
- Fan Wang
- Singapura
Um filme australiano foi digitalmente alterado para transformar um casal de dois homens em um casal heterossexual, gerando reações negativas entre espectadores na China.
Together (chamado de Juntos no Brasil), um filme de terror estrelado por Dave Franco e Alison Brie, foi exibido em cinemas chineses selecionados em sessões antecipadas em 12 de setembro. Os espectadores perceberam mais tarde que algumas cenas haviam sido modificadas depois que capturas de tela mostrando as cenas originais viralizaram online.
O filme deveria ser lançado publicamente em 19 de setembro, mas até esta quinta-feira (25/9) ainda não havia sido exibido nos cinemas.
A distribuidora global do filme, Neon, posteriormente condenou a edição, dizendo que não "aprovava [esta] edição não autorizada... e exigiu que a distribuição fosse interrompida", de acordo com relatos.

O filme de terror sobrenatural, escrito e dirigido pelo australiano Michael Shanks, acompanha um casal que se muda para o interior e se depara com uma força misteriosa que afeta seus corpos, vidas e relacionamentos.
O longa, que estreou no Festival de Cinema de Sundance em janeiro e foi lançado nos EUA e na Austrália em julho, recebeu críticas amplamente positivas, obtendo uma pontuação de 90% de aprovação no site de críticas cinematográficas Rotten Tomatoes.
Mas assim que as exibições antecipadas começaram na China neste mês, os espectadores notaram, depois que capturas de tela mostrando cenas da versão original circularem online, que algumas cenas de sexo e nudez foram modificadas.
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Em uma cena que mostrava o protagonista masculino no chuveiro, eles notaram que a versão chinesa havia adicionado vapor para ocultar o corpo nu do ator.
A maioria das reclamações, no entanto, foram dirigidas à imagem de um casal gay que havia sido alterada digitalmente, com o rosto de um homem substituído pelo de uma mulher.
Várias referências ao relacionamento entre pessoas do mesmo sexo no filme também foram removidas.
Não é incomum na China — onde o casamento entre pessoas do mesmo sexo não é reconhecido e os temas LGBTQIA+ permanecem tabu — censurar conteúdo LGBTQIA+. Mas, desta vez, o uso do que pareciam ser alterações geradas por IA atingiu um ponto sensível.
"Não se trata mais apenas de cortes — é uma questão de distorção e deturpação", diz uma publicação na popular plataforma de crítica cinematográfica chinesa Douban, onde o filme tem uma classificação de 6,9 de 10.
"Eles não apenas alteraram o enredo, como também desrespeitaram a orientação sexual do ator. É repugnante", diz outra.
Na quarta-feira, a distribuidora global do filme, Neon, se manifestou contra as edições, criticando a distribuidora chinesa do filme, Hishow, que ainda não se pronunciou sobre o assunto.
"A Neon não aprova a edição não autorizada do filme feita pela Hishow e exigiu que eles parem de distribuir esta versão alterada", disse a empresa em um comunicado compartilhado com os veículos de notícias americanos Deadline e TheWrap.
A BBC entrou em contato com a Neon.
Não é a primeira vez que a China usa IA para alterar conteúdo sexual. No filme vencedor do Oscar Oppenheimer, uma cena de nudez com a atriz Florence Pugh foi editada na versão exibida nos cinemas chineses para que a atriz usasse um vestido preto gerado por IA.
A China também parece estar cada vez mais reprimindo conteúdo homossexual. Desde fevereiro, pelo menos 30 escritores de ficção erótica gay, quase todos mulheres na faixa dos 20 anos, foram presos em todo o país.
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