SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.
sábado, 27 de fevereiro de 2010
O SACRIFÍCIO DE ISAAC
O SACRIFÍCIO DE ISAAC
Isaac, com o sopro da vida apaga a Bomba! O sopro da vida que apaga a morte, era o Presságio que o apocalipse estava perto e ele sabia que era chegada a hora de seu sacrifício mesmo salvando a todos no teatro, impedindo que a bomba explodisse ao desativá-la, isto não traria vida aos seus amigos, eles continuariam separados, cada um em sua trilha em sua Tribo 7i... E era preciso sacrificar a solidão, para que ressurgisse o amor!
A sua busca pelo sentindo da vida foi muito solitária, as suas visitas foram muito racionais, ele precisa reencontrar o amor, fazer que cada um de seus amigos voltassem a se encontrar, purificassem as suas linguagens, a trocar de palavras, com isto verão o quanto cada um traz dentro de si, o protesto contra este mundo que despedaçou o homem e transforma seu amor em solidão...
Isaac, sabia que o seu sacrifício, faria com que eles voltassem a se encontrar, em seu nome, no nome do amor. E destruiria o maior mal do século, pois agora encontrou o sentido de sua vida, o sentido que buscava era estar junto com eles, como na infância, em harmonia com a perfeição. E gritou bem alto para que todos no teatro o ouvissem :
- O sentido que buscava encontrei, é estar junto com vocês! Mas vocês não querem estar juntos, vocês brigam demais por nada, se matam por poderes, por verdades, por independência, grana, mas só serão felizes juntos.Eu prometi que minha vida não ficará sem sentido, exclamou. Ditas estas palavras saiu correndo, pegou o taxi, foi até a Rodoviária pegou o ônibus para aquela praia e foi pensando...
Chegando lá terminou de construir o barco em forma de uma cruz, colocou seu diário inacabado num baú, ao seu lado notebook que usaria durante a viagem para escrever seus manifestos e tirou da mochila algumas coisas que queria levar com ele, durante a viagem um micro-system, com uma fita que eu havia gravado várias musicas intercaladas várias vezes com a música “Perfeição”, da Legião Urbana, de Renato Russo... Cobriu o barco, com uma lona e foi até a antiga casa, que ficava naquela cidade, onde passou sua infância. Lá na casa, abandonada, pegou sete obras de arte de sua coleção, foi até o seu antigo quarto, o mesmo onde havia chorado muitas vezes de saudades dos amigos, escreveu uma carta de despedida... colocou no envelope, colocou o endereço do Teatro e passou no correio para deixá-la!
Foi no comércio comprar algo para comer durante a viagem, que talvez pudesse ser a última. Ele disse “o céu aberto, sem esconderijo, sem perguntas, no mar que para mim sempre teve algo de especial em sua profundidade e uniformidade. Ao lado da lua, celebravam a noite dos amantes. Essa noite os amantes seriamos a morte e eu!”
Passei numa loja e comprei cicuta. Não tinha lido a tradução do diário grego que havia ficado com Michel, mas sabia que significava algo para Sócrates, diferente da morte! Coloquei tudo em meu baú e peguei a mochila grande e me dirigi até o barco.
Antes de chegar na praia, ao passar por um jardim peguei uma rosa que considerei ser a mais pura, a primeira rosa, símbolo de minha coragem, que desta vez não seria de aço, nem de ouro, de prata, seria viva como eu!
Meus olhos brilhavam, eu sentia isso, a alegria invadia meu coração, o entusiasmo tomava conta de dirigir cada um de meus passos até o barco. Chegando lá, tirei a lona, descobri o barco, coloquei meu baú-mochila dentro, ao lado de minha outra mochila e empurrei o barco até o mar! As ondas, como a vida, me levaram pelos caminhos que não deixam rastros... e o ritmo das águas agradava meu coração.
Tirei a corrente que prendia meu baú grego e dele tirei sete pedaços de correntes, alianças, que separei com a minha força, mas que depois iria uni-las mais uma vez. O espaço para uni-las, ficou aberto e as sete alianças quebradas, coloquei-as ao meu redor.
Começava o apocalipse, quando de repente o mar enfureceu-se ao ver as alianças separadas. A palavra apocalipse é a transcrição de uma palavra grega que significa revelação! E os gregos tinham Ilíada como a sua Bíblia, da mesma forma que cristãos encontram na Bíblia os significados para suas palavras, que são os valores, pois em ambas o inferno ou ades é o mundo sem valores, o mundo sem vida...
Viver significa, através das “guerras”, confrontar os valores que nos levam à comunhão com o Absoluto, porém, a humanidade moderna contemplou a busca da tecnologia, como forma para ter tempo de encontrar a si mesmo e seus pontos em comum, o que a juventude esta conseguindo pela internet, em suas festas, nas Tribos, no amor ,enquanto muitos ainda ao invés disso com o tempo disponível, se entregam as suas velhas neuroses, politicas, poderes vazios, palavras repetidas, horrores de tudo isto , não percebeu ainda que chegou o tempo, onde temos que usufruir da tecnologia para encontrar a humanidade dentro de nós. Abandonar os velhos “deuses” e entregar nossos corações que batem com a razão e o sentimento empreendendo sua vida nesta busca.
A coragem e o medo invadiam o coração de Isaac, ele vivia naquele momento, a tensão típica de sua geração, ou aquele que se abateu sobre Cristo nos seus últimos momentos: “se possível afasta de mim este cálice!” Tinha ouvido muitas palavras durante a sua caminhada, o tempo era tenebroso como o céu que começava a se formar, com nuvens escuras, trovões, era assim, também que ele via como as pessoas falavam...
As suas palavras estão mortas devido a sua ideologia, a linguagem de seus templos, daquele lugar que consideravam o berço da verdade. Eram como se fossem sete Igrejas seguidas por seus discípulos, até o amor que Isaac seguia havia se transformado no Templo da Solidão. Isaac, precisava primeiro encontrar o amor, para poder dar vida às palavras, através de sua vida.
Os valores de sua época, a coragem e o medo se confrontavam em seu coração, foi quando lembrou dos dois baús, o da sabedoria e o do amor. Recordou que Sócrates havia preferido a morte, do que entregar-se à ignorância de seus reis, pois não haveria maior dor para o coração do homem, que ter que se submeter ao mundo irracional, entregando a sua razão.
É esse o maior crime que pode ser cometido a um jovem, dar-lhe como única opção de sobrevivência, a irracionalidade deste mundo e de muitas de suas instituições. Por esta decisão, por este ato de coragem, Sócrates bebeu o cicuta.
Isaac havia decidido que faria o mesmo, iria dar as palavras à sua vida, como fez Sócrates, permanecendo vivo até hoje. Isaac conseguira desta vez trazer as Ideologias à tona, as sete igrejas... e o conflito de valores que acontecia em seu seio. Porém Isaac gostaria de manifestar e deixar para o seu grupo de amigos o que ele tinha aprendido da essência das expressões humanas.
Ao formar a totalidade dos sete discursos inclusive o seu, pode sentir em cada uma das áreas: Educação, Trabalho, Arte, Religião, Política, Prazer e Amor. Peguei meu notebook, deitei no barco e comecei a escrever, pois aquela viagem trazia para mim a essência da educação!
MANIFESTO DA EDUCAÇÃO
A Educação é uma viagem ao mundo do desconhecido, que só ao entrar nos seus limites é que podemos conhecer o sentido do rumo que indica o caminho a adentrar em minha jornada, o que quero ver com a escolha e me aproximar dos valores que sigo! Alguém pode me ajudar com mapas, que podemos interpretar pelos símbolos, conceitos, que ali estão impressos ou vivenciá-los, abstrair pela prática, sem saber como se chamam!
Enfim descobrir, o horizonte que piso e que me cerca e tentar construir nele um lar que me dê segurança. E em minha viagem é bom que me perca, que entre em áreas perigosas... só assim saberei o que eu descobri. Eu só posso dizer que tenho lar, quando conheço outros lares, se não ele representará minha prisão. É o que eu acredito ter descoberto, na verdade alguém descobriu para mim e me cobriu com ela. E este outro, como uma ideologia, quer que habite seu lar, o seu currículo, o seu mapa, só me mostrará em essência o que eu já conheço e, por isso, desconheço a mim, o navegante! Precisamos ter na Educação, o momento da descoberta que é a oportunidade que a vida nos oferece para conhecermos o caminho por onde andamos!
Lembrei de que um dos pais da educação brasileira disse: “Ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho, os homens se educam em comunhão”. O problema da educação é muito serio, o analfabetismo é gritante e, se fizermos esta comunhão, estaremos a construir a verdadeira educação, valorizando os potenciais de cada aluno, voltando a educação para a vida, reformulando totalmente esse sistema.
De repente um trovão estremeceu o barco, varias ondas gigantescas, passavam ao meu lado, a água começava a entrar no barco. O medo da morte invadiu o meu coração, mas isto não poderia acontecer pois não tinha concluído minha missão, a minha vida não estava ainda em plenitude quando a morte perderia o seu significado. É nesta relação entre vida, morte e plenitude digitei em meu computador...
MANIFESTO DA RELIGIÃO
O que é a morte? O que é a plenitude? Onde a morte perde o significado, que esta Religião diz alcançar? O que é o homem? Quem é Deus? Que a religião garante o poder da eternidade e da decisão sobre o destino do homem, mesmo lhe dando o livre-arbítrio? Eis a Religião: um mundo de perguntas sem respostas, onde a crença expressada pela fé é o caminho da verdade. Crença que alguns descobrem em seu coração ou verdades que são oferecidas externamente! Sobre estas formas tenta-se atribuir um conteúdo, uma ideologia, que tira-me do livre contato com a totalidade. Totalidade que me inclui e que a ligação com esta é a Fé. A felicidade de trazer a tona em todos os seus atos a totalidade que é o caminho, que qualquer parte de um holograma traz em si. É a infinitude do espaço, do tempo e da molécula. Do grande e do pequeno, em sua extensão e profundidade, que requer aos nossos olhos ver como um só, o ponto da totalidade. Que só a fé, a crença, alcança em toda extensão e profundidade dos meus atos e do mundo que me cerca. Como esta viagem que busca também a expansão e a profundidade do meu ser, o ser como indivíduo que pertence à totalidade. E aquilo que acredito pela Religião posso descobrir pela Educação.
Aquelas duvidas sobre o porque de tantas divisões em busca de Deus, do inicio do diário, ainda permanecem.
Não entendo. Se estamos buscando um mesmo Deus, porque tantas lutas e incertezas permeiam esta constante procura. É digno de pena ver que tantos seres foram e são mortos em nome de um Deus que acima de tudo pregou a VIDA...
Pelo que vi, pude perceber que Deus é amor. “É preciso amar as pessoas”. O próprio Cristo disse “Amai-vos uns aos outros como o Pai do Céu vos amou”
Precisamos fazer o amor ser amado e assim estaremos a procura de Deus. Se é um só Deus, não importa o meio ou a religião que utilizamos para chegar até Ele. O importante é que estamos no caminho.
Quando todas as religiões se unirem e professarem o DEUS AMOR, o ECUMENISMO será alcançado e DEUS, independente dos templos se fará presente no nosso meio.
Quando olhei ao meu redor, percebi que o céu estava diferente, o horizonte de meu corpo, tinha como centro, o ponto de totalidade com o Universo e a vertical da minha pessoa como da cruz, já não ligava o céu e o inferno, pois o pecado não existe em meu coração... o ades estava sobre meus pés, Zeus no Céu e Poseidon no Mar e a terra na totalidade que nos unia, através de minha razão que dividia e o espírito que unia um só Deus. E a dor, em vez de pecado, me mostrava algo de bom e algo de novo. Eu não tinha medo de enfrentá-lo.
Mais sabia da emboscada que as ideologias e seus deuses haviam produzido, o medo de ir além de seu templo, de seu lugar. Mas se houvessem lideranças que pudessem remar juntas, já tínhamos um mapa, sabíamos que o mar fazia parte do barco, pois estão unidos em seu sentido. Precisávamos agora que cada um de nós deixássemos nossas ilhas, construíssemos nossos barcos. Não estamos sozinhos nesta viagem!
MANIFESTO DA POLÍTICA
Senhores eu não falar sobre mim, mas das razões que trouxeram até aqui, portanto gostaria de falar sobre vocês, mas não sou um de vocês, como se todos nós fossemos iguais.
Gostaria de falar sobre cada um, suas individualidades e as razões que o trazem até aqui. A liberdade, ela que nos une!
Seria difícil num único manifesto falar individualmente para tantas pessoas sobre elas mesmas, mas é esta a essência da política. Porém fica bem mais claro se falarmos sobre os sonhos que temos em comum e que conosco trazemos dentro de nossos corações, expressos pela paixão que sentimos ao ouvirmos palavras que a realidade pode ser e deve ser semelhante ao coração de cada um que é único e por isso a política fala de cada um.
Dar um passo em direção à individualidade e a socialização , hoje não castrá-la com a desigualdade de oportunidades, que normalmente tem o poder de abrir as portas há quem as escolhe como caminho.
Para podermos aceitar que isso seja diferente, alguém teria de nos provar o porque da vida e de estarmos neste mundo. Que deveria dar à juventude, igualdade de oportunidades para que em sua sobrevivência pudéssemos encontrar sua resposta tão repetida: a razão de viver. Pois num mundo onde as perguntas essenciais não tem respostas e muitas respostas são dadas a perguntas não essenciais, a política torna-se a essência!
A seriedade e a honestidade precisam ressurgir na política e “os fins deixarem de justificar os meios”. Como Nicolau Maquiavel e sua luta de infeliz de principes.
Ao olhar o meu redor já havia imaginado a minha natureza e a do mundo que me cercava, suas expressões que se confundiam nos valores. Assim era Educação, Religião e Política... Transformações da mesma essência, que se resumem na busca da sabedoria, ou a não-busca, a ignorância. Sentia que nela estava a propagação desse malefício, que presente no deus-homem, elimina a vontade da busca. Essas três esferas têm limites que encerram no homem, no desejo de buscar, só naqueles em que o nada se aceitava, a ausência era sentida. Só neles em que o sentido da busca, foge do sentir, é que a ignorância é escolhida pelos atributos de indução. Vale ressaltar que eles não são deuses, do nada podem contar vantagens e se enraivar por nada construir. A ausência da construção é destinada a quem aceita o seu eu como acabado e pronto a se realizar. Em que? Vivem apenas esperando dias melhores...
Aquele barco havia sido construído por mim, como a minha arte simbolizada pela viagem e luta que travaria no mundo e lá estava eu com duas formas de construção! O trabalhado e a Arte! Só que havia uma diferença! Poderia agora suspender a tempestade, mudar o meu destino da mesma forma que o mar seca, para ver como seria um naufrágio da Humanidade sem água, sem juízo final em terra seca no mundo.
Porém não conseguiria com o barco que construí com minhas mãos, mudar a sua cor. Em um havia limites , noutro o limite sou eu , e em mim, como no meu trabalho a coragem ou medo são os valores que conduzem este destino. Pois posso realizar, efetivar aquilo que eu quero neste mundo. Deus nos deu a cada um de nós esse direito.
E sabemos o quanto é forte o nosso desejo porque o medo segura a realização deste e ainda assim saímos em busca da concretização da arte no mundo real! Porque só alguns tem coragem?
MANIFESTO DO TRABALHO
Nós precisamos sobreviver e o trabalho é a garantia para vida, todavia as atuais condições indicam mais para a morte. A nossa sociedade evoluiu para o absurdo, a sua concepção do trabalho nada mais é que um visão positivista da inteligência humana, a inteligência que, sem reflexão, caminha a passos largos ao lado do egoísmo humano, que também não reflete o outro!
O absurdo é tirar do homem as condições de sua sobrevivência, após tirar as ferramentas de trabalho, acusado-o de incompetente e inútil, sem esta sociedade ter-lhe dado o direito à luta. É esta a barbárie moderna, que destruiu a Grécia e escravizou o povo hebreu! A mesma barbárie que não pensa e vive dos escravos e prisioneiros de suas guerras comerciais, que são isoladas, constituindo-se verdadeiros continentes, semelhantes a Auschwitz. Com uma grande diferença: Hitler e SS assumiam a morte dos judeus. Os Hitler’s de hoje são covardes se escondem, atrás de birôs e fazem de suas canetas metralhadoras.
Não podemos esquecer o significado de trabalho, como área de realização humana, como garantia de sua sobrevivência. Como a forma ideal de deixarmos a barbárie para a historia do passado. O trabalho que envaidece o homem e torna feliz, a todos os seres humanos. Eis o desafio que temos que enfrentar de frente, se ainda quisermos falar em sociedade, civilização. A extinção deste é o fim da civilização é a declaração para os que não tem esse direito de que a guerra é a única forma de lutar. Quando a “razão” cerceada pela ideologia tira do homem o trabalho. Não há negociação, quando a razão não está mais em pauta!
Isaac agora fala da outra construção que o homem realiza, desta vez essa não tem aqueles limites que os deuses da realidade impõem, quando não utilizam a sua criatividade para criar, apenas com fito de destruir as suas criações, com sua inutilidade e que preenchem com outras “maiores” para ocupar o tamanho do vazio que nada preenche em seu coração, dominado pelo medo, que precisa criar ao redor de seus castelos, ilusões de segurança nem que seja as custas de milhões de vidas humanas.
MANIFESTO DA ARTE
A coragem e o medo ocupam o mesmo lugar no homem. O lugar da arte. Alguns a chamam de imaginação, porém as imagens que coloco em ação são reflexos de seu criador.
A arte é a criação sem limites, onde o homem oculta ou liberta seu espírito. Seu espírito que constrói nas obras de arte, traços ou palavras de sua ideologia. Estética ou, em contato com o absoluto, a arte revela a sua história, a história de seu criador! Ela anda a passos largos esperando sempre que o homem a concretize, que a arte emancipe ou desmorone a realidade. Porém é a arte a melhor forma das pessoas se conhecerem. Se cada um de nós apreciar a si e a sua obra de arte, que são dois lados da mesma moeda verá que nela está o conteúdo do seu saber, ou de sua ignorância, revelada com coragem ou que se oculta com medo. Mesmo o quadro “O Grito”, que fala sobre o medo, revela a coragem da busca do homem pelo absoluto que é o amor!
O mundo moderno é estético, como o dos gregos; devemos resgatar o nosso contato com o absoluto da arte, pois não há caminho mais curto para revelar a criação de seu eu, que a arte encarada com coragem que pode levar-nos ao amor!
Isaac descobriu que sua existência e seu universo estavam semelhantes ao caos e procurou uma forma para entender o juízo final que o cercava, descobrindo na origem de seu tempo, o século XX, as heranças grega e cristã. Vislumbrou que a sabedoria e o amor se relacionavam com a coragem! Era óbvio para ele que tudo começa com a descoberta e a necessidade da coragem para concretizar suas realizações que trazem o amor na essência e como resposta a união do saber e da coragem.
Precisou falar sobre as sete igrejas de seu tempo. Sabia que a educação, religião e política traziam a busca pela sabedoria, ou a ignorância pela ausência da busca. Que depois de realizar o nosso projeto, entrávamos no mundo da coragem e do medo, onde o ser humano iria, através da politica, trabalho e/ou da arte, concretizar sua busca. Na realidade com limites , na arte sem limites, o medo levaria ao prazer e a segurança de que se acabaria transformando esta busca: em objetos. Ou esta construção levaria, ao amor que requer sabedoria e coragem para ser vivido.
Naquele momento, em sua viagem pelo mar da vida, repleto de ondas, Isaac queria falar sobre o horizonte que enxergava logo a sua frente dependendo de seus mapas, do caminho escolhido e da coragem em remar nesta direção!
O prazer hoje vira dor, porque a plenitude dos valores é o amor e a busca do amor sem coragem e sabedoria é o prazer.
O medo poderia naquele momento impedir a sua visão, transformando em algo que lhe desses segurança momentânea e Isaac poderia ocultar a sua busca em alguma ilha cercada pelos seus reais desejos e deixar o amor para trás, se contentando com o prazer, solidão, mas seu ideal era maior.
É válido lembrar: há prazer no amor que dá forma à totalidade humana, mas não há no prazer, o amor. A totalidade é inacabada, pois o amor é preciso enxergar o eterno e contemplar sua totalidade com ele. No prazer existe apenas uma relação de domínio, de seres inacabados, que tentam dominar o seu medo, ocultando com o prazer!
MANIFESTO DO PRAZER
O prazer hoje se transforma em dor, ambos compartilham do mesmo lugar no coração do homem, o lugar onde ainda não é possível enxergar a totalidade, apenas uma pequena parcela de si, que tenta desesperadamente ocupar o vazio “externo” com o vazio interno. Até mesmo cercando seu eu, com a busca do amor sem coragem e sem sabedoria.
Eis o prazer, que não admite que a plenitude, responsável pela união dos valores, seja o amor, sem a coragem, o medo, a sabedoria e a ignorância só tem sentido numa totalidade que as une quando encontra o amor. Este que não necessariamente está vinculado a vida que independente deste, o que chamo de transcendência, enquanto o prazer necessita da vida, como precisa de um objeto!
Os caminhos da busca representam o inicio, a coragem e o medo, o meio e o fim, o prazer e o amor. Numa visão da totalidade grega, o céu é a coragem e o medo, comandado com Zeus... que entrega a ades, seu irmão, o prazer da falta do sentido, da falta de valores. E a Poisedon, o mistério do mar, ainda desconhecido da ignorância, que provoca medo ou coragem ao coração do homem. Mas todos eles buscam no cronos, o tempo, o amor, através do homem, o mesmo do cristianismo dividido entre o céu dos valores e o inferno sem valores.
Sabedoria, ignorância, coragem, medo, amor, prazer, escolham seus deuses, realizem oferendas em suas expressões humanas de seu ser e naveguem...
Depois de Isaac ter celebrado, seus espíritos de deus, restava um: O amor!
Restava um selo, para que Isaac, como ser humano presente na totalidade, abrisse o livro de sua vida, seu diário! Como estava chegando ao fim sua viagem, Isaac começou a preparar o seu baú, ligou seu micro system e colocou bem alto a musica Perfeição, de Renato Russo, fechou o seu diário e colocou-o numa caixa fechada por sete nós diferentes, desatando o último, pois era o seu... Colocou dentro do baú, os setes objetos e as setes obras de arte. Os objetos eram, a coroa que os reis usavam alegando o “poder divino”, como todos os homens que fazem da religião uma coroa, para justificar o seu poder divino sobre os homens. O segundo objeto era a espada de guerra que os homens usam na política para ter o domínio. O terceiro objeto era a balança que os homens usam para medir o trabalho no capital, o quarto objeto era um cartaz de seu época que representava a busca incessante do prazer. Pois ali estava representado o homem e sua luxuria, cercado pela miséria do povo e a sua própria miséria causadora da fome, “não se ter o que comer, não se ter a quem amar”, da doença do corpo e do espírito, das guerras etc. ...
O quinto objeto era um retrato de seu professor, que lhe lembrava vários de seus professores, que através da educação lhe mostravam o caminho para a busca de Deus, embora que muitos deles fossem ateu, mas tinha seu Deus: “Educação!”
O sexto objeto era uma folha em branco, onde os homens do século XX criavam e transformavam em realidade, todas as suas atrocidades. Se utilizavam do poder da criação, para criar a arte que destrói o espírito humano.
Guardou todos os objetos, fechou o baú, que era o seu sétimo objeto. Ficou meia-hora em silêncio. Depois encheu um copo com cicuta e tomou. Os trovões aumentavam a sua intensidade, o mar ficava cada vez mais violento e Isaac começou a dançar, ao som da perfeição, girava em torno de si mesmo. Antes de morrer em sua Dança escutou sete trombetas, as suas vestes brancas, ficaram vermelhas. O barco tremia, mais relâmpagos!!! Isaac escutava agora as últimas três trombetas, a noite estava ficando mais escura...Lá estava ele , no barco, ele tinha filmado tudo, e transmitia pela internet , rosas caíram sobre ele, e se lembrava de um sonho que teve quando jovem e desmaiou ao ser atacado numa guerra de gangues. Existe um tempo para tudo como em Saravejo do U2.
Porém Isaac era o sétimo anjo, a água era doce e suas vestes voltaram a ser brancas. Isaac havia acabado de escrever em seu diário: “já que também pudemos celebrar a estupidez de quem escreveu este livro, está tudo morto, enterrado agora. Já que pudemos celebrar a estupidez ..” Era como se estivesse engolindo suas palavras e seu estômago se tornou amargo... o seu sacrifício ainda não tinha chegado ao fim. Isaac tinha em sua frente, ao morrer, o selo de Deus, o Amor!
A Bíblia é uma arte que se realiza... seu criador, Deus, é Aquele em que os limites não existem, pois não há entre Ele e sua criação nenhuma diferença. Ele é o começo, o meio e o fim, ou seja, “o alfa e o ômega!” A verdade é a vida!
A Isaac, restava vários ciclos até 2012 para realizar seus projetos, para tornar os projetos de seu diário em realidade!
E ele começou a criar o ritual de purificação, deixou seu corpo no barco, na direção que o vento lhe dava, durante três dias, até chegar na beira da praia, de onde partira... Os pescadores avistaram aquele barco e correram até ele, trazendo até a margem da Praia Socialista.
No dia anterior, Michel havia visitado o Teatro, que depois de tudo que ali acontecera, apesar de Isaac ter impedido o ato de terrorismo de Tomé, em sua mente tinha ficado os escombros. Logo após sua visita, dirigiu-se aos correios para ver se tinha alguma correspondência para o Teatro e lá encontrou a carta que Isaac havia lhe enviado antes de partir para o seu sacrifício.
Nesta carta Isaac, falava de sua viagem, pela vida e pelo barco e de tudo que aprendera no Trabalho e na Arte. Falava das ideologias, dos valores, das linguagens, da modernidade, da Grécia, da Bíblia, de seu grupo de amigos e esperava que Michel revelasse isso ao mundo publicando seu diário.
Ele não havia decidido o título, porém pediu que decidissem entre o protesto das rosas , Quando amar é proibido , o sacrifício de Isaac, ou Protetores ( o nome de sua Tribo ) , mas também ali já adiantava para ele o final do livro com a sua viagem de barco pelo mar e o seu sacrifício. E pediu que ele e o seu grupo de amigos escrevessem na realidade, a última parte do livro: celebrar o ritual de purificação da primeira rosa.
Pediu ainda que fossem junto até a praia, o mais rápido possível... e lá alugassem um barco e rumassem ao mar, onde iriam encontrar seu corpo e um baú! Deveriam cremar o seu corpo, apreciar e estudar o que havia no baú. As obras de arte, incluindo o diário, eram a essência dos manifestos, pois ali individualizava os protestos, a partir das diversas interpretação que o diário e os quadros podem ter de acordo com a subjetividade de cada um e de como vê a modernidade!
Pedia que após a cremação do seu corpo, pegássemos um barco e fossemos a alto mar, fizéssemos um círculo e no centro colocássemos suas cinzas.
Os manifestos deveriam ser lidos como seus últimos desejos, de forma que todos pudessem falar uma linguagem que não fosse a sua! Assim David do mercado financeiro deveria ler o manifesto da Arte, assim como Amy, o manifesto do Trabalho. Enfim todos deveriam contemplar em suas vidas, as outras linguagens. E assim que um tivesse falado a linguagem do outro, continuaria com as outras cinco linguagens abordadas nos manifestos. A última linguagem, deveria ser celebrada, a do amor que une corpo e espírito. Um pouco das cinzas de Isaac, deveria ser devolvidas ao mar de onde vieram... E assim como estava escrito, foi realizado, as palavras se concretizaram.
Quando os pescadores colocaram o Barco na Praia, Michel, Nicolau, David e Bin já esperavam. Foi um momento muito forte. Todos nos emocionamos, não queríamos acreditar no que estava acontecendo.
Procuramos a família de Isaac e informamos tudo a seus pais que, junto a todos os nossos parentes e amigos, velaram o corpo por meia hora no crematório. Em seguida, foi realizado um ato ecumênico presidido por Bin e Padre Luís, que em emocionada pregação lembrou a vida e a trajetória do Isaac e pediu ao Deus Amor que o acolhesse em seu templo eterno.” Venha meu coração está com pressa , quando a esperança esta dispersa, só a verdade é que liberta, chega de maldade e ilusão, venha o amor tem sempre a porta aberta, e vem chegando a primavera, nosso futuro recomeça , venha que o que vem é perfeição.”
Terminada a cremação fomos realizar o último desejo de Isaac e vários barcos já estavam no mar para acompanhar. Prontos para sair, seus amigos, todos abraçados e emocionados levaram o baú até o Barco. Cada um desatou o nó, que protegia o diário. Isaac havia em cada nó, expressado o quanto uma linguagem amarra o Ser Humano e para surpresa deles ao lado do Diário se encontrava uma Rosa, que após o fim do ritual desabrochou!
Era a primeira Rosa, a Rosa pura..., que havia sobrevivido ao sacrifício de Isaac. Enquanto as cinzas de Isaac desapareciam no movimento da água, pura em suas intenções, simples em sua composição, clara em seus propósitos, a maior parte do ser humano, que gera a energia da vida, se alimentara de suas cinzas e esperamos fazer brotar daquela semente preciosa os frutos almejados pelo inesquecível Isaac. Parte de suas cinzas foram plantadas no jardim do teatro e brotaram várias rosas como a Rosa primeira e pura. E dela desabrochara a Honra e a Glória da Sabedoria, da Coragem e do Amor. Que em sua luta no mundo está a preparar o seu lugar no Céu, na Terra, no Cronos, na Eternidade, preenchendo-os com sua intensidade, pois são as águas onde as cinzas são sementes que fazem dos homens rosas!
Como Hamlet, Isaac, ressuscitou o seu ser no terceiro dia, continuando presente naqueles que mais amou: a juventude, despertando o amor verdadeiro e a criação de novas histórias de amigos que, juntos, constróem o enredo de suas histórias, promovendo mais sementes mudanças no mundo, em cada leitor.
“PERFEIÇÃO
Letra: Renato Russo – Legião Urbana
Vamos celebrar a estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja de assassinos
Covardes, estupradores e ladrões
Vamos celebrar a estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar o nosso governo
E nosso estado que não é nação
Celebrar a juventude sem escolas
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião
Vamos celebrar Eros e Thanatus
Persáphone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade
Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
E os mortos por falta de hospitais
Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
E o voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
Todos os impostos, queimadas, mentiras e sequestros
Nosso castelo de cartas marcadas
O trabalho escravo e nosso pequeno universo
Toda a hipocrisia e toda a afetação
Todo o roubo e toda a indiferença
Vamos celebrar epidemias
É a festa da torcida campeã
Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar um coração
Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado de absurdos gloriosos
Tudo o que é gratuito e feio
Tudo o que é normal
Vamos cantar juntos o hino nacional
(A lágrima é verdadeira)
Vamos celebrar nossa saudade
E comemorar a nossa solidão
Vamos festejar a inveja
A intolerância e a incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente a vida inteira
E agora não tem mais direito a nada
Vamos celebrar a aberração
De toda nossa falta de bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror de tudo isso
Com festa, velório e caixão
Está tudo morto e enterrado agora
Já aqui também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou essa canção
Venha, meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão
Venha, o amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça
Venha, que o que vem é perfeição”
Vejamos o que aconteceu a cada um de nós. Bin é líder de um movimento ecumênico dentro das Igrejas, pregando a fé acompanhada de ações; David, aos poucos, está mudando. Se tornou um Agente de Responsabilidade Social. Suas empresas colaboram com várias ações de responsabilidade social , sem a necessidade de figurar na publicidade; Nicolau recebeu “O Príncipe”, com a dedicatória feita por Isaac e deixou a política partidária, se engajou na liderança comunitária e, ao que consta, se casará com Maria, colega de Michel, da faculdade de pedagogia, com quem mora desde a morte de Isaac e tem mudado significativamente.
Soube que Bin fará a Celebração do Casamento deles. Maria está no quarto mês de gravidez e já anunciou: se for do sexo masculino seu nome será Isaac.
Após nos reunirmos decidimos atender pedido do próprio Isaac, fazer várias cópias, com o título de “Quando amar é proibido!”, incluindo nossos testemunhos, de jovens protetores, e por fim, constando os depoimentos daqueles a quem ele tanto admirou nos campos da Arte, Religião, Trabalho, Educação e Política. Uma dessas cópias, juntamente com o baú e os objetos nele contidos seria depositado abaixo do piso do palco do Teatro, na sede da Terra da Sabedoria.
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