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sexta-feira, 28 de novembro de 2025
quinta-feira, 27 de novembro de 2025
Exames cerebrais mostram efeitos em crianças semelhantes aos traumas de guerra.
Exames cerebrais mostram efeitos em crianças semelhantes aos traumas de guerra.
Estudos com imagens cerebrais revelam que crianças expostas a conflitos familiares frequentes podem desenvolver padrões de atividade cerebral semelhantes aos de veteranos de guerra. A exposição constante a gritos, hostilidade e tensão emocional ativa os sistemas de alerta do cérebro de forma crônica.
Os exames mostram hiperatividade na amígdala e no córtex insular anterior - regiões responsáveis pela detecção de ameaças e medo. Esse padrão de "hipervigilância" prepara o cérebro para perigos constantes, mesmo na ausência de ameaça física real.
As consequências são profundas: essas alterações cerebrais aumentam significativamente o risco de desenvolver ansiedade, depressão e outros transtornos mentais na vida adulta. O conflito emocional crônico pode ser tão impactante quanto abusos físicos.
A descoberta reforça a importância de ambientes familiares emocionalmente seguros para o desenvolvimento cerebral saudável. Intervenções precoces e comunicação não-violenta são essenciais para proteger o desenvolvimento das crianças.
Fonte: McCrory, E. J. et al. "Heightened neural reactivity to threat in child victims of family violence." Current Biology (2011) | University College London
Como aprender qualquer coisa do zero.

Crédito,Getty Images
- Author,David Robson
- Role,
O fascínio de Tom Vanderbilt pelo processo de aprendizagem ao longo da vida começou com os hobbies da filha: piano, futebol, taekwondo. Ele queria encorajá-la em suas novas atividades e a acompanhava nas aulas e torneios.
Enquanto ela exercitava a mente, ele respondia e-mails, se divertia no celular ou olhava para o nada até a filha terminar. E logo reconheceu a hipocrisia da situação.
"Eu estava incutindo nela a importância de aprender todas essas diferentes habilidades", afirma. "Mas ela poderia facilmente ter me perguntado: 'Por que você não faz todas essas coisas, então?'"
A começar com aulas de xadrez, ele decidiu passar um ano desenvolvendo uma série de novas habilidades. Aprendeu a cantar, desenhar, fazer malabarismos e surfar.
Em nenhum momento, ele esperava dominar totalmente essas habilidades ou mostrar suas proezas com um feito extraordinário, como ganhar uma competição. Em vez disso, ele queria desfrutar do prazer do processo.
"Como adultos, nós imediatamente colocamos pressão sobre nós mesmos com objetivos. Sentimos que não podemos nos dar ao luxo de aprender só pelo aprendizado."

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Vanderbilt detalhou sua jornada no livro Beginners ("Principiantes", em tradução livre), em que combina suas experiências pessoais com a ciência de ponta por trás da aquisição de habilidades.
A BBC conversou com ele para entender os mitos da aprendizagem de adultos e os benefícios substanciais que a "mentalidade de principiante" pode trazer para nossas vidas.
Como aprender bem
Começando o projeto com quase 40 anos, Vanderbilt sabia que teria dificuldade de corresponder às habilidades de aprendizagem de crianças, como sua filha.
As crianças são especialmente boas em captar padrões implicitamente — entendendo que certas ações levarão a determinados tipos de eventos, sem qualquer explicação ou descrição do que estão fazendo.
Depois dos 12 anos, no entanto, perdemos parte dessa capacidade de absorver novas informações.
Mas não devemos ser muito pessimistas em relação às nossas próprias habilidades.
Embora os adultos possam não absorver novas habilidades tão facilmente quanto uma criança, ainda temos "neuroplasticidade" — capacidade do cérebro de se reprogramar em resposta a novos desafios.
Em seu ano de aprendizado, Vanderbilt conheceu muitas pessoas que já passaram da meia-idade e ainda exerciam esse "superpoder".

Crédito,Photothek via Getty Images

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Além disso, a pesquisa de Vanderbilt revelou alguns princípios básicos de um bom aprendizado que qualquer pessoa pode usar para tornar o aprendizado mais eficaz.
O primeiro pode parecer óbvio, mas esquecemos facilmente: precisamos aprender com nossos erros.
Portanto, em vez de apenas repetir as mesmas ações sem pensar, precisamos ser mais focados e analíticos, refletindo sobre o que fizemos certo e o que fizemos de errado — os psicólogos chamam isso de "prática deliberada".
Vanderbilt notou isso ao jogar xadrez.
Você pode passar horas jogando online, mas isso não seria tão eficaz quanto estudar as estratégias de profissionais ou discutir os motivos de suas derrotas com um professor de xadrez.
O segundo princípio é mais contraintuitivo: precisamos nos certificar de que nossa prática seja variada.
No malabarismo, por exemplo, trocar os objetos, ou mudar a altura em que você os lança, foi útil para ele, que tentou sentado e enquanto caminhava.
Como um cientista disse a Vanderbilt, isso é "repetição sem repetição" e força os padrões aprendidos do cérebro a se tornarem mais flexíveis, permitindo que você lide com dificuldades imprevisíveis — como um erro em um de seus movimentos anteriores que pode fazer com que você perca o controle.
Mais intrigante ainda, Vanderbilt descobriu que muitas vezes aprendemos melhor quando sabemos que teremos de ensinar a mesma habilidade a outros.
Não está claro por que isso acontece, mas essa expectativa parece aumentar o interesse e a curiosidade das pessoas, o que estimula a atenção do cérebro e ajuda a garantir que ele estabeleça traços de memória mais fortes.
Vanderbilt teve muitas oportunidades de ensinar o que havia aprendido, já que frequentemente incluía sua filha em seus projetos.
Portanto, seja o que for que você esteja tentando dominar a nível pessoal, considere compartilhar essa habilidade com alguém que você conhece.

Crédito,Getty Images
E embora você possa achar proveitoso observar verdadeiros especialistas executando uma habilidade, Vanderbilt descobriu que também pode ser útil acompanhar outros novatos, uma vez que você pode analisar mais facilmente o que eles estão fazendo certo e o que estão fazendo de errado.
Com esse conhecimento, Vanderbilt progrediu bastante em cada uma das habilidades que se propôs a aprender. Cantar, diz ele, era um dos maiores obstáculos, emocionalmente.
"Esse processo de se abrir para um estranho da forma mais crua", explica.
Quando ele superou esse nervosismo, no entanto, cantar também se revelou a atividade mais gratificante.
"É a coisa a que eu provavelmente me doei ao máximo, porque tem um prazer inerente e faz você se sentir tão bem."
Ele acabou se tornando membro do coral de Britpop de Nova York.
Se você está inspirado a começar uma nova atividade sozinho, Vanderbilt aconselha começar com algo que seja fácil de integrar ao seu atual estilo de vida. Você pode se surpreender com a velocidade do seu progresso, diz ele.
"Muitas pessoas ficam presas à ideia de que isso é apenas um grande investimento de tempo — que é um caminho sem fim —, e isso é muito assustador para elas."
Ele descobriu que os traços dos seus desenhos, por exemplo, haviam melhorado significativamente no tempo que normalmente levaria para maratonar uma série de TV.
O fator 'por quê'
Você ainda pode se perguntar por que deveria fazer esse esforço, quando poderia estar à toa no sofá.
Mas Vanderbilt destaca que há muitos benefícios em abraçar qualquer nova habilidade — incluindo algumas mudanças cerebrais de longo prazo que poderiam compensar parte do declínio mental que geralmente vem com o envelhecimento.
Ele cita um estudo com adultos — de 58 a 86 anos — que fizeram vários cursos em áreas como espanhol, música, composição e pintura.
Depois de alguns meses, eles não apenas haviam feito um bom progresso nas respectivas habilidades individuais, como também apresentaram uma melhora pronunciada em testes cognitivos mais amplos — que correspondia ao desempenho de adultos 30 anos mais jovens.
Curiosamente, esses benefícios pareciam ser provenientes da experimentação de várias habilidades, em vez de terem focado exclusivamente em uma em particular.
Como Vanderbilt escreve em seu livro, "em vez de correr uma maratona, você está submetendo seu cérebro a uma variedade de exercícios intervalados de alta intensidade. Cada vez que você começa a aprender essa nova habilidade, você está reconfigurando. Está treinando seu cérebro novamente para ser mais eficiente."
Temos a tendência de ver o 'diletante' como alguém superficial e sem dedicação. Mas parece que aqueles que são 'pau para toda obra' — o eterno principiante — podem ter um cérebro mais aguçado do que os mestres em uma única habilidade.
A busca de vários interesses diferentes ao longo da vida pode até aumentar sua criatividade.
Como David Epstein observou no livro David Robson, os ganhadores do Prêmio Nobel eram muito mais propensos a desfrutar de atividades artísticas como música, dança, artes visuais ou escrita criativa do que outros cientistas.
Conforme você começa a aprender uma nova habilidade, haverá momentos de frustração e de fracasso — mas essas podem ser, na verdade, as experiências mais importantes de todo o processo.

Crédito,Tom Vanderbilt
Depois de anos de experiência no jornalismo, Vanderbilt diz que os novos desafios foram uma mudança bem-vinda em seu "comodismo profissional".
"Meio que abriu minha mente e me trouxe de volta essa sensação de não saber", diz ele.
Isso se aplicou especialmente a habilidades que já pareciam de alguma forma familiares — como desenhar.
"O aprendizado da coisa em si era, muitas vezes, diferente do que eu imaginava. Minhas expectativas eram constantemente contrariadas."
Várias pesquisas têm mostrado que a humildade intelectual — a capacidade de reconhecer os limites do nosso conhecimento — pode melhorar fortemente nosso pensamento e a tomada de decisão.
E essa capacidade de reconsiderar nossas ideias preconcebidas e abrir nossas mentes para novas formas de pensar pode ser cada vez mais importante no mundo em rápida mudança de hoje.
Quer estejamos aprendendo por prazer ou tentando aperfeiçoar nossas habilidades profissionais, todos nós podemos ser bem-sucedidos ao cultivar essa "mentalidade de principiante", em que não há certezas, e há tudo para aprender.
Este texto foi publicado originalmente em 17 de abril de 2021.
Sinergia para Transformação: A Economia Ecologia das Políticas Públicas por Egidio Guerra.
Em um mundo de desafios cada vez mais complexos e interconectados, como a pobreza, a crise climática, as desigualdades profundas e a insegurança, as soluções fragmentadas e setoriais mostram-se insuficientes. A nova fronteira do desenvolvimento social e urbano reside na capacidade de criar políticas públicas que trabalhem sinergias. Estas não são meros programas de governo, mas ecossistemas de ação que otimizam recursos escassos, somam competências diversas e integram processos antes isolados, para ampliar impactos e transformar, de fato, vidas e cidades.
Essa abordagem exige uma arquitetura de colaboração que envolve diferentes atores da sociedade: as Empresas, com sua eficiência, inovação e capacidade de investimento; as ONGs, com seu conhecimento de base e trabalho direto com comunidades; as Universidades e Escolas, gerando conhecimento, evidências e formando novos talentos; os Movimentos Sociais, articulando demandas reais e exercendo pressão legítima; o Mercado Financeiro, direcionando capital para investimentos de impacto; e a Cooperação Internacional, trazendo recursos, experiências globais e perspectivas ampliadas. Quando estes setores deixam de atuar em silos e passam a co-criar, a sociedade como um todo se torna mais resiliente e forte, capaz de enfrentar problemas que nenhum setor resolveria sozinho.
O Paralelo com a Simbiose: A Lição da Natureza
Este modelo encontra seu espelho mais perfeito na simbiose da natureza. Na floresta, os fungos micorrízicos formam uma vasta rede subterrânea (a "Wood Wide Web") que conecta árvores, permitindo a troca de nutrientes, água e informações de alerta. A árvore mais forte sustenta a mais fraca; a planta fornece açúcares ao fungo, que, em troca, amplia sua capacidade de absorção de recursos. Não é uma relação de competição, mas de cooperação fundamental para a saúde de todo o ecossistema. Da mesma forma, a ciência moderna avança através de colaborações globais, onde dados, descobertas e competências se somam, acelerando a inovação.
A filosofia e a psicologia profundas já intuíam essa verdade. O antropólogo Gregory Bateson, em sua "Ecologia da Mente", afirmava que a unidade de sobrevivência não é o organismo isolado, mas o organismo-em-seu-ambiente. A mente não está confinada ao crânio; ela é imanente aos circuitos e às relações que formamos com o mundo. Carl Jung, ao explorar o inconsciente coletivo, revelou que somos interligados por arquétipos e experiências comuns, e que a empatia é a ponte que nos permite reconhecer essa unidade. Não existe "liberdade" individual plena em um contexto de colapso social, nem "igualdade" genuína sem uma rede de apoio cooperativa.
A Resposta à Desagregação Neoliberal e a Ascensão do Cosmos Cooperativo
Este paradigma de sinergia é um antídoto vital à lógica do neoliberalismo, que, ao buscar a desconstrução do Estado e a mercantilização de todas as esferas da vida, incentiva o consumo desenfreado, o hiper individualismo e a erosão dos laços comunitários. Ele nos convenceu de que o egoísmo é um motor de progresso, quando, na verdade, é a semente da fragilidade coletiva.
Hoje, percebemos que nossa existência é intrinsecamente simbiótica em escalas cada vez maiores. O planeta é um sistema integrado de fungos, animais, plantas e seres humanos. E estamos a ampliar essa rede: tornamo-nos cyborgs através de próteses, smartphones e interfaces cérebro-máquina; criamos inteligências artificiais e robôs que, se guiados por uma ética cooperativa, podem ser parceiros na solução de problemas complexos. Ao mirarmos outros planetas, não iremos como indivíduos isolados, mas como uma humanidade unida, levando conosco o princípio fundamental da cooperação para nos integrarmos ao cosmos.
Concluindo, a construção de um futuro próspero e justo não dependerá de heróis solitários ou de mercados autorregulados, mas da nossa capacidade de tecer, de forma consciente e deliberada, uma ecologia de cooperação. São as políticas públicas sinérgicas, inspiradas na sabedoria da natureza e na ciência colaborativa, que nos permitirão responder aos grandes desafios do nosso tempo, tornando-nos, de fato, uma sociedade mais sábia, mais forte e verdadeiramente interligada.


