
- Greg McKevitt
- BBC Culture
O mistério do Monstro do Lago Ness vem intrigando os pesquisadores e encantando os turistas há décadas.
O Lago Ness — uma longa e fina faixa de água nas Terras Altas escocesas — contém mais água do que todos os lagos ingleses e galeses juntos. Quem sabe quais segredos podem se esconder nas suas misteriosas profundezas?
De caçadores de animais até trombonistas tentando atrair o monstro com um possível chamado de acasalamento, especialistas e amadores se dedicam a tentar capturar a solitária criatura, carinhosamente apelidada de Nessie.
Em 1987, uma grande exploração com sonares tentou determinar de uma vez por todas se o Monstro do Lago Ness realmente existe. A imprensa mundial se instalou nas belas e tranquilas charnecas em torno do lago, para o lançamento da Operação Deepscan.
Uma equipe internacional de caçadores do monstro trouxe equipamento de alta tecnologia, no valor total de 1 milhão de libras (cerca de US$ 1,35 milhão ou R$ 7,35 milhões, pelo câmbio atual). Sua intenção era vasculhar todos os locais onde Nessie poderia estar escondido.
Foram 24 barcos alinhados para varrer o lago, todos armados com sonares de última geração, lançando uma parede de som até as águas mais profundas.
A frota lançou sua rede sônica através da água por 37 km, enquanto os cientistas analisavam seus gráficos em busca de sinais sonoros reveladores.
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Eles não encontraram o monstro. Mas, ao longo de uma semana, os sensores, de fato, captaram três contatos de sonar que indicavam que havia algo grande nas águas perto das ruínas do castelo de Urquhart, nas margens do lago.
Pode ter sido apenas uma foca ou um cardume de salmões. Mas a boa notícia é que aquele sinal fez com que a lenda do Monstro do Lago Ness permanecesse intacta.
O líder do projeto e veterano caçador de Nessie Adrian Shine contou à BBC:
"Se fôssemos pegar um peixe com a escala sugerida pelos contatos, acho que ninguém sairia muito insatisfeito e a presença de todas aquelas testemunhas estaria justificada."
A missão foi considerada inconclusiva — "não foi provado", como costuma dizer a legislação escocesa.
O especialista em sonares Darrell Lowrance claramente se resguardou, ao dizer que "isso não significa que há um monstro aqui, mas também não quer dizer que eu ache que não exista. Eu não gostaria de ser linchado no norte da Escócia."
Mas os turistas permaneceram inabaláveis. Uma mulher insistia ter visto "nitidamente" o monstro durante sua visita.
O apresentador da BBC Clive Ferguson (1951-2022) concluiu que "acima de tudo, a Operação Deepscan comprovou que não se pode destruir uma lenda com a ciência".

A lenda original de Nessie data do século 6, quando o monge irlandês São Columba (521-597) teria encontrado uma criatura no rio Ness, que flui a partir do lago.
A lenda moderna teve início em 1933, com o relato de uma testemunha um tanto relutante.
Em um dia ensolarado de primavera, a gerente de hotel Aldie Mackay avistou algo incomum na água. Ela só daria sua primeira entrevista para o rádio 50 anos depois, para o programa The World This Weekend, da BBC Rádio 4.
Mackay declarou que a superfície do lago estava calma ("parecia que você a havia passado a ferro"), quando algo subitamente emergiu.
"Era tão incomum que você simplesmente não acreditava no que estava vendo", contou ela. "Aquilo simplesmente subiu; poderia ter sido um elefante, poderia ter sido uma baleia, poderia ter sido qualquer coisa."
"Era grande, preto e brilhante, porque estava molhado. Ele saiu do lago, deu uma volta em rodopio e simplesmente desapareceu."
Mackay conhecia bem o folclore local sobre os monstros. "Você lê todas aquelas histórias de kelpies [espíritos aquáticos do folclore escocês] e outras."
Ela conta que riu sozinha e pensou: "Este é o monstro, mas não acredito nele."

A história de Mackay logo ganhou vida própria.
"Estávamos discutindo o caso certa noite com um amigo, que saiu e prometeu fielmente nunca passá-la adiante", contou ela. "Ele foi e contou a outra pessoa que prometeu fielmente não contá-la a ninguém."
O conto continuou a se espalhar e acabou chegando a Alex Campbell, fiscal de pesca e correspondente do jornal escocês The Inverness Courier.
"A partir dali, ela só cresceu", segundo Mackay. "O Daily Mail ou algum outro jornal publicou no sul e ela simplesmente decolou."
Nessie ganha o mundo
Décadas se passaram e Mackay se manteve reservada sobre seu papel na criação da indústria global de Nessie.
"Às vezes, fico muito aborrecida por ser acusada de ter começado isso para atrair visitantes. Não é verdade. Eu não tinha capacidade de imaginar algo assim para atrair os turistas. Ganhei o crédito de ter mais cérebro do que tenho na realidade!"
Já Campbell não foi tão modesto. Ele acabou no Livro Guinness dos Recordes como "a mais prolífica testemunha do Monstro do Lago Ness", com a impressionante marca de 17 avistamentos.
Entrevistado em 1938 pelo programa de rádio Fact or Fiction, da BBC, ele descreveu como tomou conhecimento da experiência de Mackay.
"Eu sabia que era uma boa história, algo bastante fora do comum", contou ele. "Ao chegar em casa, eu me debatia com um único ponto: qual palavra usar para designar a criatura?"
"Por fim, 'monstro' apareceu e foi assim que apresentei o Monstro do Lago Ness para o mundo dos jornais."

Foi assim que surgiu a mania.
Em dezembro de 1933, o jornal Daily Mail contratou o caçador Marmaduke Wetherell para procurar o Monstro.
Ele encontrou grandes pegadas nas margens do lago, mas os zoólogos desmancha-prazeres descobriram rapidamente que elas eram falsas. As pegadas foram fabricadas usando um cabo de guarda-chuva ou cinzeiro, representando uma perna de hipopótamo.
Em 1938, diversos personagens locais se apresentaram para relatar seus próprios avistamentos para o programa Fact or Fiction.
Donald McDonald, dono de um estacionamento e de um nome incrível, afirmou ter visto o Monstro cinco vezes.
"A última vez foi em março deste ano [1938]", contou ele. "Parecia um barco de pesca virado para baixo, 45 cm acima da água, com cerca de 4,5 a 5,4 metros de comprimento."
O diretor de uma escola declarou ter visto o que descreveu como "um longo e magro pescoço, parecido com uma cobra, e uma pequena cabeça saindo do lago".
O monge beneditino Basil Wedge afirmou ter visto "três corcovas consideráveis" na água. Ele estava convencido de que havia ali uma "família de monstros".
E o motorista de caminhão John Cameron declarou: "Eu diria que tinha cerca de 2,4 metros de comprimento, com as costas a cerca de 60 cm da água. Ele me lembrava um velho cavalo."
Seria o Monstro um elefante?
A imagem mais famosa surgiu em 1934, no auge da Nessiemania: um pescoço fino, parecido com uma serpente, se elevando do lago. A foto desconcertou os estudiosos de Nessie por décadas.
Em 1979, o naturalista norte-americano Dennis Power sugeriu que o "monstro" ilustrado seria um elefante nadando com seu tronco acima da água. Ele destacou que os elefantes conseguem nadar por até 48 km.
Power reconheceu que a ideia de haver um elefante nas Terras Altas da Escócia era quase tão improvável quanto um monstro de verdade.
Mas, segundo ele, "adoraríamos pedir uma subvenção governamental para quatro passagens de ida e volta para a Escócia e 40 toneladas de amendoins para tentar capturá-lo, mas isso provavelmente está fora de questão".
Já se comprovou que a foto de 1934 é falsa, mas a improvável teoria do elefante não foi esquecida.
Em 2006, Neil Clark, curador de paleontologia do Museu Hunteriano da Universidade de Glasgow, na Escócia, sugeriu que as visões dos anos 1930 poderiam ter sido de elefantes de circo, já que as companhias circenses que visitavam a cidade próxima de Inverness costumavam parar no Lago Ness para os animais descansarem.
"Quando seus elefantes nadavam no lago, podiam ser vistas apenas o tronco e duas corcovas", explica ele. "A primeira corcova era a cabeça e a segunda, as costas."
Clark admite que a maioria das visões de Nessie pode ser explicada por troncos flutuantes ou ondas. Mas, questionado se acreditava no Monstro do Lago Ness, Clark respondeu: "Realmente acredito que haja algo vivo no Lago Ness."
A Operação Deepscan pode ter fracassado na captura de Nessie, com grandes prejuízos financeiros. Mas uma tentativa menos científica, em 1976, chegou ao mesmo resultado com uma fração do custo.
O trombonista norte-americano Bob Samborski tentou atrair Nessie tocando um chamado de acasalamento com seu instrumento. Ele contou à BBC Rádio Highland que, se uma fêmea realmente emergisse, haveria duas possibilidades:
"Ou eu ficaria rico e famoso ou, se ela gostasse tanto de mim aponto de me comer vivo, pelo menos eu ficaria famoso e alguém ficaria rico."
Leia a versão original desta reportagem, com o vídeo da cobertura da Operação Deepscan em 1987 (em inglês), no site BBC Culture.




