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quinta-feira, 14 de agosto de 2025

epidemia cognitiva


 Vivemos uma epidemia cognitiva. Não é transmitida por vírus, mas pela passividade mental. A cada scroll no celular, a cada curtida automática, treinamos o cérebro para seguir a massa sem questionar. O resultado? Um declínio cognitivo coletivo, onde a falta de senso crítico vira norma e o pensamento independente se torna quase exótico.


E aqui vai a verdade incômoda: eu mesmo já me peguei diversas vezes seguindo a manada… sem nem saber por quê. Talvez porque é confortável. Gostosinho. Evita conflitos. Mas é nesse conforto que a gente se anestesia.

Nunca tivemos tanto acesso à informação e, paradoxalmente, nunca fomos tão superficiais. Segundo a UNESCO (2023), apenas 13% dos jovens brasileiros conseguem interpretar textos longos com análise crítica. O relatório do Pisa 2022 mostra uma queda de mais de 20 pontos em leitura nos últimos 10 anos. E a Microsoft (2019) revelou que a capacidade média de atenção humana caiu para 8 segundos, menos que a de um peixe dourado.

Sherry Turkle, em Reclaiming Conversation, explica que a avalanche de estímulos digitais está corroendo nossa habilidade de refletir. Daniel Kahneman, no clássico Rápido e Devagar, mostra como o “Sistema 1” (rápido e intuitivo) domina, evitando o esforço do “Sistema 2” (lento e analítico). É o efeito manada operando em alta velocidade — alimentado por algoritmos que reforçam o que já pensamos, sem espaço para o contraditório.

A juventude, moldada pelas redes sociais, está mais exposta a narrativas prontas e menos disposta a fazer perguntas incômodas. Byung-Chul Han, em Sociedade do Cansaço, alerta que não é falta de inteligência, mas um esgotamento mental crônico que sufoca a capacidade de pensamento crítico.

George Orwell já havia previsto, em 1984: “A massa manter-se-á dócil, desde que não tenha consciência”. Hoje, a consciência é terceirizada para influenciadores, algoritmos e manchetes rápidas.

Para combater essa epidemia cognitiva, não basta colocar mais tecnologia nas escolas. É preciso ensinar, desde cedo, a fazer a pergunta fundamental: “Por que acredito nisso?”. Sem esse treino, seremos consumidores dóceis, repetidores de ideias alheias — achando que pensamos por conta própria.

Ou despertamos agora… ou continuaremos, felizes e distraídos, confortavelmente anestesiados, rumo à obediência absoluta.

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