Eu aprendi com Paulo Freire que antes da Pedagogia da autonomia, seu último livro, tem a problematização da realidade e a pedagogia da conscientização e da esperança. Portanto antes da autonomia é preciso problematizar a realidade, conscientização e esperança atuando de forma orgânica no desenvolvimento desse ser, transformando a realidade. Resumindo, a dialogicidade é processo e não técnica porque antes de tudo é uma forma de educar sem a educação bancária.
Porém indo além de Freire a vida é plural de sentidos sem perder os fragmentos únicos e singulares que durante nossa caminhada pela Terra aprendemos, muitos deles além dos dogmas pontuais para enxergar que nossa jornada filosófica e educacional nos convida a aprender sempre.
Aprendemos muito onde ninguém estudou mas a vida nos ensinou. As dinâmicas sociais principalmente econômicas e políticas nos convidam a problematizar a realidade para entender a condição de oprimidos para nos libertar dela. Freire nos ensina a denunciar situações limites que oprimem, a agir pelo caminho da práxis resultado da ação-reflexão, a buscar a participação, o diálogo, a conscientização, o anúncio do inédito viável, a utopia, o sonho, a esperança, transformando realidades.
Não há diálogo para Freire sem um profundo amor pelo mundo e a humanidade, valores que antecedem sua pedagogia com humildade. O diálogo com esperança se une ao processo de conscientização.
“A conscientização nos convida a assumir uma posição utópica perante o mundo [...]. Para mim, a utopia não consiste no irrealizável, nem é idealismo, mas, sim, a dialetização dos atos de denunciar e anunciar, os atos de denunciar a estrutura desumanizante e de anunciar a estrutura humanizante. Por essa razão, a utopia também é engajamento histórico. [...] Quanto mais conscientizados somos, sobretudo pelo engajamento de transformações que assumimos, mais anunciadores e denunciadores nos tornamos. (FREIRE, 2016, p.58-59).
Seguir os passos de Paulo Freire é apreender a ler o mundo antes das palavras, através do valor que elas têm no mundo dos sujeitos. Em Angico ele ensinou ao Embaixador norte americano Lincoln Gordon que em 40 dias pode alfabetizar 300 pessoas. O Embaixador americano aconselhou e o Presidente Joāo Goulart decidiu levar a experiência para todo o Brasil, mas veio o Golpe. Angico devido a esse processo de alfabetização ganhou 280 novos eleitores que antes a legislação proibia votar mas esse resultado levou a uma greve de trabalhadores e a acusação de que Freire e sua experiência era uma praga comunista. Hoje Freire é um dos autores mais citados em Educação no mundo com uma estante de seus livros em Harvard, várias homenagens no mundo e sendo referência no desenvolvimento de educação em vários países ricos.
Por essas razões devemos aprender os passos de seu método de alfabetização !
1.Levantamento do universo vocabular do grupo com quem se trabalhará;
2. A segunda fase é constituída pela escolha das palavras, selecionadas do universo vocabular pesquisado;
3. A terceira fase consiste na criação de situações existenciais típicas do grupo com quem se vai trabalhar;
4. A quarta fase consiste na elaboração de fichas-roteiro, que auxiliem os coordenadores de debate no seu trabalho;
5. A quinta fase é a feitura de fichas com a decomposição das famílias fonêmicas correspondentes aos vocábulos geradores (FREIRE, 1983, p. 112-115).
“É mediante reflexão sobre sua situação, sobre seu ambiente concreto, que o homem se torna sujeito. Quanto mais refletir sobre a realidade, sobre sua situação concreta, mais ele “emergirá”, plenamente consciente, engajado, pronto a intervir sobre e na realidade, a fim de mudá-la [...] São situações locais que abrem perspectivas à análise de problemas nacionais e regionais (FREIRE, 2016, p. 81).”
A principal lição de Paulo Freire é criar outro método para além da educação bancária.
Para o educador-educando, dialógico, problematizador, o conteúdo programático da educação não é uma doação ou uma imposição — um conjunto de informes a ser depositado nos educandos —, mas a devolução organizada, sistematizada e acrescentada ao povo daqueles elementos que este lhe entregou de forma desestruturada. (FREIRE, p.85)
Neste sentido é que a investigação do tema gerador, [...] se realizada por meio de uma metodologia conscientizadora, além de nos possibilitar sua apreensão, insere ou começa a inserir os homens numa forma crítica de pensarem seu mundo. (p.97)
Nosso papel como educadores é colaborar para que as pessoas pensarem seu mundo de forma crítica e a sonhar assim temos alguns papéis para cumprir nossa missão:
A tarefa do educador dialógico é, trabalhando em equipe interdisciplinar este universo temático recolhido na investigação, devolvê-lo, como problema, não como dissertação, aos homens de quem recebeu. (p.103)
Se a programação educativa é dialógica, isto significa o direito que também têm os educadores-educandos de participar dela, incluindo temas não sugeridos. A estes, por sua função, chamamos “temas dobradiça”. (p.116)
• As crianças precisam crescer no exercício desta capacidade de pensar,
de indagar-se é de indagar, de duvidar, de experimentar hipóteses de ação, de programar e de não apenas seguir os programas a elas, mais do que propostos, impostos. As crianças precisam de ter assegurado o direito de aprender a decidir, o que se faz decidindo (FREIRE, 2019, p.67-68)
Sonhar não é apenas um ato político necessário, mas também uma conotação da forma histórico-social de estar sendo de mulheres e homens. Faz parte da natureza humana que, dentro da história, se acha em permanente processo de tornar-se. Fazendo-se e refazendo-se no processo de fazer a história, como sujeitos e objetos, mulheres e homens, virando seres da inserção no mundo e não da pura adaptação ao mundo, terminaram por ter no sonho também um motor da história. Não há mudança sem sonho, como não há sonho sem esperança (FREIRE, .
Referência :
FREIRE, Paulo. Educação como prática de liberdade. 14 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 13 Ed. Rio de Janeiro, Paz e terra, 1983.
FREIRE, Paulo. Conscientização. Tradução de Tiago José Risi Leme. São Paulo: Cortez, 2016.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. Organização e participação de Ana Maria de Araújo Freire. 5 Ed. São Paulo: Paz e Terra, 2019. 160 p.
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