SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

INDO AO ENCONTRO DO TEMPLO DO DEUS DA RELIGIÃO E IMPLODINDO PELA ARTE ESTE MUNDO PARA QUE OUTRO POSSA NASCER ...






INDO AO ENCONTRO DO TEMPLO DO DEUS DA RELIGIÃO E IMPLODINDO PELA ARTE ESTE MUNDO PARA QUE OUTRO POSSA NASCER ...

Tomei, com vinte minutos de atraso, o ônibus e durante a viagem, estava com um misto de ansiedade e saudade, todavia, a paisagem verde do pouco que resta da Mata Atlântica, a vida das cidades que antecediam aquela na qual encontrei o baú, fiquei tentado a descer, mas, treinando minha resistência, não desci. Tendo em vista que a vontade de lá permanecer, não me traria de volta ao ônibus e talvez ali encontrasse uma forma de sobreviver. Aos poucos iria tentar, talvez, reconstruir Atenas, começando pelo meu barraco...
Deveria continuar, poucas vezes na vida entendi o que era disciplina no sentido moderno, essa foi uma delas. Abandonar aquilo que me realizaria para ir em busca de algo, neste caso a procura me realizava e a ordem me proibia de questionar o que estava acontecendo. “que eu me organizando posso desorganizar, que eu desorganizando posso me organizar “ Era como um Deus que falava baixinho, que só meu coração escutava e seguia em frente, me fazia bem ouvi-lo...
Chegando na cidade ninguém me esperava, pois estava cumprindo o planejado, com alguns dias de atraso. Perguntei a uma senhora que estava na lanchonete, da principal e única praça da bela e florida Cidade, onde ficava a Casa de Deus. Ela me falou que logo no final daquela rua, havia um morro e eu poderia ao chegar lá, pedir permissão e entrar.
- Porque tenho que pedir permissão?
- Porque segundo eles, a Casa de Deus é uma morada que só é permitido a entrada daqueles que falam a sua mesma língua! Subi aquela montanha, certo de que a cada pessoa que, era um rito, seus gestos, suas vestes, seus símbolos... estava para entrar no mundo movido pelos ritos. Comecei a pensar sobre a juventude de Bin, com certeza as suas frases eram marcantes .
Lembrava-me ainda do seu namoro, na infância, com Maria, amiga de Michel. Ao terminar, ele veio me explicar o motivo:
- Sabe, Isaac, nós nos separamos porque eu pedi, via em seus olhos que ela não me amava mais, apesar de meus sentimentos serem os mesmos. O próprio amor por ela, chamou pela liberdade e felicidade dela. Ela me queria por perto, como um irmão, mas percebi a falta de amor, que constrói a paixão. Ela estava perdendo a força da vida! E essa força vital eu amo mais que a tudo .
Depois de algum tempo, soube que ele havia entrado para um destas congregações do Novo Tempo. O mundo que o cercava insistia que esta força vital que transbordava em seu coração, só poderia ser agraciada pela Religião, mas, sempre suspeitei de seus questionamentos a respeito do celibato e seu amor humano que não pode nem deve ser confundido com o divino. Só ali, na religião, ele não perderia tempo e teria o encontro direto com Deus! Depois de seis meses frequentando a Congregação e o Teatro, aconteceu o assassinato de Renata! Ígor, que a matara, escapara ileso da justiça humana e soube que vive a promover rachas entre gregos e troianos, ponde em risco as vidas dos transeuntes, mas era assim que ele, Ígor e seus amigos burgueses, sentiam prazer, alcançariam o êxtase! Como ele, também escapara toda uma multidão de pessoas que eram os responsáveis diretos pela miséria, que habita os Ades desta Terra. Deixou assim de acreditar na justiça humana, para crer na justiça divina! Ainda nos vimos na confraternização natalina pouco depois da morte de Renata. Depois, fez de seus ritos e orações até aquele dia de chuva torrencial, como uma tempestade que a partir dali se prolongaria em seu coração. Foi, quando tive a última notícia dele pelos jornais.
Ele havia se rebelado contra seu esconderijo e estava numa das “Casas de Deus” destruindo todos os objetos que lhe prendiam aos ritos, menos aqueles que são Sagrados, para a maioria das Religiões como a Bíblia. Ele queria de volta a Liberdade, era o seu último suspiro de vida que celebrava a Revolta contra todos os deuses infláveis que os homens criam para substituí-los! Ou para administrar o vazio do homem moderno! A maior autoridade, de sua igreja tinha interesses econômicos e políticos maiores que a sua razão. E pretendia, colocar uma igreja em cada país do mundo, para competir com a Igreja Católica, Protestante dentre outras, com aquela sua atitude ele lembrou o que o Rabi de Nazaré fez ao expulsar os vendedores do Templo de Jerusalém, há quase dois mil anos...
Depois escolheria uma região no mundo e a declararia lá como sua sede do Poder Central, assim como é o Vaticano! Loucura, ou mesmo desejo daqueles que criaram o Vaticano, como outros poderes centrais? Seria acionista de empresas e assim garantiria a sobrevivência e a perpetuação de seu poder, hierarquia e influência no mundo todo através de seus batalhões.
Só que seu projeto estava sendo ameaçado por uma nova Igreja que crescia mais rápido e assim outra que seguindo o exemplo desta última, também queria o seu lugar ao Sol. Neste caso o Sol não é Deus! E naquele dia Bin havia sido escolhido, para liderar uma ofensiva e montar uma estratégia para ocupar os mesmos lugares, que as outras Igrejas estavam ocupando... Não aguentando aquele discurso, quebrou toda a Igreja e foi punido por seus Superiores e pela Imprensa como o “religioso que estava possuído, momentaneamente, pelo mal!”
Foi isolado, naquela cidade que eu acabava de chegar... e seu ritmo de ritos foi triplicado, até que encontrasse a verdade, o “Deus” que eles buscavam. Precisava se isolar para encontrá-lo, ou melhor, a memória não poderia ser ocupada de outros pensamentos. Pensar era o mesmo que orar! Seu labirinto não tinha paredes, as suas portas estavam trancadas pelos cadeados da Fé e a sua Fé estava entregue ao Deus Absoluto e seus projetos terrenos, à política de interesses de seus superiores!
Finalmente cheguei ao meu destino. Toquei a companhia daquele grande porte de madeira, cheia de desenhos, desenhos que eram realidade. Se prestarmos atenção, toda obra de arte, traz consigo o seu criador! A Ilusão não tem essência, assim como a Imaginação cria caminhos, através do que está despedaçado em seu criador. Ele sempre busca unir uma totalidade!
Bin, veio atender a porta, não nos abraçamos apenas cumprimentamo-nos com um aperto de mão, esse era o rito de como falar com as pessoas, não que estivesse escrito mais imaginariamente trabalhava em silêncio, ao reproduzir as regras que seguimos para todas as esferas da ação humana. Isto dava a ele mais segurança e, ao mesmo tempo, mais medo de romper com os mitos. Sem sua coragem, encontrei Bin diferente!
- Quais são as novidades Isaac?
- Não são boas Bin, sabe o nosso Teatro? Amy continuou lá depois que a nossa turma se separou. Como ela gostava de Arte, lá ela ficou desenvolvendo, criando e realizando sua obra de Arte!
- Mas nunca ouvi falar de nada da Arte de Amy, exclamou Bin
- Nem eu, não sei bem o que ela continua fazendo lá, não sei se é uma peça de Teatro onde ela encena todos os personagens com a HOKMA, ou está escrevendo um livro... Não sei. Sei que ela me ligou, pedindo um dinheiro emprestado há uns dois anos e agora ligou de novo, dizendo que havia hipotecado o Teatro para o Banco de David. Ele também havia emprestado o dinheiro. E, agora, David iria consolidar a tomada do prédio, por falta de pagamento. Já que uma Seita, ou, desculpe, uma dessas Igrejas que adoravam comprar prédios suntuosos estava querendo comprá-lo. E como eu já vinha lhe visitar aqui para conhecer mais sua Religião, lembrei, daquela notícia no jornal, que você tinha se negado a assumir o projeto de expansão de sua Igreja. E você poderia me ajudar, já que talvez seja a sua Igreja que esteja comprando.
- É, Isaac, a minha novidade é que eu aceitei, liderar o projeto de expansão, minha missão designada pelos superiores! Bem é algo que só eu posso fazer, como assim me convenci em minhas orações e nas conversas com os meus amigos da Igreja! Mas não estamos comprando nenhum Teatro! Foi uma Igreja? Tem certeza?
- Claro, ela me falou o nome, não sei bem se era Jesus Cristo é... A casa do pastor... Não lembro.
- Não Isaac, é uma outra Igreja, que está nos ameaçando e quer derrubar a nossa Fé e o nosso “Deus”, o perfeito! Foi bom você ter me visitado, essa informação é preciosa! Quando e onde será o leilão?
- Amanhã, no próprio Teatro. Será proforme pois todos os documentos já estão assinados. Sabe o Ígor, que matou Renata, é o pastor dessa Igreja... não sei se Morada de Deus ou do Pastor... e deu propina aos funcionários do Banco!
- Ígor? Não acredito! Assim é demais ele matou Renata e agora quer profanar o lugar Sagrado de minha juventude e ainda por cima, sua Igreja é o abrigo de todas as suas maldades. Mas só poderia ser, como vê na verdade é comigo que ele quer guerra, exclamou irado, em pé, com um tom de voz que mistura desespero, depressão e pânico.
- Calma, Bin... nós podemos fazer alguma coisa, é só pensar!
- Não, Isaac eu quero ir amanhã bem cedo para lá, tenho algo que quero entregar a Ígor e a David, seu parceiro... Você irá comigo até a Cidade, mas de lá seguirei sozinho, essa guerra é minha! Até lá, podemos descansar, convido-o a cear comigo e meus irmãos! Me acompanhe, este é seu quarto! Tome banho e troque de roupa. Eu volto para conversarmos.
Tomei banho, troquei de roupa e resolvi fazer minhas orações, ajoelhei-me e orei em voz alta:
A disciplina aliada ao pensamento construtivo e a socialização deste é que nos torna poderosos, se fundamentados nos princípios do amor, podemos colocar em prática a visão de um novo mundo.
A análise do todo para atribuir sentidos às partes, modificando-os, unificando suas linguagens e a perfeita simetria com um objetivo maior, nos confere a sabedoria, mas para isto temos que ter no conhecimento, proveniente do indivíduo que enxerga o Absoluto, a fonte dos questionamentos.
“Navegar é preciso”. Entre aquilo que julgam bem e mal, já que em essência o mal não existe, ele é ausência do bem, da luz que liberta... entre o que julgamos certo e errado, os lados opostos que se unem no pensar, a dedução e a indução, todas as áreas do saber, as ideologias, as diversas linguagens e expressões da ação humana, pois só através desta experiência é que estaremos livres de preconceitos, na hora de decidir unificar. Porém são os valores espirituais, a crença no Pai, a fé no novo mundo que nos abrirá o caminho, fazer alcançar o objetivo maior sem que no meio da estrada por onde estivermos troquemos nossa missão.
Missão esta que é dada segundo nossos valores e talentos, o primeiro que é o, desejo do Pai, do criador, para o qual fomos preparados, visando dar sentido à nossa existência. Por esta razão ergo a cabeça, olho o futuro e multiplico durante a caminhada os dons que recebi, unificando na busca do Pai, a Perfeição, o Absoluto, em quem acredito mais do que em mim, com minhas imperfeições. Vejo n’ Ele o que me falta e procuro seguir as suas palavras construindo-as.
Assim seja. Amém. Emunah...
Ao escrever aquelas palavras, em meu diário lembrei o quanto me faltava, que muitas bobagens eu poderia ter escrito nele e que, de algumas delas já discordava, mas era isso que importava, esse processo de buscar e não se prender a ideologia como verdades, como deuses.
Essa era uma das principais mensagens deste diário. O redigi por achar que o jovem deveria escrever seu diário, falar sobre tudo e sobre todos, não ter vergonha de orar em voz alta e homenagear seu Pai! Pegar seu diário e falar em voz alta o que o homem e a vida representam para ele e sua coragem, deveria fazer orações teístas dirigidas a um Deus Ecumênico. Ainda faltava celebrar o Amor e a Sabedoria. A Natureza e o Espírito. Às vezes me levantava e orava cantando e escolhi uma de minhas poesias para fazer oferendas a meu Pai e sua maior criação, a natureza:

Pai se olhares em meus olhos, verá os raios
Se tocardes me minha pele sentirá o frio
Como a Natureza, sou teu filho!
Se observares a minha coragem,
Em minhas palavras,
Verá que a escuridão não me cala,
Em minha busca pela sabedoria, só ouço a tua voz!
Na realidade é só o amor que nos comunica
A voz que não cala
Quando escuta meu pensamento,
É a mesma energia, que da água, incita o movimento
Que o homem, pela razão, chama eletricidade,
Mas não explica o movimento,
Se ilude com meias-verdades...
Eu porém acendo a luz e vejo a Ti!
O meu espírito
Não cansou no caminho,
A mesma energia das águas
Me movimenta em sua direção,
Que o indivíduo chama de paixão,
Faz coisas por ela, sem entender e questiona a Ti,
A Ti questiono...
Eu, como sou possível?
Só entendo através de Ti.
Que está em toda parte!
Inclusive em mim!

Resolvi andar um pouco pelo convento e, quanta suntuosidade! A Igreja tinha suas paredes banhadas em ouro e uma lâmpada imensa de prata pura era fixa na nave central.
Uma reflexão se fazia necessária: para quê tanto luxo? As próprias divindades as rejeitavam. O “deus homem”, é certo que veio para contrapor o verdadeiro Deus e fez tais fortalezas. Essa lembrança já estava presente num seguidor de Deus, mais ou menos entre 1200 e 1226 desta era cristã.
Ao questionar tanta riqueza, tanto luxo, afastando os “seguidores de Cristo” dos ideais por este pregados, fundou um movimento que abdicava de tais regalias para viver de pobreza. Após sua morte, com o passar do tempo, o movimento que ele fundou deu prosseguimento às faraônicas e desnecessárias construções e, deixou de lado a pobreza. É impossível dizer que eles são “poverellos” . Foi esse mais um traído em seus ideais.
Bin abriu a porta de repente e pode contemplar minha poesia.
- Desculpe Isaac é que nosso jantar está na mesa.
Me levantei e começava agora a minha última caminhada, porque meus ideais eram tão fortes que sobreviveriam até a ultima caminhada. Muitos guerreiros ficaram pelo caminho é uma pena, poderíamos lutar juntos, era só recomeçar...
- No jantar, um padre da Igreja católica veio jantar conosco, ele estava na cidade a procura de uns antigos escritos e dormiria conosco... Quis saber mais sobre estes escritos, pois o meu achado grego já era para mim bastante valioso.
- Sobre o que são esses escritos? Quem os escreveu? Foi Jesus? Perguntei.
- Não! Foi um jovem que viveu na mesma época e não tornou-se discípulo de Jesus. Ele acreditava na política, nas artes, e na educação e pediu a Jesus para caminhar por suas crenças! Jesus permitiu porque via em seus olhos que ele também falava do amor! Esses escritos são o seu diário, talvez um instrumento musical, algumas obras de arte da época, uma rosa de ouro, símbolos de jovens protetores, que devem estar enterrados num baú, numa destas praias que nos cercam. O Bau das gerações!
Ele falava sobre o seu mundo, seus problemas políticos, cantava a sua poesia, contava as suas histórias, disse o padre ao ser interrompido!
- Mas espere, eu encontrei este baú mas ele era grego, consta todo que o senhor disse e foi aqui perto...
- Não é possível! Isso é um milagre de Deus! Exclamou o Padre Luis.
- Eu achei. O senhor quer ver, alguns dos itens enumerados estão aqui comigo, com exceção do diário, que Michel, meu amigo, está traduzindo e o baú, deixei em meu apartamento.
- Vamos ver, exclamou o Padre Luis, pedindo permissão ao superior da casa para interrompermos aquele jantar. Fomos até meu quarto. Ele examinou cuidadosamente o que constava no baú ...
- Não pode ser, não é este: onde você o encontrou? Vamos comigo no carro da congregação até lá!
- É meio longe é lá na Praia Socialista, falei.
- Não importa. Quando chegarmos será hora de amanhecer! E a luz nos permitirá ver, até o final do dia!
- Então vamos...
Arrumei rapidamente minhas coisas, Bin que durante o jantar ficou calado, resolveu ir também. Correu até o seu quarto arrumou suas coisas. Pediu só meia hora para preparar um presente que levaria para o Teatro! Correu para um quarto escuro e ficamos o Padre Luís e eu a preparar o carro, alguma alimentação...
Depois de meia hora, entramos no carro e seguimos nossa viagem...
Graças a Deus, dormi um pouco até lá. Todos nós ficamos calados porque cada um estava ali se dirigindo a algo que fazia sentido em nossas vidas. O meu era através de minha busca, encontrar sentido para a vida; o Padre Luís só pensava em como iria esburacar a praia inteira, atrás do Baú Hebraico-Cristão e Bin como impediria a venda do Teatro para Ígor. Foi ai que lembrei que ainda não tinha feito minhas velhas perguntas para Bin e aproveitei a viagem para isto!
- Bin, por que o homem pula de um extremo da realidade para o outro e não consegue entender o mundo que o cerca?
- Não sei, Isaac! Não me interessa essa busca, eu não busco Deus, Deus é que me busca. Eu preciso aceitá-lo!
- Mas você aceitá-lo, não significa ir em sua busca? O homem, por exemplo, na sua grande maioria não o busca durante a vida, com raras procuras na infância, na juventude não tem tempo e só na velhice começa a se voltar para Deus. E sem essa busca, quer encontrar Deus! Acho que encontra apenas a si mesmo, o seu único Deus! É principalmente nos dias de hoje, que quer que o homem encontre as suas próprias leis e regras, justificando assim todos os seus atos, em nome de sua verdade.
Por outro lado nos dias de ontem esse espaço era ocupado pela moral, sem questionamento, por dogmas criados por uns, seguidos por outros! Esses são os dois extremos que tem em comum vários aspectos: onde um inicia, o outro termina, são frutos da mesma essência, pois ambos não explicam a magia do mundo que os cercam, nem pensam, nem sentem, pois sentir o outro, como se sente, só no momento ao criar a nossa moral a compartilharmos com outro, o Deus Eterno!
Se cada um de nós podermos sentir a nossa participação na totalidade do absoluto ela se concretizará, o Absoluto quer cada um de nós presente em sua totalidade, quer em sincronia, simetria, sinergia e sabedoria com outros e com ele. Só assim poderemos viver sem os “deuses” que criamos, ora para justificar nossos atos, ora para garantirmos que são justificados pela moral, quase nunca pelo coração! Pois só encontraremos a verdade que não nos pertence através do coração.
- Não Isaac, você está enganado, eu sei o que é a verdade. A verdade é a minha crença e por ela justifico tudo e a todos. Ela que trago comigo, a verdade, me permite que todos possam enxergar através de mim, me provando através de seus atos, a Deus. A verdade que fui incumbido de interpreta-la é lógico, fazer de meu povo, o escolhido que será recompensado, construindo aqui o mundo ao seu suor, seja visto com outros olhos.
Os olhos que atribuem o valor sagrado, antes de passar pelo espírito, pois seus olhos são os meus!
- Bin, o valor do Absoluto, que para mim é Sagrado, é um valor que independe de outros valores? Que não é divisível, pois representa a totalidade, que ao ser dividida é cortada a nossa compreensão e o que intitulo como Deus é a minha própria compreensão, que celebro com minha linguagem cortada. A durabilidade do Sagrado é eterna e o valor que pode ser possuído de uma maneira comum e indivisa pelo maior número de pessoas. E a quem o sente sabe que é, o que proporciona satisfação plena oriunda do espírito, consagrando o Sagrado com a nossa alma, é uma pequena parte do holograma da totalidade! Porém, a coragem, a lucidez e o engajamento resoluto podem nos levar a encontrar o caminho!
Finalmente chegamos na praia, descemos correndo e nos dirigimos para bem próximo de onde eu havia deixado um barco que estava construindo, pois bem próximo havia encontrado o baú! Lá mesmo o Padre Luís começou a procurar um sinal. Não vendo nada, apenas dunas, resolveu perguntar a uns pescadores se eles sabiam onde encontrava a antiga carcaça de um navio que deveria estar ancorado por ali, pois há muito tempo atrás aquele local era mar e agora virou terra e quem sabe um dia voltaria a ser mar... pois o baú havia sido amarrado na ancora deste barco e um jovem teria velejado neste barco pelo mundo em busca da “Terra Prometida”, onde transformaria seus sonhos em realidade. Porém os Bárbaros e seus deuses, o perseguiram já que não tinham vida em plenitude, queriam matá-lo pela inveja da vida plena que seus olhos transmitiam, refletindo seu coração.
O jovem hebreu, não tendo mais saída, dirigiu seu barco para um iciberg, colocou suas coisas num baú, amarrou na ancora e jogou ao mar. Sem esquecer de deixar uma carta em hebreu para seus parentes e ali mesmo tirou a sua vida... para justificar aos hebreus que continuariam lutando, pois como ele não entregaria a sua vida a um bárbaro, decidiu sacrificá-la por uma causa maior. Vários pescadores já haviam cercado o Padre, admirados pelo fato dele, em nossos dias, andar de batina e sempre segurando o breviário, mas principalmente para ouvi-lo... Porém, nenhum deles sabia de alguma coisa sobre esse baú! Até que eu falei:
- Acho que posso encontrar o seu baú, quando encontrei o baú de madeira , tinha um pequeno bau de prata, dentro dele com vários cadeados , e uma corrente o prendia... mas não consegui quebra-la deve haver algo preso a ela...
- Me mostre onde foi! Exclamou Padre Luís. Levei-o até lá e vários pescadores, Bin, o Padre e eu cavamos até onde pudemos, quando finalmente vimos brilhar a fivela quebrada do baú com o sol que irradiava a sua Luz. Rapidamente puxamos e o Padre tratou logo de abri-lo, forçando com uma pedra até romper o cadeado... Dentro do baú encontrou uma harpa, sete obras de arte, um tecido, uma caixa fechada por sete cadeados, rosas de prata e lógico um diário...
O Padre Antonino abriu o diário, e ficou lendo por ininterruptamente. De início, fiquei só observando até que não aguentei mais e pedi que ele me falasse sobre o que tratava.
- Aqui fala como o trabalho, a educação, a religião, arte, a política e o prazer poderiam ser realizados com o amor!
- Lembrei que o diário grego falava como todas essas coisas poderiam ser feitas com sabedoria! Parecia escritos por jovens protetores e revolucionários cada um em sua época, mundos e histórias diferentes mais as mesmas causas e sonhos compartilhadas por gerações. Cada um deixa seu bau e a história e a luta continua, novos desafios e personagens de uma nova historia que renasce e se eterniza. Até a Lua, acho que vem gente agora de outras gerações e planetas no ajudar, de volta a Terra.
- Isaac, desculpe mais a coragem nos chama! Chegou a hora de irmos ao Teatro, exclamou Bin!
- É Padre Luís. Adeus, preciso ir em busca de algo que dê significado ao diário que estou escrevendo. O senhor me ajudou bastante obrigado, posso dizer que a cada momento, ato ou passo que se sucede, me torna outra pessoa. Não sou o mesmo, provando que “a vida é um aprendizado constante”.
Saímos de lá correndo, pois daqui a apenas duas horas seria a entrega do Teatro ao seu novo dono! Quando pegamos o ônibus, pedi o celular de um jovem que estava ao nosso lado e dei um toque para Michel que me retornou e começaríamos a falar:
- Michel, tudo bem? Já estou voltando, você tem algo para dizer sobre a tradução do diário grego?
- Claro, Isaac fiz varias anotações e quero lhe entregar pessoalmente para que possamos tecer alguns comentários..., falou Michel.
- Bem, podemos nos encontrar no teatro daqui há duas horas, estarei lá... assim você poderá ver a turma, claro que quase todos estarão lá, pois Renata não mais está no nosso meio, exclamei!
- Boa ideia, a gente se vê lá, um abraço! Não se esqueça que lá será um bom momento para conversarmos, falarmos sobre o que temos feito de nossas vidas!
Assim que desliguei o telefone, agradeci ao jovem e desmaiei de sono, Bin e eu havíamos passado a noite acordados...

DE VOLTA AO TEATRO...

Estava sonhando com as cinzas se juntando no mar, enquanto o balé da vida era dançado, tendo a água, com o seu célebre movimento, a tarefa de uni-las. Eram cinzas diferentes em suas formas, mas que interagiam entre si formando a totalidade de uma rosa no Mar... quando Bin me acordou...

- Vamos Isaac! Disse Bin.
Já íamos saindo do ônibus quando Bin voltou rapidamente e gritou...
- Espere já ia esquecendo meu presente. Pare motorista, gritou Bin. Subiu bem rápido, pegou no porta bagagem de mão e desceu uma caixa vermelha, com uma rosa murcha, pintada na frente... Corremos pegamos um táxi, pois já estava na hora!
Ao chegarmos no Teatro, entrei primeiro, estava um pouco envolvido pela emoção... ao chegar ali era como se um filme começasse a ser rodado, me lembro momentos inesquecíveis, nossa conversas e sonhos mas já não eramos os mesmos. Bin pediu um momento. Ao chegar lá Amy, chorando, estava assinado a venda do Teatro. David sorria pois esta operação lhe daria muito lucro e com uma de suas mãos entregava o dinheiro que iria pagar a nova campanha de Nicolau, desta vez para o Senado. Michel já me aguardava com as traduções, em uma de suas mãos, enquanto a outra assinava aquele ato como testemunha. Ser testemunha de momentos históricos sempre foi o papel da maioria dos intelectuais! Lembrei neste momento que ali sobreviveria outro prazer, sem amor, sem sabedoria e sem coragem, pois Renata estava morta. Não era um momento de palavras, os atos falavam por si, pois ao ver Bin entrar no Teatro, abrindo o seu presente, percebemos uma bomba, que ele acionou em seu peito, que destruiria a todos do nosso grupo de amigos e áreas da expressão humana, pois ao ver o capital arruinando, a arte subjugada, a educação como testemunha, tendo a política como seu comparsa. Ao lembrar do prazer que foi morto e ao ver o terrorismo que mata... Vi que havia chegado a hora do meu sacrifício, pois o amor naquele momento se transformou em solidão!
Mas, Isaac ainda poderia nos salvar porque eu não sou Isaac, eu sou Amy , sou a arte , e ainda não havia falado sobre mim, que tenho a capacidade de me comunicar com todos os homens através do absoluto! Que posso fazer com que o coração de cada um homem se liberte, ame, num mundo quando amar é proibido , lute pela vida, tenha amor, sabedoria e coragem para colocar em tudo o que faz. Possa unificar as suas linguagens ao perceber a totalidade que o rege, o que há de comum em todos os seres e não apenas as nossas diferenças. Pois só ao atribuirmos sentido ao todo, poderemos ver como as partes se relacionam e a realidade que hoje subjuga o homem com suas restrições, que castram seus sonhos, sua liberdade e sua esperança, não terá mais força sobre o homem, que a destruíra transformando sua arte em realidade, buscando a perfeição que a totalidade nos pede. Desta forma possamos dar a nossa contribuição, a arte fez a sua crítica do capital que hoje como um “deus” subjuga os homens, para que eles aceitem a sua realidade. A arte trouxe a coragem, como sempre fez de estar a frente de seu tempo. Como ela, através de filmes, livros, poesias, músicas, pinturas sempre trouxe a exaltação do espírito e mostrou ao homem as suas futuras criações, hoje eu e Amy trago a criação que ilumina o Teatro da Vida.
Só ela, a Arte pode fazer com que Nicolau rasgue o cheque e continue abrigar os palanques de sua juventude ao lado de Michel que não será apenas testemunha, verá que Bombas virarão rosas, pois o amor e o prazer ressuscitarão do coração humano. O trabalho voltará a ocupar o seu lugar de edificação da alma humana, aos meus olhos que está em cada um de nós. Podemos iluminar o sentido de nossas vidas, pois lá nos comunicamos com o Absoluto!
Podemos perceber que somos Nicolau, David, Michel, Bin, e Amy que tem em Isaac, seu encontro que Renata comunica. Porque nossas linguagens são uma só, os nossos valores, que tem na arte uma forma de fazer com que cada um de nós interprete este manifesto. Ao ver um quadro de Van Gogh, uma obra de Shakespeare, o Grito, todo ser humano pode expressar os manifestos de seus sentimentos, de seus valores. A arte é o maior manifesto, porque ela permite que cada um de nós possamos expressar, individualmente o seu manifesto ao que sente e vê. E recriar uma grande obra em cada olhar, a luz de seu tempo, como fazia meu pai ao repintar quadros!
A arte não é a expressão humana mais importante, ela apenas comunica com mais clareza o sentido que atribuímos a todas as nossas outras obras de arte: O Trabalho, a Educação, a Religião, o Social, a Política, o Prazer e o Amor, presente em todas as demais, sem ele nada somos. Porque a Arte é...

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