Em um mundo que se apresenta como invivível, precário, insustentável, incerto, caótico e por vezes aparentemente irreversível, ergue-se a figura do idealista. Não como um sonhador distante, mas como um ser de ação multifacetado: educador, escritor, executivo, cineasta. Sua vida não é uma carreira, mas um tecido denso de missões entrelaçadas, todas convergindo para um único propósito sagrado: resgatar a ética, a sensibilidade e a justiça social dos escombros da indiferença.
Sua jornada é um ato contínuo de despertar. Enquanto educador, ele luta para resgatar a missão do saber na universidade e na escola, transformando-as de fábricas de certificados em santuários do pensar crítico e criativo. Sua sala de aula é um laboratório de humanidade, onde se aprende não apenas a interpretar textos, mas a ler o rosto do outro, a decifrar a dor silenciosa. Como escritor, ele brande a palavra como ferramenta de escavação da alma, praticando uma estética da verdade que não embeleza, mas revela. Cada narrativa, cada ensaio, é um convite a voltar a olhar, compreender, sentir e escutar – a vida alheia e a nossa própria, em seu duplo empobrecimento, material e espiritual.
No mundo corporativo, como executivo, ele se move com a coragem de quem insere ética e justiça social na política das organizações. Rejeita a lógica desumana do lucro a qualquer custo, provando que sustentabilidade e solidariedade podem ser alicerces de um empreendimento viável. E, através das lentes do cineasta, ele captura não imagens, mas pulsações. Seus filmes são espelhos e janelas: refletem nossa cegueira e nos abrem para horizontes de compaixão, plantando as sementes do amanhã agora, com a própria vida.
Esta vida de ideias e sonhos não é, porém, vivida em uma torre de marfim. É uma luta diária pela sobrevivência, equilibrando-se no fio da navalha entre o dever público e o privado. É o cansaço que não o impede de cuidar dos pais que envelhecem, de ler uma história para o filho ao final do dia. É a fé, não dogmática, mas visceral – fé em Deus e no amor puro e sincero – que irriga sua resistência, lembrando-o de que a verdadeira revolução começa no microcosmo do lar, no gesto cotidiano de cuidado.
A história nos oferece faróis que iluminam este caminho multifacetado. Figuras como Maha Ghosananda, o "Gandhi do Camboja", que foi monge budista, educador da paz e líder político, plantando a semente do perdão em um solo arrasado pela guerra. Como Chinua Achebe, escritor, professor e crítico social, que usou a literatura para descolonizar mentes e reescrever a narrativa de um continente. Como Lina Bo Bardi, arquiteta, editora, curadora e educadora, que sonhou e construiu espaços de democracia e encontro. Como Ken Loach, cineasta militante, cuja obra é um longo e sensível panfleto em defesa da dignidade dos invisíveis. Eles, em seus múltiplos papéis, lideraram, educaram, empreenderam, escreveram, filmaram, sonharam e amaram. Eles não esperaram por condições ideais; criaram novos caminhos e resgataram fragmentos de liberdade, igualdade e solidariedade a partir do caos que os cercava.
A vida do idealista é, portanto, um verbo no presente contínuo. É educar escrevendo, liderar filmando, empreender amando. É uma recusa radical à fragmentação do ser e ao empobrecimento do espírito. Ele sabe que o mundo insustentável só será transformado por aqueles que ousam sustentar, em si mesmos, a integridade entre o pensar, o dizer e o agir. Sua batalha mais íntima e mais épica é reconectar o que o mundo separou: o conhecimento à compaixão, o poder à justiça, a arte à vida, o trabalho ao amor.
No fim, sua biografia não será um currículo, mas um testemunho. A prova frágil e inquebrantável de que, mesmo no inverno mais rigoroso, há aqueles que, com as mãos calejadas pela lida diária e o coração aquecido por um sonho teimoso, continuam a plantar. Não para si, mas para um amanhã que já começam a colher em cada olhar que despertam, em cada injustiça que denunciam, em cada gesto de puro e sincero amor que oferecem. Essa é a sua missão. Sagrada porque humana. Urgente porque agora.