vida de todos, é também necessário falar dos privilégios, crimes e violências cometidos por uma minoria que enriquece pelo crime sobre os silêncio e omissão do Estado, onde a Democracia é comprada e vendida todos dos dias por elites, oligarquias e partidos. A arte crítica, a literatura e o cinema têm muito a contribuir para refletir e mudar a história de uma nação. Os Best sellers proibidos segundo Robert Danton contribuíram para revolução francesa, assim como a literatura de Tolstoi foi mais humana que a politica ao enraizar a ética de um povo na luta pelas suas vidas e sobrevivência. O que buscamos nesse filme é relatar a ética e estética de um povo que apesar de brutais sofrimentos, desigualdades e violências se levanta todos os dias para construir sua dignidade, cidadania e a economia desse país, não se rendendo ao crime e a violência. Ao mesmo tempo é ironizar e mostrar o ridículo de parte de nossas elites que vivem de privilégios, incluindo estatais e financeiras, e políticos do centrão e oligarquias ridículas que vivem da corrupção, mentiras e mortes dos brasileiros.
Assim, O MAKING OF DO FILME é tão importante quanto o filme ao mostrar o que há por detrás das câmeras, como o roteiro e discursos podem ser fabricados ou serem feitos pelas próprias pessoas que sofrem as desigualdades e violências em suas vidas. O cenário são milhões de realidades com pontos comuns e particularidades únicas que revelam o impacto das desigualdades em milhões de vidas unidas pela mesma história. Uma tragédia nacional que revela heróis de epopeias e suas condições de vida, revelando que com tão pouco vivem e fazem coisas maravilhosas, enquanto bem poucos desperdiçam os recursos de uma nação. Necessitamos dar continuidade a filmes como o Pagador de promessas, Deus e o Diabo na terra do sol, Tropa de elite, e até esses mais recentes como o Novo Cangaço. Continuar as cenas onde pararam, uni-los numa história única e diversa de desigualdades, onde cada um deles mostrou ângulos, cenas e personagens diferentes da mesma história que se estende por séculos e décadas; tendo do outro lado da mesma moeda a riqueza de quase os mesmos atores e suas famílias, reproduzindo as condições que geram desigualdades, misérias, violências e crimes nas vidas dos brasileiros. Vamos abrir o envelope que esconde as verdadeiras cartas marcadas por privilégios.
The Oscar goes to? The Oscar goes to Brazil vence as desigualdades e não o trabalho, as ideias, a economia, a democracia, e a vida de milhões de brasileiros.
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