SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

terça-feira, 30 de setembro de 2025

Sobrevivendo na Sociedade dos Vampiros: Uma Jornada da Alma em Meio à Hipocrisia por Egidio Guerra .

 


Viver em uma sociedade que muitas vezes opera como um coven de vampiros psicológicos e espirituais é um dos maiores desafios da alma moderna. Esses "vampiros" não sugam sangue, mas a energia vital: sua integridade, sua paz, seu tempo e seu propósito. Eles se alimentam de vaidade, ganância e medo, vestindo máscaras de normalidade e sucesso enquanto esvaziam os outros para inflar seus próprios egos. Sobreviver a isso não é uma questão de força física, mas de fortaleza espiritual. É uma batalha travada no silêncio do coração, onde a voz de Deus sussurra contra o rugido do mundo. 


1. Escutando a Deus em Vez do Ego: O Caminho do Silêncio Interior 

O ego é o grande arquiteto da nossa miséria. Ele sussurra promessas de segurança através do controle, de valor através da comparação e de felicidade através da posse. A sociedade de vampiros é o reino do ego coletivizado. 

A Bíblia nos adverte repetidamente sobre essa batalha. Em Provérbios 3:5-6, está escrito: "Confie no Senhor de todo o seu coração e não se apoie em seu próprio entendimento; reconheça-o em todos os seus caminhos, e ele endireitará as suas veredas." "Apoiar-se no próprio entendimento" é a definição de viver pelo ego. Já o apóstolo Paulo, em Gálatas 5:16-17, descreve a luta cósmica interna: "Porque a carne deseja o que é contrário ao Espírito; e o Espírito, o que é contrário à carne. Eles estão em conflito um com o outro." 


Na Cabala Judaica, essa ideia é central no conceito de Yetzer Hara (a Inclinação ao Mal) e Yetzer Hatov (a Inclinação ao Bem). O Yetzer Hara não é um demônio, mas a força do desejo egoico, necessária para a ação no mundo, mas que, quando não equilibrada pela sabedoria divina (Da'at), se torna destrutiva. O caminho é "subir a Árvore da Vida", elevando nossa consciência de Malkuth (o reino material, denso) para Keter (a coroa, a união com o Divino), transformando o desejo egoico em um veículo para a luz de Deus. 


O filósofo 
Søren Kierkegaard chamou isso de " o salto da fé
". Para ele, a verdadeira existência começa quando transcendemos a esfera estética (prazer) e ética (regras sociais) e entramos na esfera religiosa, onde a relação individual com Deus é absoluta, mesmo que contradiga toda a racionalidade e convenção mundanas.
 

2. Libertar-se dos Comportamentos em Massa: A Coragem de Nadar Contra a Corrente.

Vender a alma pelo poder, sexo e dinheiro é a transação padrão proposta pelo mundo. É a oferta irrecusável para ser "aceito" no coven. 

O psicólogo Carl Jung alertou sobre o perigo da psicologia das massas, onde o indivíduo é engolido pela mentalidade coletiva, perdendo sua sombra (seus aspectos negativos reprimidos) no grupo e tornando-se capaz de grande mal sem sentir culpa individual. A jornada de individuação, para Jung, é justamente o processo de retirar essas projeções, encarar a própria sombra e tornar-se um indivíduo integral, não mais um mero número na massa. 

O filósofo Friedrich Nietzsche criticou ferozmente a "moral de rebanho", uma moralidade criada pelos fracos para limitar os fortes. Embora seu conceito de "Além do Homem" (Übermensch) seja complexo, em parte ele representa aquele que cria seus próprios valores, quebrando as tábuas de valores herdados de uma sociedade decadente. É uma libertação, ainda que arriscada, da hipocrisia coletiva. 

Na História, Sócrates preferiu beber a cicuta a negar sua missão filosófica e se curvar à vontade da multidão ateniense. Sua morte não foi uma derrota, mas a prova suprema de que uma vida examinada, mesmo que solitária, vale mais do que uma vida de conformidade hipócrita.

 

3. Seguir o Amor e a Sabedoria Mesmo na Solidão: A Vitória Invisível. 

Este é o cerne da questão: a disposição de estar sozinho, mas em paz consigo mesmo e com Deus, em vez de estar acompanhado pela multidão, mas em guerra com a própria alma. 

A Bíblia está repleta dessas figuras solitárias. Jeremias, o profeta chorão, pregou para ouvidos surdos e foi jogado em uma cisterna por anunciar uma verdade que ninguém queria ouvir. João Batista vivia no deserto, vestido com pele de camelo, uma voz clamando no vazio, preparando o caminho. O próprio Jesus no Getsêmani viveu a agonia da solidão espiritual, mas submeteu sua vontade à do Pai: "Não seja, porém, o que eu quero, mas o que tu queres" (Marcos 14:36). 

O artista Vincent van Gogh é um exemplo tocante. Rejeitado pelo mercado de arte de sua época, considerado um fracassado e um louco, ele persistiu em pintar não o que vendia, mas a beleza e a angústia que via no mundo. Sua solidão foi o cadinho onde sua arte única foi forjada. Ele vendeu apenas um quadro em vida, mas sua fidelidade à sua visão interior mudou a arte para sempre. 

Os Mártires de todas as eras, desde os cristãos no Coliseu Romano até dissidentes políticos em regimes totalitários, testemunham que há algo mais valioso do que a vida física: a integridade da alma. Eles provam que uma única centelha de verdadeira luz é mais poderosa do que toda a escuridão do mundo. 


Mahatma Gandhi e Martin Luther King Jr.,inspirados por suas fé, canalizaram o amor (Ahimsa e Ágape) em uma força política revolucionária. Eles enfrentaram impérios e sistemas de opressão não com as mesmas armas dos opressores, mas com a sabedoria da não-violência e da desobediência civil amorosa. Eles estiveram sozinhos no início, mas sua fidelidade a um princípio superior atraiu multidões e alterou o curso da história. 


Conclusão: A Alquimia da Alma 

Sobreviver em uma sociedade de vampiros é uma prática de alquimia espiritual. Trata-se de transformar o chumbo das tentações mundanas (poder, sexo, dinheiro) no ouro da consciência crística, da presença divina. 

É um caminho que exige: 

  • Discernimento: Para ouvir a voz suave de Deus acima do ruído do ego e do mundo. 

  • Coragem: Para se desprender da necessidade de validação externa e aceitar a solidão criativa. 

  • Fé: Para acreditar, como diz a Cabala, que mesmo no exílio mais escuro (Galut), a luz de Deus está presente, esperando ser revelada. 

No final, a maior vitória não é mudar o mundo (embora isso possa acontecer como um subproduto), mas não permitir que o mundo te mude. É preservar sua alma intacta, um farol de amor e sabedoria em um mar de hipocrisia, confiando que, nas palavras do Salmo 23, "ainda que eu atravesse o vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo".* 

 

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