SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

segunda-feira, 5 de julho de 2021

A PESQUISA COMO UMA ATITUDE ESPIRITUAL EM RELAÇÃO AO MUNDO E A VIDA. 1588 dias.



Pesquisar os pesquisadores é uma ousadia como usar a cura para descobrir a doença ? No nosso caso é mais como avaliamos o desafio de pesquisar como instrumento de ensino e extensão na aprendizagem dos alunos.  Ensino porque a pesquisa torna o ensino mais questionador das hipóteses que aprendemos pela jornada vivenciada, muitas vezes em áreas e projetos de extensão onde os alunos atuam profissionalmente sem questionar suas práticas e criar novos horizontes.  


Um Diagnóstico que muito mais que cura nos revela quantos e como professores usam a pesquisa em sala de aula, às vezes suas próprias pesquisas, outras estimulando os alunos a desbravar seus objetos e hipóteses. 



A pesquisa deve se tornar assim “uma determinada atitude espiritual em relação ao mundo e a vida, uma forma e modo funcionais de apanhar as coisas e proceder mentalmente com elas.” Seguimos assim o conceito de cultura filosófica do sociólogo Simmel.  Pois de pesquisa em pesquisa o que buscamos não é o que há de comum entre elas mas o que as diferencia e seus fragmentos únicos que fortalecem nosso espírito e jornada científica. Nesta jornada vamos encontrar vários conteúdos e resultados expressos dogmaticamente em teorias , sem os quais o processo de pesquisa enquanto tal e por si mesmo não pode com certeza se desenrolar. A separação entre os conteúdos e a função da pesquisa, entre o processo vivo e seu resultado conceitual, significa uma orientação inteiramente universal do espírito moderno.



Nietzsche e Bergson consideram a vida enquanto tal a realidade verdadeira e o valor último, não determinada por algum conteúdo como substancial, senão que o conteúdo é por sua vez criado e ordenado de forma complexa pela própria vida.  Portanto o espírito humano não pode nem deve ser moldado por alguns conteúdos mas por uma atitude do espírito que os perpassa redefinindo objetos, teorias e desbravando a ciência . Essa atitude espiritual de pesquisar é um valor que não é atingido pelas contradições e incoerências de seus conteúdos e resultados gerados por pesquisas e teorias distintas.



A atitude espiritual da pesquisa busca orientação por profundidade somada ao ritmo do processo do pensamento como aquilo que o torna filosófico, então seus objetos são de antemão ilimitados e obtêm, naquela comunidade do modo de pensar ou da forma de pensamentos unidade para investigações mais heterogêneas em relação ao conteúdo. A experiência histórica indica que cada fixação do juízo sobre um conteúdo sistemático deixou enormes domínios científicos para além da interpretação e aprofundamento filosófico; e isto não somente  como consequência da sempre relativa capacidade daquele princípio absoluto, mas sim sobretudo de sua fixação e ausência de plasticidade. Porém os diversos conteúdos das pesquisas não devem nos conduzir a uma teoria fundamental singular mas questionar essas teorias e desbravar novas.  Se  a escolha dos objetos de pesquisas e conteúdos devem partir efetivamente da amplitude universal da existência , então ele parece antes necessitar correr em muitas e ilimitadas direções. 



Há portanto evidentemente uma relação mais íntima entre toda multiplicidade da existência dada e toda multiplicidade dos absolutos possíveis. A articulação flexível entre as duas, a ligação possível a fim de relacionar cada ponto de uma com cada ponta da outra em múltiplas pesquisas, é proporcionada por aquela mobilidade do espírito, não determinada por nenhum absoluto.  Não é a diversidade dos dogmas que proporciona essa jornada ao pesquisador, mas sim da unidade do movimento do pensamento que é muito comum a todas essas diversidades, até que elas se solidifique precisamente em um novo dogma ou teoria que por enquanto deixa de lado a riqueza de todas as possibilidades de movimento e abrangência do pensamento.



Porém neste caminho de pesquisadores podemos ficar presos a um radicalismo de uma atitude formal da vida que se funde com conteúdos de modo indissolúvel e intolerante. Simmel compara essa atitude com a religiosidade de todo homem realmente religioso, significando na verdade um ser e uma conduta íntima sempre iguais; mas no individuo, e na verdade especialmente naquele religioso criativo, com uma individualidade determinada, precisamente esta individualidade, cunhada por um conteúdo de fé , torna-se uma unidade tão orgânicas que para esses homens  apenas aquele dogma pode ser religião ou Ciência no nosso caso. Um pesquisador precipita-se em uma concepção de mundo absoluta, que exclui as outras. 



O pesquisador deve viver um relacionamento espiritual contínuo em relação a toda existência, em uma mobilidade intelectual até a camada em que ocorrem, nos mais variados graus de profundidade e ligado aos dados mais universais, sem ser refém de dogmas, assim como uma cultura religiosa não se constitui no reconhecimento de um dogma, mas sim na concepção e confirmação da vida em contínua  consideração com o destino interno da alma; assim como a cultura artística não se constitui na soma das obras de arte singulares, mas sim naquilo em que os conteúdos da existência em geral são sentidos e formados de acordo com as normas dos valores artísticos ou os métodos de cada época.


A pesquisa assim avança contra partidos dogmáticos sem perder sua funcionalidade de retroceder de cada teoria singular identificando o que há de funcionalmente comum a todas elas. 



Simmel conclui sua análise com uma parábola . Em uma fábula, um camponês à morte diz a seus filhos que há em suas terras um tesouro enterrado. Em consequência disso, os filhos escavam e reviram profundamente a terra por toda parte, sem encontrar o tesouro. Mas no ano seguinte a terra assim trabalhada produz três vezes mais frutos. Isso simboliza a linha da metafísica indicada aqui. Nós não iremos encontrar o tesouro , mas o mundo que escavamos a sua procura trará ao espírito três vezes mais frutos.   

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