Matheus Mans
Crítica: 'Babilônia' é insano, divertido e um dos melhores filmes do ano
2023 ainda está dando os seus primeiros respiros, mas já tive uma experiência marcante dentro de uma sala de cinema. Foi com Babilônia, novo longa-metragem de Damien Chazelle (La La Land, Whiplash) que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 19. Apesar das críticas absolutamente mistas nos veículos internacionais, fico do lado daqueles que ficaram extasiados. Afinal, o longa-metragem tem personalidade, força, musicalidade e é recheado de emoção.
A trama acompanha, basicamente, a história de três personagens centrais: Jack Conrad (Brad Pitt), um astro veterano do cinema mudo; Nellie LaRoy (Margot Robbie), uma estrela em ascensão; e Manny Torres (Diego Calva), um faz tudo que sonha em ser poderoso nessa Hollywood antes dos Anos Dourados. Para contar essa história, Chazelle exagera: tudo aqui é dantesco, grandioso, longo, exagerado. Pode parecer falta de sutileza, mas é proposital.
Afinal, Babilônia não quer ser sutil ao tratar Hollywood dos anos 1920 e 1930. Não quer, de forma alguma, tratar do passado de forma idealizada, romantizada. Pelo contrário: Chazelle faz o movimento reverso, em que desnuda Hollywood e mostra o que de mais escondido há em sua história. Drogas, sexo, orgia, mortes. É um mundo sem leis, dentro e fora dos set de filmagens, e que quebra o encanto do passado. Ao mesmo tempo, Chazelle constrói novos encantamentos.
Há, no filme, a beleza do improvável e do inesperado. As coisas acontecem aos borbotões, sem um aparente rumo certo. A cena da gravação do filme mudo de guerra de Conrad é uma beleza -- inóspita, barulhenta, caótica. Nada é higiênico. O mesmo vale para ascensão da personagem de Robbie, totalmente atrelada à sua habilidade de lidar com o inesperado. Quem diria, Babilônia é como se fosse uma canção de jazz, esse gênero que Chazelle ama. Caos no meio da paixão.
Dentro dessa boa história, ainda há três pontos a serem destacados: design de produção, trilha sonora e atuações. Sobre os dois primeiros, que quase se unem, não há um fio de cabelo fora do lugar. A festa, que toma conta dos quase primeiros trinta minutos, é exemplo disso, Tudo é muito bem alinhado e, dentro do caos, encontramos ordem. É um mergulho onírico e encantando no que Hollywood já foi. E, hoje, se tornou absolutamente chata, pedante, sem olhar para o passado.
Sobre o outro ponto, Pitt, Robbie e Calva estão absolutamente encantadores. Cada um tem uma cena para brilhar, para mostrar a força interpretativa, para justificar a existência. Mas é Robbie que rouba a cena. A sequência da festa, a exibição em seu primeiro filme, o caos no início do filme falado e uma das cenas finais só mostram como ela é uma das grandes atrizes de sua geração. É intensa, emocionante e, com ela, tudo se torna ainda mais forte e emocionante.
E, com isso, chegamos no final. É lindo, lindíssimo. Ainda que requente a estrutura de La La Land, que pode ser considerada até uma referência para aqueles que querem poupar Chazelle de críticas, a conclusão encanta. Me vi debulhando em lágrimas e simplesmente deixando pra lá os problemas do filme -- a duração exagerada de 3h09, os personagens que sobram, essa repetição. Afinal, a emoção sempre vence a razão. E aqui me permiti me emocionar como nunca.
Afinal, mais do que uma história sobre o cinema nos anos 1920 e 1930, Babilônia celebra o cinema, como forma e conteúdo, deixando qualquer fã da sétima arte no mínimo arrepiado. E, desculpa, mas é preciso ser muito chato para dizer que esta produção é um erro total ou coisa do tipo. Babilônia entrega emoção e exige, do lado do espectador, um mergulho verdadeiro e total. Quem não fizer isso, vai dar de cara com um filme longo. Se entregue e irá se emocionar.
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