SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Depois do Natal, o presente vestibular e o mundo do trabalho.



UM DIA DE NATAL...


Aquele dia, virou uma semana, depois um mês, a morte de Renata, os protestos em vários lugares do mundo, os discursos de Nicolau e as músicas do Legião Urbana se confundiam em nossas mentes. Não conseguíamos separar em acontecimentos isolados e a dor da morte de Carol era compensada pela alegria dos Protestos: Porém a alegria era passageira, as lembranças de Renata eram felizes e nos levavam a identificar com tudo aquilo que a juventude representava para nós. Uma das coisas que mais abalou-nos foi saber que ela estava grávida e a fúria aumentou mais ainda! O grupo do pai assassinara mãe e filho. Nas nossas mentes de jovens, era extremamente difícil assimilar tais situações.


Em Renata, víamos o símbolo de grande parte da nossa juventude, do teatro, do prazer, do viver em harmonia com o caos, porém sem organizá-lo, deixando que ele decidisse transformar a morte de Renata, no fim do Teatro, da juventude e do prazer. Pois a dor é um marco divisor de novas etapas de nossa vida.


Chegava o período do vestibular para cinco de nós, e a partir dali levaria um certo tempo para voltarmos nos ver e, antes da partida para a busca de nossos sonhos, decidimos fazer um encontro, desta vez sem divulgação. Ainda estávamos muito abalados, todavia, celebraríamos o Natal, a Festa maior da Cristandade e, deixamos Bin encarregado da organização. À noitinha, com o frio peculiar da época, a cidade iluminada, as flores perfumando o jardim, fazendo um cenário perfeito para o momento, começamos a chegar, um a um e Bin havia preparado tudo, sem deixar nada a desejar. Com a ajuda de nossos pais, que vieram comemorar conosco a ceia estava posta. Bin começou a saudação, primeiro rezando por Renata , cujos pais ali estavam... Pediu ao Deus Supremo que ela estivesse bem... isto é o que nos importava e começou a falar do Natal, com a seguinte mensagem:
E, de repente, chega dezembro! Avivando em nós a lembrança de que ontem fazíamos planos para o ano que se encerra, quatro anos antes do milênio . Daqui há poucos anos 2000 será uma breve recordação... para uns, boa, quem sabe para outros não...
Dezembro, nos lembra alegria! Festa da Cristandade, embora sem a certeza de que Cristo nasceu em 25, celebramos seu aniversário. Ele é o marco, sinal de fé e contradição ao mesmo tempo, pois o povo que o crucificou, os judeus, ainda esperam o Messias. Emblemático e contestador, foi Ele o revolucionário da boa causa... a causa do Reino de Deus, a causa da fé.
Para comemorá-lo, era necessário uma grande data, afinal é o dia do nascimento do "Rei dos reis". Aproveitou-se, por volta de 330 d.C., a data que, em Roma, ocorria a festa pagã do "Solis Invictus", o Sol Invencível, para a grande comemoração natalícia do Filho de Deus, o Rabi de Nazaré.

As cidades se iluminam, o espírito de fraternidade aparentemente se reforça e o "Deus Menino" é comemorado. Ao longo dos tempos, tradições foram se acoplando à festividade e, assim, vieram o "Papai Noel", que quer dizer o mesmo que Papai Natal, inspirado na figura de São Nicolau, Bispo Católico que viveu, no século 4 d.C., na Cidade de Mira, atual Turquia, inclusive levaram-no para o Polo Norte e lhe deram roupas vermelhas. As árvores, os enfeites e o Presépio (criação do santo que mais se aproximou de Jesus, o aniversariante, São Francisco de Assis), a bela música Noite Feliz, composta pelo francês Franz Gruber, de um pequeno vilarejo em homenagem ao seu filhinho que havia falecido, dentre outros.

A celebração do Natal pode e deve ser momento de ajuda, de compreensão, de pedirmos pela Paz no Mundo. Nessa noite que a fé e o amor santificaram, peçamos ao grande aniversariante que faça reinar a sua paz e estendamos nossos braços aos necessitados. Ao invés de ornamentos, enfeites, presentes e outros, ofereçamos um pouco a quem passa um ano sofrido. Se não podermos dar uma ajuda material, doemos um sorriso, um abraço e o desejo de uma Boa Festa de Natal e Feliz e Próspero Ano Novo, aspirando ainda que aconteça o grande milagre: o renascimento do amor, propiciado pelo reencontro do homem por si mesmo, fazendo a tão desejada paz, acontecer!
Bin foi bastante aplaudido e como surpresa, a Banda Sirva os Servos se fez presente e entoou o "Noite Feliz", emocionando aos presentes até mesmo porque não era aquele o estilo da banda, mas, a festa natalina com sua paz irradiante os incentivou a realizar essa faceta. Aquela festa fez-nos perceber que Bin tinha vocação para a vida religiosa, mas isto ficou para ele decidir...incluindo o profeta e sua religião.
Davi não concordou muito com o que havia sido dito e afirmou: acho que no Natal é necessário que aconteçam as trocas de presentes, as luzes, festas etc., pois isso aquecia o comércio e fazia com que suas empresas ganhasse mais dinheiro ainda...
Isaac, por sua vez, disse que seu povo, o judeu, estava comemorando o ano 5757 e o Messias ainda estava sendo esperado. Ponderou que Jesus deve ter sido um cara legal e as idéias dele eram avançadas e importantíssimas, mas isso não justificaria ou o credenciaria à santidade... a ser o Filho de Deus, pois todos nós somos filhos de Deus, o Deus de Abraão e dos profetas. Decidiu não se alongar mais pois o dia era de confraternização e como todos ali não tinham diferenças religiosas, chamou Michel, Amy, Davi, Bin , e os outros presentes, para juntos rezarem a prece de São Francisco de Assis, o maior santo do cristianismo e começou: "Senhor, fazei-me instrumento de tua paz..."

Após este momento, Dona Rita Ilca , organizaram a mesa e a Ceia Natalina se realizou ao som de músicas da legião, natalinas, dentre outras. Após a morte de Renata , foi aquele um dos fortes momentos do nosso grupo e serviu para refletirmos. Em janeiro aconteceriam as provas do vestibular e decidimos que dia 27, nos reveríamos ali para conversarmos mais , antes de partir para a luta com o VESTIBULAR.

PASSEIO POR DUAS FACES DE UMA MESMA MOEDA!


As condições objetivas do mundo, para nós estavam piorando, apesar das subjetivas de poucos jovens ainda celebrarem o prazer, não como encantamento do mundo, como foi para nós, mas como desencantamento do mundo, o prazer para eles era rotina.
Éramos duas faces da mesma moeda: a juventude. Iríamos perceber isto até o abrigo da época adulta: o emprego!

Até ali, as linguagens que falávamos eram confusas, provenientes do conflito de valores que vivíamos e por estarmos no lugar ideal, o Teatro, as diferenças eram conciliadoras, porém não tínhamos a consciência de que a realidade era tudo aquilo que fazíamos separados.
Apesar de saber conviver bem juntos, não sabíamos a cilada que o mundo moderno preparava para nós. Primeiro o rito do vestibular, iria conseguir a façanha de iludir, que ali começava o seu trabalho e a formação para tal, a sua forma de sobrevivência e um período que a sua escolha e a sua capacidade demonstrariam se você era bom!
Que tal a imprensa fazer um matéria sobre isto? Nossos pais falarem sobre a faculdade e o vestibular, da sua formação e felicidade com o seu trabalho? Que tal? Jogamos aberto, em vez de vangloriar a forma que o saber é destratado, controlado e oferecido como se fosse patentes do exército ou cargo político na câmara. Ou seja aquele que menos perturbar, que mais se adequar às regras, entoando o discurso que o sustentam serão premiados.
Achar que é diferente o que acontece, é o mesmo que acreditar que Renata não morreu! Diversas instituições estão mortas, porque a linguagem e valores que pregam são tão superficiais e irracionais ao ponto de sua existência se dá de fato, pelo único sentido de obscurecer, o que é a verdadeira razão, o trabalho, e a existência.
O homem tenta, por suas instituições, definir os caminhos e as respostas coerentes para essas questões, esquecendo que cada indivíduo, tem a sua pergunta, as quais as instituições deveriam responder. Hoje elas apenas calam e formam pessoas para calarem em nome das instituições. Assim são médicos, que não aceitam o doutor Fritz! Assim é Bill Gates que cala as teorias de Harvard; assim são os diversos profissionais, e n "logos" que, que pela mediocridade de sua razão e pelo silêncio que provocam ao saber, acabam destruindo a possibilidade de que o saber seja levado a frente, por aqueles que carregam dentro de si, a paixão pelo Saber.
Será que as instituições não estão atentas para isto? Ou elas preferem jogar no vestibular, o seu conteúdo que nem sempre é o necessário para a carreira do acadêmico, para depois exigir os anos de mediocridade àqueles que reproduziram, com certeza, uma sociedade parecida com eles. Que se vangloriam de seus diplomas e não do seu saber e de sua coragem, pois a mediocridade das instituições, castrou até não poder mais, tirou-lhe os sonhos, transformou a vontade de potência em adestramento, seres humanos em animais.

Bin havia decidido que não faria vestibular, a partir dali iria dedicar-se à religião, no sentido de dedicação da vida à Deus, através da construção de Atos, que trouxessem consigo as palavras de Deus, embora que seu coração se angustiasse, por ser Católico também admirava o islã e se quisesse seguir o sacerdócio, teria que renunciar ao amor de uma mulher de carne e osso pois não se podia servir a dois senhores, ou era DEUS ou a "carne", embora que Paulo dissesse numa de suas cartas contidas no Novo Testamento que o "exemplo do líder da Igreja deveria vir de sua Igreja Doméstica", ou seja de sua família!
A atitude de Bin , representava também uma critica ao sistema de ingresso na universidade. É inadmissível, no caso dele, que estudaria Teologia, precisasse prestar exames nas disciplinas gerais como a matemática e as ciências exatas, dentre outras. O ideal seria que o mesmo ou todos os vestibulandos prestassem contas daquelas maneiras que tivessem relação direta com seus cursos.
Na cabeça de Bin há ainda um grande questionamento: " Se Deus é amor", como é que se estuda o amor-Deus! A palavra escrita por homens com a inspiração do próprio Deus e que há milênios ecoa nos ouvidos de muitos, é o primeiro caminho a ser seguido por Bin. Esta tambem será a verdade revelada do Alcorão.

Isaac, tomou a mesma decisão porém por outro motivo não sabia, o que queria, pois não conseguia encontrar naquele caminho proposto pelo vestibular e pela universidade, o horizonte para o saber.
Além do mais, Isaac, ainda estava buscando algo de concreto na Sociedade Moderna, que valesse a dedicação de uma vida. De uma coisa ele tinha certeza, a maneira como estava se organizando, as profissões, "o saber", e "o acesso" a ele não tinha nenhum significado concreto, pois percebia que eram semelhantes ao feudalismo, o momento em que vivíamos.
Havíamos mudado a forma, o estilo, mas a essência do status permanecia a mesma! A universidade tem por seu berço ocidental, os mosteiros em cima das montanhas e os padres como seus professores, como tão bem já tinham protegido o sagrado. Para o povo que cercava os mosteiros, ali era o lugar do saber! Lá em cima eles acreditavam ter o saber e o domínio do sagrado para controlar o povo, usando algo pior que armas e drogas, a violência da mentira, para ter o controle da mente e dos desejos. Não é muito diferente se percebermos a publicidade. A Universidade e o seu isolamento, a utilização do saber como forma de diferenciação e controle entre os que "sabem" e os que não conseguem "saber".
Mas Isaac sabia o que se esconde, por cima das montanhas, um lugar escolhido para o seu sacrifício. Abraão não, a Universidade! Hoje com sua nova moeda de troca, para permanecer em seu grau de nobreza, a tecnologia, que mais uma vez só perpertua a humilhante distribuição de renda, de dinheiro, que no capitalismo significa liberdade ou morte!

Estávamos lá na fila da inscrição. Isaac havia acompanhado Nicolau, Davi, Bin e Michel! A imprensa estava fazendo uma entrevista sobre o que pensavam os vestibulandos e escolheram justamente Isaac. Perguntaram se ele toparia dar uma entrevista para a TV e o jornal. Ele adiantou que estava ali, mas não iria se inscrever. Não importava, para a imprensa, se ele iria fazer vestibular ou não. Afinal a imprensa tem costume de transformar minorias em maiorias, de acordo com a ocasião e calar as maiorias em nome do espetáculo cotidiano, usado por ela como fator quando na realidade são conseqüências!
Isaac, o que você acha da privatização das universidades? Perguntou o repórter.
Eu tenho certeza que o tempo do crescimento da liberdade de espírito, do estudo de como transformaremos sonhos em realidade não deve ser dividido em dois, por uma causa injusta. Diminuam a dívida pública, cortem as isenções fiscais , sintam na pele o enfrentamento da adversidade, porque o governo só pode ser exercido por homens corajosos. Alegar que levará recursos para o ensino básico é o mesmo que fizeram com a saúde. Alegar que trará mais responsabilidades, olhem o currículo dos que propõe e lembre que a responsabilidade verdadeira é fruto de tomar as rédeas do seu caminho, que só pode ser alcançado com liberdade de espírito!
Dividir o tempo entre o trabalho e o estudo é possível desde que seja uma regra para todas as classes, porque senão quem continuará a luta pelos pobres? Quer seja através do saber, ou dos protestos que florescem na universidade, os ricos?
- O que você acha do presidente e o que propõe para mudar?
R.: Eu tenho certeza que um presidente que se orgulha por ter colocado R$ 50,00 no bolso do brasileiro, para que este compre seus "eletro-domésticos", não merece o mínimo de respeito! Por esta razão está ainda mais instrumentalizando nosso povo e se vangloriando pela miséria que distribui em forma de eletrodomésticos! E se isto é a única coisa que ele tem para falar e repetir, a atitude mais digna que ele poderia tomar era a renuncia. Só que isto não existe em seu dicionário, o que existe são outras palavras que ele repete para sustentar-se no poder, aliando os seus interesses aos de órgãos internacionais e bancos, que o fazem de bobo da corte, com suas frases acabadas sem sentido.
Michel também foi entrevistado só que pelo jornal. A repórter perguntou:
- É possível que a redação seja sobre globalização, o que você acha?
- Bem, graças a globalização tenho assistido filmes do Irã, Bélgica, Inglaterra, Japão, China... o que tem me proporcionado entender melhor os valores que são pregados em cada país a partir da história que contam e de seu contexto. Tenho encontrado valores que são globais e locais vividos em suas tribos, porque isto faz parte da essência de ser humano e acho possível que ideologias e novas linguagens se misturem gerando novos valores e criando novas instituições. Por exemplo uma escola de cinema para crianças é mais proveitoso que as TV’s, com tantas informações sem história, sem os adereços e palavras de sua época. No cinema é diferente, é como estivéssemos vivendo. Isto é arte, como o quadro dos sapatos de Van Gogh.
- E a globalização, a redação, o vestibular?
- Não sei, se existe algo de essencial nisso, que eu possa comentar, não falo essa língua, porque a ideologia que ela carrega o neo-liberarismo não existe como Ciência. Apenas querem que a gente repita isto sem pensar mesmo ela sendo motivo de destruição de muitas vidas ! Ela não é inevitável! Ela não tem essência, nem lógica. Porque devemos aceitá-la? Porque aceitamos a impotência em troca do nada que ela oferece... às nossas vidas, famílias e trabalho. Deus no oitavo dia fez o tempo para que vivêssemos e sentíssemos tudo o que ele criou. A globalização, através do mercado financeiro, é o oitavo dia do deus homem! Só que enquanto Deus fez o mundo para ocupar o "nada", o homem criou o "nada", para ocupar o mundo. Esquece ele que não é Deus e portanto como o "nada" é o vazio de suas criações, que querem nomeá-lo Deus! O que pode surgir do Nada? Só a alma de grandes homens pode preencher o mundo que Deus criou e em nenhum momento do história, o saber, a poesia e a arte foram derrotados. Precisamos sim inventar um telescópio que enxergue além dos mapas, dos blocos econômicos e perceba a política além das supostas Leis de Newton, que a coordenam. Existe num plano maior: a Teoria da Relatividade da Política, com o princípio da incerteza que transfere de números para crenças o que podemos tornar realidade. Portanto, temos que discutir nesse Plano Maior, o que nos interessa ou não da globalização.

Estávamos já cansados de tantos repórteres, de tantas perguntas, as quais só mostrariam uma parte isolada sem o contexto e, sem dúvida, as rosas preferem os cinemas.
Davi iria fazer Economia, Michel, Educação e Nicolau, Ciências Políticas além de Adoministração com foco em Empreendedorismo e Estratégia. Amy também decidiu não fazer curso superior. Todos passamos! Depois da festa de comemoração, demoraria muito para haver um reencontro. A dor da morte de Renata e a impunidade de Alexandre, nos levaria ao mundo real, cercado de suas incoerências e armadilhas. Também era a hora de irmos em busca de novos empregos, adequados com a nossas áreas de estudo...

Estamos prestes de entrar no mundo adulto e a procura por emprego foi uma despedida da juventude! Por muitos lugares que andamos vimos jovens que nos lembravam o mundo grego que estudamos na história. Conseguíamos perceber isto porque olhávamos de fora, afinal o objetivo agora era emprego. Mas ao mesmo tempo olhávamos de dentro, pois, como jovens, sabíamos o que sentiam!
Antes de nos despedirmos, desta vez sem bares, pois faltou dinheiro para cerveja, vimos um grupo de amigos de Agamenon, bebendo e vomitando cerveja, acho que buscavam a morte, não o prazer como na Tragédia pois bebiam por beber.

Isaac, saiu de lá e foi ver um jogo entre Flamengo e Vasco, que lógico acabou em briga de torcidas. Eram verdadeiras guerras entre gregos e troianos, porém sem glória, sem exaltação da coragem, só medo e irracionalidade comandavam aquela disputa. Também em essência diferente dos gregos, pois faltava honra mas a forma era a mesma. De vez em quando surgia na multidão alguns espíritos que uniam a torcida ao perceberem seu traço em comum: a paixão pelo futebol, pela arte de belos gols. Zidane e Ronaldo então trocaram as camisas de seus times e resolveram não se enfrentar. Pois o respeito e a honra pelos dois times era maior que uma luta. Eram nestes atos, que voltávamos a acreditar que a sociedade moderna revivia a Grécia, em sua honra e glória e não apenas no cotidiano. Que os valores renasçam, e ao lado da tecnologia, transformem a vida da maioria das pessoas gerando a igualdade de oportunidades necessária a gregos e troianos, pois a Terra pertence a todos. E Deus não outorgou direito especial sobre ela a ninguém.
Nicolau cruzou em seu caminho por diversas academias, onde o culto à beleza e ao corpo existiam, mas não como questão de estética, mas sim, uma simples briga entre o deus publicidade, que queria oferecer prendas ao deus mercado. Em troca, daria ao Homem o vazio de sua alma. A Grécia mais uma vez estava perto e distante. Brigas de gang’s, individualismo no trabalho, em casa e com os amigos. Todos queriam vencer, serem diferentes, não por honra ou por glória, porque mais uma vez estavam vazios. Isaac percebeu.
Michel ouvia as histórias de seus amigos, sobre orgias, sexo grupal, sadomasoquismo, mas o sexo era uma forma de expressão do egoísmo, desta forma era vazio. Era feito não em nome do prazer ou da dor, mas em nome do nada, mesmo sem sentir, sem gozar, porque não o faziam porque queriam como na Grécia, mas como na Grécia faziam. Todos queriam viver experiências, para satisfazer o egoísmo da publicidade que gaba-se do seu nada e transforma em tudo. Assim meninos transavam com meninas que abriam as pernas, sem contemplar a cor da pele, os lábios a suave voz dos gemidos, gozavam como vomitavam, nem mesmo sabiam, pois não realizavam desejo, apenas corriam de olhos vendados não importava quem era ou eram os parceiros. Apenas faziam, não era tragédia, pois a tragédia tem um sentido, eles não tinham, não sabiam o que era vivenciar o momento, pois racionalizam a conquista, se possível tiravam fotos, levavam a calcinha, deixava o orgasmo!

Tínhamos escolas como os gregos, mas estas adestravam, como máquinas que somos, programavam o currículo. Pensar era proibido, porque desta forma poderíamos decifrar os códigos do Protesto das Rosas. E até mesmo, para conseguir emprego, era necessário estar adestrado para o sub-sistema que conviveríamos. Escolas, Empresas, acabamos arrumando emprego, aprendendo a falar uma nova linguagem já que fugindo da vida, do prazer e da juventude, não encontrávamos o caminho de volta. Ao sairmos de casa, não sabíamos que não voltaríamos! O emprego era a nossa vida, aprendemos a construir Templos, Universidades, Estado, Empresas, uns mais altos que os outros, não para homenagear Deus, mas para homenagear os Homens. Por isso eram tão vazios, os ambientes que construíam, com linguagens, ideologias e valores próprios, a espiritualidade está morta.
Iriam buscar diferenciar uns dos outros, como deuses, para que perdessem a lógica do Uno, do Ser e não se encontrassem mais, vazios em seus sub-sistemas. Conclamavam o Ocaso como responsável, mas eles sabiam que por detrás daqueles Templos, havia uma lógica chamada de Caso, para melhor obscurecer suas pretensões de deuses.
Mais o verdadeiro Caso, criou Isaac, que iria visitá-los em seus Templos, percorrer os labirintos de suas angustias, de seus medos. Destronar os deuses e reis, onde lhe foi mostrada a lógica simples e medíocre que era usada. Para depois entregar às cinzas ao caos, organizar a juventude, manifestar o que encontrará... Era mais uma frase perdida no diário!

Isaac tinha resolvido se isolar do mundo, entre o grupo, foi o que mais ficou abalado com a morte de Renata, foi como se o prazer fugisse de sua vida. Isaac não encontrava sentido nos caminhos adotados isoladamente por seus amigos. Pois além de cada um se isolar em seus Templos específicos, começavam a falar uma linguagem, ideologia específica que reproduzisse os valores de seu novo grupo de amigos.
Isaac permanecia em sua busca, de fazer algo com paixão, de sentir as pessoas e vivenciar os fenômenos, sem preconceitos, sem teorias pré-elaboradas, mas principalmente tentava entender porque o mundo tinha tantos problemas, já que haviam especialistas para tudo e, no futuro, dentre eles estariam amigos. Porque o eterno conflito entre o mundo do trabalho, da educação, da política, da religião e das artes criava mundos tão diferentes e tão distintos. Habitado por seres humanos dilacerados por seus desejos e angústias conflitantes ao mundo objetivo que era colocado. Vimos homens do governo e do mercado financeiro, tomando decisões diárias, que castravam a vida de artistas, educadores, do trabalhador como um todo, com explicações que em suma alegavam a ignorância da maioria que pagava as contas.
Isaac resolveu que antes de tecer comentários sobre qualquer uma dessas áreas, iria procurar visitá-las em seus Templos e, tentar, a partir do diálogo socrático, conhecer o mundo em que viviam seus amigos, as razões, o ethos, e o inconsciente que faziam abrigar aqueles lugares e tratá-los como locais sagrados, sem questionar as suas origens. Queria tentar entender o que significava para essas pessoas palavras que temos em comum como vida, liberdade, verdade... e, desse ponto, enxergar seu sistema de crenças e ideologia. Poderia, assim, encontrar um lugar que desse sentido a vida, que trouxesse ao seu coração a paixão, o orgasmo da vida. Considerava essa uma oportunidade única de conhecer e de se conhecer, como para Colombo era essa uma viagem desconhecida, porém como Robison Crusué, teria que sobreviver, pois até aquele momento tinha se tornado uma ilha e entre os novos habitantes que conheceria, poderia perder a sua natureza, em troca de um valor tão atraente quanto os tesouros da Arca Perdida e mais importantes do que eles, era a sua busca! Ou correria o risco de achar o que procurava, perder o gosto pelo conquistado e ir em busca de mais lucro, como o burguês que mais interessado está em ganhar, para tentar preencher o vazio que o cerca. E não conseguindo entrar no círculo vicioso do ganhar por ganhar, acabaria ele perdendo.
Era o risco que Isaac corria, percorrendo os diversos saberes e mundos, poderia perder o sentido de sua busca ou criar um novo sentido. Lembrando uma das músicas do Pe. Zezinho: "Quem se entrega a uma ideologia e por ela quer matar ou quer morrer; se ganhar a sua guerra qualquer dia, corre o perigo de também se corromper". Em sua aventura, em sua solidão, o mundo poderia se tornar um pretexto para a vida, algo tão natural, que não se preocuparia mais com os caminhos que os outros atribuíam às suas vidas.
Ele poderia achar e junto com seus amigos repensar o mundo em que viviam, publicar manifestos descordando do que viu e ao morrer, seu diário se tornaria um best-seller, mas que nada adiantaria no mundo que ficou vazio. Ele poderia transformar e ser transformado por cada pessoa que tivesse contato. Abandonar o discurso de direita e esquerda e seguindo a máxima grega de que "a Sabedoria leva à Bondade", ir paulatinamente como educador, com seus livros, cursos e palestras dando contribuições para que o mundo enxergasse o que enxergou!
Como já dissemos, publicar seus manifestos e com a popularidade destes, tornar-se político e com a luta de seu partido e correligionários praticar a revolução. Afinal estaria trabalhando em benefício da maioria. A minoria também não enxergava ou se aproveitava do mundo que ai está! Poderia com a arte, contemplar o absoluto e a estética, oferecendo aos seus olhos e aos que viam, a razão que sentia um pouco do Paraíso na Terra.
Tornar-se filósofo e viver desta procura, visitar e revistar os Templos, os Templos de sua razão, filosofar, descobrir, não achar, caminhar e falar, percorrer os horizontes do Tempo e da História, do Ser e do ente, questionar, o que estava oculto, escondido, trazer a tona ou esconder mais como a sociedade dos homens de bronze, que serviam para trabalhar, enquanto os de ouro para pensar. Ser ouro, filosofar, enquanto os prata e os bronze, tinham o peso e a medida de cada homem no seu mundo capitalista.
Poderia contemplar a Deus, em suas orações, em seu espírito religioso e orar para que fosse feita a sua vontade! Aplicar atos de terrorismo que tirem o Diabo da Terra, rezar, louvar, admirar Cristo, Buda e seus atos, mas apenas a admiração poderia transformar a sua vida em um empreendimento?
Eu sou uma S.A.? E através de minhas empresas garantir o sustento e a vida de muitos trabalhadores? Poderia ser um Banco para financiar a produção e a ter integridade tão grande quanto os palácios que ocupam. Comprar empresas, fechar outras, afinal alguém tem que ensinar ao mundo o que é nacionalidade. Dar a contribuição da tecnologia, através de "meus" recursos, e lógico em retribuição aos cientistas que pagaria. A sociedade poderá não me ressarcir, mas a contribuição foi dada. Ou poderia ser um cientista, como esse que trabalha conosco e devolver a nova tecnologia de transportar pessoas pelo tempo, através da sua mutação em energia. Levaria pessoas dos E.U.A. para a França num segundo.
Porém teria que enfrentar a industria dos aviões, dos foguetes, automobilística, bicicleta, TV’s a cabo de esporte, pois assistiria os jogos ao vivo... Seria respeitado pela verdade que carrega a ciência?
Poderia, também odiar tudo que via, não ver sentido, maior que o do prazer e sairia de lá correndo para viajar pelo mundo, transar com todas a mulheres, beber todas as cervejas, sentir todos os êxtases da cocaína... Todos os esportes perigosos seriam minha lição de casa, ou poderia amar, viver de amor, amor por alguém, por algo, pelo nada, contemplar o sentimento da vida...
Seriam essas as opções para Isaac. Sua caminhada estava prestes a começar com ela, a rosa. Ele, irá em busca de respostas, para elaborar novas perguntas, tentar encontrar projetos que além de discursos, mostrasse dentro de cada área de ação humana, um caminho concreto, onde poderia efetivá-lo, através das realizações destes!

As áreas de atuação seriam Empresas (ou o mundo do trabalho), Arte, Política, Social, Prazer, Espiritualidade , Educação e Amor! Só o diário tem a resposta, pois o navio ganhou vida e voltou ao mar para realizar novas viagens... não sabe se esses caminhos aqui apontados terão tempo para chegar aos seus destinos, antes do naufrágio da humanidade, do juízo final, produzido por Deus ou pelos homens, sua criação. Era mais uma frase solta, naquele diário, circulei e segui em frente a escrever lembranças.
A falta de dinheiro, o deus do mercantilista, impediu que Isaac começasse logo, a sua jornada, porém orando para a deusa loteria, conseguiu o suficiente para visitar seus amigos. Embora o deus imposto de renda, lhe infligisse sete dias de devoção, em suas filas, antes de iniciar sua caminhada, que dependeria da vontade dos deuses, de deixar que seu destino se realizasse ou não. Ele tinha talento mas o mundo procura glamour. Como vários outros amigos, que sonhavam e desejavam realizar seus anseios e eram proibidos pelos deuses. De vez enquanto um interferia a favor, outro contra. Assim foi Germano, queria ser surfista, o deus vestibular não deixou; Homero queria ser escritor, as contas a pagar não deixaram que praticasse tal absurdo ao seu poder, porque senão a deusa prisão tomaria conta dele. Robson e Fábio queriam ser filósofos, mas deus trabalho não permitiu que o deus saber, que ele chama de vagabundo, cuidasse de seus destinos.
Enquanto os deuses são benevolentes com os políticos, empresários, e seus filhos, que como Tróia, avançam sobre a minha Grécia aptos a realizar a vontade dos deuses que seguem. E seguidores somos, mas de vez em quando surge um curinga neste baralho, neste jogo, pois ele representa para o seu deus uno e absoluto, para percorrer o seu caminho e a sua jornada, seu sacrifício e as rosas que enfeitaram seu destino. Era mais uma das frases soltas no diário.
Que coisa chata, tenho que colocar no contexto, independente do que eu esteja falando. Começo a suspeitar que tem um deus habitando este diário! Será? Ou será que estava querendo com essas visitas, tornar o espírito múltiplo, pois o espírito se eleva acima da parcialidade e porque nunca se identifica com nenhuma de suas formas, tornar-se consciente de ser o princípio único que anima a todas. Alcança portanto, a pureza, isto é, não se sujeita a nenhuma de suas formas, pois ultrapassa a todas elas. Seu olhar é "simples". E por estar pronto para dispersão que triunfa sobre ela.

Perguntei se não era esse o meu objetivo! Mas era a hora da caminhada, de definir a trilha e resolvi fazer um sorteio para ver a quem visitaria primeiro. Davi foi escolhido, ele e seu templo seriam o meu primeiro destino.
Viajei até São Paulo. Davi pelo telefone me disse que poderia me receber em seu escritório das vinte horas, vinte e dois minutos, porque logo após teria que se preparar para acompanhar a abertura da bolsa de Tóquio! Peguei um ônibus até o centro financeiro do país e desci logo em frente. Era um templo belo, com uma arquitetura moderna, paredes que brilham, elevadores panorâmicos, bastante alto. Mais em sua homenagem aos deuses, ainda perdia em altura para os dos E.U.A e estes não celebravam seus deuses, como a Malásia, que tinha o templo mais alto do mundo. Fui até o décimo oitavo andar.
Davi já tinha atingido a maioridade em sua empresa. Ele veio me receber, pontualmente, na sala de espera. Me convidou a entrar, não me recebeu com tanto carinho como receberia um de seus investidores, é claro. Sentamos em meio a papéis, computadores, jornais e um quadro com a tabela de apostas do mês. Eles estavam apostando que dia iria nascer o bebê de sua amiga Mara. Disse que viviam de apostas, apostavam tudo, o índice da bolsa, o jogo do Brasil, número de mortos naquele dia, o tamanho do sapato do novo zelador etc... e eu completei, sem querer, a pobreza de muitos países, o destino de empresas que falem, o desespero do governo, a infelicidade de muitas pessoas...
Ele ficou calado, sem entender. Parou e disse: então qual o assunto que o trouxe aqui?
- Só queria lhe fazer algumas perguntas e te apresentar alguns projetos.
- Projetos! Projetos eu tenho muitos. Escuta só! Descobrir como se pode provocar a queda nas bolsas e ganhar bastante dinheiro com isso. É simples primeiro você contata com vários órgãos de imprensa, para mostrar as grandes possibilidades de ganhar no mercado de ações, isso vai gerar uma grande procura que lógico você e alguns bancos de investimentos estarão prontos a receber. Com sua carteira bem cheia de recursos, utiliza-se de uma estratégia que se chama de criação do capital da ficção, invisto em um portfólio de ações que sejam noticiadas. Mais uma vez a minha amiga imprensa vai me ajudar. Ela pode ser notícia por si, ou pelo simples fato de que eu as comprei, isto graças à minha credibilidade, adquirida também a ajuda eficiente dela, a imprensa!
Logo, o mercado vai reagir e a cotação da ação vai subir, até o momento em que eu, que montei o esquema sou o primeiro a vender um lote de ações, bem pomposo que provocará a queda nas bolsas e os outros investidores que me ajudaram a fazê-la subir, correm para vender com prejuízo e eu mais uma vez estarei lá para comprar. Viu como é fácil! É só começar, via imprensa, dizer que ali dá para ganhar dinheiro, de novo, como costuma se dizer "As Bolsas Reagiram!" e transformarei o valor daqueles ativos no triplo do seu valor e claro dois terços são meus! Mas não é só essa forma que encontrei para criar capital, tem outra. Eu a chamo de capital probabilístico, ou seja, é provável que ele exista... É simples uma empresa pede dinheiro emprestado aos bancos, tendo por garantia seus ativos, os mesmos que serviriam para lastrear a abertura de capital da empresa, transformando em pacotes de ações, aquelas que eu vou comprar, tirar o meu e vende-las, mais ainda posso pegar esses ativos e transformá-los em debêntures que alguém vai comprar e os Bancos de tudo isso terão este dinheiro como lastro de que seus empréstimos estão garantidos! Podendo captar ainda mais dos poupadores e da conta-corrente, dos trabalhadores que além de não ganharem nada, são o único lastro real de todo esse jogo de sete vidas do gato ou do dinheiro.
Ainda tem os derivativos, deixa pra lá... Sem contar que se os E.U.A precisarem de mais dinheiro para suas contas, é só mexer no câmbio e todos nós, mais uma vez pagaremos o pato. Viu como é simples em vez de trabalhar, produzindo, aumentando a produção como fazem esses bobos. Eu crio dinheiro, porque eles consideram a minha mágica muito difícil de entender, por isso sou divino! Se acharem ruim e não quiserem mais me trazer suas oferendas a meu templo! Corto seu crédito, que lembro mais uma vez, não é meu, pertence à produção, mas eles não são divinos como eu para administrá-los. Entendeu Isaac?
- Entendi e quanto meu projeto faz sentido para contrapor o seu! Agora é a sua vez de escutar: Posso organizar a economia por setores como fez o Japão. Trabalhar a cadeia de valor, desde os fornecedores, passando pela indústria, atacado, varejo e consumidor final, de forma que desde o inicio da cadeia até o fim haja um trabalho de parceria, procurando melhor atender o consumidor final e reduzindo o desperdício a zero, aumentando a produtividade! É simples: o fornecedor, seria exclusivo daquela indústria, que teria o atacado e o varejo vinculados a ela. O Fornecedor só produziria o suficiente para que ela atendesse a programação dos pedidos do varejo, que poderia se reportar ao consumidor final via banco de dados. Atendendo um a um, teria uma produção flexível em células e o Departamento de Seres Humanos, apto a transformar pessoas em talentos que seriam aproveitados nas diversas áreas das empresas, de acordo com a sua competência e potencialidades! Por fim a área de Finanças, definiria preços equivalentes a custos e salários dignos para seus trabalhadores, com contratos de longo prazo estabelecidos com uma meta de produção adequada às necessidades daquela região. Por esta razão, é saudável que exista concorrência, desde que não exceda a capacidade de consumo e que toda essa produção possa ser alocada, em seus diversos nichos. Sem desperdício, com lucros adequados a nível de investimento e produção. O setor seria administrado por um grupo que envolveria participantes de todo os blocos que formam a empresa, inclusive representantes de seus acionistas, que neste caso são os próprios funcionários, de forma que a decisão em conjunto definiria a melhor alocação de recursos. O mercado seria protegido por tarifas altas de importação, até que fortalecesse suas empresas e poderia exportar alguns produtos específicos para outros países que não prejudicasse o seu nível de emprego. Aumentaria a poupança de nosso país e, com o tempo, os diversos países iriam se especializando em setores da economia, de modo que este plano possa ser levado para uma escala maior. Países produziriam vinhos, outros computadores porém sem que o preço e o câmbio sejam formas de lucro fácil pelo mercado financeiro, pois a moeda não é um produto!
- Mas você não sabe que o Japão está com sua Economia em decadência? Indagou David.
- Vamos começar minhas perguntas sobre palavras, então? O que é decadência no Japão, China ou Noruega?
Se nós oferecêssemos ao nosso povo metade da "decadência" japonesa, o Brasil seria um país justo! Eles nunca teriam tido tanto progresso em pouco tempo, como nunca tiveram. Se observarmos, a palavra decadência, aplicado ao Japão tem o mesmo "significado" que hoje usamos para empresas de "sucesso", em nosso país, uma lástima! As empresas brasileiras utilizam uma das piores políticas salariais do mundo, quase não têm concorrência e tratam a empresa com a visão feudal que tratavam os "engenhos". Já mudou o cenário e a roupa. Eu diria que seria anormal, se essas empresas não conseguissem "sucesso", que neste caso não lhes pertencem. Trata-se apenas de uma das conseqüências da Lei da Selva, que impera nesta Terra e da falta de condições para real competitividade, que concordo traria progresso como no Japão! Porém uma premissa para que tudo isto aconteça é ter a frente das empresas, empresários que de fato detenham sabedoria para comandar negócios numa economia global, alguém que possa definir o que de melhor podemos dar de rumo ao nosso trabalho não apenas como a maioria, ao seu estômago!
Ficamos por algum tempo em silêncio, começava a achar que estava bastante agressivo e resolvi frisar, para não ser mal interpretado.
- Bem, é lógico que não estou referindo-me a todos. Não trata-se de uma acusação socialista contra o empresariado. Não sou socialista, sou social-democrata, como assim considero o Japão e a Europa. Respeito Marx, em muitas de suas leis econômicas, mas discordo de sua estratégia política, em essência! Como Bakuin, acho que todo Socialismo acabaria virando um Capitalismo de Estado, como assim provou Stálin e a História. Minhas críticas são bastantes claras, em torno de como tratamos o outro, que tanto no Socialismo como no Capitalismo são tratados como números e em massa, rasgando a sua individualidade. Também como lidamos com a verdade, por exemplo querendo ou não os liberais, a mais-valia não é o capital fictício. São produtos da perversão do capitalismo sobre o outro e o conhecimento que Marx, sabiamente, previu!
A realidade, camuflada pela ideologia não é mais uma barreira para o ser humano reviver seus sonhos e seus valores. A história não acabou, ela está começando porque as ideologias e os dogmas estão caindo, principalmente aqueles que ainda sustentam conceitos que castram novas instituições, linguagens e valores!
- Você sabia que o modelo que você defende foi desenvolvido por Michel Porter, o grande impulsionador das estratégias de globalização das multinacionais? Interpelou Davi.
- Sei, como estava falando, o conceito da cadeia de valor e o seu controle, desenvolvidos por Porter também serve para fortalecer economias nacionais e torná-las competitivas como fez o Japão, aprofundando ainda mais sua Teoria. Se não nos fecharmos em ideologias e dogmas e pudermos olhar sem preconceitos o mundo que nos cerca, poderemos permitir que a transformação necessária para qualquer mudança concreta de atitude política possa ser realizada. Isto quer dizer que chegou a hora, de entre as rosas, escolhermos quais farão parte de nosso jardim. Escolha as rosas e plante o seu jardim! Foi provado: o que segurava a URSS era a polícia, a garantia, a repartição dos bens, a lei e a repressão, não a liberdade de espírito. Como, da mesma forma no Capitalismo, a liberdade caminha sem espírito, pois o homem virou objeto e sua racionalização, idêntica à de um objeto que pode fluir por toda parte da Economia Global. Mas o homem, não consegue fluir nem pelo seu quarto, que não seja orientado por seus objetos, que o prendem e escravizam a todos aqueles que se subordinam ao capital, como mestre e deus!
- O que você pretende é utópico, como você disse a História já provou, Isaac!
- Davi, já vi, que para você, História é passado, para mim, além disto, ela é futuro e imaginação que podemos concretizar em momentos históricos. Por exemplo: se a juventude decidisse que não tomaria mais coca-cola, salvo se esta revertesse 50% dos seus gastos em publicidade com cultura, educação e geração de emprego, seria uma revolução fantástica. O jovem abdica de tomar o refrigerante, o que o socialismo restringia e ao mesmo tempo derrubaríamos a Coca-Cola de sua posição criada pela publicidade, para levá-la à sua condição de objeto. Sem esquecer nos benefícios da redistribuição de renda e alocação de recursos em projetos essenciais como alguns já citados... Imagine em larga escala este projeto... Sem publicidade, com mais cultura e educação, teremos uma juventude autêntica e feliz, por poder agora escolher a que deuses ou Deus atribuir significado à sua vida. Não seria por ímpeto ou "desejos fabricados". É uma pena que os meios de comunicação tenham que viabilizar novas formas de geração de recursos, assim como grandes astros, ou a nobreza, que dependem da imagem. Viveríamos num mundo mais autêntico. Tenho certeza que como apreciadores da arte, iriam gostar!
Desculpem se o romance está em Pentium e os Protestos em 386, é porque nesta velocidade eles tem uma melhor definição de imagens. Enquanto, um romance em Pentium celebra a estética da velocidade do caos que se realiza, nos protestos, o romance é a Bela , os protestos, a Fera, mas a Bela e a Fera se amam não pelas suas dimensões estéticas, mas porque compartilham da mesma essência humana e se utilizam de diversas formas para expressar o seu Ser.
- É, como você disse, a realidade hoje é por demais castradora, objetiva e por isso limitadora, que só se pode conhecer de fato um Ser humano, pelo seu Ser, suas expressões seus sonhos e valores! Disse Davi.
- Puxa, gostei! Mas me diga o que é o Outro para você?
- No meu mundo, não existe outro, só existe eu! Não consigo ver o que os outros constróem, porque, como Narciso, só vejo e só reconheço meus feitos. É uma necessidade que tenho de competir com o outro e mostrar que sou melhor. Ele só serve para isto! O lucro é a expressão deste algo mais que tenho que ter para preencher este vazio, que só o outro preencheria. Como esse não existe para mim, eu sou a verdade! Nós decidimos sem chegar a uma conclusão.
- Bem colocado. O que é a verdade? Perguntei.
- A verdade são os números e tudo que me dizem, a minha razão é numérica, sem sentimentos, como assim é a verdade em meu mundo. "Quanto vale?" e não "O que é?" É um jogo, que criamos e recriamos para brincar como objetos entre deuses, entre balanços, marcamos pontos comprando carros, apartamentos, empresas, quadros, fazemos doações para mostrarmos quem somos, quando sabemos que não somos, pois o vazio continua a exigir que façamos algo que de fato preencha o nada que ocupa! E quando as máscaras caem, sabemos que pode ser tarde demais, pois é nítido: o outro, que agora nos olha, busca em nós algo mais que um lugar, um cartão, uma caneta pois estes estarão lá, trocarão as pessoas e não percebemos. Por morte ou viagem é como se nunca estivesse estado!
E qual o sentido da vida? Passei a me questionar... enquanto levantava depois de quase duas horas em sua sala. Nos despedimos sem chegar a uma conclusão. Davi, continuaria com suas "estratégias". Na sua situação, com suas mordomias e "verdades". Fica difícil tenta fazê-lo aceitar meus pensamentos, quanto mais pô-las em prática. Como o tempo muda as pessoas!
Sai, desci pelo elevador, ainda escutava o eco do silêncio! Começava a entender o porque dos altos salários dos executivos! O mundo que estava ao seu lado, da BMW, até o escritório e o seu salário eram as únicas coisas que conheciam.
Havia dedicado a juventude e agora seu tempo a estes "deuses" que o proibiam de pensar! Tudo que fugisse à sua lógica, era prejudicial à disciplina! Era necessário evitar crer, ser, para continuar a se divertir com seus "brinquedos". E, como toda criança egoísta, brigar por eles...
Fui desenvolvendo o raciocínio e comecei a entender reengenharia, qualidade total, downsing... coisas tão simples e tão banais, produtos da insignificância humana de não ter coragem, nem inteligência, para enfrentar os desafios humanos de melhor viver com o outro e com a verdade. Como isso lhe faltava, acabavam tendo que ter na pessoa do executivo, a ferramenta típica para demitir, cobrar, cortar, explicar o que não tem explicação, falar demais quando não tem nada a dizer, vender a sua alma e o mais engraçado de tudo... fazer com que esta ferramenta ache que tem poder, que "manda", quando na realidade, como seus brinquedos, é um deles, que não reconhece de um prisma mais amplo a sua terrível brincadeira de fazer coisas bobas em nome de algo que só destrói o que espírito humano construiu: o Trabalho.
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Hoje no mundo do trabalho e na vida, graças à insanidade dos que fazem do tempo e da historia, meros artefatos de paredes, esquecendo-se de ver, que como eles, os nobres, são o cumulo do ridículo, só mudaram as ocasiões e os adereços desta homenagem que prestam aos seus reis, com isto fazendo do trabalho, escravidão gerando a sub-vida, enquanto o viver plenamente, fica num plano quase inatingível.

Se nos puséssemos a falar palavras que só tem sentido para uma minoria da população, estas só significariam a ausência do sentido, que essa minoria carrega consigo. Transbordam no nada de seu luxo, pela miséria de suas palavras, que como nada significam, nada mudam, nada realizam na construção da liberdade de espírito.

Esse primeiro encontro foi o mais vazio de todos, pois empresários, como Davi , apesar de ver muito, não enxergava nada! Se um dia eles pudessem viver o seu espírito, entenderiam que o trabalho é uma das dimensões humanas, que garantem a sobrevivência material e um dos meios de concretização dos nossos sonhos. Mas não é a única, também todo trabalho deve proporcionar a todo ser humano, vida! Isto é básico, gostaria que alguns dos executivos que sustentam as incoerências do mundo moderno, olhasse ao seu redor, depois dos muros que os prendem e vissem o quanto seria significativo se colaborassem e pensassem em nome da humanidade, procurando melhor solucionar a equação do trabalho na vida humana! É a única forma de serem algo. Mais falta, na maioria dos casos, inteligência e dignidade.

Já estava cansado de meditar sobre o nada, não que o trabalho e as empresas não signifiquem nada, não me refiro a isto e sim ao trabalho do executivo, que agora "descobriram" que todo funcionário deve pensar, porque se não, não há competitividade! Mais uma vez só sobrará para o executivo o trabalho de um vigia informado, que com o tempo serão transformados em vigias informatizados, se eles não acordarem a tempo e reconhecerem de fato quem são!

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