No mundo da interdisciplinaridade e complexidade cada vez mais a educação é convidada a dançar com outras ciências e buscar desenvolver outras dimensões humanas pouco exploradas. A educação durante muito tempo deu muita relevância as relações sociais e políticas extremamente essenciais para pensar a educação porém reduzida a elas se torna míope e dogmática.
O pensar desde os pré-socráticos e Sócrates foi se expandindo do diálogo a incorporação da fé na idade média como prática pedagógica que depois se mistura com a razão. No Iluminismo vemos a razão se libertar para junto com a Reforma Protestante e Revolução Francesa dar vida a industrialização e modernidade que
vivemos ainda hoje. Neste percurso a razão se soma o estudo da percepção, a teoria crítica de Frankfurt, a imaginação, neurociência e outros processos de aprendizagem que ampliam nossa compreensão do que hoje chamamos educação mas alguns preferem chamar de Ciências da Cognição.
Nessa jornada educacional a Psicanálise como Galileu descobre que nós não somos o centro do Universo, o inconsciente destrona a razão, e a Antropologia destrona a cultura ocidental do seu lugar de verdade única. Os ensinamentos de outras culturas nos desafia a recolocar o lugar da educação, economia e política em nossa sociedade, passamos a enxergar outras formas de ser, viver e governar. Vem o maio de 1968 onde explode ao mesmo tempo o surgimento de novas tecnologias que vão dar vida a internet e a cibernética, e uma ética ambiental, espiritual e política que visa nos lembrar que a tecnologia, a natureza, e espiritualidade vão fazer parte do debate da educação de forma cada vez mais incisiva e ampla . Se abre novos horizontes e desafios para educação ser pensada e transformada por múltiplos olhares e perspectivas. Entre eles o estudo do cérebro e a neurociência obrigam a repensar muitas de nossas teorias educacionais que sobreviveram sem pesquisas em campo nem provas.
Hoje assim como a Biologia, a Antropologia além do olhar histórico que sempre pautou o debate, o futuro entra no debate da educação diante dos desafios da pandemia, mudanças climáticas, inovações tecnológicas que visam alterar a natureza e o homem com a biotecnologia, robótica, e inteligência artificial. A Antropologia inaugura nos EUA um campo do saber para redesenhar futuros e impacta definitivamente os rumos da Educação.
Agora não é apenas mais as vozes dos diversos e brutalmente desiguais seres humanos que importa, incluindo os refugiados, mas as vozes e Big datas dos computadores e das redes sociais, soma- se os gritos da natureza em desastres ambientais com as vozes e as formas de aprender dos animais . Resultando num novo Iluminismo não mais centrado na razão e no ser humano. Desperta assim o casamento entre Antropologia e Educação como um novo paradigma que inaugura uma nova era geológica, o Antropoceno com seus desafios e a necessidade de uma imaginação e consciência universal. Não existe separação entre a teia da vida, econômica, educacional, tecnológica, ambiental e espiritual na verdade elas formam uma teia do saber sobre a evolução desse e de outros Universos em eterna expansão e destruição criadora ampliando nossos limites, horizontes e capacidades de pensar e nos educar.
Vivemos uma era que mais importante que conceitos, representações e conclusões precisamos saber unir saberes de forma complexa, compreender o outro e o diferente, pesquisar rastros e caminhos que trouxeram a humanidade até aqui, aprender com os sinais da natureza e dos animais de como eles podem nos ensinar sobre nossa condição terrestre.
Lembramos que a aranha e a formiga tem distintas formas de vida assim como os polvos e seus cérebros nossos ancestrais na teia da evolução que nos trazem importantes lições sobre partes que compõem nossos corpos como a ligação entre a visão, o tato e o pensar no que hoje chamamos mente corpo. Recentemente uma pesquisa provou que a trajetória dos passarinhos nos EUA é mais precisa que em prever furacões do que enormes Big Datas. A tecnologia está provando cada dia mais seus limites provocando e acelerando desastres, em mostrar a insuficiência dos Big datas e inteligência artificial em solucionar problemas humanos até mesmo na produção de novos remédios tem sido reduzida as novas descobertas.
Necessitamos aprender as diferenças e complementaridade entre a vida individual e coletiva dos animais e nossa no desenho da teia da vida. Se somos um super organismo ou nos guiamos por instintos, como a teia composta por material orgânico como as bactérias e minerais impactam nosso destino, como nos comunicamos e interagimos em malhas feitas pela natureza que se transformaram em cidades que hoje nos mostram seus limites, o ecossistema da vida, a dança entre o pensar e o fazer em nossa culturas, entre simetrias e dicotomias, movimentos e percepções, necessitamos aprender com a Antropologia essas e outras questões que impactam a educação e as formas como nos movimentamos na Terra com profundas perturbações no ambiente geradas por nossa formas de pensar e viver.
Cada vez mais seguindo os passos dos Antropólogos Bruno Latour e Tim Ingold aprendemos a nos tornar um ator rede mais preocupados em descrever trajetórias do que apenas representar ou argumentar. Lembrar que objetos são feitos de múltiplas camadas ligadas as teias se tivemos capacidade educacional de enxerga-las, ir além de nossos pontos de vista ou pontos de qualquer lugar para enxergar o movimento que não se reduz aos limites de uma disciplina ou território que pre classificamos, unir a beleza com a objetividade de forma empírica, compreender que cada ator e pesquisador possui seus quadros de referência, teorias, contextos, metafísica e ontologias e temos que dialogar com os diferentes.
Encontrar singularidades que não se reduzem a padrões, informações que se transformam pelo movimento da vida, entender a vida e a aprendizagem como laboratório de testes, experimentos e simulações, aprender a expandir, relacionar, comparar e organizar as diferente formas de conhecer que são impactadas por leis, realidades e perturbações, e que cada um de nós pode fazer a diferença nesse mundo agindo com sabedoria. Esses são alguns frutos que pude colher da plantação que a Antropologia e Educação estão semeando novas formas de pensar, ser e viver.
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