Algumas (várias) pessoas do campo filantrópico têm me perguntado por que mergulhei na temática da IA nos últimos anos. “Logo você, que sempre teve um viés crítico…”, escutei dias atrás, num tom quase de desapontamento, como se eu tivesse vendido a alma ao diabo (ou ao sistema, ou às big techs, tudo junto e misturado). Como se eu não tivesse noção do que está em disputa.
Minha resposta é o sublide desse artigo que acaba de sair na edição especial da Stanford Social Innovation Review Brasil, e que corredigi a convite e em coautoria com a querida Celia Cruz:
"Pela nossa experiência no campo social, sabemos que novas tecnologias – como foi com a internet, os dados em nuvem [...] – quase nunca chegam acompanhadas de tempo ou opção. A IA não será diferente. A pergunta não é se vamos usá-la ou não, mas como, com quais valores e para quê. O ideal seria ter escolha plena sobre os rumos dessa transição, mas isso é cada vez mais utópico. O momento de agir é agora."
Quem me conhece sabe: eu apertaria sem dó o botão “off” das redes sociais, tamanhas as externalidades negativas a que nos conduzimos e fomos conduzidos com elas. O ideal seria sempre ter escolha plena. Mas quando (e pra quem) o ideal encontra chão no real?
Por isso se, por um lado, do alto de privilégios, posso estudar, filosofar, problematizar (essenciais, ainda mais num campo tão disputado como o nosso), por outro, estou cada vez mais nos territórios, em trocas com comunidades e pessoas que enfrentam injustiças sociais cotidianas. Reais. E é nesse lugar esquisito do “entre” que me vejo premido pela urgência de quem não pode esperar. De quem não tem o tempo, ou a possibilidade, de suspender a vida para apenas teorizar - ainda que suas próprias experiências sejam, em si, profundamente reflexivas. É desse lugar que sinto ainda mais responsabilidade de contribuir para que a IA seja ferramenta de justiça social, e não mais um motor de desigualdade.
Há muito em jogo para não nos apropriarmos do que vem por aí e, como sociedade civil, incidirmos nesse debate. Não será uma marolinha.
E que bom ver nosso texto em sintonia com alguém que admiro, a Lilia Schwartz, que ontem, no Seminário de IA da Fundação Itaú, praticamente resumiu nossa tese: “A gente tá vivendo uma espécie de trator que é impossível de negar. Um trator que tá passando por cima de tudo. O momento pede calma, mas ao mesmo tempo [...] é preciso, diante das novidades, antecipação. Diante das novidades, regulação. Regulação pensando em ética, regulação pensando em segurança, regulação pensando em responsabilidade.”
Fica o convite para lerem não só o nosso texto – que traz dilemas do campo social e algumas propostas – mas também as demais contribuições, todas belamente editadas pela Ana Claudia Ferrari e ilustradas por Kelly Boesch: há um campo inteiro de conhecimento crítico sendo generosamente compartilhado por algumas das maiores pessoas especialistas no tema no Brasil.
Pega a visão aqui: https://lnkd.in/dD-2UBkM
Ative para ver a imagem maior.
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