
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, segue para Anchorage, no Alasca, nesta sexta-feira, para se reunir com o presidente russo Vladimir Putin. O objetivo do encontro é discutir caminhos para o fim da guerra na Ucrânia.
O local escolhido para a reunião de alto nível é a Joint Base Elmendorf-Richardson, uma instalação militar americana localizada na região norte de Anchorage, a cidade mais populosa do estado.
Em um post na sua rede social Truth Social, Trump destacou a expectativa pelo encontro, escrevendo: "HIGH STAKES!!!" (algo como 'grades desafios', na tradução para o português).
Preparativos e comitiva
Trump deixou a Casa Branca por volta das 07h31 (horário local) em sua limusine presidencial, conhecida como The Beast, e embarcou no Air Force One, um Boeing 747-200B adaptado com suíte presidencial, escritório, academia, centro de comunicações, ala médica e capacidade para até 70 passageiros.
A comitiva inclui nomes como o secretário de Estado Marco Rubio, o secretário do Tesouro Steve Bessent, o secretário de Comércio Howard Lutnick, o enviado especial Steve Witkoff, a secretária de imprensa Karoline Leavitt e o diretor da CIA John Ratcliffe.
Já Vladimir Putin fez uma rápida parada em Magadan, uma remota cidade portuária no extremo leste da Rússia, a caminho do Alasca.
Localizada às margens do mar de Okhotsk, a cidade é mais conhecida internacionalmente por ter sido um importante centro do sistema de prisões do Gulag durante a era Stalin.
Fim do Que História!
A TV estatal russa registrou o presidente passeando por instalações de produção locais, reforçando a imagem de líder "mão na massa". Putin visitou uma nova linha de suplementos alimentares russos, apresentados como parte do esforço de Moscou para alcançar "independência total" das importações ocidentais — embora todos os produtos exibidos estivessem embalados com rótulos em inglês.
Antes de seguir para Anchorage, Putin ainda visitou uma fábrica de processamento de peixes e um complexo esportivo em Magadan. Mais tarde, deve depositar flores em um memorial que homenageia a cooperação aeronáutica soviético-americana durante a Segunda Guerra Mundial.
Se o cronograma original for mantido, Donald Trump e Vladimir Putin devem iniciar as conversas por volta das 11h (hora local do Alasca, 16h no horário de Brasília).
A previsão é que Trump deixe o Alasca por volta das 17h45 (02h45 de sábado em Brasília).
A BBC não recebeu um cronograma oficial da delegação russa.
O objetivo da reunião
Trump vem tentando — sem muito sucesso — encerrar a guerra na Ucrânia. Durante a campanha presidencial, prometeu que poderia acabar com o conflito em até 24 horas após assumir o cargo. Ele também afirmou repetidas vezes que a guerra "nunca teria acontecido" se fosse presidente em 2022, quando a Rússia invadiu o país vizinho.
No mês passado, Trump disse à BBC estar "decepcionado" com Putin. Frustrado, estabeleceu um prazo até 8 de agosto para que o líder russo aceitasse um cessar-fogo imediato ou enfrentasse sanções mais duras dos EUA. Com o prazo expirado, anunciou que se encontraria pessoalmente com Putin em 15 de agosto.
A reunião ocorre após o enviado especial dos EUA, Steve Witkoff, ter realizado conversas "altamente produtivas" com Putin em Moscou na última quarta-feira, segundo Trump.
Antes do encontro, a Casa Branca procurou reduzir as expectativas de que o diálogo pudesse resultar em um cessar-fogo. A secretária de imprensa Karoline Leavitt descreveu o encontro como um "exercício de escuta".
Em entrevista à Fox News Radio na quinta-feira, Trump avaliou que havia "25% de chance de o encontro não ser bem-sucedido".
O secretário de Estado americano, Marco Rubio, afirmou que Trump entraria na reunião com o objetivo de alcançar um acordo de cessar-fogo, mas reconheceu que um tratado de paz mais amplo exigirá tempo.
"Para chegar à paz, acho que todos reconhecemos que será preciso conversar sobre garantias de segurança, sobre disputas e reivindicações territoriais, e sobre o que está em disputa", disse Rubio a repórteres.

Tanto a Rússia quanto a Ucrânia afirmam há muito tempo querer o fim da guerra, mas os objetivos de cada lado colidem diretamente.
Na segunda-feira, Donald Trump disse que pretende "recuperar parte do território [ocupado pela Rússia] para a Ucrânia", mas alertou que pode ser necessário "trocar ou ajustar áreas de terra". Kiev, porém, rejeita categoricamente qualquer cessão de território, incluindo a Crimeia, anexada pela Rússia em 2014.
Nesta semana, o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky rechaçou a ideia de "trocas" territoriais:
"Não vamos recompensar a Rússia pelo que ela cometeu", declarou.
Já Vladimir Putin não abriu mão de suas exigências sobre o controle de regiões ocupadas, a neutralidade da Ucrânia e a limitação do tamanho de seu exército.
Segundo analistas, a invasão em grande escala lançada pela Rússia em 2022 foi motivada, em parte, pela percepção de Putin de que a Otan usava a Ucrânia como base para aproximar tropas das fronteiras russas. Para a especialista Tatyana Stanovaya, o "objetivo central" do líder russo é garantir a "neutralização geopolítica" da Ucrânia.
"É extremamente difícil transmitir o que está realmente em jogo… as pessoas muitas vezes não aceitam que Putin possa querer tanto — e que fale sério sobre isso. Infelizmente, ele quer", afirmou.

O que disse Zelensky sobre o encontro
Trump sugeriu que uma nova reunião poderia ser organizada — desta vez com a presença de Zelensky — caso o encontro de hoje seja "bom".
Embora ainda não tenha se pronunciado nesta sexta-feira, o líder ucraniano se reuniu nos últimos dias com líderes europeus, incluindo uma videoconferência da qual Trump participou na quarta-feira.
Quando Trump confirmou os detalhes da reunião com Putin, Zelensky afirmou, em um pronunciamento em vídeo, que decisões sobre a Ucrânia sem a participação do país são "decisões natimortas" e "inviáveis".
"O presidente Trump anunciou preparativos para sua reunião com Putin no Alasca. Muito longe desta guerra, que continua em nossa terra, contra nosso povo, e que, de qualquer forma, não pode ser encerrada sem nós, sem a Ucrânia", declarou.
Após a videoconferência com líderes europeus — da qual Trump também participou —, Zelensky reforçou que "o caminho para a paz não pode ser definido sem a Ucrânia". Ele agradeceu ainda a Trump pelo apoio ao país, acrescentando que os Estados Unidos estão dispostos a mantê-lo.
Por que o encontro é no Alasca
O Alasca foi comprado pelos EUA da Rússia em 1867, o que dá um peso histórico à reunião. O território se tornou Estado americano em 1959.
O assessor presidencial russo Yuri Ushakov destacou que os dois países são vizinhos, separados apenas pelo Estreito de Bering.
"Parece bastante lógico para a nossa delegação simplesmente voar sobre o Estreito de Bering e que um encontro tão importante e aguardado entre os líderes dos dois países seja realizado no Alasca", afirmou.
A última vez que o Estado foi palco de um evento diplomático relevante foi em março de 2021, quando a equipe recém-nomeada de diplomacia e segurança nacional de Joe Biden se reuniu com representantes da China em Anchorage. O encontro foi marcado por tensões, com acusações chinesas de "condescendência e hipocrisia" por parte dos americanos.
Na cidade, poucos sinais indicam a realização da reunião de alto risco, além da presença de equipes de imprensa internacionais. Jornalistas dividem espaço com turistas vindos dos "48 Estados inferiores" que visitam a natureza selvagem do Alasca durante a alta temporada.
O que dizem moradores do Alasca?
O encontro divide opiniões no estado que já pertenceu à Rússia. Na cidade de Anchorage, dezenas de pessoas se reuniram às margens da estrada para protestar contra a presença do líder russo, agitando bandeiras da Ucrânia e cartazes com frases como "criminoso de guerra".
A ucraniana Hanna Correa, que vive no Alasca desde 2019, diz ter se emocionado ao ver tantos americanos apoiando o seu país. "Putin deveria estar preso, e ele simplesmente vem ao Alasca assim", afirmou.

Entre os manifestantes também estava o veterano do Exército Christopher Kelliher, morador local. Para ele, a reunião é "nojenta" e mostra que o presidente americano estaria "se curvando" a Putin.
Nem todos, porém, veem o encontro de forma negativa. Pescadores como Don Cressley, que viajou da cidade de North Pole, também no Alasca, para Anchorage, defendem a conversa entre os líderes como uma chance de encerrar a guerra. Ele elogiou Trump por "fazer um trabalho incrível" nas negociações de cessar-fogo.
A presença russa também é sentida na rotina militar da região: aviões de guerra de Moscou são frequentemente detectados próximos à costa do Alasca, o que alimenta a preocupação de alguns moradores com a segurança do Estado.
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