SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

Bolsonaristas aceitamos o pedido de desculpas por tentar destruir o Brasil e matar nosso povo !

Eduardo Bolsonaro muda tom e elogia "conversa" entre Lula e Trump

Deputado, que chegou a comemorar a imposição de sanções à economia brasileira, defendeu avanços nas relações bilaterais entre os dois países

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Mais cedo, Donald Trump elogiou o presidente Lula após ligação. "Gosto muito dele", afirma - (crédito: Arquivo pessoal)

Eduardo Bolsonaro publicou no X, nesta terça-feira (2/12), que recebe com otimismo a notícia sobre a ligação entre o presidente dos Estados Unidos Donald Trump e o presidente Lula. 

Mas outras mafias serão desvendadas que atuaram no Governo Bolsonaro em Instituições publicas. https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2025/12/7305375-eduardo-bolsonaro-muda-tom-e-elogia-conversa-entre-lula-e-trump.html 

terça-feira, 2 de dezembro de 2025

Palau, o micropaís próximo a Taiwan que sofre as consequências da tensão entre China e EUA

 

Os EUA planejam modernizar o porto de Malakal, principal porto de Palau, para permitir a entrada de embarcações militares maiores, como parte da ampliação da presença militar americana no país do Pacífico
Legenda da foto,Malakal Harbour, Palau's main port
    • Author,Shawn Yuan
    • Role,Global China Unit, in Palau

O ar que paira sobre as águas cristalinas de Palau cheira a sal e fruta-pão. Em manhãs calmas em Koror, centro comercial do arquipélago, o ronco dos motores das embarcações de mergulho ecoa pela baía.

Há alguns anos, essas embarcações transportavam turistas — muitos da China — atraídos pelas lagoas e cavernas de calcário de Palau. Os hotéis estavam lotados, os restaurantes movimentados e os pescadores mal atendiam à demanda. Mas esse cenário mudou.

O boom — e o colapso brusco — não foi acidental. Entre 2015 e 2017, os turistas chineses representavam cerca de metade das visitas ao país. Em 2017, porém, Pequim teria ordenado que operadores turísticos deixassem de vender pacotes para Palau, cortando a principal fonte de visitantes das ilhas à época.

"Comprei novas embarcações para atender ao aumento repentino de turistas", disse um dono de loja de mergulho em Koror. Mas, após o pico do turismo, afirmou ele, esses barcos ficaram "parados na baía", e ele levou anos para recuperar apenas o dinheiro investido.

Para as autoridades de Palau, a mensagem era clara. Segundo elas, a China usou seu vasto mercado de turismo internacional como parte de uma campanha para afastar Palau do reconhecimento de Taiwan e aproximar o país de Pequim.

A BBC procurou o Ministério das Relações Exteriores da China para comentar o assunto, mas não recebeu resposta. A China, porém, já negou diversas vezes usar o turismo como instrumento político.

Palau é um dos poucos países que ainda reconhecem Taiwan como Estado soberano. Esse reconhecimento desafia um dos pilares da política externa chinesa, o "princípio de uma só China", no qual Pequim reivindica soberania sobre Taiwan.

Mas a disputa não é apenas diplomática.

A localização de Palau torna o arquipélago um alvo estratégico para as grandes potências. Ele integra a chamada "Second Island Chain" (segunda cadeia de ilhas, em tradução livre), conjunto de postos avançados que os Estados Unidos consideram crucial para conter a expansão militar da China e responder a eventuais agressões na região ocidental do Pacífico.

Mapa de localização de Palau, situado na chamada “Second Island Chain” (Segunda cadeia de ilhas, em tradução livre), um conjunto de ilhas no Pacífico ocidental que os Estados Unidos consideram vital para conter a expansão da marinha chinesa na região

Palau e os EUA mantêm uma parceria antiga: antes de sua independência, em 1994, Palau era território administrado pelos EUA.

Pelo acordo conhecido como Acordo de Livre Associação, Palau concede aos americanos acesso militar exclusivo em troca de ajuda do governo americano, que inclui o direito de cidadãos de Palau viverem e trabalharem livremente nos EUA.

Com base nesse acordo, os EUA ampliam agora a sua presença militar no arquipélago.

A disputa geopolítica entre China, Taiwan e EUA já afeta o cotidiano do pequeno país, que tem menos de 20 mil habitantes.

"Não importa o que façamos, Palau vai ser o centro de qualquer atividade militar por causa da nossa localização", disse à BBC o presidente do Palau, Surangel Whipps Jr.

O presidente de Palau, Surangel Whipps Jr., afirma que a China está usando o turismo como ferramenta política para pressionar o país a romper relações com Taiwan
Legenda da foto,O presidente de Palau, Surangel Whipps Jr., afirma que a China está usando o turismo como ferramenta política para pressionar o país a romper relações com Taiwan

Um prêmio no Pacífico

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A relação de Palau com Taiwan é profunda.

Quando Palau se tornou independente, em 1994, Taiwan agiu rápido para garantir um aliado diplomático, afirmou Cheng-Cheng Li, professor assistente da National Dong Hwa University, em Hualien (Taiwan) que pesquisou profundamente as relações entre os dois países.

A ajuda taiwanesa foi prática: especialistas agrícolas trabalhando lado a lado com os locais, equipes médicas atuam em pequenas clínicas, há financiamento para empreendedores locais e bolsas de estudo para estudantes do Palau em Taiwan.

Em um país de população pequena, onde o serviço comunitário tem papel central, autoridades de Palau descrevem Taiwan como "parceiro confiável" e "amigo leal".

A embaixadora de Taiwan em Palau, Jessica Lee, disse à BBC que líderes locais asseguraram que a relação é "sólida como uma rocha até que a morte nos separe".

Ainda assim, Taiwan tem motivos para se preocupar. Nos últimos anos, a China afastou vários dos antigos aliados de Taiwan. Só na região do Pacífico, Ilhas Salomão, Kiribati e Nauru romperam laços diplomáticos com Taiwan e se aproximaram da China desde 2019.

O governo chinês vê a ilha governada democraticamente de Taiwan como uma província rebelde que, eventualmente, fará parte do país, e não descarta o uso da força para isso.

Segundo os analistas, controlar Taiwan é essencial para o objetivo do líder chinês, Xi Jinping, de reverter o que ele chamou de "século de humilhação" da China pelas potências coloniais, segundo analistas.

O “One Stop Shop”, prédio do governo doado por Taiwan, abriga diversos órgãos governamentais, incluindo o gabinete do presidente.
Legenda da foto,"One Stop Shop" ("Atendimento integrado", em tradução livre), prédio do governo em Palau, doado por Taiwan

"Tanto os EUA quanto Taiwan estão paranoicos e tensos com a possibilidade de Palau mudar de lado", disse Graeme Smith, pesquisador sênior da Australian National University. "Eles vão investir muitos recursos para evitar que isso aconteça."

As autoridades de Palau e Taiwan afirmam que o governo chinês acionou vários mecanismos para influenciar a posição diplomática do arquipélago.

Após assumir o cargo, em 2021, o presidente do Palau afirmou publicamente que a China ofereceu "um milhão" de turistas em troca de mudanças na política do país. Ele recusou.

Em 2024, o ministério das Relações Exteriores da China emitiu um alerta de segurança, e aconselhou cidadãos chineses a "ter cautela" ao viajar para o Palau.

"Se a China usa o turismo como arma, então é um mercado instável do qual não devemos depender", disse à BBC o presidente de Palau. "Se a China quer ter relação com Palau, pode ter, mas não pode nos dizer que não podemos ter relação com Taiwan."

A China negou usar o turismo como instrumento político.

Em um artigo de opinião publicado no ano passado no People's Daily, órgão oficial do Partido Comunista da China, o jornal afirmou que a intenção da China ao emitir o alerta era proteger os seus cidadãos no exterior diante do "crescente número de casos de segurança pública em Palau".

Disse ainda que as acusações do presidente eram uma tentativa de difamar a China e interferir em assuntos internos.

Quando questionado em 2017 sobre a proibição de grupos de turistas, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China afirmou "não ter ouvido falar da situação".

Mas em 2024, ao responder sobre o reconhecimento contínuo de Taiwan por Palau, o ministério instou o país a "tomar as decisões corretas que estejam de acordo com seus próprios interesses".

Embora a China não tenha comentado a suposta oferta de um milhão de turistas, nem todos concordam com a avaliação do presidente Whipps Jr. Muitos moradores ouvidos pela BBC não compartilham a visão de que o turismo foi usado como arma.

"Ele é muito duro com a China", disse Pai Lee, dono taiwanês de um hotel em Koror. "Não acho correto dizer que a China 'armou' o turismo, eles estão apenas usando isso como moeda de troca, como no xadrez. Países fazem isso o tempo todo."

Em todo o caso, os efeitos da oscilação repentina no fluxo turístico seguem visíveis.

O choque econômico após a suspensão dos grupos de viagem foi intenso, mas o impacto ambiental do aumento súbito de visitantes também foi. Segundo organizações de proteção ambiental, Palau não estava preparada para o turismo de massa.

"Depois do fim da explosão do turismo chinês, fui até lá e os corais estavam mortos", disse Ann Singeo, diretora da Ebiil Society, uma ONG local.

"Você via [centenas de] pessoas naquela pequena enseada, todas pisando nos corais. Esse foi o preço que pagamos por não ter regras para usar esses recursos de forma respeitosa."

Palau apresenta uma paisagem deslumbrante, com alguns dos recifes de coral mais bem preservados ao longo de sua costa
Legenda da foto,Imagem aérea das Rock Islands, em Koror, Palau

O turismo é só uma parte da suposta estratégia da China. Pequim também tenta estreitar relações com líderes locais: as autoridades de Palau afirmam ter sido convidadas repetidas vezes para visitas à capital chinesa.

Em uma dessas visitas, um ex-governante de Palau disse ter perguntado por que Taiwan não poderia se tornar independente.

"Taiwan faz parte da China", respondeu um funcionário do Partido Comunista Chinês, visivelmente irritado.

O fator americano

Com a intensificação das atividades militares da China em torno de Taiwan, incluindo patrulhas aéreas e marítimas, os EUA afirmaram que a China está preparando seus militares para serem capazes de invadir a ilha.

Para conter a possível agressão da China contra Taiwan e monitorar as atividades militares no Pacífico Ocidental, os EUA ampliam sua infraestrutura militar em Palau.

Ao longo dos anos, os EUA vêm modernizando as pistas de pouso, construindo o sistema de radar tático multimissão de longo alcance (Tacmor, na sigla em inglês) usado para monitorar as atividades militares no Pacífico, e a planeja expandir o porto de Malakal, principal porto de Palau, para receber maiores embarcações militares.

Os EUA vêm construindo em Palau um sistema de radares de longo alcance para monitorar atividades militares em todo o Pacífico ocidental
Legenda da foto,Área limpa para a construção do sistema de radares Tacmor em Angaur, Palau

Porém, os EUA manifestam preocupação com uma vulnerabilidade específica: a aquisição de terras.

Documentos obtidos pela BBC mostram que várias empresas chinesas arrendaram terrenos e construíram propriedades próximas a essas instalações, desde áreas não desenvolvidas até hotéis com vista para o porto e para o aeroporto principal de Palau.

Em Angaur, estado ao sul do arquipélago, os EUA constroem atualmente o local receptor do Tacmor, segundo um plano anunciado em 2017. Entretanto, em 2019 e 2020, investidores chineses arrendaram mais de 350 mil metros quadrados de terra após o anúncio da construção do radar.

Zhuang Cizhong, um desses investidores, propôs a construção de um resort.

"Fomos visitar a empresa dele na China, e ele apresentou um plano para uma casa de repouso para chineses ricos", disse Marvin Ngirutang, ex-governador de Angaur, que acredita que o governo de Palau deveria trabalhar mais de perto com a China. "Havia folhetos com plantas — parecia legítimo."

O projeto nunca saiu do papel. Zhuang atribuiu a paralisação à covid-19, mas o governo americano segue em alerta. O embaixador dos EUA em Palau não pôde ser contatado pela BBC, mas já expressou preocupações anteriormente.

"Em toda a região há vários terrenos agora arrendados a interesses chineses", disse o embaixador Joel Ehrendreich à agência de notícias Reuters. "Não creio que seja coincidência que fiquem fisicamente próximos aos nossos projetos."

Empresas chinesas arrendaram terrenos próximos a instalações militares dos EUA, despertando preocupação em Washington sobre o objetivo desses arrendamentos. Este mapa mostra as áreas arrendadas a cidadãos chineses na ilha de Angaur
Legenda da foto,Documentos obtidos pela BBC mostram que várias empresas chinesas arrendaram terrenos e construíram propriedades próximas a essas instalações

Preocupações semelhantes existem localmente.

"O receio é que esses investimentos ou arrendamentos não sejam negócios legítimos", disse Jennifer Anson, conselheira de segurança nacional de Palau. "Pode parecer assim externamente, mas, se a China invadir Taiwan, eles poderiam ser transformados em instalações militares."

Por outro lado, reportagens da mídia chinesa indicam que havia motivos legítimos para incentivar investimentos em Palau. Em 2019, a Phoenix News, emissora ligada ao Estado, destacou as vantagens de adquirir propriedades no país, citando os recursos turísticos abundantes e a legislação flexível.

A BBC não conseguiu contato com Zhuang. O Ministério das Relações Exteriores da China não respondeu a pedidos de comentário sobre os arrendamentos de terras.

À sombra de um vazio diplomático

O crime organizado vinculado à China também se proliferou desde 2018, segundo autoridades de Palau. O presidente afirmou que há uma "batalha constante" e apontou crimes relacionados à China, incluindo golpes, cassinos ilegais e ataques cibernéticos.

Alguns oficiais afirmam que criminosos exploram a ausência de relações diplomáticas entre China e Palau.

Wan Kuok Koi, conhecido como "Broken Tooth" ("Dente Quebrado", em tradução livre), líder da infame tríade 14k, com base em Macau, entrou em Palau como investidor estrangeiro em 2018. Posteriormente, o grupo criminoso envolveu-se em suborno, corrupção e jogos de azar online em países, incluindo Palau.

Além disso, em 2025, o Tesouro dos EUA sancionou várias pessoas em Palau por vínculos com o Prince Group, conglomerado chinês acusado de golpes, lavagem de dinheiro e tráfico humano em larga escala, entre outros crimes.

O Prince Group não respondeu à solicitação de comentário da BBC, mas havia negado "categoricamente" qualquer envolvimento em "atividades ilícitas", segundo nota divulgada após as sanções dos EUA.

Muitos desses indivíduos foram incluídos na "lista de estrangeiros indesejáveis" de Palau. Segundo Jennifer Anson, do escritório de segurança nacional, eles contam com a incapacidade da China de rastreá-los devido à ausência de relações diplomáticas.

"Quando você pesquisa sites da diáspora chinesa no Camboja, onde às vezes se debate a conveniência de se mudar para Palau, os criminosos são atraídos pela falta de presença diplomática da República Popular da China lá", disse Smith, da Australian National University.

Peão das potências

Para muitos palauanos, a disputa geopolítica de alto nível parece distante, mas seus efeitos estão por toda parte. A expansão militar dos EUA, os investimentos chineses e rumores sobre agendas ocultas alimentam um crescente sentimento de apreensão.

"Esta administração é muito dura com a China, e acho isso ridículo", disse o ex-governador de Angaur, contrário à construção do sistema de radares Tacmor. "Devemos nos concentrar no meio ambiente e menos nas relações China-EUA."

Uma petição que circula nos últimos meses pede que os EUA detalhem seus planos de contingência em caso de guerra, sinal de como a ansiedade é profunda. O documento solicita que os EUA "tranquilizem o povo de Palau" sobre a proteção de civis caso um conflito estoure.

"Sabemos como é a geopolítica entre China e EUA", disse um morador. "E temos medo de que nossa ilha seja destruída por uma guerra da qual não queremos fazer parte."

A corrida contra o tempo para descobrir espécies da Amazônia antes que desapareçam

 

Mico em tronco de árvore

Crédito,Acervo pessoal

Legenda da foto,Primeira espécie descoberta por Rodrigo Costa Araújo, o Mico munduruku
    • Author,Ramana Rech
    • Role,De São Paulo para a BBC News Brasil

Quando o biólogo Rodrigo Costa Araújo, especialista em primatas, decidiu fazer seu doutorado, ele voltou os olhos para os saguis no Arco do Desmatamento na Amazônia, região de 500 mil km² que vai do Maranhão até o Pará e engloba também os estados de Mato Grosso, Rondônia e Acre e que tem um dos maiores índices de destruição da floresta.

Araújo se embrenhou nas matas para tentar preencher as lacunas de conhecimento sobre espécies de saguis e impulsionado pela urgência de se conhecer o máximo possível sobre esses primatas para tentar impedir que a floresta Amazônica sofra a mesma deterioração que a Mata Atlântica, o bioma mais devastado do Brasil, com apenas um quarto de sua área original.

"Essa é a informação mais básica que a gente precisa para conservar a biodiversidade", diz Araújo, que, nos últimos 15 anos, vem tentando entender quantas espécies de macacos existem, quais são e onde estão.

Essa tem sido uma preocupação de outros pesquisadores, que esbarram nesta missão empecilhos como profissionais e recursos suficientes para fazer as expedições para explorar a imensidão da Amazônia, a maior floresta tropical do mundo.

Enquanto isso, a floresta já perdeu 17% de suas áreas de vegetação nativa, segundo o MapBiomas. A resistência a incêndios florestais da Amazônia parece estar diminuindo em certas regiões.

Alguns cientistas receiam que o desmatamento e as mudanças climáticas estejam aproximando o bioma esteja de seu "ponto de não retorno", do qual a floresta não conseguirá se recuperar.

A pesquisa de doutorado de Araújo, concluída há cinco anos, revelou ao mundo duas espécies de saguis, que entraram imediatamente para a lista de espécies ameaçadas de extinção da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).

No trabalho, o primatologista também fez um banco de dados de 99% das espécies de sagui a partir de análise do DNA.

Ele também criou um banco de dados das espécies de sagui do sul da Amazônia com informações sobre a distribuição geográfica e as características físicas dos animais.

Uma terceira espécie de macaco, habitante do Arco do Desmatamento ao norte do Mato Grosso, foi descrita por Araújo, bem como por outros pesquisadores em artigo publicado em 2018, e entrou para a lista da IUCN com grau máximo de risco de extinção.

Plecturocebus grovesi está entre as 25 espécies de primatas mais ameaçadas do mundo, segundo a organização.

Em 11 de novembro, o primatologista voltou a mergulhar na Amazônia em uma expedição de 40 dias em busca de possíveis novas espécies que viu enquanto trabalhava em seu doutorado.

Celeiro de biodiversidade

Ana sorrindo ao caminhar em área com arbustos; há outras pessoas caminhando atrás dela

Crédito,Acervo pessoal

Legenda da foto,Ana Prudente em expedição científica nas cangas de Carajás, na floresta amazônica
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Um estudo publicado em 2021 na revista Nature destacou que 10,4% das descobertas em potencial de novas espécies de vertebrados terrestres estão no Brasil, a maior porcentagem entre os países analisados.

Desses percentual do Brasil, 53% estão nas florestas tropicais úmidas, como a Amazônia e Mata Atlântica, diz o autor do estudo, Mario Moura, professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

Para chegar a essas conclusões, ele construiu um modelo estatístico para estimar a probabilidade de descoberta de novos vertebrados a partir de características tanto das espécies como das regiões onde ocorrem.

Foram analisadas quase 33 mil espécies para revelar o padrão emergente, isso é, para identificar os tipos de espécies e regiões onde as descobertas de novas espécies são mais prováveis.

Com isso, o pesquisador calculou a probabilidade que cada espécie teria de ser descrita e, em seguida, fez a média dessa probabilidade de acordo com a área em que a espécie ocorre.

A porcentagem que resultou desse cálculo representa a estimativa de espécies descobertas na região. A partir disso, é possível saber também as que ainda não foram descobertas.

No Brasil, estima-se que a maior parte (48%) das espécies a serem descritas são de répteis, seguido por anfíbios (27%), mamíferos (20%) e aves (5%). Moura explica que animais pequenos e restritos a poucas localidades são mais difíceis de serem descobertos.

O menor apelo popular dos répteis e anfíbios também influenciou no número de descobertas feitas até hoje, por isso o potencial de novas espécies entre esses animais é maior.

Moura nota que há um movimento para descrever novas espécies por parte dos pesquisadores, porém eles estão pulverizados. Falta uma integração nacional ou mesmo internacional dos esforços para desvendar as espécies desconhecidas dos países de alta biodiversidade da Amazônia, diz o pesquisador.

No Brasil, ele aponta como agravante a mudança do nível de incentivo a esse tipo de trabalho conforme mudam os governos, que podem estar mais ou menos interessados na preservação ambiental, porque isso afeta a oferta de recorrentes e a manutenção de programas de longo prazo.

Um estudo publicado na revista Conservation Biology em 2014 aponta o prejuízo que isso pode causa.

A pesquisa estimou que de 15% a 59% dos vertebrados, a depender do grupo a que os animais pertencem e da região habitada, desapareceram antes mesmo de serem descritas.

A professora Ana Prudente, do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), é especialista em taxonomia de répteis e explica que diversos fatores contribuem para que a Amazônia tenha tantas espécies ainda a serem descobertas.

Um deles é dificuldade para alcançar regiões de difícil acesso, o que torna necessário o uso de barco ou helicópteros.

Há também a grande extensão da floresta em comparação com poucos taxonomistas que vivem e trabalham ali, o que contribui para o número limitado de expedições.

A Amazônia, por sua vez, conta com diferentes ambientes, alguns deles não existem em outra parte do mundo. Isso favorece a biodiversidade e o endemismo, ou seja, espécies que acontecem apenas naquele local.

Ao longo de sua carreira, Prudente já descreveu 31 espécies de cobra e relata que, em seu trabalho, o atual ritmo de extinção das espécies é uma preocupação constante.

Para acelerar o ritmo de descoberta de espécies, diz ela, é preciso gente, especialmente para fazer uma ciência colaborativa para potencializar a produção e o compartilhamento de conhecimento.

Prudente coordena o grupo de pesquisa Sistemática, Biogeografia e Evolução de Répteis e Anfíbios Neotropicais e conta com o apoio de estudantes para fazer a descrição das espécies e de pesquisadores de outras instituições. Mas falta outro professor no museu que também trabalhe com descrição de cobras e lagartos, diz a pesquisadora.

"Ter outro pesquisador trabalhando com a descrição de cobras, lagartos e sapos, seria fundamental para que eu possa me aposentar tranquilamente e saber que tudo que fiz terá continuação", diz.

Rodrigo em pé, sorrindo, em frente a aparentemente uma lagoa ou rio

Crédito,Acervo pessoal

Legenda da foto,Rodrigo Costa Araújo durante expedição para seu doutorado

Ainda que cada vez mais mestres e doutores em biologia se formem no Norte do país, a região não consegue absorver essa mão de obra, dizem pesquisadores ouvidos pela reportagem.

Rodrigo Costa Araújo diz que foi um dos exemplos desse problema. "Eu tive que sair do Brasil durante o governo Bolsonaro, porque simplesmente não tinha trabalho para mim aqui", relata.

Ele se mudou para a Alemanha, onde passou os últimos três anos. "Agora retornei com a mudança na perspectiva governamental e a volta dos dos investimentos na ciência", conta o primatologista.

Políticas para descobrir a biodiversidade

A descoberta de uma espécie exige uma série de políticas públicas para sua preservação, como a criação de unidades de conservação, diz Araújo. O setor privado também precisa levar em consideração o impacto sobre os seres vivos de grandes empreendimentos de mineração, hidrelétricas e sistemas de transmissão de energia elétrica.

A descoberta de espécies com a consequente criação de medidas para conservá-las foi, aliás, um dos motivos para a redução da taxa de extinção de alguns grupos de plantas e animais nos últimos cem anos. O estudo feito pela Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, mostra que taxas de extinção aumentaram nos últimos 500 anos, mas há 100 anos tiveram seu pico.

Na Amazônia, a destruição pode chegar muito mais rápido do que o conhecimento dessas espécies. De acordo com Araújo, enquanto a ciência e a conservação caminham lentamente, a exploração econômica já se expandiu para diversos lugares.

"Enquanto estou querendo chegar a um lugar que para a ciência é desconhecido, os madeireiros, a mineração já chegou lá", diz Araújo.

Levantamento do MapBiomas indica que, nos últimos 40 anos, a Amazônia perdeu 52 milhões de hectares, o equivalente a 13% de sua área total. A expansão das zonas modificadas pelo ser humano é recente, 83% delas surgiram entre 1985 e 2024.

Mas, para Araújo, há outra razão que justifica o esforço para descoberta de novas espécies, o desejo de desvendar o que existe no planeta.

"A curiosidade de fazer de descoberta, de descobrir uma coisa nova, de trazer isso para as pessoas, isso são coisas que me movem também. Acho que movem todos os cientistas", diz o primatologista.

Em 1998 surgiu a Iniciativa Global de Taxonomia (GTI) durante a COP4, que aconteceu em Buenos Aires, na Argentina. A iniciativa foi uma resposta para a capacidade insuficiente de descobrir espécies, em especial, em países em desenvolvimento.

Durante a COP4 um dos principais pontos foi a criação do Plano de Ação de Buenos Aires que tinha o objetivo de fixar mecanismos para implementação do Protocolo de Kyoto, aprovado na conferência do ano anterior com o objetivo de reduzir emissões de gases do efeito estufa.

Neste ano, ficou ao encargo da COP definir o Objetivo Global de Adaptação, que pretende estabelecer metas claras para verificar como os países têm se adaptado às mudanças climáticas.

A falta de taxonomistas, cientistas que se dedicam a nomear, descrever e classificar organismos continua a ser um gargalo global na descoberta da biodiversidade, conforme editorial de 2024 publicado na revista Journal of Bioscience and Environment Research.

No Brasil, poucos editais estão destinados de forma específica à taxonomia, segundo Rodrigo Costa Araújo. Um deles é o Programa de Apoio a Projetos de Pesquisas para a Capacitação e Formação de Recursos Humanos em Taxonomia Biológica (Protax). Desde 2005, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) tem lançado o Protax a cada quatro ou cinco anos. A última edição, de 2024, contou com investimento de R$ 14 milhões.

No âmbito da Amazônia, a Iniciativa Amazônia +10 financiou em sua última chamada expedições científicas para aumentar o conhecimento sobre a sociobiodiversidade amazônica. A iniciativa, cujo edital foi divulgado pelo CNPq, selecionou 20 projetos para um orçamento total de R$ 78,2 milhões.

Novos métodos para descobrir espécies

Homem faz selfie, com outras pessoas posando para foto atrás, sorrindo, no meio da mata

Crédito,Acervo pessoal

Legenda da foto,Charles Zartman com equipe durante expedição de outubro a Cabeça do Cachorro

Um dos projetos selecionados pela Amazônia +10 foi coordenado pelo botânico Charles Zartman, professor do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). O objetivo é descrever o maior número de espécies de plantas e fungos na região da Cabeça do Cachorro no Alto Rio Negro, área caracterizada por ser um epicentro de biodiversidade.

A equipe pôde realizar duas expedições: uma em julho e outra em outubro deste ano. Apesar de se sentir grato pela oportunidade de realizar a expedição, Zartman lembra que ainda não é o suficiente para desvendar a biodiversidade da floresta.

Entre os parceiros do projeto, está a Universidade de Brasília (UnB), que colabora com um método de catalogação que pode acelerar a descoberta de novas espécies. Nele, os pesquisadores extraem e sequenciam o DNA a partir de uma pequena amostra dos organismos que possibilita criar um banco de dados de quais espécies existem em determinado local.

Caso, ao sequenciar um DNA, os pesquisadores verifiquem que o material ainda não está no banco de dados, isso significa uma nova espécie em potencial. Cabe, então, ao taxonomista procurar a espécie correspondente DNA para descrevê-la de modo formal, explica o professor Paulo Câmara, do Departamento de Botânica da UnB, que parte do projeto.

O método pode acelerar a descoberta de novas espécies ao dar uma visão mais ampla da biodiversidade e das áreas que ainda contam com muitos DNAs não identificados.

Por ser uma área isolada e território indígena, as plantas da região têm menor risco de extinção do que aquelas no epicentro do desmatamento. Mas Câmara diz que mesmo lá, espécies ainda correm o risco de desaparecer, já que as áreas também sofre certa pressão econômica.

"É por isso que a gente está usando esse método, porque como o desmatamento, o desaparecimento de espécies é muito rápido, a gente sabe que usar a taxonomia clássica não vai conseguir suprir", diz Câmara.