Um educador não escolhe seus desafios, são os desafios da vida que nos escolhem. Mudanças climáticas, inovações tecnológicas, desigualdades, autoritarismos...Eles despertam em cada um de nós movimentos livres de consciência e sabedoria, muitas vezes a partir de nossas memórias, imaginações, e experiências de habitantes de um planeta em transição, somos escolhidos para sermos personagens de uma nova História. Já dizia o poeta “Uma pessoa não escolhe seus demônios nem seus anjos: acontecem-lhe certas coisas, algumas a ferem tanto que a levam, loucamente, a enfrentar a realidade dominada por ditadores, violências, miséria e destruição da natureza; e a buscar caminhos múltiplos para transformá-la. As origens dos anjos e demônios de nossas vocações também são importantes estímulos, fontes, e matérias a partir da qual vamos trabalhar as sementes do Século 22.
Nessa jornada nos depararmos com a história e a presença de nazistas, escravocratas, membros de máfias políticas ou crime organizado nos dias atuais, incluindo seus discursos e estratégias visando a manutenção de seus poderes e os diversos relatos da adesão de pessoas a esses regimes que visam educar para mentira e a morte, mas é simples qualificarmos os envolvidos nesses processos como perversos, sádicos, anormais, recalcados e monstruosos. Portanto buscamos descobrir as razões pelas quais aceitamos a instalação de atrocidades como essas em nosso cotidiano. Indo além da “banalidade do mal” de Hannah Arendt, outros autores nos lembram “que a verdadeira perversão é social e política, não porque o indivíduo encontra prazer no sofrimento alheio, mas porque, de modo burocrático, abdica de sua personalidade em nome da paixão pela instrumentalidade, isto é, exibe um fascínio por servir a um ditador, fascista, Coronel Oligarca e outros mesmo que sua tarefa seja propagar violências em nome do poder. Observamos desejos obscenos de curvar-se a líderes e regimes autoritário-totalitários. Os conceitos freudianos de “eu ideal” e de “ideal do eu” ajudam a destrinchar o mecanismo pelo qual se constrói a servidão voluntária ou o desejo em servir a um dever maior, como diriam os carrascos nazistas ou ainda os slogans totalizantes de teor “acima de tudo, acima de todos”. Existem várias semelhanças entre nazistas e cidadãos comuns, que estão mais distantes de serem patológicos, dada a repetição da história e a ascensão de regimes autoritários ao redor do mundo. E como educar nossas crianças e jovens diante dessas atrocidades? Em escolas militares? Educação virtual pela internet? Focar apenas em notas e provas? Até hoje a matemática, português e física não resolveram os desafios éticos, estéticos, injustiças sociais, brutalidades, e destruição econômica e ambiental nas várias guerras que vivemos.
É preciso mobilizar noções como finitude, irreversibilidade, mutabilidade, incerteza e caos para projetar futuros e educações em vários mundos que despertam criando novas formas de ser, viver, nos governar com sabedoria, coragem, amor e integração tecnológica, ambiental e espiritual. Buscamos captar estilos intelectuais que diante de desafios em outras rupturas históricas caminharam com a humanidade até aqui. Necessitamos compreender suas prosas, isto é, aquilo que escapa dos conceitos e das estruturas, correspondendo por isso mesmo à energia, às obsessões, à imprevisibilidade, à nuance e à singularidade de cada ser escrevendo a história ao criar novos conceitos éticos e estéticos como faz Rancière ou fez Diderot; e não apenas inovações tecnológicas! Sim ressuscitar nossa natureza artística, humana, ecológica e espiritual para despertar outras culturas no Século 22. AGORA! Afinal a estética não é política por acaso, mas por essência. Nasce na tensão insolúvel entre duas políticas opostas: transformar as formas de arte em formas de vida coletiva e preservar de qualquer compromisso militante ou comercial a autonomia que implica uma promessa de autodeterminação.
"Hoje na educação infantil, as crianças passam mais tempo em atividades matemáticas do que com blocos de construção e giz de cera. O jardim de infância está se tornando mais parecido com o resto da escola. Quando o resto da escola (e o resto da vida) deve ser mais como o jardim de infância. Aprendizagens criativas nos conta como crianças estão programando seus próprios jogos, histórias e invenções, e mostra como, ao envolvê-las na criação de projetos desenvolvidos a partir de suas paixões, em um ambiente lúdico e colaborativo, podemos prepará-las para um mundo onde o pensamento criativo é mais importante do que nunca." Quando podemos transformar a Terra do Nunca na Terra da Sabedoria.
A arte sempre será autônoma das relações sociais, na medida em que as transcende. Nesta transcendência rompe com a consciência dominante e revoluciona a experiência, as matemáticas e físicas. Sim, a arte sempre será um enigma. Nela se revela e esconde a verdade daquilo que é. A reflexão estética constitui o lugar em que confluem e se entrecruzam todas as dimensões da reflexão sobre a sociedade contemporânea. É em torno da recusa de todo o tipo de fetichismos e autoritarismos que se articula a estratégia da preservação da integridade intelectual e a continuidade da personalidade, que encontra na arte o potencial crítico capaz de libertar o sujeito da fraude da subjetividade e consumo mórbidos.
É urgente nossa educação transpor as fronteiras entre as disciplinas, de questionar os pressupostos e de pôr em prática os métodos das mesmas para encontrar as espiritualidades e culturas que as unem. É preciso viajar pela diversidade e pelas místicas no tocante à história realizando pesquisas antropológicas, peregrinando ao redor do mundo para nos encontrar como um particular entre muitos outros, na diversidade de numerosos países, passados e presentes pela experiência espiritual que nos constitui como pós humanos. Tudo isso sem negar as tecnologias que carregamos em nossa alma e do planeta Terra, lembrando que somos feitos de poeira estrelar e imaginações de novos Universos de um pequeno grão de terra a Terra da Sabedoria.
É preciso também educar as pessoas para compreender as relações entre política, sociedade e indivíduo, demonstrando de forma clara as estratégias e efeitos do poder dominante, pois o resultado da opressão é raiva, dor e loucura. É preciso “descolonizar o ser”, melhor “é preciso mudar completamente, desenvolver um pensamento novo, tentar criar um homem novo.” Só assim é possível criar um mundo realmente humano, onde a massa deserdada de homens e mulheres sejam os inventores de sua própria vida e personagens de novas histórias, artes, ciências, tecnologias no Século 22.