SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

domingo, 7 de dezembro de 2025

Escudo de proteção de Chernobyl 'perdeu função de segurança' após ataque com drone, diz ONU

 

Pessoas inspecionam os danos ao escudo de contenção de radiação do Reator 4 na usina nuclear de Chernobyl após um ataque de drone.

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Um drone atingiu a blindagem protetora ao redor do reator nuclear de Chernobyl em fevereiro deste ano
    • Author,Dearbail Jordan
    • Role,BBC News

Um escudo protetor que cobre o reator nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, não consegue mais desempenhar sua principal função de contenção após um ataque com drone realizado no início deste ano, de acordo com um órgão de vigilância da Organização das Nações Unidas (ONU).

Inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) constataram que a enorme estrutura, construída sobre o local do desastre nuclear de 1986, perdeu suas "funções primárias de segurança, incluindo a capacidade de confinamento".

Em fevereiro, a Ucrânia acusou a Rússia de atacar a usina nuclear — uma alegação que os russos negam.

A AIEA afirmou que reparos são "essenciais" para "impedir uma maior degradação" do abrigo nuclear.

No entanto, o especialista ambiental Jim Smith disse à BBC que não há "motivo para pânico".

Dano no escudo protetor de Chernobyl é preocupante?

O professor Jim Smith, da Universidade de Portsmouth, no Reino Unido, que estudou as consequências do desastre de Chernobyl, entende que o maior perigo associado ao local é a dispersão de poeira radioativa.

Mas ele disse que "esse risco é baixo" porque a poeira contaminada está contida dentro de um espesso "sarcófago" de concreto, que é coberto por um escudo protetor.

Em 1986, uma explosão em Chernobyl lançou material radioativo no ar, o que desencadeou uma emergência de saúde pública em toda a Europa.

Em resposta, a antiga União Soviética construiu o sarcófago de concreto sobre o reator nuclear.

O sarcófago tinha uma vida útil de apenas 30 anos, o que gerou a necessidade de recobri-lo com uma estrutura protetora.

O objetivo era evitar vazamentos de material radioativo pelos próximos 100 anos.

A AIEA informou que uma equipe concluiu uma avaliação de segurança do local na semana passada, após ele ter sido "severamente danificado" pelo ataque de drone em fevereiro.

O ataque causou um incêndio no revestimento externo da estrutura de aço.

Os inspetores disseram que não houve danos permanentes às estruturas de suporte de carga ou aos sistemas de monitoramento da usina e que alguns reparos já foram realizados no telhado.

Mas o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, complementou: "A restauração oportuna e abrangente continua sendo essencial para evitar maior degradação e garantir a segurança nuclear a longo prazo."

Desde o início de dezembro, a agência de vigilância nuclear da ONU avalia a infraestrutura energética da Ucrânia, enquanto o país continua a se defender da Rússia.

Durante a noite de sábado (6/12), a Rússia lançou ataques aéreos contra a cidade de Kremenchuk, um importante polo industrial no centro da Ucrânia.

Além de avaliar Chernobyl, a AIEA tem inspecionado subestações elétricas ligadas à segurança nuclear na Ucrânia.

"Elas são absolutamente indispensáveis ​​para fornecer a eletricidade que todas as usinas nucleares precisam para o resfriamento dos reatores e outros sistemas de segurança", explicou Grossi.

"Elas também são necessárias para distribuir a eletricidade que produzem para residências e indústrias", concluiu ele.

O padre que assumiu a tutela de 26 crianças com pais sob risco de deportação nos EUA

 

O padre Vidal Rivas e o diácono Francisco, na igreja de São Mateus de Hyattsville, em Maryland (Estados Unidos)

Crédito,Igreja Episcopal de São Mateus

Legenda da foto,O padre Vidal Rivas e o diácono Francisco, na Igreja Episcopal de São Mateus de Hyattsville, em Maryland (Estados Unidos)
    • Author,Leire Ventas
    • Role,Correspondente em Los Angeles (EUA), BBC News Mundo

Da noite para o dia, o padre Vidal Rivas poderá ficar encarregado de cuidar de um bebê de 12 meses ou de um adolescente de 17 anos, que precisaria acolher em sua casa, alimentar, vestir e criar até que ele termine o ensino médio.

Ele também poderá precisar se encarregar dos trâmites para que diversas crianças possam viajar para o país de origem dos seus pais e acompanhá-los até seu reencontro.

O carismático sacerdote, que comanda a Igreja Episcopal de São Mateus em Hyattsville, no Estado americano de Maryland, se comprometeu a assumir a tutela temporária de 26 menores, caso seus pais sejam deportados.

"É uma responsabilidade muito grande, que mudaria completamente a vida da minha família", reconhece ele à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC. "Minha esposa e eu temos consciência disso, sabemos o que isso significa."

Religiosos episcopais podem se casar segundo a tradição anglicana.

O presidente americano Donald Trump iniciou seu segundo mandato em janeiro, com a promessa de realizar "a maior deportação da história do país". E, desde então, muitos imigrantes sem documentos trataram de deixar tudo resolvido, caso sejam detidos e expulsos dos Estados Unidos.

Eles procuraram, no seu entorno mais próximo, pessoas de confiança, como o padre Rivas, para que cuidem dos seus filhos durante a sua ausência.

A imigrante hondurenha Sandra Sánchez acompanha sua filha Yanela, de 9 anos, em um complexo de apartamentos em lugar não especificado dos Estados Unidos, no dia 17 de novembro de 2025. Como muitos dos seus colegas imigrantes na escola, Yanela ficou em casa naquele dia, devido a uma operação da Patrulha Fronteiriça na região. Seus pais receavam ser detidos durante a batida. A mãe de Yanela a levou de Honduras para os Estados Unidos com dois anos de idade, cruzando o rio Bravo, do México até McAllen, no Texas, no dia 12 de junho de 2018. Elas ficaram detidas por várias semanas, até serem liberadas para prosseguir com seu processo de asilo junto ao tribunal de imigração dos Estados Unidos.

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Cada vez mais famílias sem documentos ou com status misto procuram tutores temporários para seus filhos

Esta medida faz parte do que organizações e especialistas judiciais chamam de "plano de preparação familiar", algo cada vez mais praticado por famílias com situações migratórias mistas, em que pelo menos um dos seus membros não tem documentos.

"Isso implica manter conversas incômodas e tomar decisões dolorosas", explica Kristina Lovato, diretora do Centro de Imigração e Bem-Estar Infantil (CICW, na sigla em inglês) da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos. "Mas ser precavido facilita tudo na hora de lidar com uma emergência e suas consequências."

'Minha filha não ficará no limbo'

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Existem atualmente mais de seis milhões de famílias em condições migratórias mistas nos Estados Unidos. Este número representa cerca de 5% do total, segundo números da organização Pew Research Center.

Segundo os dados do CICW, pelo menos um dos progenitores de 5,9 milhões de crianças não tem documentos.

A este número, é preciso somar mais de 500 mil crianças que têm pais amparados pelo Status de Proteção Temporal (TPS, na sigla em inglês), que o atual governo tenta revogar para cidadãos de diversos países, e pela Ação Diferida para os Chegados na Infância (Daca, na sigla em inglês).

Especialistas defendem que este programa, criado durante o governo do ex-presidente americano Barack Obama (2009-2017), atualmente está "se enfraquecendo".

Desde o início do ano até o mês de setembro, mais de 400 mil pessoas foram deportadas dos Estados Unidos, segundo os últimos números publicados pelo Departamento de Segurança Nacional do país (DHS, na sigla em inglês).

E os dados oficiais mais recentes indicam que, em 16 de novembro, o Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE, na sigla em inglês) mantinha 65.135 pessoas em centros de detenção espalhados pelo país. Este é o maior número registrado pela agência desde a sua criação, em 2003.

Dentre as pessoas detidas, 48% não tinham acusação, nem condenação penal nos Estados Unidos. Elas permaneciam em custódia por violações civis das leis americanas de imigração.

O padre Vidal Rivas (dir.), pároco da Igreja Episcopal de São Mateus em Hyattsville, Maryland, faz leitura durante o festival de São Francisco de Assis, ao lado de outro sacerdote.

Crédito,Igreja Episcopal de São Mateus

Legenda da foto,O padre Vidal Rivas (dir.), pároco da Igreja Episcopal de São Mateus em Hyattsville, Maryland

Esta situação vem preocupando os fiéis da Igreja Episcopal de São Mateus, segundo seu pároco.

O município de Hyattsville, ao qual pertence a igreja, é um subúrbio da capital americana, Washington.

Mais de 40% dos seus quase 21 mil moradores são latinos e um terço deles nasceu em outro país. Por isso, a cidade não está livre das detenções.

"As pessoas têm muito medo, mas dizer isso é pouco", destaca o padre Rivas. "Na verdade, é terror de sair e até de ficar no templo."

Vidal Rivas é oriundo de El Salvador e chegou aos Estados Unidos em 1998.

"Eu mesmo sou imigrante e, embora tenha vindo com residência pelos sacerdotes que me trouxeram para trabalhar neste país, acompanhei a dor do meu povo [durante a guerra civil salvadorenha, 1980-1992] e agora vejo isso aqui. Olho as pessoas em sofrimento todos os dias."

Por isso, o padre e membros da sua paróquia decidiram tomar ações para que os fiéis e a comunidade em geral possam se sentir mais seguros.

Os serviços religiosos, agora, são realizados a portas fechadas. Diversos voluntários vigiam a entrada e as vizinhanças.

Eles também começaram a incentivar os devotos a se prepararem para qualquer eventualidade relativa à migração, procurando guardiões temporários para seus filhos, como permite a legislação estadual.

"Com isso, descobrimos que muitas famílias não têm membros com residência permanente [green card] ou cidadania americana", lamenta Rivas. "É muito triste ver que eles não encontram ninguém e entram em grande desespero."

"Foi aí que precisamos ensiná-los a procurar pessoas de confiança que possam servir de tutores."

A imigrante equatoriana Andrea, de 28 anos, recebe um longo abraço da sua irmã, de frente para a câmera, antes do seu voo para o Equador no Aeroporto Internacional JFK em Nova York, no dia 26 de outubro de 2025. Andrea e sua prima decidiram se "autodeportar" com seus filhos, depois que seus maridos foram detidos por agentes do Serviço de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos (ICE) e deportados para o Equador, por não terem documentos. A filha mais nova de Andrea, Shanell, de 7 meses, nasceu nos Estados Unidos e é cidadã americana.

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Imigrante equatoriana que decidiu se autodeportar

Mimi (nome fictício) é uma mulher sem documentos de 40 anos e mãe solteira de uma adolescente de 16. E, como tantas outras pessoas, ela encontrou essa figura no próprio padre Rivas.

"Passei muitos dias e noites pensando nisso", contou ela à BBC News Mundo. "E, embora seja uma decisão muito difícil, sei que é a melhor."

Ela afirma que se sente aliviada por saber que, se for deportada, sua filha não ficará "no limbo".

Mimi explica que a possibilidade de que "possa vir um assistente social e levá-la, que ela fique nas mãos do governo ou que a deem em adoção" seria seu maior pesadelo.

O nome verdadeiro e a nacionalidade de Mimi são omitidos para proteger sua identidade.

A mãe combinou com o padre Rivas que ele deverá se encarregar de todo o necessário para que a menor, diagnosticada no espectro autista, se encontre com ela no seu país de origem.

"Gostaria que minha filha continuasse estudando, que terminasse seus estudos, mas, com esta situação, nunca nos separamos e não acredito que ela queira ficar sem mim."

Esta é a missão recebida por Rivas de alguns dos pais de outros 25 menores, para quem foi nomeado tutor temporário. Outros pediram que seus filhos fiquem nos Estados Unidos, pelo menos até terminarem o ensino médio.

Revogável por até seis meses

Para que isso seja possível e amparado pela lei, todos os fiéis preencheram e assinaram um formulário de designação parental para o início da tutela de reserva.

"É a ampliação de uma figura legal existente em Maryland desde a epidemia de Aids, nos anos 1970", explica à BBC a advogada especializada em direito de família Cam Crockett. Ela exerce a profissão no Estado há 40 anos e foi uma das promotoras da lei atual de tutela de emergência.

O Congresso estadual aprovou esta lei por unanimidade em maio de 2018. Além dos casos de incapacidade mental ou debilidade física, ela permite que os adultos designem um tutor reserva para seus filhos, para o caso de detenção pelas autoridades de migração ou deportação.

"Ela é ativada quando ocorre a emergência e dura seis meses, mas os pais podem revogá-la a qualquer momento", prossegue Crockett.

Os progenitores não perdem o pátrio poder, mas especificam no formulário o que o tutor pode fazer em seu nome, desde matricular os menores na escola ou interná-los em hospitais, até reservar voos e hotéis para eles, receber dinheiro ou tomar decisões financeiras.

"O que sugerimos é que se pense muito bem antes de escolher o potencial tutor, já que ele poderá precisar comparecer a um tribunal ou tomar um voo para outro país", explica a advogada.

Caso os pais desejem que a situação se estenda por mais de 180 dias, eles precisam buscar a tutela permanente ou avaliar uma custódia por terceiros. Para isso, a especialista recomenda consultar um advogado para examinar cada caso específico.

Mas a tutela de reserva não existe desta forma em todos os Estados americanos.

"Por isso, é muito importante que os interessados procurem bom assessoramento jurídico no Estado onde morem, pois as leis mudam de um Estado para outro", destaca a advogada Sharon Balmer Cartagena, diretora do Projeto de Defesa da Infância, Juventude e Família da organização Conselho Público.

"Existem muitos grupos, também online, em que as pessoas aconselham sobre este tema, mas um conselho muito bom para o Texas pode ser muito ruim na Califórnia", explica ela.

Na Califórnia, onde trabalha Balmer Cartagena, a tutela temporária não existe. Naquele Estado americano, a tutela outorga à pessoa designada a custódia legal e física completa da criança.

Para recuperar o pátrio poder, os pais da Califórnia precisam apresentar um pedido ao juiz, que irá decidir qual é a melhor opção para o menor.

"Pode ser uma boa alternativa se os pais concordarem que a pessoa designada praticamente se transforme em progenitora dos seus filhos", prossegue a especialista.

"Mas o que acontece se o tutor, digamos que um primo, decidir que já não é benéfico para o menor que ele mantenha contato com seus pais? Ele estará no seu direito se decidir desta forma."

Esther Martinez, organizadora do Centro Northwest (no centro, de óculos), fala durante um evento com a advogada Rebekah Azar (que não aparece na foto) na Healthcare Alternative Systems no dia 30 de outubro de 2025, em Chicago, Illinois (EUA). Azar Rashidfarokhi falou sobre o processo de obtenção da tutela de menores cujos familiares foram separados por agentes da imigração, por prisão ou deportação dos seus pais. A Patrulha Fronteiriça dos Estados Unidos, o Serviço de Imigração e Alfândega e outros agentes federais americanos estão em Chicago e seus subúrbios próximos, fazendo cumprir as leis de imigração durante a chamada "Operação Midway Blitz".

Crédito,The Washington Post via Getty Images

Legenda da foto,Sessões informativas sobre como fazer um plano familiar caso um ou ambos os pais sejam deportados se multiplicaram pelos Estados Unidos

"A tutela se destina a crianças que ficarão com outra pessoa de forma permanente", explica Balmer Cartagena.

"Não a recomendamos para quem desejar que seus filhos se reúnam algum dia com eles no país de origem. Eles deveriam optar por uma declaração juramentada de autorização de cuidadores."

Por meio deste acordo mais simples, cada vez mais famílias sem documentos ou de status misto residentes na Califórnia deixam a cargo dos seus irmãos, primos, padrinhos ou amigos decisões escolares ou médicas que afetam seus filhos.

A advogada reconhece que, durante suas apresentações à comunidade, explicando como fazer um plano de preparação familiar, muitas pessoas afirmam não terem ninguém nos Estados Unidos que possa desempenhar esse papel.

"O que fazemos é incentivá-los a pensar de forma mais ampla, pois tivemos casos em que uma professora ou a família para quem a cliente trabalhava como cuidadora ofereceram seu breve apoio para facilitar a reunificação após a deportação", ela conta.

Mais consciência e preparação

Da mesma forma que o Conselho Público, outros grupos, voluntários e ativistas de praticamente todos os Estados americanos oferecem há meses oficinas sobre como preparar um plano de emergência familiar, além de sessões de divulgação com o título "Conheça seus Direitos".

Nelas, eles reiteram aos participantes que eles podem omitir informações pessoais e se negar a assinar qualquer documento. Eles distribuem folhetos e oferecem assistência jurídica por telefone.

E também divulgam o chamado "cartão vermelho", disponível em 19 idiomas, relembrando aos imigrantes seus direitos constitucionais e resumindo as medidas a serem tomadas ao interagir com os agentes do ICE.

Patrulhas comunitárias percorrem bairros e presenciam batidas, para garantir o cumprimento de todos os protocolos ou documentá-los em caso de violação de direitos. Os vídeos gravados por estes voluntários são publicados diariamente nas redes sociais.

Funcionários do governo Donald Trump atacaram essas ONGs e seus voluntários. Eles afirmam que suas ações "ajudam" os imigrantes sem residência legal a "desafiar" os agentes do ICE e "se esconder".

"Eles dizem 'Conheça seus Direitos', eu chamo de 'Como Escapar da Prisão'", declarou, certa vez, Thomas D. Homan, o "czar da fronteira" de Donald Trump, que chefia as operações de deportação.

Jovem enfrenta agentes federais americanos, depois que um trabalhador foi preso em casa no Edison Park de Chicago, Illinois, em 31 de outubro de 2025. Os agentes deram duas advertências e o ameaçaram de prisão por interferir na "Operação Midway Blitz" do governo do presidente americano Donald Trump, uma intensificação do controle de imigração em toda a região de Chicago

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Uma rede de voluntários percorre bairros e acompanha batidas para documentá-las e compartilhá-las nas redes sociais, caso os protocolos legais não sejam cumpridos

De qualquer forma, todos estes esforços também destacam a consciência cada vez maior da necessidade de se antecipar, sobretudo mantendo pronto um plano que inclua os cuidados com as crianças.

"Existe uma campanha relativamente bem sucedida na comunidade imigrante e, quando falo com meus clientes, encontro perguntas mais estudadas e específicas, pois eles já conhecem as questões básicas", declarou em março à BBC News Mundo a advogada de imigração Kate Lincoln-Goldfinch, que trabalha na região central do Estado americano do Texas.

"Toda pessoa sem documentos precisa consultar sua situação com um advogado de imigração", destaca ela, e deve também ficar bem preparada para uma eventual emergência.

"Porque, quando há uma detenção, é como um incêndio: ninguém tem tempo de pensar e, depois, agir."

"Por isso, é fundamental reservar o tempo antecipadamente, por mais desagradável que seja, e pensar em quem irá recolher as crianças; se a escola tem as autorizações necessárias; se juntamos os documentos em uma pasta, incluindo as informações sobre contas bancárias; se sabemos onde estão as chaves do carro e o seguro... E ter tudo isso claro em um mesmo lugar, para que alguém que precise possa vir recolher e administrar nossas vidas por nós", explica Lincoln-Goldfinch.

Como 'ativar' a gordura marrom, que ajuda a queimar calorias e emagrecer

 

Um homem de cabelos grisalhos e barba toma banho em lago congelado durante o inverno

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Diferentemente da gordura branca, que se acumula nas coxas, cintura e quadris, a gordura marrom queima calorias e as transforma em calor quando o corpo enfrenta o frio
    • Author,Jasmin Fox-Skelly
    • Reporting from,BBC Future

Com a chegada das noites mais longas, a queda das folhas e a geada cobrindo o mundo exterior nessa época do ano no Hemisfério Norte, muitos são tentados a aumentar o termostato.

Ao sair de casa, vestem cachecol e gorro, e sobrepõem camadas de roupa para se aquecer.

No entanto, sentir frio e desconforto pode ser a chave para melhorar a saúde e até perder peso.

A razão está em um tipo especial de gordura chamado gordura marrom.

Diferentemente da gordura branca, que se acumula nas coxas, cintura e quadris, a gordura marrom queima calorias e as transforma em calor quando o corpo enfrenta o frio.

Alguns especialistas acreditam que, se ativada corretamente, poderia ajudar na perda de peso.

Teoricamente, basta tomar um banho frio ou consumir alimentos picantes e cafeína para ativá-la.

Mas antes de se jogar em um lago gelado ou tomar a quarta xícara de café, vale analisar se o interesse em torno da gordura marrom realmente faz sentido.

Como a gordura marrom é diferente?

Ao nascer, todos temos reservas abundantes de gordura marrom, que funcionam como um aquecedor interno. Bebês não têm massa muscular suficiente para tremer, por isso dependem da gordura marrom para converter açúcares e gorduras em calor.

As células de gordura marrom têm um número muito alto de mitocôndrias — as fábricas de energia dentro das células. Mas, ao contrário das mitocôndrias normais, que produzem trifosfato de adenosina (ATP) — a moeda energética usada pelo corpo —, as mitocôndrias das células de gordura marrom contêm uma proteína chamada termogenina, ou UCP1, que transforma calorias diretamente em calor.

"Quando estimulada, a gordura marrom tem capacidade de produzir 300 vezes mais calor por unidade de massa do que qualquer outro tecido ou órgão do corpo", afirma Michael Symonds, professor de fisiologia do desenvolvimento da Universidade de Nottingham, no Reino Unido.

Mãe e filha ao ar livre na cidade durante o inverno, usando casacos para se manter aquecidas

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Os seres humanos adultos, no entanto, encontraram outras formas de se aquecer — ligando o aquecimento, se enrolando em cobertores grossos ou usando casacos mais quentes

Grande parte do que se sabe sobre a gordura marrom vem de estudos com pequenos mamíferos, como camundongos e ratos. Esses roedores têm grandes reservas da gordura, que os mantêm aquecidos durante o inverno, período em que hibernam.

"Para nossos ancestrais, ou para pequenos animais como camundongos, o frio era uma ameaça à sobrevivência, então era vantajoso ter uma gordura capaz de transformar energia em calor", diz Paul Cohen, professor associado da The Rockefeller University, em Nova York (EUA), especialista em metabolismo molecular.

Décadas de pesquisas mostram que, pelo menos em ratos, a gordura marrom consome açúcares e gorduras presentes na corrente sanguínea. Ela também parece proteger os animais da obesidade e de doenças metabólicas relacionadas ao peso, como diabetes e problemas cardíacos.

Gordura marrom em adultos

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Os seres humanos adultos, no entanto, encontraram outras formas de se aquecer — ligando o aquecimento, se enrolando em cobertores grossos ou usando casacos mais quentes. Por isso, se acreditava que a gordura marrom praticamente desaparecia após a puberdade, sendo substituída pela gordura branca que se acumula em coxas e com a qual estamos todos familiarizados.

Isso levou muitos cientistas a concluir que a gordura marrom não teria papel relevante na saúde além da infância. Essa percepção mudou em 2009, quando pesquisadores da Finlândia e da Suécia mostraram que adultos ainda possuem gordura marrom e que, em temperaturas abaixo de 16 ºC, ela se ativa, começando a absorver glicose e gorduras da corrente sanguínea.

Além disso, houve uma correlação clara entre o peso corporal e as reservas de gordura marrom: indivíduos mais magros tinham mais, enquanto pessoas com obesidade tinham menos. Quem possuía mais gordura marrom também apresentava taxas metabólicas mais altas no frio, sugerindo que a gordura marrom poderia ser um alvo no tratamento da obesidade.

O campo ganhou impulso em 2021 com um estudo de Cohen e colegas da Universidade Rockefeller. A equipe analisou exames de tomografia por emissão de pósitrons (PET, na sigla em inglês) de mais de 52 mil pessoas. Comparando indivíduos sem gordura marrom detectável com aqueles que tinham gordura marrom, os pesquisadores constataram que taxas de diabetes tipo 2, doenças cardíacas, AVC e hipertensão eram muito menos comuns entre quem tinha gordura marrom.

Eles também descobriram que pessoas mais magras tinham maior probabilidade de apresentar tecido adiposo marrom do que indivíduos obesos.

Além disso, pessoas com maiores reservas de gordura marrom apresentavam níveis mais baixos de glicose e triglicerídeos na corrente sanguínea, melhor sensibilidade à insulina e maior quantidade do chamado colesterol "bom", a lipoproteína de alta densidade (HDL), todos sinais de metabolismo saudável.

Gordura marrom pode ajudar a perder peso?

Ainda não está claro se a gordura marrom é responsável pelos benefícios à saúde observados. Na prática, nossos corpos são grandes demais e contêm pouca gordura marrom para queimar gordura branca em quantidade capaz de reduzir significativamente o peso. A maioria dos adultos possui apenas entre 0,02g e 300g, ou menos de 0,5% da massa corporal total.

"Enquanto a gordura branca tem capacidade quase ilimitada de expansão — há pessoas com mais de 100kg de gordura branca —, a gordura marrom provavelmente não passa de algumas centenas de gramas", diz Cohen, da Universidade Rockefeller.

Mulher toma banho de gelo em um lago congelado

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,O grupo de Cohen também investiga se efeitos semelhantes ocorrem com pessoas que nadam nos lagos congelados de Minneapolis, Minnesota (EUA), durante o inverno. "No inverno, faz tanto frio que os lagos congelam, então eles [os nadadores] frequentemente precisam abrir um buraco no gelo para entrar", diz Cohen

No entanto, mesmo que a gordura marrom não ajude a reduzir o peso, ela ainda pode trazer benefícios à saúde. Ela pode melhorar a saúde metabólica — a capacidade do corpo de processar e usar energia proveniente dos alimentos de forma eficiente, por exemplo. Pessoas com metabolismo comprometido não conseguem eliminar a glicose do sangue rapidamente, aumentando o risco de diabetes tipo 2. A gordura marrom pode agir absorvendo glicose da corrente sanguínea ou secretando hormônios que regulam a sensibilidade à insulina.

"Em termos de gasto energético total do corpo, ela [a gordura marrom] provavelmente não desempenha um papel tão grande em humanos quanto em camundongos", diz Cohen. "Portanto, minha impressão pessoal, com base nos dados, é que a ativação da gordura marrom não será um bom método para tratar a obesidade ou perder quantidades significativas de peso."

"Os dados, porém, indicam que ativar a gordura marrom pode reduzir a glicose e melhorar a saúde metabólica. Assim, acredito que, se houver um potencial terapêutico, ele será mais relevante para tratar complicações da obesidade e do envelhecimento do que para tratar a obesidade em si."

Mas como ativar a gordura marrom e aproveitar os "superpoderes" que ela pode ou não oferecer? Uma forma é se expor ao frio, por mais desconfortável que seja. Pense em banhos de gelo, natação em águas frias ou câmaras de crioterapia — um equipamento que submete o corpo a temperaturas extremamente baixas por 1 a 3 minutos para promover bem-estar e recuperação. O choque térmico dispara a resposta de luta ou fuga, liberando noradrenalina, que se liga às células de gordura marrom e as "ativa".

Susanna Søberg, cientista metabólica e fundadora do Søberg Institute, na Dinamarca, estudou os efeitos da natação em água gelada. Em um estudo, sua equipe comparou homens que mergulham regularmente em lagos escandinavos durante o inverno com outros que não praticam o hábito.

Os participantes receberam um copo de água com açúcar e, duas horas depois, tiveram seus níveis de glicose e insulina medidos. Os nadadores de água fria eliminaram a glicose do sangue mais rapidamente e apresentaram melhor sensibilidade à insulina. A pesquisa mostrou que apenas alguns minutos de exposição a temperaturas congelantes, duas a três vezes por semana, eram suficientes para ativar a gordura marrom, melhorar a sensibilidade à insulina e reduzir o estresse.

No entanto, é possível que os nadadores também pratiquem natação ou exercícios em geral, o que poderia explicar sua melhor saúde.

O grupo de Cohen também investiga se efeitos semelhantes ocorrem com pessoas que nadam nos lagos congelados de Minneapolis, Minnesota (EUA), durante o inverno. "No inverno, faz tanto frio que os lagos congelam, então eles [os nadadores] frequentemente precisam abrir um buraco no gelo para entrar", diz Cohen.

Como aumentar os níveis de gordura marrom

Pesquisas indicam que temperaturas frias, mas não extremas, podem produzir efeitos semelhantes aos observados em exposições mais intensas.

Em um estudo de 2014, cinco homens saudáveis dormiram por um mês em um quarto aquecido a 19ºC, usando apenas roupas e lençóis finos de hospital.

Ao final do período, o volume de gordura marrom aumentou 42%, e a resistência à insulina, um indicador importante de saúde, também melhorou. Porém, quando os pesquisadores elevaram o termostato para 24ºC, a gordura marrom desapareceu novamente.

Em 2013, pesquisadores da Holanda submeteram 17 adultos saudáveis a temperaturas de 15-16ºC por seis horas ao dia. Dez dias foram suficientes para aumentar a atividade da gordura marrom, reduzir tremores e elevar a tolerância ao frio.

Uma mão segurando uma pimenta

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,A capsaicina, composto presente em pimentas, também demonstrou ativar a gordura marrom em camundongos, e há indícios de que o efeito pode ocorrer em humanos

O grupo de Cohen investiga atualmente se o uso de um "colete frio" por três horas diárias pode produzir efeitos semelhantes. "O colete frio se parece quase com um colete salva-vidas e tem água gelada circulando por dentro", afirma Cohen. "A ideia não é fazer as pessoas tremerem, mas chegar à temperatura em que os tremores começam e, depois, aumentar cerca de dois graus Celsius."

É possível que reduzir o termostato ou tomar um banho frio também melhore a saúde de forma semelhante. Um estudo mostrou que viver em um quarto aquecido a 14-15ºC aumentou a sensibilidade à insulina de oito pacientes com diabetes tipo 2. Já um estudo controlado e randomizado na Holanda constatou que pessoas que tomavam banho frio diariamente tiveram menos dias de afastamento do trabalho, e apenas 30 segundos sob água gelada já geravam algum benefício.

"Pequenos estudos sugerem que práticas como tomar banho frio podem ter efeitos benéficos, embora quem adota esse hábito possa já ser mais saudável", afirma Michael Symonds, da Universidade de Nottingham. "A maioria das pessoas considera desafiador tomar banho frio, mesmo que por pouco tempo."

Então, há outras formas de estimular a gordura marrom sem encarar frio extremo?

Pesquisas de Symonds sugerem que a cafeína, especialmente a do café, pode ativar a gordura marrom ao estimular a queima de glicose e a produção de calor. Outros cientistas, porém, afirmam que seriam necessárias cerca de 100 xícaras de café por dia para alcançar efeitos significativos; uma quantidade inviável, mesmo para consumidores assíduos.

A capsaicina, composto presente em pimentas, também demonstrou ativar a gordura marrom em camundongos, e há indícios de que o efeito pode ocorrer em humanos. Em um estudo, dez homens tomaram cápsulas de capsaicina diariamente durante seis semanas. Ao final do período, aqueles que ingeriram as cápsulas apresentaram maior ativação da gordura marrom quando expostos ao frio do que no início do experimento.

A pergunta, então, é se deveríamos desligar o aquecimento e enfrentar baixas temperaturas com mais frequência. Possivelmente, embora existam medidas mais eficazes para melhorar a saúde. Cohen ressalta que manter uma alimentação saudável para o coração, praticar exercícios regularmente, controlar o colesterol, a pressão arterial e a glicose, além de se manter próximo do peso ideal, seguem como prioridades.

Também é importante consultar um médico antes de tentar a natação em águas geladas, pois a prática pode não ser segura ou adequada para todos. Symonds acredita que ativar a gordura marrom pode contribuir para a melhora da saúde e perda de peso, mas apenas quando associado a outras mudanças no estilo de vida.

"Quando publicamos nosso estudo sobre os benefícios da cafeína para ativar a gordura marrom, recebi mensagens de pessoas dizendo: 'Tomo 10 xícaras de café por dia e ainda tenho problema de peso'", diz Symonds, da Universidade de Nottingham.

"Não é que quanto mais cafeína você consumir, maior será a chance de perder peso. A cafeína é apenas um fator que pode estimular a gordura marrom. Mas, no fim das contas, trata-se de manter uma alimentação equilibrada, um estilo de vida saudável, permanecer ativo, evitar longos períodos de sedentarismo e consumir menos alimentos ultraprocessados."