SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

sábado, 31 de dezembro de 2022

EDUCAR O SÉCULO 22!

 


Um educador não escolhe seus desafios, são os desafios da vida que nos escolhem. Mudanças climáticas, inovações tecnológicas, desigualdades, autoritarismos...Eles despertam em cada um de nós movimentos livres de consciência e sabedoria, muitas vezes a partir de nossas memórias, imaginações, e experiências de habitantes de um planeta em transição, somos escolhidos para sermos personagens de uma nova História. Já dizia o poeta “Uma pessoa não escolhe seus demônios nem seus anjos: acontecem-lhe certas coisas, algumas a ferem tanto que a levam, loucamente, a enfrentar a realidade dominada por ditadores, violências, miséria e destruição da natureza; e a buscar caminhos múltiplos para transformá-la. As origens dos anjos e demônios de nossas vocações também são importantes estímulos, fontes, e matérias a partir da qual vamos trabalhar as sementes do Século 22.



Nessa jornada nos depararmos com a história e a presença de nazistas, escravocratas, membros de máfias políticas ou crime organizado nos dias atuais, incluindo seus discursos e estratégias visando a manutenção de seus poderes e os diversos relatos da adesão de pessoas a esses regimes que visam educar para mentira e a morte, mas é simples qualificarmos os envolvidos nesses processos como perversos, sádicos, anormais, recalcados e monstruosos. Portanto buscamos descobrir as razões pelas quais aceitamos a instalação de atrocidades como essas em nosso cotidiano. Indo além da “banalidade do mal” de Hannah Arendt, outros autores nos lembram “que a verdadeira perversão é social e política, não porque o indivíduo encontra prazer no sofrimento alheio, mas porque, de modo burocrático, abdica de sua personalidade em nome da paixão pela instrumentalidade, isto é, exibe um fascínio por servir a um ditador, fascista, Coronel Oligarca e outros mesmo que sua tarefa seja propagar violências em nome do poder. Observamos desejos obscenos de curvar-se a líderes e regimes autoritário-totalitários. Os conceitos freudianos de “eu ideal” e de “ideal do eu” ajudam a destrinchar o mecanismo pelo qual se constrói a servidão voluntária ou o desejo em servir a um dever maior, como diriam os carrascos nazistas ou ainda os slogans totalizantes de teor “acima de tudo, acima de todos”. Existem várias semelhanças entre nazistas e cidadãos comuns, que estão mais distantes de serem patológicos, dada a repetição da história e a ascensão de regimes autoritários ao redor do mundo. E como educar nossas crianças e jovens diante dessas atrocidades? Em escolas militares? Educação virtual pela internet? Focar apenas em notas e provas? Até hoje a matemática, português e física não resolveram os desafios éticos, estéticos, injustiças sociais, brutalidades, e destruição econômica e ambiental nas várias guerras que vivemos.



 

É preciso mobilizar noções como finitude, irreversibilidade, mutabilidade, incerteza e caos para projetar futuros e educações em vários mundos que despertam criando novas formas de ser, viver, nos governar com sabedoria, coragem, amor e integração tecnológica, ambiental e espiritual. Buscamos captar estilos intelectuais que diante de desafios em outras rupturas históricas caminharam com a humanidade até aqui. Necessitamos compreender suas prosas, isto é, aquilo que escapa dos conceitos e das estruturas, correspondendo por isso mesmo à energia, às obsessões, à imprevisibilidade, à nuance e à singularidade de cada ser escrevendo a história ao criar novos conceitos éticos e estéticos como faz Rancière ou fez Diderot; e não apenas inovações tecnológicas! Sim ressuscitar nossa natureza artística, humana, ecológica e espiritual para despertar outras culturas no Século 22. AGORA! Afinal a estética não é política por acaso, mas por essência. Nasce na tensão insolúvel entre duas políticas opostas: transformar as formas de arte em formas de vida coletiva e preservar de qualquer compromisso militante ou comercial a autonomia que implica uma promessa de autodeterminação.  


 

"Hoje na educação infantil, as crianças passam mais tempo em atividades matemáticas do que com blocos de construção e giz de cera. O jardim de infância está se tornando mais parecido com o resto da escola. Quando o resto da escola (e o resto da vida) deve ser mais como o jardim de infância. Aprendizagens criativas nos conta como crianças estão programando seus próprios jogos, histórias e invenções, e mostra como, ao envolvê-las na criação de projetos desenvolvidos a partir de suas paixões, em um ambiente lúdico e colaborativo, podemos prepará-las para um mundo onde o pensamento criativo é mais importante do que nunca." Quando podemos transformar a Terra do Nunca na Terra da Sabedoria.




A arte sempre será autônoma das relações sociais, na medida em que as transcende. Nesta transcendência rompe com a consciência dominante e revoluciona a experiência, as matemáticas e físicas. Sim, a arte sempre será um enigma. Nela se revela e esconde a verdade daquilo que é. A reflexão estética constitui o lugar em que confluem e se entrecruzam todas as dimensões da reflexão sobre a sociedade contemporânea. É em torno da recusa de todo o tipo de fetichismos e autoritarismos que se articula a estratégia da preservação da integridade intelectual e a continuidade da personalidade, que encontra na arte o potencial crítico capaz de libertar o sujeito da fraude da subjetividade e consumo mórbidos.



É urgente nossa educação transpor as fronteiras entre as disciplinas, de questionar os pressupostos e de pôr em prática os métodos das mesmas para encontrar as espiritualidades e culturas que as unem. É preciso viajar pela diversidade e pelas místicas no tocante à história realizando pesquisas antropológicas, peregrinando ao redor do mundo para nos encontrar como um particular entre muitos outros, na diversidade de numerosos países, passados e presentes pela experiência espiritual que nos constitui como pós humanos. Tudo isso sem negar as tecnologias que carregamos em nossa alma e do planeta Terra, lembrando que somos feitos de poeira estrelar e imaginações de novos Universos de um pequeno grão de terra a Terra da Sabedoria.


 

É preciso também educar as pessoas para compreender as relações entre política, sociedade e indivíduo, demonstrando de forma clara as estratégias e efeitos do poder dominante, pois o resultado da opressão é raiva, dor e loucura. É preciso “descolonizar o ser”, melhor “é preciso mudar completamente, desenvolver um pensamento novo, tentar criar um homem novo.” Só assim é possível criar um mundo realmente humano, onde a massa deserdada de homens e mulheres sejam os inventores de sua própria vida e personagens de novas histórias, artes, ciências, tecnologias no Século 22.

 

    

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