SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

A criação a conceituação do mundo está entrelaçada uma na outra. Mas há tempos, nem os santos, têm ao certo, a medida da maldade criando monstros digitais.



A gente poderia continuar cantando E há tempos, são os jovens que adoecem, E há tempos, o encanto está ausente, E há ferrugem nos sorrisos, E só o acaso estende os braços, A quem procura abrigo e proteção. 


Mas em épocas de redes sociais e fake News, o algoritmo é diferente. Agora somos versões virtuais de nós mesmos que nos representam para os outros. Uma cultura na qual muitos passam a pensar em si mesmos como marcas pessoais, forjando uma identidade cindida que a um só tempo somos nós e não somos nós, uma duplicata que encenamos incessantemente no éter digital como se o preço a se pagar para obtermos acesso a uma voraz economia da atenção. E, o tempo todo as corporações tecnológicas utilizam esses dados para treinar máquinas incumbidas de criar simulacros artificiais de inteligências humanas, e das funções humanas, duplos assemelhados à vida real que tem as suas próprias pautas de interesses, as suas próprias lógicas e suas próprias ameaças. Assim nos descreve Naomi Klein um novo Frankestein, um santo da maldade e da ignorância sem medida, no seu novo livro Doppelganger. 

Como pensar a educação, a política, a espiritualidade e o amor quando monstros são construídos de fora para dentro do ser, quando “a sociedade se rachou em duas, cada lado se definindo-se em contraposição ao outro - toda vez que um lado afirma algo e acredita em algo, seja lá o que for, o outro lado parece ter a obrigação de afirmar o contrário e acreditar exatamente no oposto. Quanto mais eu me aprofundava, mais notava esse fenômeno ao meu redor: indivíduos que não eram norteados por princípios nítidos ou crenças e convicções decifráveis, mas em vez disso agiam como um grupo empenhado em jogar o yin contra o yang do outro- potente versus fraco; lúcido versus ingênuo; virtuosos versus depravado. Oposições binárias onde outrora vigorava o pensamento.  

Enquanto isso no começo do fim do mundo que vivemos, nas ruínas das mudanças climáticas, tecnológicas, no domínio dos crimes organizados, incluindo o tráfico e a corrupção política, as brutais desigualdades e violências que destroem evidências de nossa humanidade, observamos vários Territórios, pessoas, animais, plantas...de forma complexa, nos deparamos com uma multiplicidade de entes que se relacionam, mas não se somam, mas podem gerar coalizões, eventos que não ocorrem em um tempo linear,  fenômenos que compartilham um espaço, que brotam em ruínas como forma de fertilizar nossa imaginação para conceber revoluções no adestramento digital e no pensamento educacional. 

Escutas criativas de futuros possíveis que não culminam em resoluções únicas, mas próximos passos diversos e complexos, uma universidade na diversidade, sem grades curriculares, o começo de outras histórias e personagens de outras civilizações futuras.  De um pequeno grão de terra a Terra da Sabedoria.    

Hoje a invisibilização das relações sociais na produção de mercadorias se alinha as redes sociais tentando apagar as texturas locais dos Territórios que se conectam e dão forma ao que designamos global. Enquanto a educação, a política e a produção começam no território, de onde devemos garantir segurança alimentar, hídrica, energética, trabalho, renda, arte, saúde, habitação, autonomia política e digital por outras redes sociais de comércio justo, cidadania e sabedoria.  

Tratamos, portanto de uma postura epistêmica nos territórios diante de uma possibilidade de pensar, descrever e produzir conhecimentos que incidem sobre o mundo na educação e no fazer político de ação cósmica.  Como nos revela Anna Tsing, a criação a conceituação do mundo está entrelaçada uma na outra- pelo menos para aqueles com o privilégio de transformar seus sonhos em ação, destruindo os santos da maldade, os monstros digitais. Novos projetos nos territórios inspiram novas formas de ser, pensar, viver e nos autogovernar. 


A possibilidade de fabular mundos, de unir natureza, tecnologia, cultura, e espiritualidade descobrindo que a espécie humana não é excepcional, a inteligência está distribuída em toda natureza, outras formas de vidas e relações entre elas, nos ensina cada vez mais a sermos gaia. Nem tudo cabe em conceito, e a história é evolutiva, múltipla e cooperativa, assim como a vida, a simbiogênese reina, uma mente mundo, no qual conhecimento e matéria operam de forma similar, mais do que espécies as relações vitais nos contam quem nós somos e o mundo em que vivemos de um pequeno grão de terra a Terra da Sabedoria. 

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