SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

AS PRIMEIRAS SINFONIAS DO COLÉGIO A UNIVERSIDADE.


Desde cedo aprendemos quais as melhores notas da vida. No colégio temos grandes oportunidades de viver bons momentos, grandes idéias, fazer amizades, conhecer várias coisas novas, desenvolver nossas capacidades... Enfim eu tive que enfrentar vários medos, mas valeu a pena! Como disse Bono Vox em Saravejo existe um tempo para tudo na vida, inclusive para a guerra.

Uma música feita por um amigo da oitava série, o Edgar Pantoja, sobre os 20 anos de ditadura é a minha pior e melhor lembrança do Golpe Militar. Somos a primeira geração com direito a voz e a democracia depois de tantos crimes impagáveis dos militares , já não foi suficiente mais de 400 anos das veias abertas da America Latina , por onde nossas riquezas e nosso povo sangraram, para gerar a luxuria e a exuberância de reis em várias partes do mundo. Nem a morte de Salvador Allende , que assim como Gandhi e Nelsom Mandella humilharam impérios apenas com suas histórias de vida e seus sonhos que sempre serão maiores que todo aquele poder que virou poeira no ar.


Estávamos lá em sala de aula no Ginásio Santo Tomas de Aquino prontos a concluir o ensino básico, tão inocentes , que o nosso mundo se reduzia a quadra, as garotas mais bonitas , e as aventuras e brincadeiras em sala de aula. Não tínhamos na época que voltar para casa por ruas perigosas , nem acesso a drogas, os trabalhos de nossos pais não afetavam tanto nossas vidas, não tínhamos nem orkut , nem msn , e nem era normal ficar com várias garotas ao mesmo tempo. Não sabíamos na época que andávamos nos equilibrando numa linha cada vez mais fina  prestes a desaparecer e cairmos sem direção. Aonde cada amigo de minha turma se encontraria daqui a 4 anos ? Ninguém não avisa a gente que o nosso mundo muda tão rápido, nos dizem que temos que aproveitar aquele momento, ir a todas festas, não encarar de frente a realidade dos estudos, seguir as leis de nossas tribos e de todos os ritos que temos de fazer parte , as vezes não querendo!


Eu comecei a aprender muito cedo que a minha sala é um microcosmo do mundo , que tinha que sonhar , imaginar e lutar para ir além daquela realidade. Aonde cada pequena atitude que tomava construía um novo horizonte. É hora de aprender a viver as músicas e poesias que cantava e dançar com a vida. Além das lições de matemática, Ciências, História ...tinha outras matérias e lições que a vida nos desafiava a todo momento a encontrar a batida perfeita, as primeiras notas das sinfonias de nossa vida. 


Samantha tinha ido embora e com ela o sonho de nosso grupo de teatro rodando o mundo , mas ela seria professora e candidata a vereadora em Curitiba , novos papéis e personagens que a vida nos exige. Paulo Geovani será Juiz de Direito, Leo o melhor da sala busca encontrar seu caminho e por enquanto será Administrador ( a última vez que o vi ) , o Iran será Engenheiro essa era minha turma os " melhores " da sala era a nossa identidade. 

Porem como um bom protetor fazia parte de várias turmas, como uma planta ia me adaptando aqueles lugares, desenvolvendo novos poderes. Revelava parentescos entre tudo que separa, entre a turma das melhores notas, com a do futebol, e com a da bagunça. Fundindo coisas diferentes como estudar, jogar bola, e fazer brincadeiras em sala de aula. Queria aprender tudo, apesar de não saber jogar bem, nem tinha boas notas, nem talento para brincadeiras, mas tenho e tinha uma paixão incontrolável por viver e aprender com os melhores e com a imaginação e os sonhos como motores nesta jornada, simples assim! 

Mutações, Mestiçagem de coisas diferentes, improvisos, ajustes. Ao sabor de contextos e circunstâncias, atuando como um imã , atraindo pessoas diferentes, originalmente estranhos uns aos outros, para compartilhar disciplinas que a escola não ensinava, construindo sentidos para nossa vida. Juntando e as vezes separando , aprendendo a complexidade e a diversidade, da minha sala de aula. Selecionamos músicas, mas também momentos, ligações, conexões que temos que compartilhar com uma energia própria que tem a capacidade de organizar e nos educar para transições que viveremos neste mundo. Gerando novos saberes, formas de viver, através da verdade do outro, damos saltos quânticos no ciclo de vida por aonde caminhamos. Esse foi o início de minha liberdade com responsabilidade.

Na infância vivi muito tempo só que tive que construir uma Terra da Sabedoria para viver dentro dela. Escrever meu primeiro livro com histórias e heróis que falavam sobre tudo. Renovar a aliança com o pai de construir a tua terra, a Terra da Sabedoria em minhas orações. Gerar com a família de Samantha outro eixo de referência de família com a cultura e a tradição de Curitiba. Aprender a caminhar com meus pais e irmão em todos os sentidos e direções na escola, nas escolinhas de esporte, nos aniversários, Natal, Ano Novo, em cada roupa que vestia , nos brinquedos que comprava, na organização da casa, nas tarefas tinham um sabor que aos poucos consegui decifrar que mundo era aquele que vivi a partir de outras referências. Meu irmão adorava lutar e tecnologia, minha mãe música, trabalho e organizar tudo, meu pai esporte, viagens, carros e amigos eram suas liberdades. 


Eu aprendi a gostar de todas e misturá-las em minha jornada. Os livros foram e são muito importantes nesta jornada, amei ler Ilíada de Homero para descobrir que havia outros mundos, culturas e que esta diversidade me enriquecia formando um tesouro que na juventude tive as oportunidades de usar e ousar. Antes disso hoje meu filho já leu os sete livros do Harry Portter, que inclui magia, exigências cada vez maiores as crianças e jovens para interagir no mundo em que vivemos. Ele também é da turma olímpica, adora vídeo game, joga futebol no Ceará, tem amigos diversos, dirige Kart , já correu de bici-cross e agora está olhando para o parepeint como oportunidade de conhecer as nuvens de perto.

Este é o inicio da liberdade com responsabilidade dele , pontes entre mundos em transição aonde os protetores continuam a conectar pessoas, a serem híbridos, flex.Misturando coisas diferentes e a imaginação continua despertando novos horizontes.


Nós Protetores continuamos caminhando juntos construindo esta história não importa a idade, o parentesco, as tribos, mas o sabor desta mistura a luz de nossos DNAs, visões, projetos e histórias de vida. Gerando identidades nos vários papéis que vivemos nesta sociedade , idéias que nascem nos livros e nas músicas , em pessoas que encontramos no caminho , no cotidiano , caminhos da liberdade que vão emergindo e desafiando a gente e a vida.

A grande utopia de educar a si mesmo , a formação da Universidade do Ser, que desde o nascimento até a morte evolua conosco a cada etapa desta jornada da vida. Construindo o caminho da sabedoria e exercendo cada dimensão e papel que temos nesta sociedade de forma integrada e sistêmica. Apreendendo e misturando os saberes, as pessoas, os lugares, como um RPG vivo aonde temos missões e tarefas a cumprir que estejam além das grades curriculares até porque hoje estão a disposição de uma pesquisa no Google. Compreender as origens de minha sociedade, cidade, família e DNA. Os valores, linguagens , ideologias , instituições que fazemos parte . A Arte e cultura, os esportes, a espiritualidade, a tecnologia, a política, a mídia, o social, a economia, e a espiritualidade. Dimensões vividas, e não apenas representadas, com sabor e saber em intensidade e paixão para nos deixar marcas e poderes em nossa história e desafios presentes e futuros. 

A arte com a realidade num mesmo livro que conta a história de um grupo de amigos, com a sua história de vida, reflexões, manifestos e poesias sobre esta jornada de educar a si mesmo transformando o mundo em que vivemos.

A primeira criação desse processo foi uma Associação de jovens do bairro onde morava, a AJA- Associação de Juventude do Aeroporto.Nos reunirmos no final da missa aos domingos para discutirmos o estatuto, os projetos, e conhecer os dons, os sonhos, as notas , a personalidade de cada um gerando a nossa alquimia do que podemos fazer juntos. 

Lembro que esta igreja, fundada por minha vô , do qual realizava as leituras e cantava era o ponto de encontro da várias turmas e tribos ao final da missa . Ela era o resultado concreto de várias promessas da minha vô de dedicar a vida a Santa Luzia que curou seus olhos, a mesma do arquiteto que fez a planta e de cada um que depositou o dinheiro para sua construção. A fé move montanhas, principalmente quando a maior parte do jovens chegava andando, depois da escolha criteriosa da roupa que iria a missa como forte motivo para escolher a sua turma de amigos no bairro para além das fronteiras da ruas, o que também lançava luz sobre a melhor hora de comungar, os pedidos que faríamos a Deus, incluindo encontrar a garota perfeita, a princesa que um dia apareceu. 

Estes ritos foram gerando nossa proximidade, e dando corpo as festas cada vez na casa de um, tínhamos que apreender a dançar , a ser DJs, a fazer cartazes , para que momentos mágicos acontecessem em nossa vidas e no bairro. AJA amigos, AJA festas, AJA música....- Oi gostaria de dançar com você, sei que todo mundo vai falar , mas é a primeira festa que seu pai deixa você ir ....- Vamos dançar mas não vamos namorar , nós somos amigos....- Eu sei que amar é proibido em nossa idade , quantas vezes ouvimos isto ? Na escola não podemos falar, temos que ser comportados, na igreja se não empreendemos a AJA ainda estávamos lá lendo, rezando e orando. Não que isso não é importante, mas a fé , a voz , o amor , que carregamos dentro de nós não cabe apenas nestes ritos. Encontrar os amigos, "imitar o Menudo para você cantando quero ser" e dançar contigo me permite amar, viver o que está para além de mim , destas paredes ....- Vamos dançar está todo mundo olhando...

Depois desta festa resolvemos fazer um campeonato de surf na casa do Fauber. Alugamos um ônibus para levar todos e quando chegamos o mais esfomeado de todos queria comer a comida de todo mundo no jantar, o Marcos Aurélio. Ele era o mais magro mas também o mais valente , depois de alguns anos iria ganhar um campeonato mundial de luta livre nos Estados Unidos. Fauber, o dono da casa, morreria num acidente anos depois ao capotar num bugue na praia. Edmar Junior que obrigou Marcos Aurélio a comer a comida sozinho, e capotou no Bugue com Fauber, seria depois de anos um empreendedor social apaixonado por desenvolvimento local, mas depois de morar no Canadá, criar peixes ornamentais e se filiar ao Movimento Hip-Hop. A garota mais bonita a Guilheuma será funcionária da Justiça Federal, mas sempre será nossa Marylin Moroe, Emílio meu primo será Advogado, seremos da mesma diretoria do Grêmio José de Alencar no MARISTA, montaremos nossa primeira empresa a WAR SOM e depois ele montara com seu pai, a rede de lojas SKILER. 

A AJA fez com que estes destinos se cruzassem por algum tempo, e gerou em cada um de nós aprendizados com outros, novas jornadas, momentos mágicos. Não lembro quem ganhou o troféu do campeonato de surf? Mas lembro desta primeira sinfonia e suas evoluções futuras nos mostram o quanto é imprevisível e incerta nossa vida, mas o quanto somos livres e responsáveis por pequenas decisões e escolhas e o impacto que elas tem em nossa vidas. Elas reverberam como num lago até os dias de hoje e nos ajudam a compartilhar e construir este caminho para além do que podemos esperar. Conhecemos nossa nota e vamos escrevendo a música em contato com nossa tribo em sintonia, simetria e sinergia com o mundo.

Literalmente resolvi ser DJ profissional, eu e Emilio Guerra, criamos a WAR SOM. Fazíamos festas de quinze anos, bailes na periferia, festas no Circulo Militar em parceria com os Grêmios do Colégio Cearense e Militar. Nascia a ZONA PIRATA, os nossos seguranças eram policiais do Exercito, a nossa equipe fumava maconha, meu irmão subia bêbado para animar as festas e abrimos as festas com uma mistura de Iron Maidem, Tecnotronic, Sputnik e Polícia do Titãs! Todos os efeitos especiais, casa cheia, até o dia que deu um curto circuito e subiu labaredas de fogo nas paredes de caixas de som. A galera enlouqueceu pensando ser efeitos especiais, mas a música parou enquanto Emilio tentava defender as caixas de som do ataque dos revoltados e eu corria para bem longe. Era um sinal que esta jornada estava chegando ao fim, depois foi quando precisei levar a máquina de fumaça de uma festa para outra ainda quente. Estávamos de moto. Eu atrás segurando a máquina peguei um atalho de trilhos de trens e ficamos no meio entre um e outro. As pessoas não nos viam, mas viam a fumaça achando que o trem estava pegando fogo e quando desceram na estação saíram correndo! 


Depois da AJA era a WAR SOM em ação, mas tínhamos que decidir estudar ou fazer festas porque passávamos a noite acordados sonhando Zona Pirata, Zon, Zon , Zona Pirata eram os nossos embalos . Muita música, mixagem, dança, mas com muito profissionalismo na equipe técnica, Emilio,e na programação musical , Egidio. Acompanhar a bilheteria, o restaurante, os seguranças, foi fantástico!Depois de anos de coroinha fazendo a leitura na igreja , rezando, vivendo a espiritualidade, novas formas de me comunicar com o pai, organizando a Aja, veio a WAR SOM, era o momento das festas, da música , da dança , de um ritmo acelerado que diferente da Idade Média ou até mesmo agora sabíamos conciliar o espírito com o corpo . 

Duas dimensões do mesmo ser dançando juntos, construindo a sinfonia de sua vida, mas agora vem a terceira. Uma boa nova, a dimensão política, participar e liderar um Grêmio estudantil.Antes mesmo de entrar no Colégio Marista já fazia campanha , de forma que no primeiro dia de aula e de colégio, um aluno apareceu na sala para me chamar para reunião do Grêmio, e o Luizinho meu amigo de infância de futebol e a professora falaram que estava errado pois ali só tinham novatos. Ele falou que não, que eu tinha sido eleito sem estudar no colégio como Diretor de esportes da chapa, era um Novo Tempo. Rodrigo, hoje executivo de uma empresa de ônibus, Joãozinho, professor de religião, Marcelo leão, advogado, Luís Elcio, Emilio, meu primo e eu. E muito mais gente... Há a tia Teresinha, nossa tutora! 

O primeiro desafio foi construir a FM MARISTA, Olimpíadas e campeonatos esportivos, festas para crianças. Éramos quase a Xuxa para a criançada. Fazíamos reuniões com a brincadeira da vela com o professor de religião, testávamos rasga-latas no elevador do colégio, viajamos para outras cidades disputar campeonatos de futebol ( O Maristão ) , apostando corrida nu para ganhar o dinheiro da turma . Porém as vezes quando ganhávamos o jogo saímos correndo para não apanhar do time e da torcida que perdia foi assim no Redentorista, no Militar e no Batista. 

Lembrar tudo isto renova a energia da vida a mesma que me impulsionava naqueles momentos. Essas atividades eram tão importantes quanto as aulas, como disse era outro currículo que foi mais importante na minha vida que o simples decorar e repetir conteúdos sem sabor . Brincando íamos além de nossos limites.

Escrever nossa história de vida é uma terapia que nos liberta para continuarmos a dançar nossa música, como diriam os psicólogos as gestalts se fecham, mas outras se abrem sobre aquilo que ainda não fizemos e nos faz falta.


Escrever este livro pode lembrar aos jovens que existem várias oportunidades de nos libertar, que não estamos sós, que temos dores e sofrimentos parecidos e que podemos ir muito além do que achamos que podemos ser e fazer. A vida não é só forro, chiclete, cachaça e ficar. Todo dia acordarmos e podemos com pequenos atos abrir novas portas e irmos além da prisão que nos sufoca, dos inimigos que nos perseguem, dos destinos que a história nos reserva. Encontrar aliados, gerar oportunidades, formar nossa Tribo é a própria dinâmica da vida, de nossa geração e juventude disposta a caminhar e cantar para além do direito a democracia, mas agora o direito a vida que a nossos pais foi negada. Já tinha atuado nos bastidores do Grêmio, era hora de ir para linha de frente. Era hora da Boa Nova, de enfrentar a direção do colégio, de fazer movimento estudantil, passeatas... A dimensão política abria novos horizontes num estado como o nosso não é fácil!

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