SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

O novo tratamento que vem salvando pacientes com leucemia: 'Ficção científica alguns anos atrás'

 

Alyssa sorri para a câmera. Ela tem cabelos escuros e veste um cardigã branco
Legenda da foto,Alyssa foi a primeira pessoa no mundo a receber o tratamento no Great Ormond Street Hospital, em Londres, e agora leva uma vida normal
    • Author,James Gallagher
    • Role,Correspondente de saúde e ciência da BBC News

Uma terapia que antes parecia coisa de ficção científica tem revertido cânceres sanguíneos agressivos e incuráveis em alguns pacientes, afirmam médicos.

O tratamento envolve editar com precisão o DNA de glóbulos brancos para transformá-los em um "medicamento vivo" capaz de combater o câncer.

A primeira paciente tratada, cuja história foi publicada em 2022, continua livre da doença e agora planeja se tornar pesquisadora na área de oncologia.

Até agora, outras oito crianças e dois adultos com leucemia linfoblástica aguda de células T já receberam o tratamento, e quase dois terços (64%) dos pacientes estão em remissão (isso significa que não há mais sinal de câncer após o tratamento, mas isso não significa que ele não voltará mais).

As células T funcionam como defensoras do corpo — buscam e eliminam ameaças —, mas, nessa forma de leucemia, crescem de forma descontrolada.

Para os participantes do estudo, quimioterapia e transplantes de medula óssea não funcionaram. Além do medicamento experimental, restava apenas oferecer mais conforto no fim da vida.

"Eu realmente achava que ia morrer e que não teria a chance de crescer e fazer tudo o que qualquer criança merece fazer", diz Alyssa Tapley, 16, de Leicester (Reino Unido).

Ela foi a primeira pessoa no mundo a receber o tratamento no Great Ormond Street Hospital, em Londres, e agora leva uma vida normal.

Alyssa sorrindo sentada sobre uma árvore caída
Legenda da foto,Hoje, o câncer de Alyssa é indetectável, e ela precisa apenas de exames anuais

O procedimento revolucionário de três anos atrás envolveu eliminar seu antigo sistema imunológico e construir um novo. Durante quatro meses no hospital, ela não pôde ver o irmão, para não correr risco de infecção.

Hoje, o câncer de Alyssa é indetectável, e ela precisa apenas de exames anuais. Ela faz os A-levels (exames finais do ensino médio no Reino Unido), participa do Duke of Edinburgh Award (programa de desenvolvimento juvenil), planeja aulas de direção e planeja seu futuro.

"Estou pensando em fazer um estágio em ciências biomédicas e, espero, um dia também trabalhar em pesquisas sobre câncer no sangue", diz ela.

Menina de cabelos longos e castanhos, usando óculos, olha pelo microscópio em uma aula de biologia
Legenda da foto,"Estou pensando em fazer um estágio em ciências biomédicas e, espero, um dia também trabalhar em pesquisas sobre câncer no sangue", diz Alyssa
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A equipe da University College London (UCL) e do Great Ormond Street Hospital usa uma tecnologia chamada base editing (edição de bases, em tradução livre).

As bases são a linguagem da vida. Os quatro tipos — adenina (A), citosina (C), guanina (G) e timina (T) — formam os blocos do nosso código genético. Assim como as letras do alfabeto compõem palavras com significado, os bilhões de bases no DNA escrevem o manual de instruções do corpo humano.

A "edição de bases" permite aos cientistas acessar um ponto exato do código genético e alterar a estrutura molecular de uma única base, convertendo-a em outro tipo e reescrevendo esse manual.

O objetivo dos pesquisadores era usar a capacidade natural das células T saudáveis, naturalmente programadas para localizar e destruir ameaças, e direcioná-las contra a leucemia linfoblástica aguda de células T.

É um desafio complexo. Eles precisaram modificar as células T saudáveis para que identifiquem as células doentes sem que o tratamento se destrua.

Um processo em cinco etapas mostrando como o tratamento funciona. 1. Uma célula circular vermelha com estruturas em Y na superfície representa as células T cancerosas. 2. Um espiral de DNA com uma letra “C” destacada. 3. Uma célula circular azul com o DNA no interior, representando a edição das células T doadas. 4. Modificação adicional da célula T. 5. A célula T azul atacando a célula T vermelha cancerosa
Legenda da foto,A equipe da University College London (UCL) e do Great Ormond Street Hospital usa uma tecnologia chamada "edição de bases". As bases são a linguagem da vida. Os quatro tipos — adenina (A), citosina (C), guanina (G) e timina (T) — formam os blocos do nosso código genético

'Desmontar' sistema imunológico

Eles começaram com células T saudáveis de um doador e começaram a modificá-las.

A primeira edição de base desativou o mecanismo de alvo das células T, impedindo que atacassem o corpo da paciente.

A segunda removeu o marcador químico CD7, presente em todas as células T, etapa crucial para evitar a autodestruição da terapia.

A terceira edição criou uma "capa de invisibilidade", impedindo que as células fossem destruídas por um quimioterápico.

Na etapa final, as células T foram instruídas a atacar qualquer célula com o marcador CD7.

Assim, as células modificadas destruiriam todas as outras células T que encontrassem — cancerosas ou não —, mas não atacariam umas às outras.

A terapia é aplicada por infusão e, se o câncer não é detectado após quatro semanas, o paciente recebe um transplante de medula óssea para reconstruir o sistema imunológico.

"Até poucos anos atrás, isso seria ficção científica", diz o professor Waseem Qasim, da UCL e do Great Ormond Street.

"Precisamos desmontar praticamente todo o sistema imunológico", afirma Qasim. "É um tratamento intenso, muito duro para os pacientes, mas, quando funciona, funciona muito bem."

O estudo, publicado na revista científica New England Journal of Medicine (Estados Unidos), apresenta os resultados dos primeiros 11 pacientes tratados no Great Ormond Street e no King's College Hospital (Reino Unido). E mostra que nove alcançaram remissão profunda, o que lhes permitiu passar por um transplante de medula óssea.

Sete permanecem livres da doença entre três meses e três anos após o tratamento.

Um dos maiores riscos da terapia são infecções enquanto o sistema imunológico é eliminado.

Em dois casos, o câncer perdeu suas marcações CD7, permitindo que se escondesse do tratamento e reaparecesse no organismo.

"Considerando quão agressiva é essa forma específica de leucemia, esses resultados clínicos são bastante impressionantes e, obviamente, fico muito feliz por termos conseguido oferecer esperança a pacientes que, de outra forma, a teriam perdido", afirma Robert Chiesa, do departamento de transplante de medula óssea do Great Ormond Street Hospital.

Deborah Yallop, hematologista consultora do King's College Hospital, diz: "Vimos respostas impressionantes na eliminação de leucemias que pareciam incuráveis; é uma abordagem muito poderosa."

Comentando a pesquisa, Tania Dexter, médica sênior da ONG britânica de células-tronco Anthony Nolan, afirma: "Considerando que esses pacientes tinham baixa chance de sobrevivência antes do estudo, esses resultados trazem esperança de que tratamentos como este continuem a avançar e fiquem disponíveis para mais pacientes".

Urbanismo social aberto no Jangurussu por Egidio Guerra.

 

1. Teorias que Explicam o Avanço do Crime nessas Áreas 




  • Teoria da Desorganização Social (Chicago School): Crime emerge quando há ruptura de laços comunitários, falta de coesão social e instituições frágeis. 

  • Economia do Crime (Becker): Indivíduos avaliam custo-benefício; sem oportunidades legais, o crime torna-se "racional". 

  • Teoria da Privação Relativa: Descontentamento surge da percepção de desigualdade e exclusão do acesso a bens e serviços. 

  • Teoria das Janelas Quebradas (Kelling & Wilson): Ambientes degradados fisicamente sinalizam abandono, incentivando crimes menores que podem escalar. 

  • Geografia do Crime: Espaços urbanos com baixa conectividade, iluminação e vigilância natural facilitam a criminalidade. 

 

2. Pilares para Urbanização Integrada 

a) Inclusão Sócio-Espacial 


  • Teoria de Justiça Espacial (Soja, Harvey):
     Garantir acesso equitativo a recursos urbanos. 

  • Aplicação: Conectar a comunidade à cidade formal com transporte acessível, infraestrutura básica (água, saneamento, energia) e espaços públicos qualificados. 

b) Economia Local e Geração de Renda 

  • Desenvolvimento Econômico Local (Friedmann): Fomentar economias de bairro, capacitação profissional e microcrédito. 

  • Teoria do Capital Social (Putnam): Fortalecer redes de confiança para cooperação econômica. 



c) Segurança Cidadã 

  • Prevenção do Crime através do Design Ambiental (CPTED): Iluminação, visibilidade, circulação e apropriação de espaços para dissuadir crimes. 

  • Policiamento Comunitário: Polícia integrada à comunidade, com foco em mediação de conflitos. 



d) Governança Participativa 

  • Orçamento Participativo (Porto Alegre): Envolver moradores nas decisões sobre investimentos públicos. 

  • Planejamento Colaborativo: Incluir líderes locais no desenho de políticas. 

e) Acesso a Direitos Básicos 

  • Escolas de qualidade, postos de saúde e centros culturais como âncoras de transformação. 

 

3. Exemplos Históricos e Impactos 


a)
Estratégia: "Urbanismo Social" – intervenções em áreas mais pobres com bibliotecas-parqueescadas rolantes em favelas (Comuna 13), teleféricos como transporte público, e centros educacionais. 

  • Impactos: Redução de homicídios em mais de 80%, aumento do sentimento de pertencimento, turismo em ex-áreas de conflito.



b) Bogotá (Colômbia) – Prefeitura de Mockus e Peñalosa 

  • Cultura Cidadã: Campanhas de pedagogia urbana, recuperação de espaços públicos (parques, ciclovias, TransMilenio). 

  • Impactos: Redução da violência, maior uso de espaços coletivos, fortalecimento do civismo. 

c) Favela-Bairro (Rio de Janeiro, anos 1990) 

  • Integração física: Urbanização de favelas com infraestrutura, criação de centros de serviço. 

  • Limitações: Dependência de continuidade política; persistência do controle por milícias e tráfico em algumas áreas. 

d) Cidade do Cabo (África do Sul) – Pós-apartheid 

  • Upgrading de Assentamentos Informais: Fornecimento de habitação social, melhoria de serviços e espaços públicos em townships. 

  • Desafios: Processo lento, persistência de desigualdades. 



e) Barcelona – Superquadras e Bairros Vulneráveis 

  • Modelo de Superilles (superquadras): Redesenho de bairros para priorizar pedestres, reduzir poluição e criar convívio. 

  • Aplicação em áreas marginalizadas: Combinado com programas sociais, reduz exclusão espacial. 

 

4. Impactos Gerados em Experiências Bem-Sucedidas 

  • Redução de Crimes Violentos: Principalmente onde houve combinação de presença estatal, oportunidades econômicas e participação comunitária. 

  • Aumento da Mobilidade Social: Conexão com empregos formais e educação. 

  • Fortalecimento do Capital Social: Comunidades organizadas passam a co-governar. 

  • Valorização Imobiliária (Gentrificação): Risco que exige políticas de proteção aos moradores originais. 

 

5. Recomendações para um Plano Sustentável 

  1. Diagnóstico Participativo: Mapear ativos e vulnerabilidades com a comunidade. 

  1. Intervenções Multiescalares: Agir simultaneamente na escala da habitação, do bairro e da cidade. 

  1. Parcerias Público-Privado-Comunitárias: Engajar ONGs, universidades, empresas. 

  1. Monitoramento Contínuo: Indicadores de segurança, emprego, saúde e educação. 

  1. Perspectiva de Gênero e Juventude: Programas específicos para mulheres e jovens, grupos frequentemente mais afetados pela violência e exclusão. 

 

Conclusão 

O caminho mais eficaz é o urbanismo social integrado, que une transformação física, inclusão econômica e participação cidadã. Modelos como Medellín mostram que é possível reverter ciclos de violência através de investimentos públicos ousados em infraestrutura social e conectividade, desde que as comunidades sejam protagonistas do processo. A chave está em tratar a urbanização não como um fim em si, mas como um meio para a justiça social e a construção de cidadania. 




A Crítica à Cidade Ordenada Demais e a Teoria da "Desordem"  


  • "Construir e Habitar: Ética para uma Cidade Aberta" (2018): Sennett argumenta que cidades planejadas com excesso de ordem, rigidez e fronteiras claras (como em muitos projetos modernistas) são hostis à complexidade da vida urbana e à diversidade. Para ele, uma cidade "aberta" é permeável, incompleta e capaz de se adaptar, permitindo que seus habitantes a co-criem. 

  • "O Estrangeiro: Dois Ensaios sobre o Exílio" (2011): Discute como a experiência do "outro" e do deslocamento é central para a vida urbana. Comunidades periféricas vivem uma forma de exílio interno. Urbanizá-las não significa apenas integrá-las fisicamente, mas reconhecer e valorizar sua diferença e suas formas próprias de organização (a "desordem" que pode ser criativa). 

  • Aplicação: Qualquer intervenção em uma comunidade vulnerável deve evitar impor um "planejamento fechado". Em vez de grandes planos-mestris rígidos, Sennett defenderia projetos incrementais, táticos e adaptativos, que possam ser ajustados com o tempo pela própria comunidade. 


  • "Desenhando a Desordem: Experiências e Disrupções na Cidade" 

Este projeto (que se desdobra em textos e palestras) é central para entender sua proposta para áreas complexas. 

  • Conceito de "Desordem": Não se refere ao caos ou ao crime, mas às formas orgânicas, improvisadas e não-planejadas de uso do espaço que emergem das comunidades. É a vitalidade da rua, a apropriação informal de um beco para um comércio, a adaptação da moradia às necessidades da família. Suprimir essa desordem é suprimir a vida urbana. 

  • Experiência e Disrupção: Sennett valoriza a experiência corporal e sensorial na cidade. Uma cidade boa é aquela que oferece experiências ricas e variadas. A "disrupção" pode ser positiva quando quebra a rotina e o isolamento, criando encontros inesperados. Para uma comunidade isolada, a disrupção planejada pode ser um novo parque ou uma ponte que a conecta, criando novas experiências e interações. 


  • Aplicação para Comunidades Vulneráveis: 

  • Respeitar o Tecido Existente: Antes de intervir, é preciso mapear e compreender a "desordem" local — as redes informais de apoio, os usos improvisados dos espaços, os percursos criados pelos moradores. Esses são ativos de planejamento. 

  • Projetar para a Incompletude: Criar infraestruturas "abertas" — por exemplo, um centro comunitário com espaços flexíveis que os moradores possam definir seu uso, e não um edifício com salas pré-determinadas. 

  • Valorizar a Fricção e o Encontro: O desenho urbano deve estimular encontros entre diferentes grupos (dentro da comunidade e entre ela e o resto da cidade). Mercados públicos, praças multifuncionais e rotas de passagem são mais importantes que grandes equipamentos isolados. 

O Artífice ("O Artífice", 2008) e a Cidade como Oficina 

  • Sennett celebra a habilidade do artífice — aquele que trabalha com as mãos, resolve problemas de forma prática e tem um compromisso com a qualidade do trabalho bem feito. 

  • Aplicação: Programas de urbanização devem incluir oficinas de formação profissional em construção, manutenção urbana e artesanato, permitindo que os moradores sejam construtores ativos da sua própria comunidade. Isso gera dignidade, emprego e um senso de propriedade sobre as transformações. 


  • Síntese: Como as Ideias de Sennett Completam o Caminho para a Urbanização 

O plano integrado anteriormente descrito ganha uma camada crucial de metodologia e filosofia de ação com Sennett: 

  1. Do "Urbanismo Social" ao "Urbanismo Aberto": Inspirado por Medellín, mas indo além. Não basta levar bibliotecas-parque; é preciso que esses equipamentos sejam geridos com e pela comunidade, sujeitos a mudanças de uso conforme a necessidade. 

  1. Participação como Co-autoria: A governança participativa não é apenas ouvir demandas, mas criar mecanismos para que os moradores sejam co-designer das soluções, desde a escala do mobiliário até a do bairro. É uma aplicação prática do "artífice" coletivo. 

  1. Tolerância Criativa com o Informal: Em vez de ver o comércio informal apenas como um problema a ser erradicado, integrá-lo ao desenho dos espaços públicos (com bancas móveis, feiras), regulando-o para segurança e higiene, mas mantendo sua vitalidade. 

  1. Conectividade que Gera Encontro: Os teleféricos de Medellín são um bom exemplo de infraestrutura que conecta e, ao mesmo tempo, cria uma nova experiência da cidade (uma "disrupção" positiva). O desenho das estações e dos percursos de acesso deve maximizar o encontro e a mistura. 


Exemplo Reinterpretado: A Comuna 13 de Medellín sob a Ótica de Sennett 

  • A intervenção na Comuna 13 não foi apenas física (escadas rolantes, grafites). Ela canalizou a energia e a expressão desordenada da comunidade (a cultura hip-hop, o grafite) em um projeto estético e social. 

  • As escadas rolantes funcionam como um elemento de disrupção e experiência nova, transformando uma subida árdua em um momento de pausa e observação. 

  • Os grafites, muitos feitos pelos jovens locais, são a "desordem" sendo desenhada, tornando-se a identidade visual do lugar e um ativo turístico. Foi uma urbanização que soube trabalhar com a desordem, não contra ela. 

Conclusão Ampliada 

Incorporando Richard Sennett, o melhor caminho para urbanizar comunidades em circunstâncias precárias é adotar uma ética do "urbanismo aberto". Isso significa: 

  • Abrir mão da ilusão do controle total e abraçar a complexidade. 

  • Ver a comunidade não como um problema a ser resolvido, mas como um parceiro com inteligência urbana prática (os "artífices" do seu espaço). 

  • Projetar infraestruturas e políticas que sejam como "textos abertos", que os moradores possam completar e ressignificar ao longo do tempo. 

A obra de Sennett nos alerta que o maior risco não é a desordem, mas a ordem excessiva que silencia a voz, a experiência e a capacidade de agência das comunidades. O sucesso duradouro está na capacidade de desenhar com a desordem, transformando-a em um motor de inclusão, identidade e cidade viva.