SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.
domingo, 4 de dezembro de 2011
ROMA CIDADE ABERTA, SINAL DOS TEMPOS - O neo-realismo italiano vem aí !
Por Egidio Guerra
Quando a musica de Roma cidade aberta anuncia o inicio do filme ela indica o perigo, a trama e os planos que estão abertos para encontrar os caminhos escondidos desta história.
A escolha dos personagens para época não podia ser melhor. A trama entre a resistência ( guerreiros em luta ) , o exercito alemão, o padre, as crianças , a comunidade e prostitutas revelam a elasticidade da alma e da humanidade em situações extremas.
A escolha dos ângulos nos coloca dentro das cenas como se fossemos mais um italiano a viver ou sofrer aqueles momentos. A cidade é o palco , ela se torna o cenário, o estúdio, o lugar de gravação, isto vai deixar boas marcas na história do cinema.
Rosselini é um maestro ao misturar um toque de cada um destes ingredientes na tela. Musica, Personagens, misancene, corte, edição, na cidade!
Iniciamos pela ocupação nazista e a primeira fuga do engenheiro. A câmera segue a perseguição parando um pouco para olhar a trama como o primeiro telefonema da amante. O mapa da cidade nos revela o mapa da trama e as armas que cada um tem para acertar o inimigo, cada personagem tem que olhar para cidade para criar seu enredo, esconderijos, fugas, lutas em campo aberto.Roma é o principal personagem.
As torturas começam , “ como gritam estes italianos “ , é um filme carregado de ironias negras, sobre as características do povo italiano. Assaltam a padaria mas o policial esta de uniforme e não pode fazer nada, ele queria assaltar também, a fome é grande na Itália. Aos poucos Rosselini vai nos mostrando o contexto histórico e social da Itália ocupada. Se o sacristão roubar vai pro inferno, mas ele rouba. As tradições cristãs , a moral e a lei desaparecem durante a guerra, outras verdades mais duras e cruas são o foco da lente. Como diz a criança estes não são tempos para catecismo! Precisamos nos unir contra o inimigo comum.
A mãe grita Manfredo “vem aqui“. A criança responde “não posso” Os diálogos constroem as rupturas de guerra entre os personagens tradicionais e comportamentos decorados que não fazem mais sentido diante de uma cidade aberta , sempre em alerta. A igreja também tem seu novos papeis. Existem outras prioridades , diante de sentimentos comunitários italianos, a resistência, o segredo os une como povo para além das autoridades.
É preciso contar esta história , um documentário não seria suficiente!
A diferenças e as semelhanças entre artistas e operários numa guerra desaparecem, o amor engana ate o mais experiente guerrilheiro , um padre pode ser animador de crianças, militante, e ate padre. Esta é umas das lições que temos : um personagem no filme tem vários “papeis” dentro da história. Todo mundo numa guerra é um ator. Ate as crianças podem brincar e guerrear ao mesmo tempo. Quando as cortinas sobem, vários mundos aparecem , entre a Roma aberta e escondida , mas eles se comunicam ente si. Este é o enredo de como um amor romântico, vivido numa crise social, vira traição na guerra, e mortes.
Bem todos sabem os nazistas eram produtores culturais , não basta apenas a suástica e os comandos de guerra, mas tudo a ciência, o sexo, o cinema estava a serviço da “raça superior” Assim o cinema italiano vai dar a resposta com este filme a raça superior!
Tudo isto em menos de 15 minutos, mas o filme tem quase uma hora e meia.
Todos estão no purgatório “celebrando” os absurdos da guerra . Todos vão cumprir sua missão, ate as mais perigosas, como levar dinheiro pra resistência, O símbolos da cultura italiana reverberam em suas mensagens, a musica Fiorentina, São Roque, as estatuas , ate a moral da igreja católica se misturam. São muitos detalhes temos que ficar atentos aos múltiplos significados na trama, no relato da guerra, no impacto na forma de fazer cinema. Nada esta ali por acaso, Rosselini foi um artesão, e porque não dizer um padre, um militante, um jornalista , na hora de fazer o filme. Sobre juntar os diversos pedaços de uma sociedade destruída pela guerra!
Por isso algumas cenas são na Roma aberta , outras no subterrâneo dela, mas os personagens são os mesmos executando papeis diferentes. O ator coadjuvante trabalha na gráfica esta fazendo um jornal, enquanto Rosselini faz o filme. O dinheiro se esconde nos livros, nada é o que parece! “São livros mas não há muito para ler” O filme é que tem muito a nos dizer!
Porem de repente a história vai ser contada como á vida é ; independente da igreja, dos militantes, das crianças, da comunidade. São as prostitutas e o exercito alemão que vai assumir o comando da história. É a vez delas subirem ao palco ! Os mundos e personagens vão se encontrar na cidade aberta. Porem eu não estou aqui para contar a história, o filme é este suspense que aos poucos vai revelando o fim, a cena mais bonita e trágica do filme . Assim como Roma cidade aberta, um filme lindo e trágico ao mesmo tempo , sinal dos tempos! O neo-realismo italiano vem aí !
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