Eu passei 30 anos da minha vida atuando em comunidades pobres acompanhando o desenvolvimento de crianças e jovens onde muitos deles foram letrados pela vida e pelas comunidades. Eu sei onde muitos deles estão hoje, alguns são dirigentes de ONGS, Secretários de Estado, Doutores nas Universidades, Empresários, Artistas, funcionários públicos, juízes e outros. É importante entender como se dá esse relacionamento entre escola, comunidade e vida nos processos de letramento de crianças e jovens. Por exemplo Einstein, que era visto como um aluno medíocre na escola, usou a imaginação e brincadeiras para desenvolver todo seu potencial. A Economia, Sociedade e Educação falam tanto da importância da criatividade, e já foram realizados muitos estudos e pesquisas sobre esse assunto, cito o trabalho de Domenico de Masi sobre a emoção e a regra, mas quantos e quais desses estudos ajudaram a mudar a escola, integrar e potencializar o letramento dos alunos na vida e nas comunidades? Outras pesquisas falam da importância da diversidade, experiências, afetos, corporeidade, mas nos rendemos a regra conteudista de razões vazias de vida sem letramento.
Hoje o ensino médio tem produzido uma geração apática e apolítica que chega nas Universidades, isso é ruim quer seja na política e economia como na falta de desenvolvimento de líderes, pensadores livres e empreendedores. Isso é ruim para o Brasil pois não podemos educar uma geração para se acostumar às condições em que vivem, baixar a cabeça e não procurar modificar suas vidas e condições sociais e econômicas. O letramento crítico e criativo, ensina ética e estética, é essencial para o despertar e individuação do ser humano, como as melhores escolas fazem não separando mundos com muros e grades, mas integrando escola, família, comunidade e cidade com ecossistemas educacionais através de processos de letramento vivos que extrapolam a sala de aula.
Porém o que vemos nas escolas não é esse diálogo democrático de ideias e melhores caminhos de formação e aprendizagem dos alunos. Os professores não são escutados, o que impera na escola é a geopolítica de vários interesses de políticos, fundações, editoras e outros. Afinal uma vaga em uma creche e na escola nas comunidades pobres vale votos, os interesses das construtoras para os políticos são maiores que os dos estudantes, os professores que baixam a cabeça e se rendem para o sistema e os capitães do mato são premiados, incluindo os pedidos dos Governos às Universidades que inclui a formação e a promoção dos amigos da nobreza feudal escolar. Mas querem falar em notas e meritocracia para os alunos quando não são frutos deles e sim de acordos políticos de submissão? O nome disso não é educação. Os Professores que mais criticam e querem mudar as escolas são isolados, como se o dinheiro público fosse dos gestores? E a escola fica NORMAL, enquadrada, adestradora e submissa às operações políticas em nome da educação pública? Ou dos interesses privados não confessos?
A tese de Einstein tinha sete páginas, não 70 nem 700. A escola assim como a Universidade tem valorizado a repetição de palavras do que a crítica e a criação que andam juntas com o letramento na vida e na comunidade. Eu li várias obras que usam pesquisas e o método científico propondo mudanças e inovações no currículo e didáticas através do letramento visto como um processo contínuo, mas as escolas resistem a isso devido aos poderes que vivem dela. A autobiografia é um deles. E assim vamos formando e convivendo com empresários que só viveram em empresas, políticos a vida toda na política, professores que só viveram na academia e outros sem o letramento na sociedade como um todo e expressão dos seus seres em outros mundos. Caminhos vazios que destroem saberes mais complexos, existências e uma vida com maior interação social e cidadania.
Eu conheço cada um dos meus alunos, sobretudo os que têm mais energia e criatividade, que se revelam em brincadeiras e interação social mas não em violências. Violências na escola contra outros estudantes e professores atrapalha o aprendizado e a vida de todos. Mas a violência nas comunidades também faz o letramento das pessoas para o mundo do crime, por isso é preciso conhecer como vivem, moram, a família de nossos alunos visando conectá-los a outros caminhos e oportunidades de vida e letramento. O melhor caminho na escola para eles será um elogio, afetos, um 10 e outros para o aluno ver que está conquistando seu espaço por outros desafios e aventuras escolares onde pode gastar sua energia no seu letramento para vida e cidadania plena.
ENQUANTO ISSO ESSAS PESSOAS NA SALA DE AULA SEM LETRAMENTO!
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