SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

sábado, 22 de fevereiro de 2025

O SOFRIMENTO E ADOECIMENTO DOCENTE.


 Sem professores bons é impossível ter uma educação de qualidade. Mas como contar com professores bons quando o sofrimento docente é um tema premente em nosso país? Dados e relatos sobre o quão adoecidos, sobrecarregados e desvalorizados estão os professores, sobretudo da educação básica, ocupam redes sociais, páginas de revistas e jornais, artigos acadêmicos, pesquisas nacionais e internacionais. A condição de desvalorização, desautorização e deslegitimação do professor no Brasil – que está vinculada, mas não se resume, às condições materiais precárias – esvazia o seu lugar de agente no tecido social. É sob essa ótica que o sofrimento docente é considerado nesta obra. O livro faz uma análise sensível, focando a precariedade simbólica, e não apenas material, da imagem e do lugar social dos professores. Voltado para pesquisadores, estudantes de Pedagogia e áreas afins, mas também para os principais interessados no tema: os próprios docentes.


O livro Trabalho, precarização e adoecimento docente parte da prerrogativa de que as transformações sociais, oriundas das crises cíclicas do capital e seus impactos na sociedade contemporânea, desvelam novas formas de exploração da classe trabalhadora que se desdobram em contradições manifestadas de maneira objetiva e subjetiva no corpo, na vida e na saúde dos trabalhadores. Essas mudanças têm colaborado para o aumento da complexidade dos mecanismos de subsunção e alienação do trabalho aos ditames da acumulação capitalista, contribuindo para o desenvolvimento de diversos processos de adoecimento do trabalhador. Na sociedade vigente, o corpo e a saúde são historicamente alvos dos mecanismos de controle do modo de produção capitalista como forma de assegurar a continuidade dos processos de produção e reprodução do capital, pois para trabalhar é necessário que o trabalhador possua um corpo sadio, desprovido de qualquer patologia que prejudique a sua produtividade. Nesse sentido, o trabalho e a saúde possuem uma íntima relação que não pode ser analisada fora do contexto em que o trabalho é realizado, o que implica a necessidade da compreensão dos múltiplos determinantes que envolvem o processo de adoecimento dos trabalhadores. Em um esforço de remar contra uma visão restrita da relação entre saúde e doença, que desconsidera o contexto social, político, econômico e cultural em que os sujeitos estão inseridos, tentamos, neste estudo, estabelecer uma relação entre trabalho, educação e saúde, que priorize o entendimento dos diversos processos e estruturas constituídos e constituintes do trabalho docente, e o contexto do adoecimento do professor na atual configuração da sociedade. Não apenas vinculando a saúde aos aspectos biopatológicos individuais, mas também a considerando uma construção marcada pelas contradições do sistema societal do capital. Mais do que relacionar as principais patologias que acometem os professores em seu ambiente de trabalho, tivemos a intenção de construir uma fundamentação que colaborasse para que os trabalhadores da área educacional pudessem compreender sua realidade e, por meio dessa compreensão, constituir uma reflexão crítica do verdadeiro contexto em que seu trabalho é desenvolvido, contribuindo para a estruturação de uma nova educação, voltada para a desconstrução dessa sociedade calcada na desigualdade e na exploração da vida e da saúde humanas.

As crises inerentes ao sociometabolismo do capital impõem severas formas de expropriação e exploração do trabalhador, particularmente no capitalismo dependente brasileiro. Nesse livro, Amanda Moreira, brilhante educadora pesquisadora, comprometida com as lutas emancipatórias na educação, sistematiza e trata com rigor analítico as particularidades do processo de precarização do trabalho docente. Utilizando o sistema teórico marxista, evidencia seus complexos formatos e impactos sobre as condições de vida e de trabalho dos professores e suas implicações para a educação pública. Sem dúvidas, um livro indispensável para os que se colocam na perspectiva de valorização da atividade docente e da transformação social. Carlos Frederico B. Loureiro Professor Titular da Faculdade de Educação da UFRJ Rio de Janeiro, 8 de setembro de 2019





Nenhum comentário:

Postar um comentário