A gente poderia continuar cantando “ E há tempos, são os jovens que adoecem, E há tempos, o encanto está ausente, E há ferrugem nos sorrisos, E só o acaso estende os braços, A quem procura abrigo e proteção.
Mas em épocas de redes sociais e fake News, o algoritmo é diferente. Agora somos “versões virtuais de nós mesmos que nos representam para os outros. Uma cultura na qual muitos passam a pensar em si mesmos como marcas pessoais, forjando uma identidade cindida que a um só tempo somos nós e não somos nós, uma duplicata que encenamos incessantemente no éter digital como se o preço a se pagar para obtermos acesso a uma voraz economia da atenção. E, o tempo todo as corporações tecnológicas utilizam esses dados para treinar máquinas incumbidas de criar simulacros artificiais de inteligências humanas, e das funções humanas, duplos assemelhados à vida real que tem as suas próprias pautas de interesses, as suas próprias lógicas e suas próprias ameaças.” Assim nos descreve Naomi Klein um novo Frankestein, um santo da maldade e da ignorância sem medida, no seu novo livro Doppelganger.
Como pensar a educação, a política, a espiritualidade e o amor quando monstros são construídos de fora para dentro do ser, quando “a sociedade se rachou em duas, cada lado se definindo-se em contraposição ao outro - toda vez que um lado afirma algo e acredita em algo, seja lá o que for, o outro lado parece ter a obrigação de afirmar o contrário e acreditar exatamente no oposto. Quanto mais eu me aprofundava, mais notava esse fenômeno ao meu redor: indivíduos que não eram norteados por princípios nítidos ou crenças e convicções decifráveis, mas em vez disso agiam como um grupo empenhado em jogar o yin contra o yang do outro- potente versus fraco; lúcido versus ingênuo; virtuosos versus depravado. Oposições binárias onde outrora vigorava o pensamento.
Escutas criativas de futuros possíveis que não culminam em resoluções únicas, mas próximos passos diversos e complexos, uma universidade na diversidade, sem grades curriculares, o começo de outras histórias e personagens de outras civilizações futuras. De um pequeno grão de terra a Terra da Sabedoria.
Hoje a invisibilização das relações sociais na produção de mercadorias se alinha as redes sociais tentando apagar as texturas locais dos Territórios que se conectam e dão forma ao que designamos global. Enquanto a educação, a política e a produção começam no território, de onde devemos garantir segurança alimentar, hídrica, energética, trabalho, renda, arte, saúde, habitação, autonomia política e digital por outras redes sociais de comércio justo, cidadania e sabedoria.
Tratamos, portanto de uma postura epistêmica nos territórios diante de uma possibilidade de pensar, descrever e produzir conhecimentos que incidem sobre o mundo na educação e no fazer político de ação cósmica. Como nos revela Anna Tsing, a criação a conceituação do mundo está entrelaçada uma na outra- pelo menos para aqueles com o privilégio de transformar seus sonhos em ação, destruindo os santos da maldade, os monstros digitais. Novos projetos nos territórios inspiram novas formas de ser, pensar, viver e nos autogovernar.
A possibilidade de fabular mundos, de unir natureza, tecnologia, cultura, e espiritualidade descobrindo que a espécie humana não é excepcional, a inteligência está distribuída em toda natureza, outras formas de vidas e relações entre elas, nos ensina cada vez mais a sermos gaia. Nem tudo cabe em conceito, e a história é evolutiva, múltipla e cooperativa, assim como a vida, a simbiogênese reina, uma mente mundo, no qual conhecimento e matéria operam de forma similar, mais do que espécies as relações vitais nos contam quem nós somos e o mundo em que vivemos de um pequeno grão de terra a Terra da Sabedoria.
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