SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.
sábado, 27 de fevereiro de 2010
OUTROS MARES...assim como as ondas, os momentos, a vida...
OUTROS MARES...
Era hora de continuar a caminhada. Desta vez iria visitar os templos da religião. Bin também havia se afastado do grupo com todo vigor do coração. O principal motivo, além da morte de Renata, que era a fuga do prazer de sua vida e realidade. Bin era um idealista e tinha dado tudo de si em sonhos e projetos, principalmente lá no teatro, naquele dia da celebração de morte e vida. Foi lá que percebeu: a realidade faz suas exigências, requer de nós aquilo que não temos, aquilo que não somos e aquilo que não queremos dar: a vida. E percebeu que só um contato direto com o Deus Absoluto, poderia preencher a necessidade de vida em seu coração. A realidade estava morta como a sociedade em que viviam! Eu pessoalmente só acho, que ele criou um cemitério, para enterrar outro, o cemitério da contemplação sem coragem e sem vida!
Ele havia se isolado num mosteiro numa região de poucas casas! Uma cidade pequena, em cima das montanhas, cercada, no inverno, pela neve e, no verão, pela neblina. Acho que lá seu coração congelou... embora ele ainda se questionasse sobre o que sentia por mulheres. Consegui localizar o endereço de Bin com sua mãe. Enviei-lhe uma carta e expliquei o de sempre. Estava sem sentido na vida e achava que ele havia encontrado um, que eu queria conhecer e se possível compartilhá-lo. Já havia visitado David e Nicolau, mas lá nada encontrei, apenas que o trabalho estava mal representado com aquela visão de mundo que eles tinham. A resposta demorou vinte dias para vir, ele agradecia o meu interesse e estava disposto a me ajudar. Ficava aguardando o retorno de minha parte.
Resolvi fazer algo de útil e comecei a construir um barco. Não sabia bem porque, o espírito me guiava. Porém em tudo que estava envolvido queria fazer o melhor, sem apagar o nada de minha vida, que permitiu ressurgir a cada dia diferente! Dez dias foram suficientes para tornar este barco algo que me dava prazer, pois a finalidade de construí-lo era tão somente para um dia contemplar as águas tocando o sol e o barco em algum lugar distante!
Disposto a visitar Bin e os templos religiosos, desta vez resolvi ir de ônibus, assim, apreciaria até lá a Bíblia e o seu regente! Era tão fascinante quanto a Ilíada de Homero, sentia que ambas eram reais, pois seus símbolos guardavam um significado tão profundo, numa historia, uma vida. E, mais do que isso, a certeza de que muito de minhas crenças, tinham história e tempo onde foram consolidadas não só pela aventura de meu espírito, mas de muitos outros que me antecederam e transferiram a responsabilidade de seus ensinamentos ao meu coração! Ensinamentos Gregos e Bíblicos, que traziam o Ser como UNO, a exemplo de Aquiles que comandava. No seu espírito, também estavam vários heróis bíblicos como Davi, que graças também à coragem de seu espírito, transformou a sua vontade consciente na vontade de seu pai e de sua glória e honra, ainda hoje, mesmo cercadas pela modernidade, vivemos delas!
O meu encontro com David, ainda estava presente em minhas preocupações. Não só porque tratava-se de uma interrogação entre capitalismo e socialismo olhando para as pessoas que reafirmam seus valores e sua linguagem através da ostentação de poder & posses! O que me deixava mais calmo, era que tudo seguiria o curso normal do Ser e da Historia, pois em suas ações sem sentido, acabavam construindo, com eficácia, uma alternativa proporcional ao tamanho do buraco, do vazio, do nada que estavam criando através da destruição de vida de pessoas... Pois, quanto maior o número de desempregados, mais pessoas fazem protestos, agora incluindo membros da classe “culta” que poderiam melhor identificar as contradições do sistema e alertar a todos que os cercam. Dois cantores de rap estavam dando uma entrevista no jornal da TV, enquanto eu almoçava. Um era de origem pobre e suas musicas falavam de amor... o outro, de classe media alta falava das contradições da sociedade!
E o repórter bestamente perguntou: Rafael, porque você que não é pobre, ataca a sociedade, enquanto seus amigos pobres enobrecem a arte falando de amor? As respostas dos rap’s foram inacabadas, pois não tocava no cerne da questão, num país como o meu, só Rafael, o de classe média, teve uma educação adequada para quebrar as ideologias e enxergar as contradições. Essas contradições, também podem ser percebidas pelo que há de comum, isso se tivermos todas as informações necessárias para tirarmos conclusões...
Após o almoço, enquanto aguardava o outro ônibus que saía a tardinha, resolvi andar por aquela cidade litorânea. Queria caminhar pela praia e ver se encontrava algum acessório para meu barco. Era uma cidade bastante interessante, por sua modernidade e antigüidade convivendo juntas independente do tempo.
Em minhas analogias, comecei a tecer considerações e conexões, via ao meu lado uma Igreja, várias senhoras se dirigindo às preces, com um terço nas mãos. Ao meu redor, pescadores faziam protestos quanto aos preços que os donos de comércio queriam pagar pelos seus peixes. Uma das senhoras saiu das preces e se dirigiu ao dono do comercio e disse-lhe: Não comprarei mais peixe ao senhor, nem minhas amigas. O senhor é injusto com a sobrevivência dos outros e quer que sejamos justos com a sua sobrevivência? A partir de hoje, compraremos direto dos pescadores.
O comerciante era arrogante, mas como Golias, foi derrotado por Davi. Aquela senhora, como Davi, utilizou a sua inteligência, um valor grego e junto com seus valores cristãos de justiça, tomou uma atitude o que nos fez lembrar da coragem e honra dos povos hebreu e cristão. Isto serve para desmitificar a idéia do cristão passivo, pois a Bíblia nos ensina, em diversas passagens, a lutar, a ter coragem e a mostrar a honra do povo de Deus, assim como gregos e troianos...
Aquela cidade me fez pensar o que seria uma Terra da Sabedoria, simbolizando e representando a união histórica entre Atenas e Jerusalém, a fé e a razão, habitando o mesmo lugar, portanto, mais forte para enfrentar seus inimigos comuns. Começava a realizar, os traços daquela cidade “A Terra da Sabedoria” e concretizar as praças, os lugares do sagrado, as escolas, Sócrates e Vênus harmonizando os desejos e angústias populares.
Ao ver aquela praia deserta cercada de dunas, imaginei lá reconstruída Atenas, habitada por jovens de todos os lugares do mundo falando grego e formando líderes que conviveriam com os valores de sua época, discutidos e dialogados entre si. Uma Universidade do Ser e não do ter. Jovens de vários países, setores da sociedade , e saberes diversos , empreendendo projetos em sinergia social, nos vários desafios coletivos tais como Educação: combate as drogas, preservação da natureza, melhorar a educação, desemprego e outros. Líderes em Sinergia e Justiça Social. Novas instituições seriam criadas, que dessem alicerce a esses valores. Lá estariam reunidos vários saberes aptos a repensar o Trabalho, a Educação, as Artes, a Religião e a Política. Todos eles teriam habilidades técnicas, políticas , estratégicas e conceituais. Ao voltarem aos seus locais de origem, como multiplicadores, os conceitos seriam melhor vividos por sua sociedade, com habilidade política, eficácia e eficiência técnica, para acompanhar os diversos passos dos projetos, mas principalmente Atenas com seus valores cristãos, proporcionando ao seu coração, entender e enxergar o caminho do outro, para que pudesse nesta nova sociedade global, contemplar o absoluto na realização da liberdade de espírito de todos!
Enquanto caminhava pela praia, próximo às dunas tropecei em algo, caí no chão de tão grande que era: estava ainda metade enterrado na praia, percebi que tratava-se de um grande caixa de madeira em formato de baú, quebrei o cadeado com uma pedra... estava ansioso, poderia ter encontrado um Tesouro, ao abrir... encontrei sete obras de arte, quadro escritos e pintados com manifestos como selos do Apocalipse, um diário com um romance aonde se misturava biografia, contextos, poesias, me convidava a realizar os 12 trabalhos de Hércules, responder perguntas e reflexões , e num dialogo entre gerações, me tornar um PROTETOR , sendo personagem de uma nova história, a minha e da sociedade em que vivia, realizando vários projetos com minha Tribo. Tinha algumas peças como uma bandeira, que aparentava ser de um país, um pequeno violão, uma rosa feita de ouro, um broche com um jovem carregando um patuá em couro e uma mão levantada segurando uma arma, aparentemente, desconhecida. Tinha um DVD, que constava tudo isto, além de links na internet , vídeos no you tube, Imagens , fotos , lista de músicas, livros e filmes que tinha que assistir. Parece cenas de um roteiro de um filme. Vários projetos e símbolos dos PROTETORES. Além de um outro cofre Bau este feito de prata fechado por sete cadeados que o circulavam. Ao erguer o cofre encontrei uma corrente que saia do bau maior e o prendia ao chão! Tratei de puxar a corrente mas não tinha força o suficiente. Corri até a praia e pedi ajuda a um pescador. Ele segurou comigo, com bastante força, a corrente, contamos até três e puxamos. Não foi suficiente. A corrente não se mexeu, mas não desistimos, pedimos ajuda a um outro senhor por nome Eulálio que passava. Ele, conosco, puxou a corrente. Mais a corrente do baú em prata não rompeu! No diálogo que travei com aqueles senhores começamos a achar que o baú tinha estava preso a uma pedra e por esta razão não adiantava só puxar com força era preciso inteligência! E não conseguimos libertar este Bau de prata e sua história. Maa eu tinha o Bau de madeira e tinha muitas coisas nele. Eles pediram para ver o que havia no baú! Mostrei e eles começaram a rir, se soubessem que ali não estava um tesouro nem viriam ajudar. Puxei uma nota de R$ 10,00 do bolso, entreguei a eles e agradeci!
Peguei uma corda que estava no chão amarrei na corrente bem pequena que ficou presa ao baú e saí puxando até a praça! Lá corri até o maleiro onde tinha deixado minha bagagem e peguei meu notebook. Queria saber de que país era aquela bandeira, encontrei num atlas. Aquela havia sido a bandeira da Grécia antiga... Foi então que percebi que a língua em que estava escrito o diário, era grego. Tinha que conseguir quem o traduzisse para mim. Era uma grande coincidência, pois eu também estava escrevendo um diário e havia comprado um manuscrito numa casa de antiguidades. Segundo o senhor que havia me vendido, também se tratava de uma relíquia do mar. Não pude esperar para ver o que continha aquele diário, interrompi minha viagem até Bin! Ele entenderia e peguei o ônibus de volta, antes fiz um mapa de onde havia encontrado aquele baú, com certeza foi fantástico esta oportunidade de estar ali naquele momento, afinal, não existe coincidência, tudo está planejado, projetado pelo supremo condutor do universo e por nossa Sabedoria, coragem e amor.
Ao chegar em meu apartamento, havia uma carta, que havia sido colocada por debaixo da porta. Dentro, um convite para um comício do lançamento da candidatura de Nicolau, que estava sendo financiado por David, além disto havia uma carta e um cheque no valor de R$ 19.000,00. Na carta dizia que Nicolau iria utilizar meu projeto Sociedade Cidadão do Mundo, como seu no comício e que precisava fazer algumas alterações por exigências de David. Mais saberia que eu concordaria, pois era esta uma oportunidade de começar a mudar o sistema, com ele Deputado tudo ficaria mais fácil.
O convite devia estar ali já há alguns dias, já eram vinte horas e o comício já havia começando às dezenove horas. Guardei o mais rápido que pude o baú e corri até a praça. O nome do Banco de David cercava toda a praça, estava tendo um show de uma banda de axé! E segundo o locutor em quinze minutos Nicolau falaria e apresentaria o projeto que seria o “Futuro” da comunidade, com prosperidade! Tentei chegar até o palanque para falar com Nicolau mais a segurança era grande e não permitia entrar quem não tivesse crachá de identificação.
Foi quando Nicolau passou, olhou para mim e fez como que não me visse! Ele subiu ao palanque e começou a falar sobre a Sociedade Cidadão do Mundo. Em resumo ele disse que os jovens se organizariam em cooperativas para trabalhar, de acordo com a potencialidade da região, cercando a cooperativa existiriam três escolas: a primeira era profissionalizante e visava também o desenvolvimento da ciência & tecnologia, dentro da área de ação da comunidade. Era nela que seriam treinados os membros da cooperativa. A segunda escola era conhecida como a Escola Social onde se discutiria de tudo, como drogas, sexo, mas também lá aconteceriam shows, capoeira, dança, além de aulas para o vestibular e debates sobre todos os tipos de assuntos levantados pela comunidade, com decisões a serem tomadas pelos participantes e automaticamente aplicadas.
Ali, cada indivíduo teria o direito e o dever de tomar decisões em sua vida e definir o seu rumo, desde que fizesse com paixão, sabedoria e coragem aquilo a que iria se dedicar e lógico que não prejudicasse a vida de ninguém. Nessa escola, a comunidade trabalharia em conjunto para tornar realidade aquele projeto. Eles administrariam em conjunto os recursos gerados pela cooperativa, deveria se construir bibliotecas, quadras de esportes ou um piano para um jovem talento que despertara!
Em tudo o que fosse adquirido, seria usado o poder da barganha da cooperativa e em troca da compra direta, deteriam recursos que a empresa produtora gastaria com o comércio e a publicidade!
Todos os coordenadores, eleitos por voto direto e seus projetos deveriam ser apreciados por todos, nos computadores disponíveis. Eles receberiam o mesmo salário de um trabalhador de cooperativa, apenas tinham funções diferentes.
A terceira escola que completa a triplica era a “Cidadão do Mundo”, disponibilizaria ensinamentos para que o jovem melhor organizasse a sua vida e tivesse uma amplitude de conhecimento que tornaria o seu espirito livre para tornar aquela Sociedade, a mais justa do mundo pois estava sedimentada no saber! A forma de organização do Cidadão do Mundo é seu currículo adotado pela Sociedade Cidadão do Mundo...
Quando Nicolau concluiu a apresentação, fez suas últimas ressalvas: lembrou que o banco, em virtude do adiantamento dos recursos, seria sócio do empreendimento com 50% de participação e que o controle sobre este projeto seria dado ao Estado.
O sentimento que tive naquele momento, ao ver Nicolau roubar e alterar em seu favor meu projeto, apesar de tudo que tínhamos feito juntos na juventude, que neste período lhe ofereci gratuitamente em nossas batalhas pela vida, era de raiva, revolta...E muitos da época tinham feito isto por exemplo na Secretaria de Juventudes como Maracanau.
Era a traição, que batia em minha porta e em troca me deixava um cheque! Roubava meu projeto e deste sonho tirava a alma, pois o seu maior significado estava em criar comunidades independentes que não perderiam a sua autoridade para um Estado distante dos reais problemas das comunidades e quer que pessoas respondam por vidas, que não conhecem e nem respeitam como a sua! E da Sociedade Cidadão do Mundo querer torná-lo mais um meio para o capital crescesse sem trabalhar, tirando a oportunidade de que esta comunidade traçasse seus rumos, procurando equalizar a realização dos sonhos dos que a cercavam.
Indignado, corri no meio dos seguranças e fui até o palco onde estava Nicolau, sendo aplaudido. Ao me ver ele pediu automaticamente uma salva de palmas para o autor do projeto. Tirei de suas mãos o microfone e comecei a falar: Bem os senhores sabem, que Nicolau é candidato de um partido de centro, é por isso que eu quero falar! As mesmas atitudes que o levaram ao escolher um partido de centro, têm a mesma essência dos que o fizeram roubar o meu projeto e dele tirar a alma, ou seja, a entrega aos bancos (cinqüenta por cento) do trabalho de cada um que hoje aqui está. E garantir a esses mesmos bancos, metade do controle de seus destinos, pois a outra metade é entregue ao Estado. Este, ao se propor organizar o trabalho voluntário, quer na verdade, tirar a liberdade de seu espírito! Pois se a essência do trabalho que edifica a alma é dizer o que fazer, quando e para quem vou trabalhar. E de que forma e em nome de quem ? , no nome de que sonhos este trabalho deverá frutificar?
Esta atitude de Nicolau é semelhante a um governo que quer organizar o trabalho voluntário, sem dar ao povo de sua nação, através de sua política econômica, condições para que a sua alma se liberte do assistencialismo, alegando palavras que só têm significado na lógica que domina o seu ego!
São palavras vazias, para quem precisa trabalhar, pensar, comer, se divertir... E como Nicolau, tirou inclusive do trabalho puro, o sentimento que o engrandece a liberdade... Para os que compõem os partidos do centro, faço esta homenagem:
Não tivestes duvida ao escolher, o centro, como centro das atenções, afinal nada é tão convincente e ao mesmo tempo contradição, quanto o meio do campo! Não é cobrado por atacar nem por defender, alega fazer os dois, mas não respondem pela falta de gol’s e nem pelos levados. Apenas passa a bola, ora para a direita, ora para esquerda, as vezes para frente ou para trás e isto sabiamente não te comprometes. Queria eu te definir entre a busca do poder, da arte política e desvendar teus princípios, morais e éticos, por quais valores você luta, a que deuses presta homenagem! Não adianta subestimar a inteligência do povo pois nunca sairá vencendo, a arrogante ciência política, que te defende, buscando te defender, não esclarece de que lado está, apenas tenta justificar teus atos. Porém não me ensinas que teu compromisso é com a Revolução, que não sustentaria as contradições e por isso não te sustentaria.
Enquanto existir a fome, o desemprego, a miséria, os sem-terra, dependendo dos sem-valores, sem posição, a vida fará protestos mais ricos em argumentos, pois nós nos dirigimos aos sujeitos e o centro se dirige às coisas, que ora são as que dominam os senhores, a partir da ideologia que vocês seguem!
Do nosso lado, existirão idéias, que não terão vergonha de dizer quem são ou porque estão presentes! Enquanto tu centro do nada, sob o prisma do valor de uma vida humana, vier me explicar que a economia esta globalizada, que o Welfare State morreu, que a dívida externa deve ser priorizada... Isto não faz sentido, porque a lógica que criou estes conceitos, só tem valor quando defende a vida. Hoje, ao contrário, mata através deles, milhares de pessoas, utilizando um canibalismo moderno, aquele que se não morde com os dentes, arranca pedaços de vida com a “razão”! O desemprego é um ritual bárbaro, que é celebrado por empresários e políticos que entoam o seu cântico, recitam os seus atos, conclamando a morte, pois sem trabalhar não há sobrevivência, vida...
Mas a alma humana reage em seu seio com filmes tais como “Tudo ou Nada”, onde homens resolveram fazer strip-tease, como a última reação na busca de um trabalho digno para garantir a sobrevivência. Fazem isso com entusiasmo, porque é o limite de sua escolha, de sua paixão para enaltecer o trabalho! Não o fazem como os políticos e empresários, sem limites, pensando que são deuses, realizam o strip-tease de suas consciências e seus corações, assim descobrem o quanto são vazios, por esta razão, matam a vida, através da morte já anunciada do trabalho... que sem soluções continuam, pois estamos nas mãos da política de centro, não há meia-vida, nem meia-morte! Porque na era moderna, da realidade virtual, falta amor, coragem, compaixão, sobra egoísmo, resta-nos fé, que dela nasce a coragem, amor e sabedoria, como óbolo àqueles que enxergam tudo isto que estamos escrevendo. Enquanto os outros que não querem ver, igual à Idade Antiga, ainda não se libertaram da arte de enganar à si mesmos e de fazer da hipocrisia, a arte do saber.
Você, centro, continua sendo o centro das atenções, porque ninguém te conhece, te define, por esta razão nem amamos, nem odiamos. Infelizmente tu continua a satisfazer teu ego, a cegar ideias, a legitimar a hipocrisia pelo Estado e os agentes financeiros, no dia-a-dia onde todos acham as coisas erradas. Porém, poucos se propõem a mudar e dentre estes poucos está a direita que muda para pior; a esquerda que constrói esperanças e o centro que torna as esperanças piores, pois não as realizam, junto com a direita, executam o projeto e mantém o controle! Mas com o passar do tempo não esconde a sua essência, que tenta neutralizar as questões vitais, para dar um espaço onde falta coragem, para que a vida se transforme em Ideologia, para nós conseguirmos, sem olhar através de suas linguagens, qual o significado que concretizam em nome de seus valores, em nome de seus deuses!
Ao final o público ao invés de aplaudir, homenageou o discurso com o silêncio, que o fazia pensar!
Rasguei o cheque e entreguei o projeto ao presidente da Associação dos Moradores daquela comunidade. Agora eles poderiam fazer dele o que quisessem. A Democracia, a liberdade davam ao seu espírito a oportunidade de escolher o caminho!
Peguei a fita, que o rapaz do som, estava gravando os discursos, a fim de transcrever para o meu diário aquele discurso... Ôpa! Lá vem mais uma frase solta, neste diário, essa agora parece mais um texto...
Ao ver uma rosa murcha, não sei se decepcionada, fiquei a imaginar
O JARDIM
O que fazer para que o jardim floresça?
Colocar mais água nas plantas fortes,
Para que elas impulsionem as fracas,
Correndo o risco delas sufocá-las,
Passando seus fortes galhos sobre as plantas fracas!
Poderia também dividir a água igualmente,
Mas, mesmo assim, as fortes
Poderiam crescer mais rapidamente!
Dar a água só para as fracas
E correr o risco de matar,
Sem oxigênio as fortes,
Até que elas se tornem iguais
Ou deixar de dar água ao jardim
Para ver como a natureza responde!
Será que por Natureza surgem plantas fortes e fracas?
Ou é o descuido do homem com a plantação?
As vezes podem surgir assim.
Poderíamos a isso responder
Quando encontramos a primeira rosa,
A rosa pura!
Será que era pura e o que veio depois
A tornou ou ela tornou-se impura...
Ou será que nossos olhos enxergam essa pureza,
Onde não existe, só os nossos olhos!
Ou o jardim não obedece a nenhuma lei,
Porque ele próprio não se reconhece!
Ou reconhecendo a si mesmo apenas floresce!
Resolvi, antes de ir embora daquele comício, aproveitar a oportunidade para fazer a minha entrevista com Nicolau. Porém ela seria bem simples pois já tinha visto muito!
Aproveitaria também, para durante essas perguntas dar uma contribuição ao meu amigo Michel que estava realizando uma pesquisa sobre a relação entre Ideologia e Linguagem. Ele buscava uma metodologia de interpretação dos valores, a partir da praxes e do discurso! Era desejo dele, fazer uma interpretação da causalidade da linguagem , sua relação com os valores e o desenvolvimento de nossa subjetividade pelas relações sociais!
Ao escolhermos tomar uma atitude, em relação à outra, no curso de nossa vida, realizamos uma seleção que está relacionada com os nossos valores. Tomamos atitudes fundamentadas em nossa visão de mundo e que expressam assim, do lugar que ocupamos na sociedade, o que cremos ser o papel das outras pessoas, quando a elas nos dirigimos através de nossa linguagem. Linguagem esta que está fundamentada em uma lógica.
Ele partiu da premissa de que o Ser Humano tem um compromisso universal com a razão, mesmo que seja com a busca da razão de viver. Isto nos leva ao plano da metafísica, da lógica , da linguística, e do materialismo histórico, para discutir de que forma a lógica da linguagem que utilizamos é impulsionada pelo objetivo implícito que atribuímos à nossa viva, o valor que tentaremos atingir através de nossos atos, sendo estes alicerces para a construção da subjetividade que se comunica com a totalidade da fé, do Deus Absoluto, através dos valores!
As linguagens e suas respectiva ideologias, identificam formas de ver o mundo, de atribuir significados a realidade onde a subjetividade de cada um de nós, se expressa a partir de seus valores e de suas relações sociais. Tendo a priore esta premissa, identificamos cinco linguagens: Filosófica, Cientifica, Política, Artística e Religiosa. A interconexão entre elas compõe a realidade, através das diversas formas de expressão da existência humana: o Trabalho, a Educação, a Arte, a Política, a Religião... frutos do amor e do prazer. Como disse a célebre Rachel de Queiroz: “... a maior aspiração do ser humano é o amor”.
Assim se constrói a busca da expressão da totalidade do ser humano que, do confronto com o movimento ético de sua sociedade, constrói e é construído. A isso denominamos “caos”, porém o Caos é a nossa ignorância de não conseguir enxergar a totalidade, quer seja de linguagens, de áreas de expressão da existência humana, da relação entre o espírito, a natureza e o homem , de sua coragem, amor e sabedoria para encontrar esta totalidade. Talvez só a conseguiremos analisando diversas sociedades e os valores que as movimentaram. Ao uni-las, elas trazem, em comum, a expressão concreta do Ser, do Ser Absoluto.
Portanto nunca foi tão urgente discutir esta relação, dentro de um processo histórico, observamos o predomínio de uma dessas linguagens! A metodologia parte da utilização das mesmas palavras em contextos diferentes, com objetivos diferentes. Observamos assim a construção da subjetividade na pós-modernidade com suas Tribos e seus deuses, num momento necessário, pois um determinado tipo de “holismo” quer garantir as suas respostas, se apoderando da crença humana em seu favor. A crença, bem presente da linguagem religiosa, hoje pretende dominar todas as esferas da ação humana. Senão vejamos, hoje a lógica da física quântica quer expandir sua área de ação, para, por exemplo, explicar o ser humano e as empresas adotam uma linguagem religiosa para garantir o compromisso de seus funcionários. Palavras como verdade e fé passam a ter os mesmos significados, o que nos coloca mais uma vez no limite da História e da razão!
Ou seja, o homem na maioria das vezes procurou uma resposta interna, para solucionar esta questão! Foi quando podemos perceber que ocorreram os maiores saltos da humanidade, pois de uma forma consciente ele encontrou em sua descoberta, a proximidade entre fé e verdade, libertando seu espírito de dogmas, leis e sistemas. Porém quando esta questão serviu de discurso político para algumas instituições ou pessoas, como a Igreja na Inquisição, Hitler e sua fé verdadeira na raça pura, sempre levou os povos por caminhos desconhecidos, onde imperavam o fanatismo, que não mais questiona seus pressupostos e sua validade. Igual a uma praga, quer dominar a tudo e a todos, em nome de seus deuses-objetos que limitam seu questionamento aos dogmas, ao mesmo tempo, usando a ciência para tratar como verdade e falar de suas crenças, numa linguagem religiosa, como ali se trata da feliz descoberta da totalidade, o que justificaria qualquer ação em nome desse deus-objeto.
Quando observamos o terrorismo, o mercado financeiro comandando nações entregues aos seus interesses, a política sendo objeto desses interesses, a arte ficando sem espaço com o avanço da mídia e do entretenimento global e a educação sendo aprisionadas por currículos que só reproduzem a ideologia e adestram trabalhadores. É hora de perguntar a que Deus estamos servindo, em nossa ociosidade e ação que reproduzem essa mesma ideologia. A quem entregamos nossa capacidade de pensar e de encontrar o absoluto? A quem entregamos a capacidade de criar a arte e neles lançamos a nossa vida em sua busca?
Eu adorava ajudar Michel em suas pesquisas porque com ele, pude descobrir o real prazer da busca da verdade, tão investigada pelos grandes filósofos, cujo êxtase seria alcançado quando encontrasse com Amy, a minha face da arte.
Ao descer do palanque, ainda escutando o silêncio, vi Nicolau e David, planejando o que iria falar, guardei no bolso a fita que o rapaz do som me dera do discurso e me dirigi até eles. Chegando lá, os dois viraram os rostos ao me verem e saíram. Pedi um minuto, porque se fossem embora eu poderia continuar com o meu discurso na imprensa. Então eles voltaram e perguntaram:
- O que você ainda quer?
- Só algumas perguntas, eles são muito importantes para mim.
- Diga logo e nos deixe em paz. Você acabou de jogar por água abaixo nossos sonhos.
- É sobre eles que eu quero falar David. O que você busca no mercado financeiro e financiando políticos?
- Eu busco poder de decidir a utilidade das coisas, quero priorizá-las de acordo com a minha ascensão, pois só assim posso me diferenciar dos outros. É desta forma que o meu Ser se realiza, tendo poder para determinar o que é útil para outras pessoas. Me coloco em ascensão sobre eles e controlo os seus destinos. Toda criação deve se sujeitar às minhas normas, já que meu espírito não cria, ele se apodera proibindo o criar e sem novas criações posso continuar a dominar. Os outros espíritos estarão presos em sua liberdade!
- Você sabia que assim está criando uma doença? O trabalho é o lugar onde o homem realiza a sua força vital. Ao criar, ele decide a utilidade de seus esforços e não precisa que alguém faça isto por ele. Pois o fruto do trabalho pertence ao seu criador e quando você o tira de seu domínio, a vida se transforma em doença. David silenciou.
- E você Nicolau busca o poder em nome da justiça, para proporcionar igualdade de oportunidades, onde poderemos de fato ter critérios justos para nossas analises? Um mendigo que nada teve é um criminoso, justo com o que o mundo lhe ofereceu! A justiça cria seus meios, a AIDS que brota da África, mata na Europa, como o El Nino atinge o Nordeste do Brasil!
- Vejo a política como um ato em nome de determinado valor, é ela uma decisão concreta de transformar a sua vida, para que possamos alcançar a justiça que você fala. Isso que procuro fazer é superior. Tem mais valor que qualquer função obediente ao comando do ato. Infelizmente errei ao tentar transformar minha intenção em sucesso, pois o sucesso comprovou a minha intenção que é superior a essa, mais ainda tive tempo de perceber que o objetivo inicial que tive, é maior, pois me traz mais satisfação que o sucesso. O sucesso tem pouca durabilidade e não vive sozinho, só podendo pertencer a poucas pessoas, por definição. Respondeu Nicolau.
- Muito obrigado, vocês me ajudaram bastante. Não lhes procurarei mais, façam o que quiserem. Na vida todos temos o livre arbítrio, mas os aconselho a procurarem nossos amigos para verem o que estão fazendo. Assim talvez poderemos voltar aos ideais da nossa juventude e oxalá retornássemos ao caminho certo e confirmarmos a infância de nossos valores!
Saímos em silencio. Corri até o meu apartamento, queria decifrar e procurar entender o mais rápido possível o que constava, no diário, daquele baú que achei na praia! Já sabia que a bandeira era da Grécia e, com certeza, aquele diário estava escrito em grego!
CRÍTICA AOS CURRÍCULOS ESCOLARES E A PROCURA DE RESPOSTAS AO DIÁRIO GREGO...
Resolvi procurar Michel, só ele poderia me ajudar. Liguei para ele e marquei o nosso encontro. Iria almoçar próximo a rodoviária e logo em seguida poderia viajar para encontrar Bin, que a uma hora dessas deve estar preocupado comigo. A vontade de ver o diário, o comício, valeram, porém já perdi tempo demais.
Cheguei no restaurante no horário, mais Michel não havia chegado. Foi quando escutei uma buzina e o seu grito lá de fora me esperando.
- Entra logo, Isaac, se não o guarda me multa. Quero lhe mostrar uma coisa, depois agente almoça! Tudo bem?
Paramos no Bosque da Liberdade, ali perto. O dia estava frio e sem sol. Sentamo-nos num banquinho e começamos a conversar.
- Michel, desde a juventude me acostumei com o ritmo imprevisto de suas descobertas. Lembro na escola, enquanto você recriava nosso currículo, de acordo com as suas descobertas. Adorei quando você propôs a professora trocar matemática por ir ao shopping fazer compras e português por amizades! Todos riram mais eu entendi que não era uma piada!
- É incrível que a minha “brincadeira” continue a mesma! Além daquela pesquisa sobre ideologia e linguagem, continuo a tentar modificar currículos e, com base neles, criar novas instituições que proporcionem a sua realização. Você não acreditará onde hoje estou ensinando, propositalmente?
- Puxa aonde?
- Sou professor de Empreendedorismo nos Cursos de Administração de Empresas, Economia, Psicologia, Pedagogia , Cinema e Direito! O que você acha?
- Acho que é um bom lugar, para começar a mudar o mundo já que lá, é de onde sairão os futuros donos do capital, como seus executivos ou empresários, economistas, educadores, psicólogos, cineastas, advogados e aqueles que cuidarão dos direitos dos cidadãos. Puxa, se você conseguisse desenvolver neles a busca da Filosofia, sua revolução seria maior que a russa. Pois por decisão própria o espírito se libertaria e se veria como pessoa e não como uma coisa, o capital!
Um pequeno grupo de executivos no lugar certo poderia mudar o mundo! Porém eles, além de habilidade técnica, para melhor comandar implantação de novos conceitos, teriam que ter habilidade política, para desenvolver a melhor estratégia e implantá-la de acordo com a nossa cultura! Mas tenho impressão que o melhor caminho é o retorno consagrado ao inverso, o eterno retorno. Mais por isso mesmo continue, desculpe. Falei demais, me fale sobre seus projetos. Pois nos livros consta de tudo e quanto mais interpretado eles forem, mais realidade se tornarão.
- Bem, Isaac! Você se lembra daquelas cartas que eu mandava para empresários, reitores de universidades, pedindo ajuda para os meus projetos?
- Claro que me lembro!
- Eles não me responderam. Agora muitos deles querem utilizá-las para falar sobre os meus projetos, só porque eles se tornaram conhecidos. É uma forma de responder mais uma vez sem atitudes às críticas que eu faço, através de meus projetos. Me interrogo por que eles não respondem com novas instituições, não tem como justificar as que existem!
- Puxa, Michel me fale logo sobre o seu projeto, deixe de mandar recados. Eu quero conhecê-lo!
- Tá bem é a Sociedade Executivo Global! O nome é adequado à mídia, gostou? E não necessariamente só formaremos executivos, a metodologia se adequa, também a outros cursos, pois o administrador necessita de cultura geral. Quantos problemas não chegarão em sua mesa e para resolvê-los os mais variados conhecimentos se farão necessários.
O jovem executivo escolhe uma unidade de negócio como, por exemplo, fazer um cinema com filmes para executivos ou gerenciar um programa de Trainee. Ele desenvolverá o negócio desde a criação, o gerenciamento e o acompanhamento de resultados. Deverá receber treinamento adequado para executar essas funções e será avaliada a sua ação, medindo o seu desempenho, a partir dos processos que ele executar em sua unidade de negócio. Eles receberão financiamento para o seu projeto, através dos órgãos que compõe o conselho da sociedade ou através da venda de ações para empresas clientes que irão usufruir dos seus serviços. Então comercializarão seus produtos no mercado ou entre os estudantes membros de outras unidades de negocio da Sociedade Executivo Global.
Os resultados, renderão financeiramente para ele uma participação nos lucros, lembrando que a empresa tem um empréstimo que deverá ser pago. Ao mesmo tempo ele também estará recebendo uma formação prática e lançando mais uma empresa no mercado.
Cada unidade de negócio envolve uma área de formação do executivo, portanto a UN de grupos de estudos prestarão serviços para a UN de realização de Encontros de estudantes, que por sua vez facilitará um serviço para UN de Trainee e vice-versa, gerando, com isso, uma sinergia na organização. A outra formação necessária é a teórica, envolvendo pesquisa, debates, visitas a empresas etc. ... o resultado, fazendo parte do currículo do membro da entidade.
Este currículo, servirá de indicação para fazer parte de programa de Trainee oferecidos a empresas! Essa entidade tem em seu conselho representantes dos professores, dos estudantes e dos empresários, além de entidades que fazem rodízio em seu apoio à iniciativa. Possuirá a diretoria executiva e um staff que rege um negócio, desde a seleção de jovens executivos, capacitação desses, organização das UNs e sua prestação de serviço de mercado. Além do financiamento de entidade que se dará através dos seguintes negócios geridos pela diretoria:
Primeiro – Programa de Trainee
Segundo – Programa de Formação de Executivos
Terceiro – Programa de Mídia (jornal, radio, TV, revista, trade)
Quarto – Percentual sobre os Faturamentos das UN
Quinto – Contribuições simbólicas dos membros e investimentos nas ações da SEG, através de empresas e instituições
Sexto – Implantação das quatros dimensões de um negócio, através do estudo da cadeia do valor
Sétimo – Programa de parceria, que é realizar uma pesquisa sobre o consumo da juventude em diversos setores. Inicialmente dos alunos de administração & economia. No fim, negociar com essas empresas, um por setor, a parceria para aumentar a sua participação neste segmento, através do desenvolvimento de ações de marketing.
- O que você acha, Isaac?
- Olhe esse modelo, de sistema que você bolou é fantástico! Ele poderá servir de cédula para organização de uma nova estrutura econômica nacional e sem desperdícios, que atenderá a todos os setores da sociedade, proporcionando para o ganho da sobrevivência, a igualdade de oportunidades necessárias para redefinir as bases de nossa cultura no trabalho. Essa ação quebrará o atual modelo, onde só os que são “filhos de papai”, dispõem de todas as condições para agir na sociedade. E, a exemplo dos reis, a competência não se transfere por hereditariedade. Mais uma vez o proletariado é que tem que pagar as contas pela incompetência dos outros!
Por outro lado, é uma pena a situação dos “filhos de papai”, que tem que seguir os destinos de seus pais... Quantos atletas, artistas, de lá poderiam surgir ao invés de comandarem a esfera econômica! Pois nesta esfera é preciso ter muito claro a importância das outras, para não fazer com que o indivíduo seja assassinado e torne-se um objeto, inclusive os próprios empresários. O maior objeto do capital!
Após tanta conversa, Michel convidou-me a ir ao carro para me mostrar o que, além do Projeto Sociedade Executivo Global, desde o início do nosso encontro queria me apresentar e ouvir minha opinião. Tinha outro projetos como Empreendedores de Sonhos, Terra da Sabedoria, FUTURE,...
- Isaac, chegamos. Está vendo essas montagens? Foram meus alunos que fizeram. Todos estes quadros, esculturas... Pedi para eles representarem a Educação, vista sobre o prisma de cada um deles. Através da arte, eu poderia entrar em sintonia com seus desejos e angústias e atuar melhor! Eu queria lhe mostrar só uma! Vamos descer, está exposta naquela sala!
Ao chegarmos lá vi um estudante preso, numa cela. As grades eram os currículos das universidades.
- Michel, me explique. Não entendi. O currículo não é uma técnica?
- Não, Isaac, os currículos são instrumentos de uma opção sócio-política, que trazem na escolha das disciplinas e conteúdos, as relações de poder e controle presentes na sociedade, transferidas através do processo de organização do conhecimento escolar! O currículo não é concebido como um meio neutro de transmissão de conhecimentos desinteressados, mas como um mecanismo essencial de constituição de identidades individuais e sociais atravessadas por relações de poder. É necessário, por isto, a sua inter-relação com uma política cultural, a vida cotidiana e a cultura popular. Por esta razão é que você está vendo ao redor da prisão, o mundo como ele é, na representação do aluno com jornais de vários lugares, sendo o chão e as grades daquela criança miserável que também está presa. Um que precisa que o mundo mude para não morrer, o aluno que poderia fazer algo esta preso na grade curricular, olhando um para o outro! O tema de sua reprodução não poderia ser outro. “AS GRADES SÃO DE PAPEL!”Temos que lutar . Fiquei uns dez minutos só pensando e glorificando aquela arte, o que ela expressava em tão poucos símbolos, mas de uma profundidade em suas inter-relações, que dali poderíamos tirar muitas explicações! Daí lembrei que tinha algo, que ainda estava sem explicações o Baú e o diário que encontrei, lá na praia! Puxei-o de minha pasta e perguntei...
- Michel, você pode me ajudar a traduzir este diário que encontrei. Ela pegou-o olhou por diversas vezes, abriu várias paginas e disse.
- Bem Isaac é grego, porém preciso de tempo para traduzir, se quiser deixar comigo quando terminar eu te ligo. Mas para matar um pouco a tua curiosidade em todas as páginas que abri e olhei rapidamente estava escrito a palavra SABEDORIA. Deve significar algo para você. Para mim, significa a minha vida!
- É Michel, era sobre isto que eu queria lhe falar por último. Fiz sua pesquisa sobre ideologia e linguagem e vi sua relação de valores com David e Nicolau. Aqui estão as anotações, mas gostaria de fazer com vocês as perguntas. Você acha que iria escapar já que você é o principal símbolo do que podemos encontrar para a expressão humana Educação? Queria saber que deuses ou valores você segue!
- Pode perguntar, mas você já sabe quais são! No entanto, já estou com fome. Vamos almoçar no restaurante universitário e, após, lhe respondo.
- Concordo. Assim, poderemos contemplar aquela preciosidade de construção arquitetônica. Após o almoço, me dirigi ao Michel.
- Já que você aceitou o desafio, antes eu queria lhe lembrar a sua hipótese para esta pesquisa. Quero confirmar com você se é isto mesmo!
- Claro! Disse Michel.
- Os valores e as condições materiais históricas vão atribuir sentido a vida, que são expressos pelas oportunidades e seleção que fazemos ao escolhermos nossos objetivos e os conhecimentos limitados necessários para atingi-los. É este o momento subjetivo, os valores, que tornam possível a escolha, ao lado das condições materiais históricas ?
Começamos a busca da realização desses objetivos em nossas relações e nas instituições que existem. Onde poderão ser frustadas ou obter sucesso. Com esta praxes da procura pela realização do Sujeito, abstraímos pela prática, os conceitos que nos cercam, que o medo, leva-nos a aceitar inconscientemente e confirmá-los ou a coragem nos levará a entender que sistemas de crenças constam nestes conceitos e instituições que nos cercam. Em busca de encontrar a hegemonia gramsciana Estes, junto com a linguagem e a descoberta de seus significados, formam um todo coerente para aqueles objetivos, expressão dos valores, a Ideologia.
Esta Ideologia será transmitida pela linguagem que, ao mesmo tempo, transmite determinado significado, dando à palavra oculta o sentido maior do discurso, na relação entre as palavras! A Ideologia, como já disse, será abrigada por instituições e pela comunicação, que julgarão as atitudes, as praxes, punindo-as, castrando ou livrando-as. A Dialética da palavra, que descobre e oculta, não poderá ser artefato da memória, mas deve ser questionada para ver que valores elas trabalham por eles e reproduzem aquilo que chamamos de Sistema.
A magia do Sistema pode ser descoberta por nós! Podemos, dentro de cada lugar que o homem ocupa, as instituições e as áreas de expressão humana, educação, empresas, arte, religião, política, explicar os seus atos pelos valores que seguem... e priorizam em suas decisões. Não é isso Michel?
- É exatamente a hipótese que pesquiso, Isaac!
- Michel...
- Espere! Antes que inicie suas perguntas quero lhe falar sobre uma das conclusões, que já pude perceber nos processos que hoje definem essas relações de valores em nossa Sociedade. Existe hoje uma ética que valoriza o capital, não apenas no sentido de meios de produção e relações de poder que está obrigando a religião, as ciências, a aderirem à lógica do Capital. O que pode acabar tendo nos valores que o capital defende o Único Deus que a humanidade seguirá! Ou provocar o choque de valores, que as instituições representam. É isso que esperamos.
- Eu também, salientei.
- Michel, você me lembrou bem a palavra sabedoria, encontrada “n” vezes no diário grego. A que valor ela segue?
- Hoje, Sabedoria é ciência e infelizmente é a utilidade ao deus capital. Porém, sabedoria é liberdade de espírito. No sentido grego, uma liberdade de espírito, regida pela lógica, ou da linguagem, segundo os socráticos, ou pela imaginação segundo os Pré-Socráticos.
Na Grécia essa sabedoria, realizada através da linguagem. Iniciou-se no estudo lógico da Linguagem como um instrumento eficiente para disciplinar o pensamento. Platão indica que estar nos limites da lógica, da linguagem é estar próximo a discussão da Metafísica, pois em Crátilo se pressupõe que a linguagem é imposta pela Natureza, já que está de acordo com a metafísica das idéias, que rege, de fora, a mente humana, com os valores da justiça, verdade, cuja continuidade encontramos em Kant, com os estudos da Razão Pura. Porém essa lei geral, extensiva, natural que domina o ser, foi contraposta pelos Pré-Socráticos, eles que achavam que a linguagem era singular, produto histórico e, por isso, intensiva na revelação do conhecer!
- Eu acho que o livre arbítrio unifica essas questões, falei. Pois a linguagem nos leva a conhecer o que é absoluto!
- É, Deus! Disse Michel.
- Michel, sempre dizem que os cientistas só amam seus objetos de estudo, ao ponto de suas paixões criarem objetos que os destróem, como a Bomba H? Se assemelha com a paixão humana?
- É. Somente algumas vezes, nos lembramos que toda técnica deve ser subordinada a uma visão intencional mais ampla, como no amor, a paixão é intensa, momentânea, tomamos atitudes movidos pela emoção, que na maioria das vezes não brota do amor! É algo que nos agrada intensamente. Bem que poderíamos só viver de paixão, esse desejo que se distancia do amor! Não é o meu caso! Estudo, para encontrar coisas simples, que me permitam ver mais! Infelizmente o mundo que nos cerca investiu no complexo, para glorificar os que vivem nele e ocultar as verdadeiras razões pelas quais vivemos cercados por tantas misérias.
A minha contribuição é para que o homem não se esconda atrás de suas ideologias, de conceitos complexos e sim, claro em suas intenções, nos valores que seguem ou que deixa de seguir.
- Michel, quando puder me liga, que eu vou buscar as traduções. Pode deixar que eu fico aqui. Daqui vou até a rodoviária, meu ônibus sai as dezessete horas.
Já entrando no carro, Michel se despediu de Isaac, a conversa para eles estava tão boa que não perceberam o tempo passar enquanto conversavam almoçaram e passearam pelos jardins da Universidade e o mundo simples estava seguindo seu ritmo, com sua canção do jeito que se comportou desde a criação! Somos um filme a rodar direto, sem parar. Somos os espectadores e os atores que estão sendo filmados ao mesmo tempo, sem saber! E, de vez em quando, lembramos que a nossa vida é parte de um filme maior, quando na maioria das vezes, não percebemos isto, o significado do filme passa despercebido, sem que o sintamos. Só assim, poderíamos encontrar a leis que regem a vida. Devemos aprender a pesquisar e criar um método que só terá validade para essa pesquisa, a mais importante de nossas vidas: a descoberta de quem somos e de nossa ligação direta com o absoluto.
Por fim, gostaria de lembrar que o absoluto do qual falo, não é semelhante àquele que a religião tornou um instrumento para “estar” com ele. Porém, a minha visita a Bin, visava tentar esclarecer essa questão.
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