SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

domingo, 28 de dezembro de 2025

HABITANTE DA TERRA DA SABEDORIA: UM MANIFESTO POÉTICO




Onde podemos ser livres? Em nossas mentes, acompanhados de nossa solidão. É um lugar além do espaço e do tempo, onde as ideias tomam forma, as lembranças se materializam e se conectam com futuros. É um desejo infinito de conhecimento e de viver. O olho, janela da alma, para aprender basta ver, sentir e imaginar bem. 

O que tem a mostrar a tua alma? Ela mostra o Universo. Um mapa de nossas emoções, a capacidade de explorar e maravilhar-se. Com pequenos gestos, palavras ou estrelas. Escrever a história por outros caminhos, tendo a natureza como amiga íntima, para compreender suas linguagens secretas. Um lugar onde nada falta e nada é supérfluo. 

Ser anjos vivos com rostos cheios de graça e doçura, misturando sombra e luz. E com as diversas qualidades que a vida nos proporciona e desafia, e novos horizontes para apreender. Triste é o aprendiz que não supera o professor. Temos que aprender a criar do nada, a namorar a vida em movimento, respirar a beleza e o bem. Como a água que fecunda a terra e faz florir. 

Ter fascínio pelo corpo humano, plantas e animais. Pelo modo como se gera e pulsa a energia da vida. O coração é a semente que pulsa a força e a sabedoria contra injustiças. É ciência sobre desejos. Quem não sabe frear as próprias vontades faz as bestas lhe seguir. 

Prazer e desprazer dançam juntos. Os contrários brotam da mesma fonte. Encontrar as razões escondidas nas coisas e no ser humano. Conversar com Deus e o divino em nós. Unificar e religar os saberes por tramas complexas. Ter a percepção de captar a luz do sol, e a beleza e o silêncio da escuridão. 

Surpreender-se com a singularidade de um momento. A engenhosidade é mais importante que a memória letrada. Somos filhos de nossa experiência e sonhos. 

Porque o Pi é o número mágico, a proporção divina? Terra, água, ar e fogo. Onde o humano e o divino se entrelaçam com a Terra e o Universo? Aprendemos com uma família de mestres que não se conheceram, como apóstolos do saber, mas compartilharam seus mundos, unos e diversos. Uma divina devoção à cura de aprender sempre, com alegria e harmonia. 

A sabedoria é filha da experiência e somos todos filhos da Terra. Os sentimentos e o espírito pertencem à Terra. A alma, uma sutil luz que dá vida à escuridão pelo verbo e pela ação. 

Encontrei meu lar em viver com Deus em busca da sabedoria. Aprendendo a viver e a morrer, porque o que não sabemos é demais: o mistério do eterno e do infinito. Uma vida bem aproveitada faz bem à morte. 

E ASSIM DECRETO, EM VERBO E AÇÃO: 

Habito a Terra da Sabedoria. Minha revolução é a atenção deslumbrada. Minha bandeira é o mapa emocional do cosmos que carrego no peito. Minha lei é a do coração-semente, que germina contra a injustiça. Minha ciência é a do desejo domado, para que a besta não comande a marcha. 

Aceito o dueto de prazer e dor, a fonte única dos opostos. Busco o divino no diálogo íntimo e na partícula de poeira estelar. Teço conhecimento na roda do tear complexo, unindo o fio do sol ao fio da sombra. 

Honro os mestres anônimos, a família dispersa de curioso, superando-os apenas no meu próprio caminho. Cultivo a engenhosidade do instante, filho da experiência e dos sonhos. 

Desvendo a linguagem da água, do fogo, da terra e do ar. Encontro o Pi sagrado no caracol e na galáxia. Entrelaço meu humano ao divino no abraço com a folha, com a montanha, com o astro. 

Aqui, na Terra da Sabedoria, a alma é verbo ativo, luz que ilumina a escuridão do não-saber. Aqui, viver é aprender com alegria, e morrer é a colheita serena de uma vida bem semelhada. 

Aqui, nada falta. Tudo é necessário. A liberdade é mental, a solidão é companhia, e a eternidade pulsa no agora de quem vê, sente e imagina bem. 

Somos os Habitantes. A Terra da Sabedoria é aqui. E o tempo é já. 

sábado, 27 de dezembro de 2025

Minha Casa-Semente: A Célula da Comunidade da Sabedoria. Por Egidio Guerra.

 



Não é um condomínio. Não é uma comuna. Não é um prédio. 

É uma célula viva – uma Casa-Semente – onde raízes humanas diversas se entrelaçam para germinar um novo modo de existir. Aqui, a pergunta não é "quantos quartos?", mas "quantos mundos cabem num só lar?" 

Imagine um organismo arquitetônico que é simultaneamente ninho, laboratório, templo e floresta. 


A Arquitetura da Pele Viva 

Inspirada por Juhani Pallasmaa, esta casa não se mostra – ela se revela aos sentidos. 

  • Pele de Barro e Luz: As paredes não são divisórias, são membranas. Feitas de terra batida e fibras naturais, regulam a umidade e o calor, cheiram a chuva e argila. A luz não incide de lâmpadas, mas dança – filtrada por pérgolas de bambu, refletida em espelhos d'água, projetada pelo movimento do sol em claraboias inteligentes. 

  • O Tato como Linguagem: Cada superfície convida ao toque: a aspereza curativa da pedra no chão da cozinha-compartilhada, a suavidade quente da madeira recuperada no banco da janela, a textura fresca da parede verde de ervas aromáticas que se colhe enquanto se cozinha. 

  • A Escuta da Casa: O som dominante não é o ruído, mas a sinfonia ambiental. O murmúrio da água da cisterna, o sussurro do vento nos canos de vento que trazem ar fresco, o som abafado da chuva no telhado vivo de grama e flores silvestres. 

Como aponta Lucy Huskinson, o espaço construído é uma psique exteriorizada. Aqui, os corredores não levam apenas a quartos, mas a estados de ser: 

  • Ala da Semente (para criação e trabalho) é ampla, cheia de luz indireta e paredes brancas que são telas para projeções ou desenhos a carvão. 

  • Ventre da Casa (cozinha e convívio) é baixo, aquecido, com mesa de madeira maciça que guarda as marcas de facas, taças e conversas. 

  • Os Ninhos Individuais são pequenas cavernas, capsules de repouso minimalistas com vista para o céu ou para o jardim interno, projetados para o sonho profundo e a introspecção sagrada. 

  • Coração Aberto é um pátio central, um vazio cheio de significado. Nele, uma árvore frondosa (uma Figueira, talvez) é o altar vivo onde se reúnem Leonardo da Vinci (para esboçar engenharias naturais), Jesus (para compartilhar o pão da fraternidade), Walt Disney (para contar histórias sob as estrelas) e o espírito lúdico de Michael Jackson na sua "Terra do Nunca" – que aqui é a Terra do Agora, do brincar adulto e da curiosidade perene. 

 

A Constituição da Alma Comum 

As leis não estão em um papel. Estão gravadas no ritmo diário e são os mandamentos espirituais universais: 

  1. Amor como verbo: cuidar do outro, da planta, do animal, do robô. 

  1. Perdão como higiene: limpar os ressentimentos em círculos de fala ao redor do fogo. 

  1. Cuidado como tecnologia primária: a mais avançada IA é a que monitora a saúde do solo e o bem-estar emocional do grupo. 

  1. Gratidão como moeda: agradecer pelo alimento, pelo trabalho, pelo silêncio, pelo conflito que leva ao crescimento. 

 

O Ecossistema Tecnológico-Sensitivo 

Aqui, a tecnologia não domina; serve e integra. 

  • Aeronaves Pessoais (de 2 lugares) não são para fugir, mas para ter uma visão de pássaro da própria comunidade, para polinizar ideias com células-irmãs distantes, ou para buscar sementes raras. 

  • Robôs são "jardineiros de ferro silencioso" – cuidam da compostagem, podam os jardins verticais com precisão cirúrgica, carregam objetos pesados. São vistos como novos membros do ecossistema, com uma "algoritmosofia" que aprende com as formigas e as abelhas. 

  • IA e Sensores são o sistema nervoso da casa. Eles sentem: antecipam uma tempestade e fecham as venezianas; percebem que a tensão no grupo está alta e sugerem uma playlist de sons da floresta ou um banho de imersão na sala de relaxamento; traduzem em tempo real o "estresse" das plantas (via biodados) em regras precisas e em notificações poéticas: "A alface no setor L3 está com sede". 

  • A Linguagem Universal: É o grande projeto. Não se fala apenas português ou inglês. Aprende-se a linguagem das plantas (sua química, suas formas), a linguagem dos animais (sua etologia, seus sinais), a linguagem dos dados (a narrativa que a IA constrói sobre o consumo de energia) e, principalmente, a linguagem do silêncio e do gesto. A casa é uma tradutora contínua entre estes reinos. 

 

Céu, Terra e Mar: A Tríade Existencial 

Casa-Semente não está fixa. Ela se manifesta em três dimensões: 

  • Na Terra: Sua base é um edifício-terrasemi-enterrado, fresco no verão, quente no inverno, coberto por um parque. É a raiz. 

  • No Céu: Suas torres de observação e os decks das aeronaves são pulsos estendidos para as nuvens, captando energia eólica e solar, dialogando com os pássaros. 

  • No Mar: Seu espelho d'água não é uma piscina. É um viveiro de vida aquática integrado, um sistema de aquaponia que alimenta os moradores e é alimentado por eles. A água que corre é a veia da casa. 

 

Esta Casa-Semente é, portanto, a Célula Inicial da Cidade da Sabedoria. Não uma cidade de pedra e asfalto, mas uma rede de células como esta, interligadas por corredores de floresta, trilhas aéreas e fluxos de dados conscientes. 

Cada célula é um modelo fractal do todo: um microcosmo onde se pratica, diariamente, a arte suprema de habitar – a si, ao outro e ao planeta – com sentidos despertos, tecnologia reverente e um propósito comum: preservar o passado, viver plenamente o presente e semear, com amorosidade radical, o futuro. 

Aqui, o sonho não é utopia. É protótipo. E a porta está sempre aberta para quem quiser vir aprender, compartilhar e plantar sua própria semente.