SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

quarta-feira, 12 de novembro de 2025

Raul Seixas - Tente Outra Vez (Versão Tsubasa Imamura)


 

Paloma Morphy - la mexicana (Video Oficial)


 

SEM PIADA NEM TEXTÃO


 

Ты солдат (Монеточка AI Cover)


 

Maior navio de guerra do mundo chega à América Latina e Maduro eleva alerta militar na Venezuela.

 

O navio USS Gerald R. Ford no mar

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Segundo os EUA, o USS Gerald R. Ford é a plataforma de combate mais capaz, versátil e letal do mundo
    • Author,Ione Wells
    • Role,Correspondente na América do Sul

O maior navio de guerra do mundo, o USS Gerald R. Ford, chegou na terça-feira (11/11) à América Latina, o que alguns analistas veem como mais um passo na recente escalada militar dos Estados Unidos na região.

A Marinha dos Estados Unidos informou, em um comunicado nesta terça-feira, que o navio entrou na zona do Comando Sul, que abrange a América Latina e o Caribe, três semanas após a ordem de seu deslocamento para a região.

Os EUA realizaram o maior reforço militar em décadas no Caribe e executaram uma série de ataques contra embarcações supostamente envolvidas com o narcotráfico no Caribe e no Pacífico Leste.

Houve pelo menos 19 ataques que provocaram a morte de 75 pessoas em águas internacionais.

O USS Gerald R. Ford se junta a outros navios de guerra, um submarino nuclear e aeronaves caças F-35 que estão operando na região nas últimas semanas.

Washington não apresentou provas do alegado uso ilícito dessas embarcações nem detalhes sobre as pessoas a bordo, e muitos analistas acreditam que o uso da força militar também é uma tentativa de pressionar o presidente venezuelano, Nicolás Maduro — a quem o governo acusa de ser chefe de uma organização de narcotráfico — e tentar derrubá-lo.

Maduro nega as acusações e afirmou que os Estados Unidos "estão fabricando uma guerra" contra a Venezuela.

A Venezuela e a Colômbia alertaram que a mobilização militar pode desencadear um conflito em larga escala, e aumentaram as especulações se os EUA realizarão ataques diretos em território venezuelano.

O governo venezuelano anunciou na terça uma mobilização militar em nível nacional para contrabalançear a presença naval americana no seu litoral.

O ministro da Defesa, Vladimir Padrino, informou que ordenou a "plena prontidão operacional" de todos os recursos militares do país e aéreos, navais, fluviais e de mísseis; sistemas de armas; unidades militares; Milícia Boliviariana; órgãos de segurança cidadão e os comandos de Defesa Integral".

Como é o USS Gerald R. Ford

Plataforma cheia de aviões no mar

Crédito,Alyssa Joy / US Navy

Legenda da foto,O porta-aviões do USS Gerald Ford. Navio pode pesar até 100 mil toneladas

Segundo a Marinha dos Estados Unidos, o USS Gerald R. Ford é "a plataforma de combate mais capaz, versátil e letal do mundo".

Começou a operar em 2017, em uma cerimônia que contou com a presença de Trump, então em seu primeiro mandato.

O nome do navio se deve a uma homenagem ao 38° presidente dos Estados Unidos, Gerald R. Ford.

O porta-aviões é movido a energia nuclear e tem mais de 335 metros de comprimento. A efeito de comparação, o HMS Queen Elizabeth, o maior navio de guerra construído pelo Reino Unido, mede 280 metros.

O USS Gerald R. Ford pode pesar até 100 mil toneladas.

O navio custou cerca de US$ 13 bilhões e transporta armamentos como mísseis de autodefesa ESSM e o sistema de armas de curto alcance CIWS.

Segundo a Reuters, o porta-aviões pode abrigar aproximadamente 5.000 militares.

*Com informação de Kayla Epstein e Josh Cheetham.

Fado do Mar sem Fim | Videoclipe Oficial


 

Epstein disse que Trump 'passou horas' com uma de suas vítimas, diz email divulgado pela oposição

 

Donald Trump

Crédito,Getty Images

    • Author,Redação
    • Role,BBC News

O Partido Democrata na Câmara dos Estados Unidos divulgou nesta quarta-feira (12/11) uma nova leva de e-mails trocados por Jeffrey Epstein — o financista condenado por crimes sexuais e encontrado morto na prisão — que mencionam o nome do atual presidente americano, Donald Trump.

Os documentos, publicados na rede X (antigo Twitter) e fornecidos pelo espólio de Epstein, incluem correspondências entre ele e sua parceira Ghislaine Maxwell, também condenada por crimes sexuais, além de trocas de mensagens com o escritor Michael Wolff, conhecido por seus livros sobre Trump.

Em um dos e-mails, datado de abril de 2011, Epstein diz a Maxwell que Trump "passou horas em minha casa" com uma das vítimas de tráfico sexual, referindo-se ao presidente, na época um empresário, como "o cachorro que não latiu".

Maxwell responde: "Tenho pensado sobre isso…".

Em outra mensagem, destinada a Wolff em janeiro de 2019, Epstein alega que Trump "sabia sobre as meninas, pois pediu a Ghislaine para parar".

Após a divulgação das mensagens por parlamentares democratas, a Casa Branca acusou a oposição de agir com motivação política.

A porta-voz Karoline Leavitt afirmou que os e-mails foram "vazados seletivamente à mídia liberal para criar uma narrativa falsa e difamar o presidente Trump".

A troca de emails faz parte de um conjunto de 23 mil documentos que, segundo os democratas do Comitê de Supervisão da Câmara, ainda estão sendo analisados.

"Quanto mais Donald Trump tenta encobrir os arquivos de Epstein, mais descobrimos", declarou o congressista Robert Garcia, principal democrata do comitê.

"Esses novos e-mails levantam sérias dúvidas sobre o que mais a Casa Branca está escondendo e sobre a natureza da relação entre Epstein e o presidente. O Departamento de Justiça deve liberar todos os arquivos de Epstein imediatamente."

Conteúdo dos emails

Pule Whatsapp! e continue lendo
BBC Brasil no WhatsAp
No WhatsApp

Agora você pode receber as notícias da BBC News Brasil no seu celular.

Clique para se inscrever

Fim do Whatsapp!

Em um dos emails, em dezembro de 2015, o escritor Michael Wolff alerta Epstein de que a emissora de TV CNN planejava questionar Trump sobre o relacionamento entre os dois.

Epstein pergunta: "Se fôssemos elaborar uma resposta para ele, o que você acha que deveria ser?".

Wolff responde: "Deixe que ele se enforque. Se negar ter estado na sua casa ou no avião, isso te dá uma vantagem política e de relações públicas".

Em outro e-mail, de 2019, Epstein nega a versão de Trump de que teria sido expulso do clube Mar-a-Lago, resort do presidente na Flórida: "Trump disse que pediu para eu sair — nunca fui membro. Claro que ele sabia das meninas, pois pediu a Ghislaine para parar."

Trump e Epstein foram próximos nas décadas de 1990 e 2000, mas romperam por volta de 2004.

O presidente afirma que rompeu relações por "não gostar do comportamento" de Epstein e que chegou a bani-lo de seu clube por "ser um sujeito estranho com as funcionárias".

Ele também nega veementemente qualquer envolvimento com atividades ilegais do financista e diz que as acusações fazem parte de uma "farsa orquestrada pelo Partido Democrata".

Em julho deste ano, Ghislaine Maxwell — que cumpre pena de 20 anos por tráfico sexual — declarou em entrevista a um procurador que nunca testemunhou "conduta inapropriada" de Trump ou do ex-presidente democrata Bill Clinton. Ela também negou a existência de uma suposta "lista de clientes" de Epstein.

Jeffrey Epstein e Ghislaine Maxwell

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Jeffrey Epstein e Ghislaine Maxwell

Casa Branca diz que e-mails foram divulgados para "difamar o presidente"

Após a divulgação dos e-mails, a Casa Branca reagiu, acusando os democratas de tentar "difamar o presidente". A porta-voz Karoline Leavitt afirmou que os documentos foram "vazados seletivamente" para "criar uma narrativa falsa".

Segundo ela, a "vítima sem nome" mencionada nas mensagens seria Virginia Giuffre, que "afirmou diversas vezes que Trump não esteve envolvido em qualquer irregularidade e sempre foi gentil em suas breves interações com ela".

Leavitt acrescentou que Trump "expulsou Epstein de seu clube décadas atrás por comportamento inadequado com funcionárias" e classificou o episódio como "mais uma tentativa de distração".

A secretária de imprensa disse ainda que "qualquer americano com bom senso vê claramente que se trata de uma farsa e de uma tentativa de desviar a atenção da reabertura do governo".

Os democratas, por sua vez, afirmam que o material foi entregue oficialmente pelo espólio de Epstein e faz parte de uma revisão mais ampla conduzida pelo Comitê de Supervisão da Câmara dos Representantes.

As revelações devem intensificar o debate em Washington sobre a liberação integral dos chamados 'Epstein Files' — um conjunto de documentos oficiais ligados às investigações sobre o financista e sua rede de exploração sexual, cuja divulgação total tem sido pressionada por parlamentares de ambos os partidos.

A língua falada no Sul do Brasil por antepassados de Gisele Bündchen e Rodrigo Hilbert que está desaparecendo

 

Colagem com fotos de Gisele Bündchen e Rodrigo Hilbert sorrindo ao posar para fotos em eventos

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Como muitos das gerações posteriores, Gisele Bündchen e Rodrigo Hilbert não falam a língua dos trisavós
    • Author,Luiz Antônio Araujo
    • Role,De Porto Alegre para a BBC News Brasil

Se uma máquina do tempo permitisse à modelo Gisele Bündchen, ao goleiro Alisson Becker e ao ator Rodrigo Hilbert encontrar seus ancestrais vindos da Europa, seria necessária a presença de um intérprete.

Caso o profissional escalado falasse exclusivamente o alemão padrão (Standarddeutsch), ainda assim a comunicação seria truncada.

Como a maioria dos alemães que vieram para o Brasil no século 19, os Bündchen, os Becker e os Hilbert usavam cotidianamente um vernáculo diferente do idioma dominante na atual Alemanha.

Tratava-se de uma variedade baseada no que os linguistas chamam de "continuum dialetal": uma série de formas assumidas por uma língua ao longo de uma região, com variações cumulativas à medida que a distância aumenta.

Os antepassados dessas celebridades não chamariam sua língua de Deutsch (língua alemã, no alemão padrão), e sim Deitsch, Düütsk, Plattdeitsch ou simplesmente Platt (baixo-alemão ou Plattdeutsch).

Assim era denominado o idioma falado na área delimitada pelos rios Mosela e Reno, nas imediações das cidades de Bingen, Trier e Koblenz, na Renânia Central, entre os atuais Estados da Renânia-Palatinado e do Sarre.

Dessa região, conhecida como Hunsrück (pronuncia-se "runs-rík"), partiu a maior parte dos primeiros alemães a pisar em solo brasileiro.

Por mais de 200 anos, o hunsriqueano ou Hunsrückisch ("língua do Hunsrück") foi transmitido de geração em geração no Brasil — onde surgiu, após transformações a partir do Platt.

Ainda hoje, é utilizado por mais de 1,2 milhão de pessoas — população equivalente à do município de Campinas (SP) —, segundo o livro Inventário do Hunsrückisch como Língua Brasileira de Imigração (IHLBrI) (Editora Garapuvu, 2018).

Há ainda comunidades que o utilizam na Argentina, Paraguai e Bolívia.

Essa língua padece, no entanto, de um fenômeno comum a milhares de vernáculos minoritários: a perda linguística, quando um idioma deixa de ser usado, transmitido ou plenamente dominado.

É por isso que nem uma engenhoca de ficção científica permitiria aos famosos mencionados no início desta reportagem — todos descendentes de alemães do Hunsrück e arredores — conversar com seus antepassados.

Gisele, Alisson e Rodrigo não falam a língua dos trisavós.

Universidade guarda coleção de raridades linguísticas

Professor na sala dele, em pé, segurando grande envelope e olhando em direção à câmera com olhar sério

Crédito,Luiz Antônio Araujo/BBC News Brasil

Legenda da foto,O professor da UFRGS Cleo Vilson Altenhofen guarda o maior acervo de hunsriqueano do mundo
Pule Whatsapp! e continue lendo
BBC Brasil no WhatsAp
No WhatsApp

Agora você pode receber as notícias da BBC News Brasil no seu celular.

Clique para se inscrever

Fim do Whatsapp!

"Como uma língua subsiste por 200 anos sendo falada por poucas pessoas?", indagou o professor titular do Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Cleo Vilson Altenhofen ao receber a reportagem da BBC News Brasil, no final de setembro.

Nos armários, prateleiras e caixas que abarrotam sua sala, há um tesouro: o maior acervo de hunsriqueano do mundo.

São centenas de livros, cadernetas, cartas, diários, arquivos de áudio e vídeo, CDs, DVDs, fotos, cartazes, mapas, anúncios publicitários, roteiros, entre outros itens, neste idioma.

Muitas das vozes contidas nesse emaranhado arquivístico já desapareceram, ecoando apenas nos registros preservados pela UFRGS.

Não foi Altenhofen quem inventou o termo "hunsriqueano" para designar a língua de seus familiares, que chegaram a São Leopoldo (RS) dois dias depois do Natal de 1827.

Ele foi o primeiro, porém, a fazer referência à variante hunsriqueano rio-grandense (Riograndenser Hunsrückisch) em sua tese de doutorado pela Johannes Gutenberg-Universität Mainz, uma universidade na Alemanha, em 1996.

O termo ganhou até um verbete da Wikipédia.

Com o projeto Escrithu, o professor capitaneou a formalização da ortografia, de regras gramaticais e do vocabulário do hunsriqueano.

Também organizou, junto com Rosângela Morello, professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o Inventário do Hunsrückisch como Língua Brasileira de Imigração.

A obra, que mapeou uso consistente da língua em bastiões distribuídos no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Espírito Santo), levou a encaminhamento de um pedido de reconhecimento do hunsriqueano como referência cultural brasileira no Inventário Nacional da Diversidade Linguística (INDL).

Entretanto, o INDL foi atingido em 2019 por um decreto presidencial que acabou com órgãos colegiados federais, como a Comissão Técnica do Inventário Nacional da Diversidade Linguística (CTINDL).

Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a conclusão do pedido sobre o hunsriqueano depende da criação de um Conselho Nacional de Políticas para a Diversidade Linguística (CNPDL), o que está em tramitação no Ministério da Cultura.

"A Comissão é necessária para que se tenha condições técnicas para submeter a proposta de inclusão da língua Hunsrückisch (e de outras 25 línguas já inventariadas e mais 10 com pesquisas em andamento) no Inventário Nacional de Diversidade Linguística", explicou o IPHAN.

Pesquisador em pé, folheando livro e olhando para estante

Crédito,Luiz Antônio Araujo/BBC News Brasil

Legenda da foto,Apesar de perceber a perda linguística em sua própria família, Altenhofen vê esse processo como algo natural

Atualmente, sete línguas obtiveram o reconhecimento: seis indígenas (asurini, guarani m'bya, nahukuá, matipo, kuikuro e kalapalo) e uma europeia (o talian, falado por migrantes da região do Vêneto, hoje na Itália).

As línguas que recebem esse reconhecimento viram foco de ações de valorização por parte do Estado brasileiro.

Nem mesmo um erudito como Altenhofen, de 62 anos, está imune à perda linguística.

"Minha geração ainda teve a transmissão [do hunsriqueano]", observa, referindo-se a si próprio, aos dois irmãos e às duas irmãs.

As filhas e sobrinhas do professor, por outro lado, são a primeira geração dos Altenhofen a não dominar o idioma dos ancestrais.

"A estrutura social mudou: Porto Alegre [onde vive e trabalha] não é Harmonia [município do Vale do Caí onde cresceu, fundado por migrantes alemães], e as novas gerações vivem em um mundo em que o português está muito mais presente", reflete.

Mas o pesquisador considera a perda linguística um processo natural. Ele não se preocupa com o aumento — como ocorreu com o hunsriqueano no Brasil no século 19 — ou com a diminuição do número de falantes, e sim com a transmissão, o que move seu trabalho.

Na Alemanha, hunsriqueano é dialeto

Segundo o Inventário do Hunsrückisch como Língua Brasileira de Imigração, o hunsriqueano é uma das 14 línguas alemãs do Brasil.

Já na Alemanha, essa divisão não se aplica, explica Gilvan Müller de Oliveira, professor associado de Linguística da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e ex-diretor executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP).

Para o Estado alemão, existe uma única língua alemã, o alemão padrão, e dezenas de dialetos — incluindo o Pfälzisch, forma próxima do Hunsrückisch ainda hoje falada em certas partes do país europeu.

"A formação do estado-nação na Alemanha, na Itália e em outros países europeus está baseada na ideia de uma única língua, legitimada no caso alemão pela Bíblia de Lutero, no italiano pela Divina Comédia, de Dante Alighieri, e assim por diante", explica Oliveira.

O restante, afirma o linguista, são dialetos colocados em segundo plano e que tiveram sua transmissão interrompida ou dificultada por uma "ideologia de língua única".

"Isso é exatamente o contrário do que nós estamos fazendo no Brasil", diz o professor.

Três homens conversando sentados em ambiente doméstico; Cleo segura um gravador

Crédito,Divulgação/Projeto ALMA-H/UFRGS

Legenda da foto,Altenhofen (na foto, à dir.) durante entrevista para o projeto Atlas Linguístico-Contatual das Minorias Alemãs na Bacia do Prata: Hunsrükisch (ALMA-H)

Oliveira explica que classificar o hunsriqueano como dialeto do alemão faz com que este pareça descartável.

"Temos de reconhecer a existência de várias línguas, como o alemão, o hunsriqueano, o pomerano, o vestfaliano, o bávaro, o suábio falado no Paraná e outras ilhas linguísticas reunidas no conceito de línguas alemãs", diz.

Com essa política, o Brasil adota um curso inverso ao de boa parte de sua história, quando, segundo Oliveira, reprimiu os não falantes de português.

No Estado Novo, regime ditatorial liderado por Vargas entre 1937 e 1945, o uso público de línguas estrangeiras e indígenas foi proibido.

Um levantamento de Oliveira identificou 243 páginas de legislação federal e de leis em Santa Catarina que contribuíram com o combate à existência de várias línguas entre 1911 e 1963.

Atualmente, de acordo com os entrevistados, o Brasil avançou bem em políticas governamentais — municipais, estaduais e federais — para a preservação da diversidade linguística, incluindo por exemplo esforços relativos às línguas indígenas.

Em Nova Petrópolis, queda abrupta do número de falantes

Em Nova Petrópolis (RS), município de 23,8 mil habitantes na Serra Gaúcha, o hunsriqueano é uma das variantes do alemão cotidianamente utilizadas pela população.

O município foi um dos 41 pontos visitados entre 2017 e 2018 pela equipe de especialistas responsáveis pelo Inventário do Hunsrückisch como Língua Brasileira de Imigração.

"Não é fácil manter o Hunsrückisch por múltiplas razões: as novas gerações não frequentam mais a casa dos avós, e sim creches, e estão muito influenciadas pelo inglês", afirma Célia Weber Heylman, de Nova Petrópolis.

Professora aposentada de alemão (padrão), Célia testemunhou em sala de aula a queda no número de falantes.

"Nos últimos anos, apenas um ou dois de cada 10 alunos falava alemão em família", relata.

Como a maioria dos professores de alemão no Brasil, Célia vê o hunsriqueano como uma ponte para a aprendizagem do alemão padrão e de idiomas em geral — mas crê que o ensino deve ter por base o alemão padrão.

Distante 46 quilômetros de Nova Petrópolis, o município gaúcho de Santa Maria do Herval é palco de uma experiência distinta.

Em 2004, por iniciativa da linguista alemã Ursula Wiesemann, a localidade tornou-se laboratório de uma iniciativa inédita de valorização do hunsriqueano — chamado de Hunsrik nessa versão.

Batizado de Projeto Hunsrik Plat Taytx, o programa idealizado por Ursula incluiu a formalização de um sistema de escrita, a inclusão da língua no currículo escolar a partir de 2017 e a publicação de materiais didáticos e obras literárias.

O sistema foi registrado pelos criadores no Ethnologue, órgão responsável por catalogar as línguas do mundo e que serve de referência para organismos internacionais como a Unesco, braço das Nações Unidas para a educação.

No ano passado, o Hunsrik foi incluído como idioma no Google Tradutor.

Placa na estrada mostra direções de Walachai, São José do Herval e Sta. Maria do Herval

Crédito,Divulgação/Projeto ALMA-H/UFRGS

Legenda da foto,Santa Maria do Herval oficializou o ensino do Hunsrik

Até o momento, além de Santa Maria do Herval, pelo menos outros quatro municípios oficializaram o ensino do sistema Hunsrik Plat Taytx: Estância Velha e Nova Hartz, também no Rio Grande do Sul; e Antônio Carlos e Treze Tílias, em Santa Catarina.

A pedagoga Márcia Fenner, de Santa Maria do Herval, relata que o Hunsrik faz parte do currículo da pré-escola ao 5º ano do ensino fundamental e, a partir desse ponto, é oferecido alemão padrão como língua estrangeira.

Márcia conta que, quando fazia contação de histórias em uma escola do interior onde não havia creche, 90% das crianças que falavam hunsriqueano em casa ficavam indiferentes ao ouvir relatos feitos em português.

De início, ela decidiu combinar as duas línguas mas, em seguida, passou a utilizar mais hunsriqueano.

"A interação foi incrível porque quando se conta uma historinha ou piadinha em alemão, sempre parece mais engraçado", diverte-se a pedagoga.

Professora de alemão e ex-secretária municipal de Educação de Santa Maria do Herval, Maria Rejane Schuh Kuhn opôs-se à implantação do sistema Hunsrik Plat Taytx durante sua gestão, em 2009.

"As ações de preservar o hunsriqueano são importantes, mas o incentivo ao alemão padrão serve à conexão com a comunidade e os antepassados e abre muito mais portas [para o estudante] do que o dialeto", afirma Maria Rejane.

Para Altenhofen, o desuso é fatal para o hunsriqueano e outras línguas minoritárias.

"Essas são línguas de comunidade, que fortalecem o pertencimento, a identidade", afirma.

Uma palavra hunsriqueana sintetiza essa dimensão afetiva: mottersproch (língua materna).