SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

quarta-feira, 31 de dezembro de 2025

Que venha 2026, com a riqueza de todas as vozes e a unidade de um só coração na Terra.



Português (Base)

Feliz 2026! Que este novo ano seja abençoado com paz que acalma os corações, amor que une as famílias, e vida em sua plenitude. Que a prosperidade floresça em nossos lares, guiada pela sabedoria para escolhermos o melhor caminho. Que a proteção de Deus guarde nossos passos e renove a esperança na Terra, nosso lar comum.


English (Inglês)

Happy 2026! May this new year be blessed with peace that mends the world, love that bridges all divides, and life celebrated in every breath. May prosperity grow from our shared efforts, guided by the wisdom to build a kinder future. May God's protection shield our journeys and inspire us to be stewards of this beautiful Earth.


Español (Espanhol)

¡Feliz 2026! Que este nuevo año esté bendecido con la paz que teje entendimiento, el amor que fortalece la comunidad, y la vida que se renueva cada día. Que la prosperidad llegue a cada hogar, iluminada por la sabeduría de nuestros ancestros. Que la protección de Dios cubra nuestros caminos y nos guíe para cuidar con gratitud de nuestra Madre Tierra.


Deutsch (Alemão)

Frohes 2026! Möge dieses neue Jahr gesegnet sein mit Frieden, der Herzen verbindet, Liebe, die Geborgenheit schenkt, und Leben in seiner kostbaren Fülle. Möge Wohlstand durch Fleiß und Gemeinsinn wachsen, geleitet von der Weisheit, das Wesentliche zu erkennen. Möge Gottes Schutz uns alle behüten und uns die Kraft geben, verantwortungsvoll unsere Erde, die Heimat aller, zu bewahren.


עִבְרִית (Hebraico) - Transliterado e Traduzido

Shanah Tovah 2026! (שנה טובה 2026)
Que este ano seja abençoado com shalom (paz) que traz harmonia, ahavah (amor) que constrói laços, e chayim (vida) em abundância. Que a hatzlachah (prosperidade) seja fruto do nosso trabalho justo, iluminada pela chochmah (sabedoria) da Torá. Que a proteção de Hashem (Deus) envolva nossas vidas e nos conceda a missão sagrada de proteger a Criação, o jardim que nos foi confiado.


中文 (Chinês - Mandarim)

2026 新年快乐!(Xīnnián kuàilè!)
愿新的一年充满和平(hépíng),治愈世界;充满(ài),连接心灵;愿生命(shēngmìng)繁荣昌盛。愿繁荣(fánróng)与努力同行,并由祖先的智慧(zhìhuì)指引前路。愿上天(Shàngtiān)的护佑照亮每一步,并赋予我们和谐与平衡的智慧,珍惜我们共同的地球家园。


Italiano (Italiano)

Felice 2026! Che questo nuovo anno sia benedetto dalla pace che rasserena l'anima, dall'amore che rende più forte ogni legame, e dalla vita nella sua gioia più pura. Che la prosperità sia condivisa e generosa, guidata dalla saggezza del cuore. Che la protezione di Dio vegli su di noi e ci doni il coraggio di custodire con dolcezza la Terra, dono prezioso per tutte le creature.


Língua Africana (Exemplo com o Zulu - uma das muitas línguas)

Izilokotho Ezinhle Zonyaka Ka-2026! (Feliz Ano Novo de 2026!)
Makube unyaka onesithuthu (paz) esikhundleni, nothando (amor) oluhlanganisa umndeni wonke, nempilo enothando. Makube nenala (prosperidade) eze ngomsebenzi wethu, ekhokelwa ukuhlakanipha (sabedoria) kwezinyanya zethu. Makube ngesiphepha sikaNkulunkulu (Deus) sivike izinyawo zethu futhi sisinike istthunzi sokugcina indalo, umhlaba wethu wokuzalwa, ube ngowokuthula nenjabulo.
(Nota: O Zulu, como muitas línguas africanas, integra profundamente os conceitos de comunidade (umndeni), ancestralidade (izinyanya) e harmonia com a criação (indalo).)


Fio Condutor Comum

Todos os votos, em suas diferentes sonoridades e referências culturais—seja a Sabedoria da Torá, a Harmonia do Céu, a Criação de Deus ou a Sabedoria dos Ancestrais—convergem para um desejo universal: um futuro onde o bem-estar humano caminhe de mãos dadas com o cuidado sagrado pelo nosso planeta. Que 2026 seja um passo nessa direção.

Que venha 2026, com a riqueza de todas as vozes e a unidade de um só coração.

Latino, Caio Giovani - Me Leva




 

João Gomes Cantor - POR QUE? - João Gomes e Dorgival Dantas (DVD Meu Piseiro Brasileiro)


 

QUE DEUS ME LIVRE - Chambinho Do Acordeon, ‪@Ruanvitor_vaqueirinhoofc‬


 

A jornada de 27 anos do homem que resolveu dar a volta ao mundo a pé — e que finalmente se aproxima do fim

 

Um homem de cabelos loiros, com barba por fazer, caminha por uma montanha, com uma floresta densa abaixo. Ele carrega uma grande mochila, coberta por uma capa verde

Crédito,Karl Bushby

Legenda da foto,Karl Bushby iniciou sua aventura em 1998, esperando que a viagem durasse 12 anos
    • Author,Kevin Shoesmith
    • Reporting from,em Hull (Reino Unido)
  • Tempo de leitura: 7 min

Há 27 anos, Karl Bushby deixou Hull, no Reino Unido, para percorrer a pé 58 mil km ao redor do mundo. Em setembro de 2026, o ex-paraquedista espera voltar à cidade natal, onde sua mãe, que ele descreve como sua fã número um, estará à sua espera.

"Estarei aqui", diz Angela Bushby, 75, enquanto percorre com o olhar o ambiente que guarda memórias preciosas.

"Não estarei no túnel [sob o Canal da Mancha, entre a França e o Reino Unido]. Estarei aqui, em Hull, esperando que ele atravesse aquele portão e, depois de lhe dar um abraço, vou dizer: '… e que horas são essas, Karl?'"

Uma mulher de óculos, com cabelos castanho-claros já grisalhos, segura um álbum de recortes com fotos do filho coladas na capa

Crédito,Kevin Shoesmith/BBC News

Legenda da foto,Angela Bushby manteve álbuns de recortes que registram a trajetória de Karl

Karl Bushby deixou o Chile (América do Sul) em novembro de 1998, com o objetivo de voltar para casa caminhando, sem usar nenhum meio de transporte.

Ele acreditava que a expedição levaria 12 anos. A geopolítica, guerras e a dificuldade para obter vistos atrasaram o progresso, mas agora, prestes a entrar na Áustria, Karl se prepara para o reencontro com sua família.

Eu estou com Angela na sala de estar de sua casa no conjunto habitacional Sutton Park, em Hull. É a casa da infância de Karl.

Desde 1998, ela viu o filho apenas três vezes, incluindo antes de ele se tornar o primeiro britânico a atravessar o congelado estreito de Bering, entre a América do Norte e a Rússia, em 2006.

Sentada em sua poltrona, Angela olha para as fotografias do filho e diz: "Ele certamente me tirou o sono algumas vezes, posso lhe garantir. É um milagre eu não estar com todos os meus cabelos brancos!"

Ela acrescenta: "Ele ainda é meu menininho. Toda mãe pensa assim, não importa como eles sejam ou o que façam".

Foi nesta sala em que ela fala com a BBC que Karl apresentou a Angela seu plano para a Expedição Golias, com o apoio do pai, Keith, ex-soldado do Serviço Aéreo Especial do Reino Unido (Special Air Service, SAS).

"Fiquei de queixo caído quando Karl me contou o que pretendia fazer", diz Angela, aposentada de uma fábrica de salgadinhos e divorciada do pai de Karl.

Sobre a mesa de centro, repousa uma pilha de fotografias da família. E uma imagem se destaca: um menino de cabelos claros se prepara para subir em um galho de árvore, enquanto o irmão o segura. O garoto mais velho parece totalmente concentrado.

"Karl sempre foi teimoso", diz Angela. "Quando Karl põe algo na cabeça, ele vai lá e faz."

Dois meninos, ambos usando suéteres de listras horizontais, estão ao lado de uma árvore. Um deles a segura, enquanto o outro, com expressão determinada, está prestes a escalá-la

Crédito,Angela Bushby

Legenda da foto,Karl Bushby, à direita, com o irmão mais novo, Adrian

Na parede, há fotografias de Karl e do irmão, Adrian, dois anos mais novo, que registram a trajetória de ambos no Exército.

Karl aparece usando a boina vermelha escura e as "asas" do Regimento de Paraquedistas.

À primeira vista, pode parecer que Karl passou, com facilidade, de uma aventura a outra.

"Ele não teve vida fácil", diz Angela, batendo de leve no vidro que protege a fotografia da cerimônia de formatura militar do filho.

Uma mulher de óculos, com cabelos castanho-claros, apoia as mãos em um portão de ferro trabalhado em frente à sua casa. A foto foi tirada à noite, com a luz da sala de estar iluminando o fundo

Crédito,Kevin Shoesmith/BBC

Legenda da foto,Angela Bushby diz que mal pode esperar para se reencontrar com o filho, Karl

Dislexia e bullying

Karl, então um adolescente em boa forma física, mas franzino, precisou de várias tentativas para ser aprovado no P Company, a unidade de seleção e treinamento pré-paraquedista da força aerotransportada do Exército britânico.

Segundo a mãe, garra e determinação, combinadas com o desejo de honrar a si mesmo e à família, fizeram com que ele superasse as dificuldades.

A sala de estar de casa também foi o lugar onde Angela consolou o filho quando ele foi alvo de bullying na escola pública da região.

"Karl era chamado de burro e estúpido", afirma. "Ele não era nenhuma dessas coisas. Ele sofreu muito na escola."

Uma antiga fotografia escolar mostra um menino com sardas. Ele veste uma camisa cinza e uma gravata preta e dourada sob um suéter grande de gola em V

Crédito,Family photo

Legenda da foto,Karl teve dificuldades na escola por causa da dislexia grave, afirma a mãe
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Karl descreve aqueles anos como "um inferno".

"Ele tinha 13 anos quando foi diagnosticado com dislexia", diz Angela, cujo filho concordou que ela compartilhasse os detalhes, na esperança de que sua história de superação inspire outras pessoas.

"Quando ele soube que havia um motivo para as dificuldades, decolou. Não havia mais como segurá-lo. Encontrou maneiras de contornar a condição e passou a gostar de ler. Teve de trabalhar muito duro para chegar onde está."

Angela mantém álbuns de recortes com reportagens de jornais que registram a trajetória de Karl.

Até agora, ele já caminhou pela América do Sul, Central e do Norte, além de partes da Ásia, antes de entrar na Europa.

Em 2024, nadou 300 km pelo mar Cáspio (entre Ásia e Europa) para evitar ter de entrar novamente no Irã ou na Rússia, onde enfrentou dificuldades para obter vistos.

Ele está prestes a deixar a Hungria e entrar na Áustria.

Pergunto a Angela se ela acha que o filho, diante dos fortes vínculos da família com a carreira militar, estava destinado a levar uma vida tão movida à adrenalina.

"Na verdade, não", diz ela. "Quando criança, ele nunca me deu trabalho. Sempre foi um menino adorável. Karl sempre gostou de estar ao ar livre."

"Era um sacrifício fazê-lo voltar para dentro de casa à noite. Ele adorava observar pássaros nos campos."

Angela faz um gesto em direção às portas de vidro que dão para o quintal.

"Ele sempre quis estar lá fora", afirma.

Os campos, território das aventuras de Karl, desapareceram há muito tempo, substituídos por casas.

Imagem em preto e branco mostra jovens integrantes do Regimento de Paraquedistas marchando em um pátio de formatura. Os soldados carregam fuzis SA80 com baionetas fixadas

Crédito,Angela Bushby

Legenda da foto,Karl Bushby (centro) serviu por 12 anos no 3º Batalhão do Regimento de Paraquedistas do Reino Unido

Para Angela, as décadas trouxeram uma mistura intensa de orgulho e preocupação.

Sua memória volta a abril de 2006, quando chegou a notícia de que Karl havia alcançado a Rússia após 14 dias caminhando sobre placas de gelo instáveis, sob temperaturas que chegavam a –30°C.

"Houve um alívio por ele ter conseguido", diz Angela. "Pouco antes de sair do Alasca [EUA], ele pediu para ver a família, caso algo lhe acontecesse. Todos nós fomos para lá. Ele sabia que havia uma chance muito grande de não conseguir."

"Eu estava no trabalho quando alguém me contou que tinha ouvido no rádio que Karl havia sido preso por entrar ilegalmente na Rússia. Meu coração quase parou."

Angela também se recorda de uma ocasião em que Karl experimentou uma bebida que lhe foi oferecida na América do Sul.

"Ele disse que as árvores começaram a andar em direção a ele e que o céu já não parecia o mesmo de antes, aparentemente", relata Angela. "Quando ele me contou, fiquei furiosa por ter provado aquilo."

Angela claramente sente muita falta do filho.

"No começo da caminhada, eu recebia telefonemas de vez em quando", diz. "Hoje em dia, a gente costuma se falar pelo [aplicativo de mensagens] Messenger."

Angela guardou presentes para Karl ao longo dos anos.

"Continuei comprando um presente de Natal para ele todos os anos", afirma. "Ele vai ter vários para abrir. Quando contei, ele disse: 'Mãe, você deve estar louca'."

Mas isso ajuda Angela.

Karl Bushby veste roupa de mergulho e óculos escuros

Crédito,Karl Bushby

Legenda da foto,Em 2024, Karl Bushby nadou 300 km pelo mar Cáspio para evitar ter de entrar novamente no Irã ou na Rússia, onde enfrentou dificuldades para obter vistos

Ela admite que se preocupa com a forma como Karl vai se readaptar à vida em sociedade quando voltar para casa.

"Não sei o que ele vai fazer", diz, com ar pensativo. "Espero que ele acabe ficando aqui."

Angela fica perdida em seus pensamentos.

"Mas acho que não vai acontecer. Não acho que ele vá conseguir ficar parado em um só lugar depois de viajar por tanto tempo."

Mais tarde, por telefone, Karl conta à BBC sua reação ao comentário de sua mãe: "Que horas são essas?"

"Essa é a hora da verdade", responde.

Por que 2026 pode ser decisivo no mundo: 'Se você imaginava a Terceira Guerra Mundial como um confronto nuclear, é melhor repensar'

 

Integrantes da guarda de honra do Exército de Libertação Popular da China

Crédito,Maxim Shemetov/EPA/Shutterstock

Legenda da foto,No caso da China, o presidente Xi Jinping tem feito poucas ameaças diretas recentemente contra a ilha autogovernada de Taiwan
    • Author,John Simpson
    • Role,Editor de assuntos internacionais da BBC News
  • Tempo de leitura: 10 min

Conteúdo sensível: Este artigo contém uma descrição gráfica da morte que alguns leitores podem achar perturbadora.

Ao longo da minha carreira, iniciada nos anos 1960, cobri mais de 40 guerras ao redor do mundo. Vi a Guerra Fria atingir o seu auge e, em seguida, simplesmente evaporar. Mas nunca testemunhei um ano tão preocupante quanto 2025; não apenas porque vários grandes conflitos estão em curso, mas porque está ficando claro que um deles tem implicações geopolíticas de importância sem precedentes.

O presidente da UcrâniaVolodymyr Zelensky, alertou que o conflito atual em seu país pode escalar para uma guerra mundial. Depois de quase 60 anos acompanhando conflitos, tenho a desagradável sensação de que ele pode estar certo.

Volodymyr Zelensky (centro) fala à imprensa na cidade de Bucha, a noroeste da capital ucraniana, Kiev, em 4 de abril de 2022

Crédito,AFP via Getty Images

Legenda da foto,O presidente da Ucrânia alertou que o atual conflito no país pode se transformar em uma guerra mundial

Governos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) estão em alerta máximo diante de qualquer sinal de que a Rússia esteja cortando cabos submarinos responsáveis pelo tráfego eletrônico que mantém seus países em funcionamento. Drones russos são acusados de testar as defesas de membros da Otan. Hackers desenvolvem métodos para tirar do ar ministérios, serviços de emergência e grandes corporações.

Autoridades no Ocidente têm convicção de que os serviços secretos russos assassinam ou tentam assassinar dissidentes que buscam refúgio fora da Rússia. Uma investigação sobre a tentativa de assassinato em 2018, em Salisbury (Inglaterra), do ex-agente de inteligência russo Sergei Skripal (além do envenenamento fatal de uma moradora local, Dawn Sturgess), concluiu que o ataque foi autorizado no mais alto nível do Estado russo. Ou seja, pelo próprio presidente da RússiaVladimir Putin.

Desta vez, parece diferente

O ano de 2025 tem sido marcado por três guerras muito distintas. Há, claro, a guerra da Ucrânia, onde a Organização das Nações Unidas (ONU) afirma que 14 mil civis morreram. Há também Gaza, onde o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, prometeu "vingança poderosa" depois que cerca de 1.200 pessoas foram mortas no ataque do Hamas a Israel (em 07/10/23) e outras 251 foram feitas reféns.

Desde então, mais de 70 mil palestinos morreram em ações militares israelenses, incluindo mais de 30 mil mulheres e crianças, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, controlado pelo Hamas — números que a ONU considera confiáveis.

Enquanto isso, o Sudão enfrenta uma violenta guerra civil entre duas facções militares. Mais de 150 mil pessoas morreram no país nos últimos dois anos, e cerca de 12 milhões foram forçadas a deixar suas casas.

Talvez, se esse tivesse sido o único conflito de 2025, o mundo externo tivesse feito mais para tentar detê-lo. Mas não foi o caso.

"Sou bom em resolver guerras", disse o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, enquanto seu avião o levava a Israel, depois de ter negociado um cessar-fogo nos combates em Gaza. É verdade que menos pessoas estão morrendo agora no território. Apesar do cessar-fogo, porém, a guerra em Gaza está longe de parecer resolvida.

Diante do sofrimento atroz no Oriente Médio, pode soar estranho dizer que a guerra na Ucrânia está em um patamar completamente diferente. Mas está.

O presidente dos EUA, Donald Trump, desembarca do Air Force One

Crédito,Anna Moneymaker / Getty Images

Legenda da foto,"Sou bom em resolver guerras", disse o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump
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À exceção da Guerra Fria (1947–1991), a maioria dos conflitos que cobri como jornalista ao longo dos anos foi de menor escala: violentos e perigosos, sem dúvida, mas não graves o bastante para ameaçar a paz mundial. Alguns, como a Guerra do Vietnã (1955-1975), a Primeira Guerra do Golfo (1990–1991) e a Guerra do Kosovo (1998–1999), chegaram, em determinados momentos, a parecer à beira de algo muito pior, mas nunca ultrapassaram esse limite.

As grandes potências eram cautelosas demais diante do risco de que uma guerra convencional e localizada pudesse se transformar em um conflito nuclear.

"Não vou iniciar a Terceira Guerra Mundial por causa de vocês", teria gritado ao rádio o general britânico Sir Mike Jackson, em 1999, no Kosovo, quando um superior da Otan ordenou que forças britânicas e francesas tomassem um aeroporto em Pristina (capital do Kosovo) depois que tropas russas haviam chegado primeiro.

No próximo ano, 2026, no entanto, a Rússia, percebendo a aparente falta de interesse de Trump pela Europa, parece disposta a avançar em busca de uma dominância muito maior.

No início deste mês (02/12), Putin afirmou que a Rússia não planeja entrar em guerra com a Europa, mas disse estar pronta "agora mesmo" caso os europeus queiram.

Em um evento televisionado posterior, declarou: "Não haverá operações se vocês nos tratarem com respeito, se respeitarem nossos interesses, assim como sempre tentamos respeitar os de vocês".

O presidente russo, Vladimir Putin, faz uma declaração durante uma entrevista coletiva

Crédito,Getty Images

Legenda da foto,Putin afirmou que a Rússia não pretende entrar em guerra com a Europa, mas disse estar pronta "agora mesmo" caso os europeus queiram

Mas a Rússia, uma das grandes potências globais, já invadiu um país europeu independente, provocando um elevado número de mortes entre civis e militares. A Ucrânia acusa Moscou de ter sequestrado ao menos 20 mil crianças. O Tribunal Penal Internacional (ICC, na sigla em inglês) expediu um mandado de prisão contra Putin por seu suposto envolvimento no caso, acusação que a Rússia sempre negou.

O governo russo afirma que a invasão ocorreu para se proteger do avanço da Otan, mas o presidente Putin já indicou outro motivo: o desejo de restaurar a esfera de influência regional da Rússia.

Desaprovação americana

Putin tem plena consciência de que o último ano, 2025, trouxe algo que a maioria dos países ocidentais considerava impensável: a possibilidade de um presidente dos EUA virar as costas ao sistema estratégico em vigor desde a Segunda Guerra Mundial (1939–1945).

Os EUA não apenas passaram a demonstrar incerteza quanto à disposição de proteger a Europa como também expressam desaprovação em relação ao rumo que acreditam que o continente vem tomando. O novo relatório de estratégia de segurança nacional do governo Trump afirma que a Europa enfrenta a "perspectiva sombria de apagamento civilizacional".

O governo russo acolheu o documento, dizendo que ele é compatível com a própria visão da Rússia. E, de fato, é.

Dentro do país, segundo a relatoria especial da ONU para direitos humanos na Rússia, Putin silenciou a maior parte da oposição interna a seu governo e à guerra na Ucrânia. Ainda assim, enfrenta dificuldades: a possibilidade de a inflação voltar a subir após um período de arrefecimento, a queda das receitas do petróleo e a necessidade de o governo ter elevado tributos para ajudar a financiar o conflito.

O presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, se reúnem no Salão Oval da Casa Branca

Crédito,Reuters

Legenda da foto,O presidente dos EUA, Donald Trump, e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, entraram em confronto durante uma reunião na Casa Branca, em fevereiro de 2025

As economias da União Europeia são dez vezes maiores que as da Rússia, e ainda maior se for incluído o Reino Unido. A população europeia combinada, de cerca de 450 milhões de pessoas, é mais de três vezes superior à da Rússia, estimada em 145 milhões. Ainda assim, a Europa Ocidental tem demonstrado receio de abrir mão de seus confortos e, até recentemente, mostrou-se relutante em arcar com os custos da própria defesa enquanto pudesse contar com a proteção americana.

Os EUA também mudaram: tornaram-se menos influentes, mais voltados para dentro e cada vez mais distintos do país que acompanhei ao longo de toda a minha carreira. Agora, de forma semelhante ao que ocorreu nas décadas de 1920 e 1930, o foco se voltou para os próprios interesses nacionais.

Mesmo que Trump perca parte significativa de sua força política nas eleições legislativas do próximo ano, ele pode ter deslocado o debate tão fortemente em direção ao isolacionismo que até um presidente americano mais alinhado à Otan em 2028 teria dificuldade para socorrer a Europa.

Não pense que Vladimir Putin não tenha percebido isso.

O risco de escalada

O próximo ano, 2026, tende a ser decisivo. Zelensky pode se ver obrigado a aceitar um acordo de paz que implique a perda de uma parte significativa do território ucraniano. A questão é saber se haverá garantias suficientemente sólidas para impedir que Putin volte a avançar dentro de alguns anos.

Para a Ucrânia e seus aliados europeus, que já sentem estar em guerra com a Rússia, essa é uma pergunta central. A Europa terá de assumir uma parcela muito maior do esforço para sustentar o país, mas, se os EUA resolverem virar as costas para a Ucrânia, como às vezes ameaçam fazer, o custo será colossal.

Equipes de resgate procuram pessoas sob os escombros de um prédio residencial destruído por um ataque com míssil russo em Kiev (Ucrânia)

Crédito,Global Images Ukraine via Getty Images

Legenda da foto,Se os EUA virarem as costas para a Ucrânia, isso representará um fardo colossal para a Europa

Mas a guerra poderia se transformar em um confronto nuclear?

Sabemos que o presidente russo, Vladimir Putin, é um jogador. Um líder mais cauteloso teria evitado invadir a Ucrânia em fevereiro de 2022. Seus auxiliares fazem ameaças aterradoras de apagar o Reino Unido e outros países europeus do mapa com as novas e alardeadas armas russas, mas o próprio Putin costuma ser bem mais contido.

Enquanto os EUA seguirem como um membro ativo da Otan, o risco de uma resposta nuclear devastadora por parte americana ainda é alto demais. Ao menos por ora.

O papel global da China

No caso da China, o presidente Xi Jinping tem feito poucas ameaças diretas recentemente contra a ilha autogovernada de Taiwan. Mas, há dois anos, o então diretor da CIA (agência americana de inteligência), William Burns, afirmou que Xi havia ordenado ao Exército de Libertação Popular (as Forças Armadas chinesas) que estivesse pronto para invadir Taiwan até 2027. Se a China não adotar alguma ação decisiva para reivindicar Taiwan, Xi pode considerar isso um sinal de fraqueza, algo que ele não deseja.

Hoje, pode parecer que a China é forte e rica demais para se preocupar com a opinião pública interna. Não é bem assim. Desde o levante contra Deng Xiaoping (1978-1989) em 1989, que terminou no massacre da Praça da Paz Celestial (Pequim), os líderes chineses passaram a monitorar com cuidado obsessivo a reação da população.

Acompanhei aqueles acontecimentos de perto, reportando e, em alguns momentos, chegando a viver na própria praça.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, o presidente da China, Xi Jinping, e o líder da Coreia do Norte, Kim Jong Un

Crédito,Alexander Kazakov / Reuters

Legenda da foto,O presidente Xi Jinping (ao centro) tem feito poucas ameaças diretas a Taiwan recentemente

A história de 4 de junho de 1989, no massacre da Praça da Paz Celestial, não foi tão simples quanto se imaginava à época: soldados armados atirando contra estudantes desarmados. Isso de fato aconteceu, mas havia outra batalha em curso em Pequim e em muitas outras cidades chinesas. Milhares de trabalhadores comuns foram às ruas, determinados a usar o ataque aos estudantes como uma oportunidade para derrubar, de vez, o controle do Partido Comunista Chinês.

Quando percorri as ruas dois dias depois, vi pelo menos cinco delegacias e três sedes locais da polícia de segurança completamente queimadas. Em um subúrbio, uma multidão enfurecida havia ateado fogo a um policial e apoiado seu corpo carbonizado contra um muro. Um boné de uniforme fora colocado de maneira displicente em sua cabeça, e um cigarro havia sido enfiado entre seus lábios enegrecidos.

Ficou claro que o Exército da China não estava apenas reprimindo um protesto estudantil de longa duração, mas sufocando um levante popular protagonizado por cidadãos comuns.

A liderança política chinesa, ainda incapaz de apagar as lembranças do que ocorreu há 36 anos, mantém vigilância constante em busca de sinais de oposição, seja de grupos organizados como o Falun Gong (grupo espiritual banido na China desde o fim dos anos 1990), de igrejas cristãs independentes, do movimento pró-democracia em Hong Kong, ou mesmo de pessoas que protestam contra corrupção local. Todos são reprimidos com grande força.

Passei boa parte do tempo desde 1989 cobrindo a China, acompanhando sua ascensão ao poder econômico e político. Cheguei, inclusive, a conhecer um político de alto escalão que foi rival de Xi Jinping. Seu nome era Bo Xilai, um anglófilo que falava com surpreendente franqueza sobre a política chinesa.

Ele me disse certa vez: "Você nunca vai entender o quão inseguro um governo se sente quando sabe que não foi eleito".

Bo Xilai acabou condenado à prisão perpétua em 2013, após ser considerado culpado por suborno, desvio de recursos e abuso de poder.

John Simpson em reportagem na Praça da Paz Celestial, na China
Legenda da foto,John Simpson passou boa parte do tempo cobrindo a China desde 1989 (na foto, na Praça da Paz Celestial, em 2016)

Ou seja, 2026 tende a ser um ano decisivo. A força da China continuará a crescer, e sua estratégia para tomar Taiwan, a grande ambição de Xi, ficará mais clara. É possível que a guerra na Ucrânia seja encerrada, mas em termos favoráveis a Putin.

Ele pode ficar livre para avançar novamente sobre território ucraniano quando considerar oportuno. E Trump, mesmo que tenha sua força política reduzida nas eleições legislativas de novembro, tende a afastar ainda mais os EUA da Europa.

Do ponto de vista europeu, o cenário dificilmente poderia ser mais sombrio.

Se você imaginava que a Terceira Guerra Mundial seria um confronto armado com armas nucleares, é melhor repensar. É muito mais provável que se manifeste como um conjunto de manobras diplomáticas e militares, em um contexto no qual a autocracia ganhe espaço. Isso pode, inclusive, ameaçar a coesão da aliança ocidental.

E esse processo já começou.