SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

O SACRIFÍCIO DE ISAAC






O SACRIFÍCIO DE ISAAC
Isaac, com o sopro da vida apaga a Bomba! O sopro da vida que apaga a morte, era o Presságio que o apocalipse estava perto e ele sabia que era chegada a hora de seu sacrifício mesmo salvando a todos no teatro, impedindo que a bomba explodisse ao desativá-la, isto não traria vida aos seus amigos, eles continuariam separados, cada um em sua trilha em sua Tribo 7i... E era preciso sacrificar a solidão, para que ressurgisse o amor!
A sua busca pelo sentindo da vida foi muito solitária, as suas visitas foram muito racionais, ele precisa reencontrar o amor, fazer que cada um de seus amigos voltassem a se encontrar, purificassem as suas linguagens, a trocar de palavras, com isto verão o quanto cada um traz dentro de si, o protesto contra este mundo que despedaçou o homem e transforma seu amor em solidão...
Isaac, sabia que o seu sacrifício, faria com que eles voltassem a se encontrar, em seu nome, no nome do amor. E destruiria o maior mal do século, pois agora encontrou o sentido de sua vida, o sentido que buscava era estar junto com eles, como na infância, em harmonia com a perfeição. E gritou bem alto para que todos no teatro o ouvissem :
- O sentido que buscava encontrei, é estar junto com vocês! Mas vocês não querem estar juntos, vocês brigam demais por nada, se matam por poderes, por verdades, por independência, grana, mas só serão felizes juntos.Eu prometi que minha vida não ficará sem sentido, exclamou. Ditas estas palavras saiu correndo, pegou o taxi, foi até a Rodoviária pegou o ônibus para aquela praia e foi pensando...
Chegando lá terminou de construir o barco em forma de uma cruz, colocou seu diário inacabado num baú, ao seu lado notebook que usaria durante a viagem para escrever seus manifestos e tirou da mochila algumas coisas que queria levar com ele, durante a viagem um micro-system, com uma fita que eu havia gravado várias musicas intercaladas várias vezes com a música “Perfeição”, da Legião Urbana, de Renato Russo... Cobriu o barco, com uma lona e foi até a antiga casa, que ficava naquela cidade, onde passou sua infância. Lá na casa, abandonada, pegou sete obras de arte de sua coleção, foi até o seu antigo quarto, o mesmo onde havia chorado muitas vezes de saudades dos amigos, escreveu uma carta de despedida... colocou no envelope, colocou o endereço do Teatro e passou no correio para deixá-la!
Foi no comércio comprar algo para comer durante a viagem, que talvez pudesse ser a última. Ele disse “o céu aberto, sem esconderijo, sem perguntas, no mar que para mim sempre teve algo de especial em sua profundidade e uniformidade. Ao lado da lua, celebravam a noite dos amantes. Essa noite os amantes seriamos a morte e eu!”

Passei numa loja e comprei cicuta. Não tinha lido a tradução do diário grego que havia ficado com Michel, mas sabia que significava algo para Sócrates, diferente da morte! Coloquei tudo em meu baú e peguei a mochila grande e me dirigi até o barco.
Antes de chegar na praia, ao passar por um jardim peguei uma rosa que considerei ser a mais pura, a primeira rosa, símbolo de minha coragem, que desta vez não seria de aço, nem de ouro, de prata, seria viva como eu!
Meus olhos brilhavam, eu sentia isso, a alegria invadia meu coração, o entusiasmo tomava conta de dirigir cada um de meus passos até o barco. Chegando lá, tirei a lona, descobri o barco, coloquei meu baú-mochila dentro, ao lado de minha outra mochila e empurrei o barco até o mar! As ondas, como a vida, me levaram pelos caminhos que não deixam rastros... e o ritmo das águas agradava meu coração.
Tirei a corrente que prendia meu baú grego e dele tirei sete pedaços de correntes, alianças, que separei com a minha força, mas que depois iria uni-las mais uma vez. O espaço para uni-las, ficou aberto e as sete alianças quebradas, coloquei-as ao meu redor.
Começava o apocalipse, quando de repente o mar enfureceu-se ao ver as alianças separadas. A palavra apocalipse é a transcrição de uma palavra grega que significa revelação! E os gregos tinham Ilíada como a sua Bíblia, da mesma forma que cristãos encontram na Bíblia os significados para suas palavras, que são os valores, pois em ambas o inferno ou ades é o mundo sem valores, o mundo sem vida...
Viver significa, através das “guerras”, confrontar os valores que nos levam à comunhão com o Absoluto, porém, a humanidade moderna contemplou a busca da tecnologia, como forma para ter tempo de encontrar a si mesmo e seus pontos em comum, o que a juventude esta conseguindo pela internet, em suas festas, nas Tribos, no amor ,enquanto muitos ainda ao invés disso com o tempo disponível, se entregam as suas velhas neuroses, politicas, poderes vazios, palavras repetidas, horrores de tudo isto , não percebeu ainda que chegou o tempo, onde temos que usufruir da tecnologia para encontrar a humanidade dentro de nós. Abandonar os velhos “deuses” e entregar nossos corações que batem com a razão e o sentimento empreendendo sua vida nesta busca.
A coragem e o medo invadiam o coração de Isaac, ele vivia naquele momento, a tensão típica de sua geração, ou aquele que se abateu sobre Cristo nos seus últimos momentos: “se possível afasta de mim este cálice!” Tinha ouvido muitas palavras durante a sua caminhada, o tempo era tenebroso como o céu que começava a se formar, com nuvens escuras, trovões, era assim, também que ele via como as pessoas falavam...
As suas palavras estão mortas devido a sua ideologia, a linguagem de seus templos, daquele lugar que consideravam o berço da verdade. Eram como se fossem sete Igrejas seguidas por seus discípulos, até o amor que Isaac seguia havia se transformado no Templo da Solidão. Isaac, precisava primeiro encontrar o amor, para poder dar vida às palavras, através de sua vida.
Os valores de sua época, a coragem e o medo se confrontavam em seu coração, foi quando lembrou dos dois baús, o da sabedoria e o do amor. Recordou que Sócrates havia preferido a morte, do que entregar-se à ignorância de seus reis, pois não haveria maior dor para o coração do homem, que ter que se submeter ao mundo irracional, entregando a sua razão.
É esse o maior crime que pode ser cometido a um jovem, dar-lhe como única opção de sobrevivência, a irracionalidade deste mundo e de muitas de suas instituições. Por esta decisão, por este ato de coragem, Sócrates bebeu o cicuta.
Isaac havia decidido que faria o mesmo, iria dar as palavras à sua vida, como fez Sócrates, permanecendo vivo até hoje. Isaac conseguira desta vez trazer as Ideologias à tona, as sete igrejas... e o conflito de valores que acontecia em seu seio. Porém Isaac gostaria de manifestar e deixar para o seu grupo de amigos o que ele tinha aprendido da essência das expressões humanas.
Ao formar a totalidade dos sete discursos inclusive o seu, pode sentir em cada uma das áreas: Educação, Trabalho, Arte, Religião, Política, Prazer e Amor. Peguei meu notebook, deitei no barco e comecei a escrever, pois aquela viagem trazia para mim a essência da educação!

MANIFESTO DA EDUCAÇÃO

A Educação é uma viagem ao mundo do desconhecido, que só ao entrar nos seus limites é que podemos conhecer o sentido do rumo que indica o caminho a adentrar em minha jornada, o que quero ver com a escolha e me aproximar dos valores que sigo! Alguém pode me ajudar com mapas, que podemos interpretar pelos símbolos, conceitos, que ali estão impressos ou vivenciá-los, abstrair pela prática, sem saber como se chamam!
Enfim descobrir, o horizonte que piso e que me cerca e tentar construir nele um lar que me dê segurança. E em minha viagem é bom que me perca, que entre em áreas perigosas... só assim saberei o que eu descobri. Eu só posso dizer que tenho lar, quando conheço outros lares, se não ele representará minha prisão. É o que eu acredito ter descoberto, na verdade alguém descobriu para mim e me cobriu com ela. E este outro, como uma ideologia, quer que habite seu lar, o seu currículo, o seu mapa, só me mostrará em essência o que eu já conheço e, por isso, desconheço a mim, o navegante! Precisamos ter na Educação, o momento da descoberta que é a oportunidade que a vida nos oferece para conhecermos o caminho por onde andamos!
Lembrei de que um dos pais da educação brasileira disse: “Ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho, os homens se educam em comunhão”. O problema da educação é muito serio, o analfabetismo é gritante e, se fizermos esta comunhão, estaremos a construir a verdadeira educação, valorizando os potenciais de cada aluno, voltando a educação para a vida, reformulando totalmente esse sistema.
De repente um trovão estremeceu o barco, varias ondas gigantescas, passavam ao meu lado, a água começava a entrar no barco. O medo da morte invadiu o meu coração, mas isto não poderia acontecer pois não tinha concluído minha missão, a minha vida não estava ainda em plenitude quando a morte perderia o seu significado. É nesta relação entre vida, morte e plenitude digitei em meu computador...

MANIFESTO DA RELIGIÃO

O que é a morte? O que é a plenitude? Onde a morte perde o significado, que esta Religião diz alcançar? O que é o homem? Quem é Deus? Que a religião garante o poder da eternidade e da decisão sobre o destino do homem, mesmo lhe dando o livre-arbítrio? Eis a Religião: um mundo de perguntas sem respostas, onde a crença expressada pela fé é o caminho da verdade. Crença que alguns descobrem em seu coração ou verdades que são oferecidas externamente! Sobre estas formas tenta-se atribuir um conteúdo, uma ideologia, que tira-me do livre contato com a totalidade. Totalidade que me inclui e que a ligação com esta é a Fé. A felicidade de trazer a tona em todos os seus atos a totalidade que é o caminho, que qualquer parte de um holograma traz em si. É a infinitude do espaço, do tempo e da molécula. Do grande e do pequeno, em sua extensão e profundidade, que requer aos nossos olhos ver como um só, o ponto da totalidade. Que só a fé, a crença, alcança em toda extensão e profundidade dos meus atos e do mundo que me cerca. Como esta viagem que busca também a expansão e a profundidade do meu ser, o ser como indivíduo que pertence à totalidade. E aquilo que acredito pela Religião posso descobrir pela Educação.
Aquelas duvidas sobre o porque de tantas divisões em busca de Deus, do inicio do diário, ainda permanecem.
Não entendo. Se estamos buscando um mesmo Deus, porque tantas lutas e incertezas permeiam esta constante procura. É digno de pena ver que tantos seres foram e são mortos em nome de um Deus que acima de tudo pregou a VIDA...
Pelo que vi, pude perceber que Deus é amor. “É preciso amar as pessoas”. O próprio Cristo disse “Amai-vos uns aos outros como o Pai do Céu vos amou”
Precisamos fazer o amor ser amado e assim estaremos a procura de Deus. Se é um só Deus, não importa o meio ou a religião que utilizamos para chegar até Ele. O importante é que estamos no caminho.
Quando todas as religiões se unirem e professarem o DEUS AMOR, o ECUMENISMO será alcançado e DEUS, independente dos templos se fará presente no nosso meio.
Quando olhei ao meu redor, percebi que o céu estava diferente, o horizonte de meu corpo, tinha como centro, o ponto de totalidade com o Universo e a vertical da minha pessoa como da cruz, já não ligava o céu e o inferno, pois o pecado não existe em meu coração... o ades estava sobre meus pés, Zeus no Céu e Poseidon no Mar e a terra na totalidade que nos unia, através de minha razão que dividia e o espírito que unia um só Deus. E a dor, em vez de pecado, me mostrava algo de bom e algo de novo. Eu não tinha medo de enfrentá-lo.
Mais sabia da emboscada que as ideologias e seus deuses haviam produzido, o medo de ir além de seu templo, de seu lugar. Mas se houvessem lideranças que pudessem remar juntas, já tínhamos um mapa, sabíamos que o mar fazia parte do barco, pois estão unidos em seu sentido. Precisávamos agora que cada um de nós deixássemos nossas ilhas, construíssemos nossos barcos. Não estamos sozinhos nesta viagem!


MANIFESTO DA POLÍTICA

Senhores eu não falar sobre mim, mas das razões que trouxeram até aqui, portanto gostaria de falar sobre vocês, mas não sou um de vocês, como se todos nós fossemos iguais.
Gostaria de falar sobre cada um, suas individualidades e as razões que o trazem até aqui. A liberdade, ela que nos une!
Seria difícil num único manifesto falar individualmente para tantas pessoas sobre elas mesmas, mas é esta a essência da política. Porém fica bem mais claro se falarmos sobre os sonhos que temos em comum e que conosco trazemos dentro de nossos corações, expressos pela paixão que sentimos ao ouvirmos palavras que a realidade pode ser e deve ser semelhante ao coração de cada um que é único e por isso a política fala de cada um.
Dar um passo em direção à individualidade e a socialização , hoje não castrá-la com a desigualdade de oportunidades, que normalmente tem o poder de abrir as portas há quem as escolhe como caminho.
Para podermos aceitar que isso seja diferente, alguém teria de nos provar o porque da vida e de estarmos neste mundo. Que deveria dar à juventude, igualdade de oportunidades para que em sua sobrevivência pudéssemos encontrar sua resposta tão repetida: a razão de viver. Pois num mundo onde as perguntas essenciais não tem respostas e muitas respostas são dadas a perguntas não essenciais, a política torna-se a essência!
A seriedade e a honestidade precisam ressurgir na política e “os fins deixarem de justificar os meios”. Como Nicolau Maquiavel e sua luta de infeliz de principes.
Ao olhar o meu redor já havia imaginado a minha natureza e a do mundo que me cercava, suas expressões que se confundiam nos valores. Assim era Educação, Religião e Política... Transformações da mesma essência, que se resumem na busca da sabedoria, ou a não-busca, a ignorância. Sentia que nela estava a propagação desse malefício, que presente no deus-homem, elimina a vontade da busca. Essas três esferas têm limites que encerram no homem, no desejo de buscar, só naqueles em que o nada se aceitava, a ausência era sentida. Só neles em que o sentido da busca, foge do sentir, é que a ignorância é escolhida pelos atributos de indução. Vale ressaltar que eles não são deuses, do nada podem contar vantagens e se enraivar por nada construir. A ausência da construção é destinada a quem aceita o seu eu como acabado e pronto a se realizar. Em que? Vivem apenas esperando dias melhores...

Aquele barco havia sido construído por mim, como a minha arte simbolizada pela viagem e luta que travaria no mundo e lá estava eu com duas formas de construção! O trabalhado e a Arte! Só que havia uma diferença! Poderia agora suspender a tempestade, mudar o meu destino da mesma forma que o mar seca, para ver como seria um naufrágio da Humanidade sem água, sem juízo final em terra seca no mundo.
Porém não conseguiria com o barco que construí com minhas mãos, mudar a sua cor. Em um havia limites , noutro o limite sou eu , e em mim, como no meu trabalho a coragem ou medo são os valores que conduzem este destino. Pois posso realizar, efetivar aquilo que eu quero neste mundo. Deus nos deu a cada um de nós esse direito.
E sabemos o quanto é forte o nosso desejo porque o medo segura a realização deste e ainda assim saímos em busca da concretização da arte no mundo real! Porque só alguns tem coragem?

MANIFESTO DO TRABALHO

Nós precisamos sobreviver e o trabalho é a garantia para vida, todavia as atuais condições indicam mais para a morte. A nossa sociedade evoluiu para o absurdo, a sua concepção do trabalho nada mais é que um visão positivista da inteligência humana, a inteligência que, sem reflexão, caminha a passos largos ao lado do egoísmo humano, que também não reflete o outro!
O absurdo é tirar do homem as condições de sua sobrevivência, após tirar as ferramentas de trabalho, acusado-o de incompetente e inútil, sem esta sociedade ter-lhe dado o direito à luta. É esta a barbárie moderna, que destruiu a Grécia e escravizou o povo hebreu! A mesma barbárie que não pensa e vive dos escravos e prisioneiros de suas guerras comerciais, que são isoladas, constituindo-se verdadeiros continentes, semelhantes a Auschwitz. Com uma grande diferença: Hitler e SS assumiam a morte dos judeus. Os Hitler’s de hoje são covardes se escondem, atrás de birôs e fazem de suas canetas metralhadoras.
Não podemos esquecer o significado de trabalho, como área de realização humana, como garantia de sua sobrevivência. Como a forma ideal de deixarmos a barbárie para a historia do passado. O trabalho que envaidece o homem e torna feliz, a todos os seres humanos. Eis o desafio que temos que enfrentar de frente, se ainda quisermos falar em sociedade, civilização. A extinção deste é o fim da civilização é a declaração para os que não tem esse direito de que a guerra é a única forma de lutar. Quando a “razão” cerceada pela ideologia tira do homem o trabalho. Não há negociação, quando a razão não está mais em pauta!

Isaac agora fala da outra construção que o homem realiza, desta vez essa não tem aqueles limites que os deuses da realidade impõem, quando não utilizam a sua criatividade para criar, apenas com fito de destruir as suas criações, com sua inutilidade e que preenchem com outras “maiores” para ocupar o tamanho do vazio que nada preenche em seu coração, dominado pelo medo, que precisa criar ao redor de seus castelos, ilusões de segurança nem que seja as custas de milhões de vidas humanas.

MANIFESTO DA ARTE

A coragem e o medo ocupam o mesmo lugar no homem. O lugar da arte. Alguns a chamam de imaginação, porém as imagens que coloco em ação são reflexos de seu criador.
A arte é a criação sem limites, onde o homem oculta ou liberta seu espírito. Seu espírito que constrói nas obras de arte, traços ou palavras de sua ideologia. Estética ou, em contato com o absoluto, a arte revela a sua história, a história de seu criador! Ela anda a passos largos esperando sempre que o homem a concretize, que a arte emancipe ou desmorone a realidade. Porém é a arte a melhor forma das pessoas se conhecerem. Se cada um de nós apreciar a si e a sua obra de arte, que são dois lados da mesma moeda verá que nela está o conteúdo do seu saber, ou de sua ignorância, revelada com coragem ou que se oculta com medo. Mesmo o quadro “O Grito”, que fala sobre o medo, revela a coragem da busca do homem pelo absoluto que é o amor!
O mundo moderno é estético, como o dos gregos; devemos resgatar o nosso contato com o absoluto da arte, pois não há caminho mais curto para revelar a criação de seu eu, que a arte encarada com coragem que pode levar-nos ao amor!
Isaac descobriu que sua existência e seu universo estavam semelhantes ao caos e procurou uma forma para entender o juízo final que o cercava, descobrindo na origem de seu tempo, o século XX, as heranças grega e cristã. Vislumbrou que a sabedoria e o amor se relacionavam com a coragem! Era óbvio para ele que tudo começa com a descoberta e a necessidade da coragem para concretizar suas realizações que trazem o amor na essência e como resposta a união do saber e da coragem.
Precisou falar sobre as sete igrejas de seu tempo. Sabia que a educação, religião e política traziam a busca pela sabedoria, ou a ignorância pela ausência da busca. Que depois de realizar o nosso projeto, entrávamos no mundo da coragem e do medo, onde o ser humano iria, através da politica, trabalho e/ou da arte, concretizar sua busca. Na realidade com limites , na arte sem limites, o medo levaria ao prazer e a segurança de que se acabaria transformando esta busca: em objetos. Ou esta construção levaria, ao amor que requer sabedoria e coragem para ser vivido.
Naquele momento, em sua viagem pelo mar da vida, repleto de ondas, Isaac queria falar sobre o horizonte que enxergava logo a sua frente dependendo de seus mapas, do caminho escolhido e da coragem em remar nesta direção!
O prazer hoje vira dor, porque a plenitude dos valores é o amor e a busca do amor sem coragem e sabedoria é o prazer.
O medo poderia naquele momento impedir a sua visão, transformando em algo que lhe desses segurança momentânea e Isaac poderia ocultar a sua busca em alguma ilha cercada pelos seus reais desejos e deixar o amor para trás, se contentando com o prazer, solidão, mas seu ideal era maior.
É válido lembrar: há prazer no amor que dá forma à totalidade humana, mas não há no prazer, o amor. A totalidade é inacabada, pois o amor é preciso enxergar o eterno e contemplar sua totalidade com ele. No prazer existe apenas uma relação de domínio, de seres inacabados, que tentam dominar o seu medo, ocultando com o prazer!

MANIFESTO DO PRAZER

O prazer hoje se transforma em dor, ambos compartilham do mesmo lugar no coração do homem, o lugar onde ainda não é possível enxergar a totalidade, apenas uma pequena parcela de si, que tenta desesperadamente ocupar o vazio “externo” com o vazio interno. Até mesmo cercando seu eu, com a busca do amor sem coragem e sem sabedoria.
Eis o prazer, que não admite que a plenitude, responsável pela união dos valores, seja o amor, sem a coragem, o medo, a sabedoria e a ignorância só tem sentido numa totalidade que as une quando encontra o amor. Este que não necessariamente está vinculado a vida que independente deste, o que chamo de transcendência, enquanto o prazer necessita da vida, como precisa de um objeto!
Os caminhos da busca representam o inicio, a coragem e o medo, o meio e o fim, o prazer e o amor. Numa visão da totalidade grega, o céu é a coragem e o medo, comandado com Zeus... que entrega a ades, seu irmão, o prazer da falta do sentido, da falta de valores. E a Poisedon, o mistério do mar, ainda desconhecido da ignorância, que provoca medo ou coragem ao coração do homem. Mas todos eles buscam no cronos, o tempo, o amor, através do homem, o mesmo do cristianismo dividido entre o céu dos valores e o inferno sem valores.
Sabedoria, ignorância, coragem, medo, amor, prazer, escolham seus deuses, realizem oferendas em suas expressões humanas de seu ser e naveguem...
Depois de Isaac ter celebrado, seus espíritos de deus, restava um: O amor!
Restava um selo, para que Isaac, como ser humano presente na totalidade, abrisse o livro de sua vida, seu diário! Como estava chegando ao fim sua viagem, Isaac começou a preparar o seu baú, ligou seu micro system e colocou bem alto a musica Perfeição, de Renato Russo, fechou o seu diário e colocou-o numa caixa fechada por sete nós diferentes, desatando o último, pois era o seu... Colocou dentro do baú, os setes objetos e as setes obras de arte. Os objetos eram, a coroa que os reis usavam alegando o “poder divino”, como todos os homens que fazem da religião uma coroa, para justificar o seu poder divino sobre os homens. O segundo objeto era a espada de guerra que os homens usam na política para ter o domínio. O terceiro objeto era a balança que os homens usam para medir o trabalho no capital, o quarto objeto era um cartaz de seu época que representava a busca incessante do prazer. Pois ali estava representado o homem e sua luxuria, cercado pela miséria do povo e a sua própria miséria causadora da fome, “não se ter o que comer, não se ter a quem amar”, da doença do corpo e do espírito, das guerras etc. ...
O quinto objeto era um retrato de seu professor, que lhe lembrava vários de seus professores, que através da educação lhe mostravam o caminho para a busca de Deus, embora que muitos deles fossem ateu, mas tinha seu Deus: “Educação!”
O sexto objeto era uma folha em branco, onde os homens do século XX criavam e transformavam em realidade, todas as suas atrocidades. Se utilizavam do poder da criação, para criar a arte que destrói o espírito humano.
Guardou todos os objetos, fechou o baú, que era o seu sétimo objeto. Ficou meia-hora em silêncio. Depois encheu um copo com cicuta e tomou. Os trovões aumentavam a sua intensidade, o mar ficava cada vez mais violento e Isaac começou a dançar, ao som da perfeição, girava em torno de si mesmo. Antes de morrer em sua Dança escutou sete trombetas, as suas vestes brancas, ficaram vermelhas. O barco tremia, mais relâmpagos!!! Isaac escutava agora as últimas três trombetas, a noite estava ficando mais escura...Lá estava ele , no barco, ele tinha filmado tudo, e transmitia pela internet , rosas caíram sobre ele, e se lembrava de um sonho que teve quando jovem e desmaiou ao ser atacado numa guerra de gangues. Existe um tempo para tudo como em Saravejo do U2.
Porém Isaac era o sétimo anjo, a água era doce e suas vestes voltaram a ser brancas. Isaac havia acabado de escrever em seu diário: “já que também pudemos celebrar a estupidez de quem escreveu este livro, está tudo morto, enterrado agora. Já que pudemos celebrar a estupidez ..” Era como se estivesse engolindo suas palavras e seu estômago se tornou amargo... o seu sacrifício ainda não tinha chegado ao fim. Isaac tinha em sua frente, ao morrer, o selo de Deus, o Amor!
A Bíblia é uma arte que se realiza... seu criador, Deus, é Aquele em que os limites não existem, pois não há entre Ele e sua criação nenhuma diferença. Ele é o começo, o meio e o fim, ou seja, “o alfa e o ômega!” A verdade é a vida!
A Isaac, restava vários ciclos até 2012 para realizar seus projetos, para tornar os projetos de seu diário em realidade!
E ele começou a criar o ritual de purificação, deixou seu corpo no barco, na direção que o vento lhe dava, durante três dias, até chegar na beira da praia, de onde partira... Os pescadores avistaram aquele barco e correram até ele, trazendo até a margem da Praia Socialista.
No dia anterior, Michel havia visitado o Teatro, que depois de tudo que ali acontecera, apesar de Isaac ter impedido o ato de terrorismo de Tomé, em sua mente tinha ficado os escombros. Logo após sua visita, dirigiu-se aos correios para ver se tinha alguma correspondência para o Teatro e lá encontrou a carta que Isaac havia lhe enviado antes de partir para o seu sacrifício.
Nesta carta Isaac, falava de sua viagem, pela vida e pelo barco e de tudo que aprendera no Trabalho e na Arte. Falava das ideologias, dos valores, das linguagens, da modernidade, da Grécia, da Bíblia, de seu grupo de amigos e esperava que Michel revelasse isso ao mundo publicando seu diário.
Ele não havia decidido o título, porém pediu que decidissem entre o protesto das rosas , Quando amar é proibido , o sacrifício de Isaac, ou Protetores ( o nome de sua Tribo ) , mas também ali já adiantava para ele o final do livro com a sua viagem de barco pelo mar e o seu sacrifício. E pediu que ele e o seu grupo de amigos escrevessem na realidade, a última parte do livro: celebrar o ritual de purificação da primeira rosa.
Pediu ainda que fossem junto até a praia, o mais rápido possível... e lá alugassem um barco e rumassem ao mar, onde iriam encontrar seu corpo e um baú! Deveriam cremar o seu corpo, apreciar e estudar o que havia no baú. As obras de arte, incluindo o diário, eram a essência dos manifestos, pois ali individualizava os protestos, a partir das diversas interpretação que o diário e os quadros podem ter de acordo com a subjetividade de cada um e de como vê a modernidade!
Pedia que após a cremação do seu corpo, pegássemos um barco e fossemos a alto mar, fizéssemos um círculo e no centro colocássemos suas cinzas.
Os manifestos deveriam ser lidos como seus últimos desejos, de forma que todos pudessem falar uma linguagem que não fosse a sua! Assim David do mercado financeiro deveria ler o manifesto da Arte, assim como Amy, o manifesto do Trabalho. Enfim todos deveriam contemplar em suas vidas, as outras linguagens. E assim que um tivesse falado a linguagem do outro, continuaria com as outras cinco linguagens abordadas nos manifestos. A última linguagem, deveria ser celebrada, a do amor que une corpo e espírito. Um pouco das cinzas de Isaac, deveria ser devolvidas ao mar de onde vieram... E assim como estava escrito, foi realizado, as palavras se concretizaram.
Quando os pescadores colocaram o Barco na Praia, Michel, Nicolau, David e Bin já esperavam. Foi um momento muito forte. Todos nos emocionamos, não queríamos acreditar no que estava acontecendo.
Procuramos a família de Isaac e informamos tudo a seus pais que, junto a todos os nossos parentes e amigos, velaram o corpo por meia hora no crematório. Em seguida, foi realizado um ato ecumênico presidido por Bin e Padre Luís, que em emocionada pregação lembrou a vida e a trajetória do Isaac e pediu ao Deus Amor que o acolhesse em seu templo eterno.” Venha meu coração está com pressa , quando a esperança esta dispersa, só a verdade é que liberta, chega de maldade e ilusão, venha o amor tem sempre a porta aberta, e vem chegando a primavera, nosso futuro recomeça , venha que o que vem é perfeição.”
Terminada a cremação fomos realizar o último desejo de Isaac e vários barcos já estavam no mar para acompanhar. Prontos para sair, seus amigos, todos abraçados e emocionados levaram o baú até o Barco. Cada um desatou o nó, que protegia o diário. Isaac havia em cada nó, expressado o quanto uma linguagem amarra o Ser Humano e para surpresa deles ao lado do Diário se encontrava uma Rosa, que após o fim do ritual desabrochou!
Era a primeira Rosa, a Rosa pura..., que havia sobrevivido ao sacrifício de Isaac. Enquanto as cinzas de Isaac desapareciam no movimento da água, pura em suas intenções, simples em sua composição, clara em seus propósitos, a maior parte do ser humano, que gera a energia da vida, se alimentara de suas cinzas e esperamos fazer brotar daquela semente preciosa os frutos almejados pelo inesquecível Isaac. Parte de suas cinzas foram plantadas no jardim do teatro e brotaram várias rosas como a Rosa primeira e pura. E dela desabrochara a Honra e a Glória da Sabedoria, da Coragem e do Amor. Que em sua luta no mundo está a preparar o seu lugar no Céu, na Terra, no Cronos, na Eternidade, preenchendo-os com sua intensidade, pois são as águas onde as cinzas são sementes que fazem dos homens rosas!
Como Hamlet, Isaac, ressuscitou o seu ser no terceiro dia, continuando presente naqueles que mais amou: a juventude, despertando o amor verdadeiro e a criação de novas histórias de amigos que, juntos, constróem o enredo de suas histórias, promovendo mais sementes mudanças no mundo, em cada leitor.

“PERFEIÇÃO

Letra: Renato Russo – Legião Urbana

Vamos celebrar a estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja de assassinos
Covardes, estupradores e ladrões
Vamos celebrar a estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar o nosso governo
E nosso estado que não é nação
Celebrar a juventude sem escolas
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião
Vamos celebrar Eros e Thanatus
Persáphone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade
Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
E os mortos por falta de hospitais
Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
E o voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
Todos os impostos, queimadas, mentiras e sequestros
Nosso castelo de cartas marcadas
O trabalho escravo e nosso pequeno universo
Toda a hipocrisia e toda a afetação
Todo o roubo e toda a indiferença
Vamos celebrar epidemias
É a festa da torcida campeã
Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar um coração
Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado de absurdos gloriosos
Tudo o que é gratuito e feio
Tudo o que é normal
Vamos cantar juntos o hino nacional
(A lágrima é verdadeira)
Vamos celebrar nossa saudade
E comemorar a nossa solidão
Vamos festejar a inveja
A intolerância e a incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente a vida inteira
E agora não tem mais direito a nada
Vamos celebrar a aberração
De toda nossa falta de bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror de tudo isso
Com festa, velório e caixão
Está tudo morto e enterrado agora
Já aqui também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou essa canção
Venha, meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão
Venha, o amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça
Venha, que o que vem é perfeição”

Vejamos o que aconteceu a cada um de nós. Bin é líder de um movimento ecumênico dentro das Igrejas, pregando a fé acompanhada de ações; David, aos poucos, está mudando. Se tornou um Agente de Responsabilidade Social. Suas empresas colaboram com várias ações de responsabilidade social , sem a necessidade de figurar na publicidade; Nicolau recebeu “O Príncipe”, com a dedicatória feita por Isaac e deixou a política partidária, se engajou na liderança comunitária e, ao que consta, se casará com Maria, colega de Michel, da faculdade de pedagogia, com quem mora desde a morte de Isaac e tem mudado significativamente.
Soube que Bin fará a Celebração do Casamento deles. Maria está no quarto mês de gravidez e já anunciou: se for do sexo masculino seu nome será Isaac.
Após nos reunirmos decidimos atender pedido do próprio Isaac, fazer várias cópias, com o título de “Quando amar é proibido!”, incluindo nossos testemunhos, de jovens protetores, e por fim, constando os depoimentos daqueles a quem ele tanto admirou nos campos da Arte, Religião, Trabalho, Educação e Política. Uma dessas cópias, juntamente com o baú e os objetos nele contidos seria depositado abaixo do piso do palco do Teatro, na sede da Terra da Sabedoria.

INDO AO ENCONTRO DO TEMPLO DO DEUS DA RELIGIÃO E IMPLODINDO PELA ARTE ESTE MUNDO PARA QUE OUTRO POSSA NASCER ...






INDO AO ENCONTRO DO TEMPLO DO DEUS DA RELIGIÃO E IMPLODINDO PELA ARTE ESTE MUNDO PARA QUE OUTRO POSSA NASCER ...

Tomei, com vinte minutos de atraso, o ônibus e durante a viagem, estava com um misto de ansiedade e saudade, todavia, a paisagem verde do pouco que resta da Mata Atlântica, a vida das cidades que antecediam aquela na qual encontrei o baú, fiquei tentado a descer, mas, treinando minha resistência, não desci. Tendo em vista que a vontade de lá permanecer, não me traria de volta ao ônibus e talvez ali encontrasse uma forma de sobreviver. Aos poucos iria tentar, talvez, reconstruir Atenas, começando pelo meu barraco...
Deveria continuar, poucas vezes na vida entendi o que era disciplina no sentido moderno, essa foi uma delas. Abandonar aquilo que me realizaria para ir em busca de algo, neste caso a procura me realizava e a ordem me proibia de questionar o que estava acontecendo. “que eu me organizando posso desorganizar, que eu desorganizando posso me organizar “ Era como um Deus que falava baixinho, que só meu coração escutava e seguia em frente, me fazia bem ouvi-lo...
Chegando na cidade ninguém me esperava, pois estava cumprindo o planejado, com alguns dias de atraso. Perguntei a uma senhora que estava na lanchonete, da principal e única praça da bela e florida Cidade, onde ficava a Casa de Deus. Ela me falou que logo no final daquela rua, havia um morro e eu poderia ao chegar lá, pedir permissão e entrar.
- Porque tenho que pedir permissão?
- Porque segundo eles, a Casa de Deus é uma morada que só é permitido a entrada daqueles que falam a sua mesma língua! Subi aquela montanha, certo de que a cada pessoa que, era um rito, seus gestos, suas vestes, seus símbolos... estava para entrar no mundo movido pelos ritos. Comecei a pensar sobre a juventude de Bin, com certeza as suas frases eram marcantes .
Lembrava-me ainda do seu namoro, na infância, com Maria, amiga de Michel. Ao terminar, ele veio me explicar o motivo:
- Sabe, Isaac, nós nos separamos porque eu pedi, via em seus olhos que ela não me amava mais, apesar de meus sentimentos serem os mesmos. O próprio amor por ela, chamou pela liberdade e felicidade dela. Ela me queria por perto, como um irmão, mas percebi a falta de amor, que constrói a paixão. Ela estava perdendo a força da vida! E essa força vital eu amo mais que a tudo .
Depois de algum tempo, soube que ele havia entrado para um destas congregações do Novo Tempo. O mundo que o cercava insistia que esta força vital que transbordava em seu coração, só poderia ser agraciada pela Religião, mas, sempre suspeitei de seus questionamentos a respeito do celibato e seu amor humano que não pode nem deve ser confundido com o divino. Só ali, na religião, ele não perderia tempo e teria o encontro direto com Deus! Depois de seis meses frequentando a Congregação e o Teatro, aconteceu o assassinato de Renata! Ígor, que a matara, escapara ileso da justiça humana e soube que vive a promover rachas entre gregos e troianos, ponde em risco as vidas dos transeuntes, mas era assim que ele, Ígor e seus amigos burgueses, sentiam prazer, alcançariam o êxtase! Como ele, também escapara toda uma multidão de pessoas que eram os responsáveis diretos pela miséria, que habita os Ades desta Terra. Deixou assim de acreditar na justiça humana, para crer na justiça divina! Ainda nos vimos na confraternização natalina pouco depois da morte de Renata. Depois, fez de seus ritos e orações até aquele dia de chuva torrencial, como uma tempestade que a partir dali se prolongaria em seu coração. Foi, quando tive a última notícia dele pelos jornais.
Ele havia se rebelado contra seu esconderijo e estava numa das “Casas de Deus” destruindo todos os objetos que lhe prendiam aos ritos, menos aqueles que são Sagrados, para a maioria das Religiões como a Bíblia. Ele queria de volta a Liberdade, era o seu último suspiro de vida que celebrava a Revolta contra todos os deuses infláveis que os homens criam para substituí-los! Ou para administrar o vazio do homem moderno! A maior autoridade, de sua igreja tinha interesses econômicos e políticos maiores que a sua razão. E pretendia, colocar uma igreja em cada país do mundo, para competir com a Igreja Católica, Protestante dentre outras, com aquela sua atitude ele lembrou o que o Rabi de Nazaré fez ao expulsar os vendedores do Templo de Jerusalém, há quase dois mil anos...
Depois escolheria uma região no mundo e a declararia lá como sua sede do Poder Central, assim como é o Vaticano! Loucura, ou mesmo desejo daqueles que criaram o Vaticano, como outros poderes centrais? Seria acionista de empresas e assim garantiria a sobrevivência e a perpetuação de seu poder, hierarquia e influência no mundo todo através de seus batalhões.
Só que seu projeto estava sendo ameaçado por uma nova Igreja que crescia mais rápido e assim outra que seguindo o exemplo desta última, também queria o seu lugar ao Sol. Neste caso o Sol não é Deus! E naquele dia Bin havia sido escolhido, para liderar uma ofensiva e montar uma estratégia para ocupar os mesmos lugares, que as outras Igrejas estavam ocupando... Não aguentando aquele discurso, quebrou toda a Igreja e foi punido por seus Superiores e pela Imprensa como o “religioso que estava possuído, momentaneamente, pelo mal!”
Foi isolado, naquela cidade que eu acabava de chegar... e seu ritmo de ritos foi triplicado, até que encontrasse a verdade, o “Deus” que eles buscavam. Precisava se isolar para encontrá-lo, ou melhor, a memória não poderia ser ocupada de outros pensamentos. Pensar era o mesmo que orar! Seu labirinto não tinha paredes, as suas portas estavam trancadas pelos cadeados da Fé e a sua Fé estava entregue ao Deus Absoluto e seus projetos terrenos, à política de interesses de seus superiores!
Finalmente cheguei ao meu destino. Toquei a companhia daquele grande porte de madeira, cheia de desenhos, desenhos que eram realidade. Se prestarmos atenção, toda obra de arte, traz consigo o seu criador! A Ilusão não tem essência, assim como a Imaginação cria caminhos, através do que está despedaçado em seu criador. Ele sempre busca unir uma totalidade!
Bin, veio atender a porta, não nos abraçamos apenas cumprimentamo-nos com um aperto de mão, esse era o rito de como falar com as pessoas, não que estivesse escrito mais imaginariamente trabalhava em silêncio, ao reproduzir as regras que seguimos para todas as esferas da ação humana. Isto dava a ele mais segurança e, ao mesmo tempo, mais medo de romper com os mitos. Sem sua coragem, encontrei Bin diferente!
- Quais são as novidades Isaac?
- Não são boas Bin, sabe o nosso Teatro? Amy continuou lá depois que a nossa turma se separou. Como ela gostava de Arte, lá ela ficou desenvolvendo, criando e realizando sua obra de Arte!
- Mas nunca ouvi falar de nada da Arte de Amy, exclamou Bin
- Nem eu, não sei bem o que ela continua fazendo lá, não sei se é uma peça de Teatro onde ela encena todos os personagens com a HOKMA, ou está escrevendo um livro... Não sei. Sei que ela me ligou, pedindo um dinheiro emprestado há uns dois anos e agora ligou de novo, dizendo que havia hipotecado o Teatro para o Banco de David. Ele também havia emprestado o dinheiro. E, agora, David iria consolidar a tomada do prédio, por falta de pagamento. Já que uma Seita, ou, desculpe, uma dessas Igrejas que adoravam comprar prédios suntuosos estava querendo comprá-lo. E como eu já vinha lhe visitar aqui para conhecer mais sua Religião, lembrei, daquela notícia no jornal, que você tinha se negado a assumir o projeto de expansão de sua Igreja. E você poderia me ajudar, já que talvez seja a sua Igreja que esteja comprando.
- É, Isaac, a minha novidade é que eu aceitei, liderar o projeto de expansão, minha missão designada pelos superiores! Bem é algo que só eu posso fazer, como assim me convenci em minhas orações e nas conversas com os meus amigos da Igreja! Mas não estamos comprando nenhum Teatro! Foi uma Igreja? Tem certeza?
- Claro, ela me falou o nome, não sei bem se era Jesus Cristo é... A casa do pastor... Não lembro.
- Não Isaac, é uma outra Igreja, que está nos ameaçando e quer derrubar a nossa Fé e o nosso “Deus”, o perfeito! Foi bom você ter me visitado, essa informação é preciosa! Quando e onde será o leilão?
- Amanhã, no próprio Teatro. Será proforme pois todos os documentos já estão assinados. Sabe o Ígor, que matou Renata, é o pastor dessa Igreja... não sei se Morada de Deus ou do Pastor... e deu propina aos funcionários do Banco!
- Ígor? Não acredito! Assim é demais ele matou Renata e agora quer profanar o lugar Sagrado de minha juventude e ainda por cima, sua Igreja é o abrigo de todas as suas maldades. Mas só poderia ser, como vê na verdade é comigo que ele quer guerra, exclamou irado, em pé, com um tom de voz que mistura desespero, depressão e pânico.
- Calma, Bin... nós podemos fazer alguma coisa, é só pensar!
- Não, Isaac eu quero ir amanhã bem cedo para lá, tenho algo que quero entregar a Ígor e a David, seu parceiro... Você irá comigo até a Cidade, mas de lá seguirei sozinho, essa guerra é minha! Até lá, podemos descansar, convido-o a cear comigo e meus irmãos! Me acompanhe, este é seu quarto! Tome banho e troque de roupa. Eu volto para conversarmos.
Tomei banho, troquei de roupa e resolvi fazer minhas orações, ajoelhei-me e orei em voz alta:
A disciplina aliada ao pensamento construtivo e a socialização deste é que nos torna poderosos, se fundamentados nos princípios do amor, podemos colocar em prática a visão de um novo mundo.
A análise do todo para atribuir sentidos às partes, modificando-os, unificando suas linguagens e a perfeita simetria com um objetivo maior, nos confere a sabedoria, mas para isto temos que ter no conhecimento, proveniente do indivíduo que enxerga o Absoluto, a fonte dos questionamentos.
“Navegar é preciso”. Entre aquilo que julgam bem e mal, já que em essência o mal não existe, ele é ausência do bem, da luz que liberta... entre o que julgamos certo e errado, os lados opostos que se unem no pensar, a dedução e a indução, todas as áreas do saber, as ideologias, as diversas linguagens e expressões da ação humana, pois só através desta experiência é que estaremos livres de preconceitos, na hora de decidir unificar. Porém são os valores espirituais, a crença no Pai, a fé no novo mundo que nos abrirá o caminho, fazer alcançar o objetivo maior sem que no meio da estrada por onde estivermos troquemos nossa missão.
Missão esta que é dada segundo nossos valores e talentos, o primeiro que é o, desejo do Pai, do criador, para o qual fomos preparados, visando dar sentido à nossa existência. Por esta razão ergo a cabeça, olho o futuro e multiplico durante a caminhada os dons que recebi, unificando na busca do Pai, a Perfeição, o Absoluto, em quem acredito mais do que em mim, com minhas imperfeições. Vejo n’ Ele o que me falta e procuro seguir as suas palavras construindo-as.
Assim seja. Amém. Emunah...
Ao escrever aquelas palavras, em meu diário lembrei o quanto me faltava, que muitas bobagens eu poderia ter escrito nele e que, de algumas delas já discordava, mas era isso que importava, esse processo de buscar e não se prender a ideologia como verdades, como deuses.
Essa era uma das principais mensagens deste diário. O redigi por achar que o jovem deveria escrever seu diário, falar sobre tudo e sobre todos, não ter vergonha de orar em voz alta e homenagear seu Pai! Pegar seu diário e falar em voz alta o que o homem e a vida representam para ele e sua coragem, deveria fazer orações teístas dirigidas a um Deus Ecumênico. Ainda faltava celebrar o Amor e a Sabedoria. A Natureza e o Espírito. Às vezes me levantava e orava cantando e escolhi uma de minhas poesias para fazer oferendas a meu Pai e sua maior criação, a natureza:

Pai se olhares em meus olhos, verá os raios
Se tocardes me minha pele sentirá o frio
Como a Natureza, sou teu filho!
Se observares a minha coragem,
Em minhas palavras,
Verá que a escuridão não me cala,
Em minha busca pela sabedoria, só ouço a tua voz!
Na realidade é só o amor que nos comunica
A voz que não cala
Quando escuta meu pensamento,
É a mesma energia, que da água, incita o movimento
Que o homem, pela razão, chama eletricidade,
Mas não explica o movimento,
Se ilude com meias-verdades...
Eu porém acendo a luz e vejo a Ti!
O meu espírito
Não cansou no caminho,
A mesma energia das águas
Me movimenta em sua direção,
Que o indivíduo chama de paixão,
Faz coisas por ela, sem entender e questiona a Ti,
A Ti questiono...
Eu, como sou possível?
Só entendo através de Ti.
Que está em toda parte!
Inclusive em mim!

Resolvi andar um pouco pelo convento e, quanta suntuosidade! A Igreja tinha suas paredes banhadas em ouro e uma lâmpada imensa de prata pura era fixa na nave central.
Uma reflexão se fazia necessária: para quê tanto luxo? As próprias divindades as rejeitavam. O “deus homem”, é certo que veio para contrapor o verdadeiro Deus e fez tais fortalezas. Essa lembrança já estava presente num seguidor de Deus, mais ou menos entre 1200 e 1226 desta era cristã.
Ao questionar tanta riqueza, tanto luxo, afastando os “seguidores de Cristo” dos ideais por este pregados, fundou um movimento que abdicava de tais regalias para viver de pobreza. Após sua morte, com o passar do tempo, o movimento que ele fundou deu prosseguimento às faraônicas e desnecessárias construções e, deixou de lado a pobreza. É impossível dizer que eles são “poverellos” . Foi esse mais um traído em seus ideais.
Bin abriu a porta de repente e pode contemplar minha poesia.
- Desculpe Isaac é que nosso jantar está na mesa.
Me levantei e começava agora a minha última caminhada, porque meus ideais eram tão fortes que sobreviveriam até a ultima caminhada. Muitos guerreiros ficaram pelo caminho é uma pena, poderíamos lutar juntos, era só recomeçar...
- No jantar, um padre da Igreja católica veio jantar conosco, ele estava na cidade a procura de uns antigos escritos e dormiria conosco... Quis saber mais sobre estes escritos, pois o meu achado grego já era para mim bastante valioso.
- Sobre o que são esses escritos? Quem os escreveu? Foi Jesus? Perguntei.
- Não! Foi um jovem que viveu na mesma época e não tornou-se discípulo de Jesus. Ele acreditava na política, nas artes, e na educação e pediu a Jesus para caminhar por suas crenças! Jesus permitiu porque via em seus olhos que ele também falava do amor! Esses escritos são o seu diário, talvez um instrumento musical, algumas obras de arte da época, uma rosa de ouro, símbolos de jovens protetores, que devem estar enterrados num baú, numa destas praias que nos cercam. O Bau das gerações!
Ele falava sobre o seu mundo, seus problemas políticos, cantava a sua poesia, contava as suas histórias, disse o padre ao ser interrompido!
- Mas espere, eu encontrei este baú mas ele era grego, consta todo que o senhor disse e foi aqui perto...
- Não é possível! Isso é um milagre de Deus! Exclamou o Padre Luis.
- Eu achei. O senhor quer ver, alguns dos itens enumerados estão aqui comigo, com exceção do diário, que Michel, meu amigo, está traduzindo e o baú, deixei em meu apartamento.
- Vamos ver, exclamou o Padre Luis, pedindo permissão ao superior da casa para interrompermos aquele jantar. Fomos até meu quarto. Ele examinou cuidadosamente o que constava no baú ...
- Não pode ser, não é este: onde você o encontrou? Vamos comigo no carro da congregação até lá!
- É meio longe é lá na Praia Socialista, falei.
- Não importa. Quando chegarmos será hora de amanhecer! E a luz nos permitirá ver, até o final do dia!
- Então vamos...
Arrumei rapidamente minhas coisas, Bin que durante o jantar ficou calado, resolveu ir também. Correu até o seu quarto arrumou suas coisas. Pediu só meia hora para preparar um presente que levaria para o Teatro! Correu para um quarto escuro e ficamos o Padre Luís e eu a preparar o carro, alguma alimentação...
Depois de meia hora, entramos no carro e seguimos nossa viagem...
Graças a Deus, dormi um pouco até lá. Todos nós ficamos calados porque cada um estava ali se dirigindo a algo que fazia sentido em nossas vidas. O meu era através de minha busca, encontrar sentido para a vida; o Padre Luís só pensava em como iria esburacar a praia inteira, atrás do Baú Hebraico-Cristão e Bin como impediria a venda do Teatro para Ígor. Foi ai que lembrei que ainda não tinha feito minhas velhas perguntas para Bin e aproveitei a viagem para isto!
- Bin, por que o homem pula de um extremo da realidade para o outro e não consegue entender o mundo que o cerca?
- Não sei, Isaac! Não me interessa essa busca, eu não busco Deus, Deus é que me busca. Eu preciso aceitá-lo!
- Mas você aceitá-lo, não significa ir em sua busca? O homem, por exemplo, na sua grande maioria não o busca durante a vida, com raras procuras na infância, na juventude não tem tempo e só na velhice começa a se voltar para Deus. E sem essa busca, quer encontrar Deus! Acho que encontra apenas a si mesmo, o seu único Deus! É principalmente nos dias de hoje, que quer que o homem encontre as suas próprias leis e regras, justificando assim todos os seus atos, em nome de sua verdade.
Por outro lado nos dias de ontem esse espaço era ocupado pela moral, sem questionamento, por dogmas criados por uns, seguidos por outros! Esses são os dois extremos que tem em comum vários aspectos: onde um inicia, o outro termina, são frutos da mesma essência, pois ambos não explicam a magia do mundo que os cercam, nem pensam, nem sentem, pois sentir o outro, como se sente, só no momento ao criar a nossa moral a compartilharmos com outro, o Deus Eterno!
Se cada um de nós podermos sentir a nossa participação na totalidade do absoluto ela se concretizará, o Absoluto quer cada um de nós presente em sua totalidade, quer em sincronia, simetria, sinergia e sabedoria com outros e com ele. Só assim poderemos viver sem os “deuses” que criamos, ora para justificar nossos atos, ora para garantirmos que são justificados pela moral, quase nunca pelo coração! Pois só encontraremos a verdade que não nos pertence através do coração.
- Não Isaac, você está enganado, eu sei o que é a verdade. A verdade é a minha crença e por ela justifico tudo e a todos. Ela que trago comigo, a verdade, me permite que todos possam enxergar através de mim, me provando através de seus atos, a Deus. A verdade que fui incumbido de interpreta-la é lógico, fazer de meu povo, o escolhido que será recompensado, construindo aqui o mundo ao seu suor, seja visto com outros olhos.
Os olhos que atribuem o valor sagrado, antes de passar pelo espírito, pois seus olhos são os meus!
- Bin, o valor do Absoluto, que para mim é Sagrado, é um valor que independe de outros valores? Que não é divisível, pois representa a totalidade, que ao ser dividida é cortada a nossa compreensão e o que intitulo como Deus é a minha própria compreensão, que celebro com minha linguagem cortada. A durabilidade do Sagrado é eterna e o valor que pode ser possuído de uma maneira comum e indivisa pelo maior número de pessoas. E a quem o sente sabe que é, o que proporciona satisfação plena oriunda do espírito, consagrando o Sagrado com a nossa alma, é uma pequena parte do holograma da totalidade! Porém, a coragem, a lucidez e o engajamento resoluto podem nos levar a encontrar o caminho!
Finalmente chegamos na praia, descemos correndo e nos dirigimos para bem próximo de onde eu havia deixado um barco que estava construindo, pois bem próximo havia encontrado o baú! Lá mesmo o Padre Luís começou a procurar um sinal. Não vendo nada, apenas dunas, resolveu perguntar a uns pescadores se eles sabiam onde encontrava a antiga carcaça de um navio que deveria estar ancorado por ali, pois há muito tempo atrás aquele local era mar e agora virou terra e quem sabe um dia voltaria a ser mar... pois o baú havia sido amarrado na ancora deste barco e um jovem teria velejado neste barco pelo mundo em busca da “Terra Prometida”, onde transformaria seus sonhos em realidade. Porém os Bárbaros e seus deuses, o perseguiram já que não tinham vida em plenitude, queriam matá-lo pela inveja da vida plena que seus olhos transmitiam, refletindo seu coração.
O jovem hebreu, não tendo mais saída, dirigiu seu barco para um iciberg, colocou suas coisas num baú, amarrou na ancora e jogou ao mar. Sem esquecer de deixar uma carta em hebreu para seus parentes e ali mesmo tirou a sua vida... para justificar aos hebreus que continuariam lutando, pois como ele não entregaria a sua vida a um bárbaro, decidiu sacrificá-la por uma causa maior. Vários pescadores já haviam cercado o Padre, admirados pelo fato dele, em nossos dias, andar de batina e sempre segurando o breviário, mas principalmente para ouvi-lo... Porém, nenhum deles sabia de alguma coisa sobre esse baú! Até que eu falei:
- Acho que posso encontrar o seu baú, quando encontrei o baú de madeira , tinha um pequeno bau de prata, dentro dele com vários cadeados , e uma corrente o prendia... mas não consegui quebra-la deve haver algo preso a ela...
- Me mostre onde foi! Exclamou Padre Luís. Levei-o até lá e vários pescadores, Bin, o Padre e eu cavamos até onde pudemos, quando finalmente vimos brilhar a fivela quebrada do baú com o sol que irradiava a sua Luz. Rapidamente puxamos e o Padre tratou logo de abri-lo, forçando com uma pedra até romper o cadeado... Dentro do baú encontrou uma harpa, sete obras de arte, um tecido, uma caixa fechada por sete cadeados, rosas de prata e lógico um diário...
O Padre Antonino abriu o diário, e ficou lendo por ininterruptamente. De início, fiquei só observando até que não aguentei mais e pedi que ele me falasse sobre o que tratava.
- Aqui fala como o trabalho, a educação, a religião, arte, a política e o prazer poderiam ser realizados com o amor!
- Lembrei que o diário grego falava como todas essas coisas poderiam ser feitas com sabedoria! Parecia escritos por jovens protetores e revolucionários cada um em sua época, mundos e histórias diferentes mais as mesmas causas e sonhos compartilhadas por gerações. Cada um deixa seu bau e a história e a luta continua, novos desafios e personagens de uma nova historia que renasce e se eterniza. Até a Lua, acho que vem gente agora de outras gerações e planetas no ajudar, de volta a Terra.
- Isaac, desculpe mais a coragem nos chama! Chegou a hora de irmos ao Teatro, exclamou Bin!
- É Padre Luís. Adeus, preciso ir em busca de algo que dê significado ao diário que estou escrevendo. O senhor me ajudou bastante obrigado, posso dizer que a cada momento, ato ou passo que se sucede, me torna outra pessoa. Não sou o mesmo, provando que “a vida é um aprendizado constante”.
Saímos de lá correndo, pois daqui a apenas duas horas seria a entrega do Teatro ao seu novo dono! Quando pegamos o ônibus, pedi o celular de um jovem que estava ao nosso lado e dei um toque para Michel que me retornou e começaríamos a falar:
- Michel, tudo bem? Já estou voltando, você tem algo para dizer sobre a tradução do diário grego?
- Claro, Isaac fiz varias anotações e quero lhe entregar pessoalmente para que possamos tecer alguns comentários..., falou Michel.
- Bem, podemos nos encontrar no teatro daqui há duas horas, estarei lá... assim você poderá ver a turma, claro que quase todos estarão lá, pois Renata não mais está no nosso meio, exclamei!
- Boa ideia, a gente se vê lá, um abraço! Não se esqueça que lá será um bom momento para conversarmos, falarmos sobre o que temos feito de nossas vidas!
Assim que desliguei o telefone, agradeci ao jovem e desmaiei de sono, Bin e eu havíamos passado a noite acordados...

DE VOLTA AO TEATRO...

Estava sonhando com as cinzas se juntando no mar, enquanto o balé da vida era dançado, tendo a água, com o seu célebre movimento, a tarefa de uni-las. Eram cinzas diferentes em suas formas, mas que interagiam entre si formando a totalidade de uma rosa no Mar... quando Bin me acordou...

- Vamos Isaac! Disse Bin.
Já íamos saindo do ônibus quando Bin voltou rapidamente e gritou...
- Espere já ia esquecendo meu presente. Pare motorista, gritou Bin. Subiu bem rápido, pegou no porta bagagem de mão e desceu uma caixa vermelha, com uma rosa murcha, pintada na frente... Corremos pegamos um táxi, pois já estava na hora!
Ao chegarmos no Teatro, entrei primeiro, estava um pouco envolvido pela emoção... ao chegar ali era como se um filme começasse a ser rodado, me lembro momentos inesquecíveis, nossa conversas e sonhos mas já não eramos os mesmos. Bin pediu um momento. Ao chegar lá Amy, chorando, estava assinado a venda do Teatro. David sorria pois esta operação lhe daria muito lucro e com uma de suas mãos entregava o dinheiro que iria pagar a nova campanha de Nicolau, desta vez para o Senado. Michel já me aguardava com as traduções, em uma de suas mãos, enquanto a outra assinava aquele ato como testemunha. Ser testemunha de momentos históricos sempre foi o papel da maioria dos intelectuais! Lembrei neste momento que ali sobreviveria outro prazer, sem amor, sem sabedoria e sem coragem, pois Renata estava morta. Não era um momento de palavras, os atos falavam por si, pois ao ver Bin entrar no Teatro, abrindo o seu presente, percebemos uma bomba, que ele acionou em seu peito, que destruiria a todos do nosso grupo de amigos e áreas da expressão humana, pois ao ver o capital arruinando, a arte subjugada, a educação como testemunha, tendo a política como seu comparsa. Ao lembrar do prazer que foi morto e ao ver o terrorismo que mata... Vi que havia chegado a hora do meu sacrifício, pois o amor naquele momento se transformou em solidão!
Mas, Isaac ainda poderia nos salvar porque eu não sou Isaac, eu sou Amy , sou a arte , e ainda não havia falado sobre mim, que tenho a capacidade de me comunicar com todos os homens através do absoluto! Que posso fazer com que o coração de cada um homem se liberte, ame, num mundo quando amar é proibido , lute pela vida, tenha amor, sabedoria e coragem para colocar em tudo o que faz. Possa unificar as suas linguagens ao perceber a totalidade que o rege, o que há de comum em todos os seres e não apenas as nossas diferenças. Pois só ao atribuirmos sentido ao todo, poderemos ver como as partes se relacionam e a realidade que hoje subjuga o homem com suas restrições, que castram seus sonhos, sua liberdade e sua esperança, não terá mais força sobre o homem, que a destruíra transformando sua arte em realidade, buscando a perfeição que a totalidade nos pede. Desta forma possamos dar a nossa contribuição, a arte fez a sua crítica do capital que hoje como um “deus” subjuga os homens, para que eles aceitem a sua realidade. A arte trouxe a coragem, como sempre fez de estar a frente de seu tempo. Como ela, através de filmes, livros, poesias, músicas, pinturas sempre trouxe a exaltação do espírito e mostrou ao homem as suas futuras criações, hoje eu e Amy trago a criação que ilumina o Teatro da Vida.
Só ela, a Arte pode fazer com que Nicolau rasgue o cheque e continue abrigar os palanques de sua juventude ao lado de Michel que não será apenas testemunha, verá que Bombas virarão rosas, pois o amor e o prazer ressuscitarão do coração humano. O trabalho voltará a ocupar o seu lugar de edificação da alma humana, aos meus olhos que está em cada um de nós. Podemos iluminar o sentido de nossas vidas, pois lá nos comunicamos com o Absoluto!
Podemos perceber que somos Nicolau, David, Michel, Bin, e Amy que tem em Isaac, seu encontro que Renata comunica. Porque nossas linguagens são uma só, os nossos valores, que tem na arte uma forma de fazer com que cada um de nós interprete este manifesto. Ao ver um quadro de Van Gogh, uma obra de Shakespeare, o Grito, todo ser humano pode expressar os manifestos de seus sentimentos, de seus valores. A arte é o maior manifesto, porque ela permite que cada um de nós possamos expressar, individualmente o seu manifesto ao que sente e vê. E recriar uma grande obra em cada olhar, a luz de seu tempo, como fazia meu pai ao repintar quadros!
A arte não é a expressão humana mais importante, ela apenas comunica com mais clareza o sentido que atribuímos a todas as nossas outras obras de arte: O Trabalho, a Educação, a Religião, o Social, a Política, o Prazer e o Amor, presente em todas as demais, sem ele nada somos. Porque a Arte é...

OUTROS MARES...assim como as ondas, os momentos, a vida...






OUTROS MARES...

Era hora de continuar a caminhada. Desta vez iria visitar os templos da religião. Bin também havia se afastado do grupo com todo vigor do coração. O principal motivo, além da morte de Renata, que era a fuga do prazer de sua vida e realidade. Bin era um idealista e tinha dado tudo de si em sonhos e projetos, principalmente lá no teatro, naquele dia da celebração de morte e vida. Foi lá que percebeu: a realidade faz suas exigências, requer de nós aquilo que não temos, aquilo que não somos e aquilo que não queremos dar: a vida. E percebeu que só um contato direto com o Deus Absoluto, poderia preencher a necessidade de vida em seu coração. A realidade estava morta como a sociedade em que viviam! Eu pessoalmente só acho, que ele criou um cemitério, para enterrar outro, o cemitério da contemplação sem coragem e sem vida!
Ele havia se isolado num mosteiro numa região de poucas casas! Uma cidade pequena, em cima das montanhas, cercada, no inverno, pela neve e, no verão, pela neblina. Acho que lá seu coração congelou... embora ele ainda se questionasse sobre o que sentia por mulheres. Consegui localizar o endereço de Bin com sua mãe. Enviei-lhe uma carta e expliquei o de sempre. Estava sem sentido na vida e achava que ele havia encontrado um, que eu queria conhecer e se possível compartilhá-lo. Já havia visitado David e Nicolau, mas lá nada encontrei, apenas que o trabalho estava mal representado com aquela visão de mundo que eles tinham. A resposta demorou vinte dias para vir, ele agradecia o meu interesse e estava disposto a me ajudar. Ficava aguardando o retorno de minha parte.
Resolvi fazer algo de útil e comecei a construir um barco. Não sabia bem porque, o espírito me guiava. Porém em tudo que estava envolvido queria fazer o melhor, sem apagar o nada de minha vida, que permitiu ressurgir a cada dia diferente! Dez dias foram suficientes para tornar este barco algo que me dava prazer, pois a finalidade de construí-lo era tão somente para um dia contemplar as águas tocando o sol e o barco em algum lugar distante!
Disposto a visitar Bin e os templos religiosos, desta vez resolvi ir de ônibus, assim, apreciaria até lá a Bíblia e o seu regente! Era tão fascinante quanto a Ilíada de Homero, sentia que ambas eram reais, pois seus símbolos guardavam um significado tão profundo, numa historia, uma vida. E, mais do que isso, a certeza de que muito de minhas crenças, tinham história e tempo onde foram consolidadas não só pela aventura de meu espírito, mas de muitos outros que me antecederam e transferiram a responsabilidade de seus ensinamentos ao meu coração! Ensinamentos Gregos e Bíblicos, que traziam o Ser como UNO, a exemplo de Aquiles que comandava. No seu espírito, também estavam vários heróis bíblicos como Davi, que graças também à coragem de seu espírito, transformou a sua vontade consciente na vontade de seu pai e de sua glória e honra, ainda hoje, mesmo cercadas pela modernidade, vivemos delas!
O meu encontro com David, ainda estava presente em minhas preocupações. Não só porque tratava-se de uma interrogação entre capitalismo e socialismo olhando para as pessoas que reafirmam seus valores e sua linguagem através da ostentação de poder & posses! O que me deixava mais calmo, era que tudo seguiria o curso normal do Ser e da Historia, pois em suas ações sem sentido, acabavam construindo, com eficácia, uma alternativa proporcional ao tamanho do buraco, do vazio, do nada que estavam criando através da destruição de vida de pessoas... Pois, quanto maior o número de desempregados, mais pessoas fazem protestos, agora incluindo membros da classe “culta” que poderiam melhor identificar as contradições do sistema e alertar a todos que os cercam. Dois cantores de rap estavam dando uma entrevista no jornal da TV, enquanto eu almoçava. Um era de origem pobre e suas musicas falavam de amor... o outro, de classe media alta falava das contradições da sociedade!
E o repórter bestamente perguntou: Rafael, porque você que não é pobre, ataca a sociedade, enquanto seus amigos pobres enobrecem a arte falando de amor? As respostas dos rap’s foram inacabadas, pois não tocava no cerne da questão, num país como o meu, só Rafael, o de classe média, teve uma educação adequada para quebrar as ideologias e enxergar as contradições. Essas contradições, também podem ser percebidas pelo que há de comum, isso se tivermos todas as informações necessárias para tirarmos conclusões...
Após o almoço, enquanto aguardava o outro ônibus que saía a tardinha, resolvi andar por aquela cidade litorânea. Queria caminhar pela praia e ver se encontrava algum acessório para meu barco. Era uma cidade bastante interessante, por sua modernidade e antigüidade convivendo juntas independente do tempo.
Em minhas analogias, comecei a tecer considerações e conexões, via ao meu lado uma Igreja, várias senhoras se dirigindo às preces, com um terço nas mãos. Ao meu redor, pescadores faziam protestos quanto aos preços que os donos de comércio queriam pagar pelos seus peixes. Uma das senhoras saiu das preces e se dirigiu ao dono do comercio e disse-lhe: Não comprarei mais peixe ao senhor, nem minhas amigas. O senhor é injusto com a sobrevivência dos outros e quer que sejamos justos com a sua sobrevivência? A partir de hoje, compraremos direto dos pescadores.
O comerciante era arrogante, mas como Golias, foi derrotado por Davi. Aquela senhora, como Davi, utilizou a sua inteligência, um valor grego e junto com seus valores cristãos de justiça, tomou uma atitude o que nos fez lembrar da coragem e honra dos povos hebreu e cristão. Isto serve para desmitificar a idéia do cristão passivo, pois a Bíblia nos ensina, em diversas passagens, a lutar, a ter coragem e a mostrar a honra do povo de Deus, assim como gregos e troianos...
Aquela cidade me fez pensar o que seria uma Terra da Sabedoria, simbolizando e representando a união histórica entre Atenas e Jerusalém, a fé e a razão, habitando o mesmo lugar, portanto, mais forte para enfrentar seus inimigos comuns. Começava a realizar, os traços daquela cidade “A Terra da Sabedoria” e concretizar as praças, os lugares do sagrado, as escolas, Sócrates e Vênus harmonizando os desejos e angústias populares.
Ao ver aquela praia deserta cercada de dunas, imaginei lá reconstruída Atenas, habitada por jovens de todos os lugares do mundo falando grego e formando líderes que conviveriam com os valores de sua época, discutidos e dialogados entre si. Uma Universidade do Ser e não do ter. Jovens de vários países, setores da sociedade , e saberes diversos , empreendendo projetos em sinergia social, nos vários desafios coletivos tais como Educação: combate as drogas, preservação da natureza, melhorar a educação, desemprego e outros. Líderes em Sinergia e Justiça Social. Novas instituições seriam criadas, que dessem alicerce a esses valores. Lá estariam reunidos vários saberes aptos a repensar o Trabalho, a Educação, as Artes, a Religião e a Política. Todos eles teriam habilidades técnicas, políticas , estratégicas e conceituais. Ao voltarem aos seus locais de origem, como multiplicadores, os conceitos seriam melhor vividos por sua sociedade, com habilidade política, eficácia e eficiência técnica, para acompanhar os diversos passos dos projetos, mas principalmente Atenas com seus valores cristãos, proporcionando ao seu coração, entender e enxergar o caminho do outro, para que pudesse nesta nova sociedade global, contemplar o absoluto na realização da liberdade de espírito de todos!
Enquanto caminhava pela praia, próximo às dunas tropecei em algo, caí no chão de tão grande que era: estava ainda metade enterrado na praia, percebi que tratava-se de um grande caixa de madeira em formato de baú, quebrei o cadeado com uma pedra... estava ansioso, poderia ter encontrado um Tesouro, ao abrir... encontrei sete obras de arte, quadro escritos e pintados com manifestos como selos do Apocalipse, um diário com um romance aonde se misturava biografia, contextos, poesias, me convidava a realizar os 12 trabalhos de Hércules, responder perguntas e reflexões , e num dialogo entre gerações, me tornar um PROTETOR , sendo personagem de uma nova história, a minha e da sociedade em que vivia, realizando vários projetos com minha Tribo. Tinha algumas peças como uma bandeira, que aparentava ser de um país, um pequeno violão, uma rosa feita de ouro, um broche com um jovem carregando um patuá em couro e uma mão levantada segurando uma arma, aparentemente, desconhecida. Tinha um DVD, que constava tudo isto, além de links na internet , vídeos no you tube, Imagens , fotos , lista de músicas, livros e filmes que tinha que assistir. Parece cenas de um roteiro de um filme. Vários projetos e símbolos dos PROTETORES. Além de um outro cofre Bau este feito de prata fechado por sete cadeados que o circulavam. Ao erguer o cofre encontrei uma corrente que saia do bau maior e o prendia ao chão! Tratei de puxar a corrente mas não tinha força o suficiente. Corri até a praia e pedi ajuda a um pescador. Ele segurou comigo, com bastante força, a corrente, contamos até três e puxamos. Não foi suficiente. A corrente não se mexeu, mas não desistimos, pedimos ajuda a um outro senhor por nome Eulálio que passava. Ele, conosco, puxou a corrente. Mais a corrente do baú em prata não rompeu! No diálogo que travei com aqueles senhores começamos a achar que o baú tinha estava preso a uma pedra e por esta razão não adiantava só puxar com força era preciso inteligência! E não conseguimos libertar este Bau de prata e sua história. Maa eu tinha o Bau de madeira e tinha muitas coisas nele. Eles pediram para ver o que havia no baú! Mostrei e eles começaram a rir, se soubessem que ali não estava um tesouro nem viriam ajudar. Puxei uma nota de R$ 10,00 do bolso, entreguei a eles e agradeci!
Peguei uma corda que estava no chão amarrei na corrente bem pequena que ficou presa ao baú e saí puxando até a praça! Lá corri até o maleiro onde tinha deixado minha bagagem e peguei meu notebook. Queria saber de que país era aquela bandeira, encontrei num atlas. Aquela havia sido a bandeira da Grécia antiga... Foi então que percebi que a língua em que estava escrito o diário, era grego. Tinha que conseguir quem o traduzisse para mim. Era uma grande coincidência, pois eu também estava escrevendo um diário e havia comprado um manuscrito numa casa de antiguidades. Segundo o senhor que havia me vendido, também se tratava de uma relíquia do mar. Não pude esperar para ver o que continha aquele diário, interrompi minha viagem até Bin! Ele entenderia e peguei o ônibus de volta, antes fiz um mapa de onde havia encontrado aquele baú, com certeza foi fantástico esta oportunidade de estar ali naquele momento, afinal, não existe coincidência, tudo está planejado, projetado pelo supremo condutor do universo e por nossa Sabedoria, coragem e amor.
Ao chegar em meu apartamento, havia uma carta, que havia sido colocada por debaixo da porta. Dentro, um convite para um comício do lançamento da candidatura de Nicolau, que estava sendo financiado por David, além disto havia uma carta e um cheque no valor de R$ 19.000,00. Na carta dizia que Nicolau iria utilizar meu projeto Sociedade Cidadão do Mundo, como seu no comício e que precisava fazer algumas alterações por exigências de David. Mais saberia que eu concordaria, pois era esta uma oportunidade de começar a mudar o sistema, com ele Deputado tudo ficaria mais fácil.
O convite devia estar ali já há alguns dias, já eram vinte horas e o comício já havia começando às dezenove horas. Guardei o mais rápido que pude o baú e corri até a praça. O nome do Banco de David cercava toda a praça, estava tendo um show de uma banda de axé! E segundo o locutor em quinze minutos Nicolau falaria e apresentaria o projeto que seria o “Futuro” da comunidade, com prosperidade! Tentei chegar até o palanque para falar com Nicolau mais a segurança era grande e não permitia entrar quem não tivesse crachá de identificação.
Foi quando Nicolau passou, olhou para mim e fez como que não me visse! Ele subiu ao palanque e começou a falar sobre a Sociedade Cidadão do Mundo. Em resumo ele disse que os jovens se organizariam em cooperativas para trabalhar, de acordo com a potencialidade da região, cercando a cooperativa existiriam três escolas: a primeira era profissionalizante e visava também o desenvolvimento da ciência & tecnologia, dentro da área de ação da comunidade. Era nela que seriam treinados os membros da cooperativa. A segunda escola era conhecida como a Escola Social onde se discutiria de tudo, como drogas, sexo, mas também lá aconteceriam shows, capoeira, dança, além de aulas para o vestibular e debates sobre todos os tipos de assuntos levantados pela comunidade, com decisões a serem tomadas pelos participantes e automaticamente aplicadas.
Ali, cada indivíduo teria o direito e o dever de tomar decisões em sua vida e definir o seu rumo, desde que fizesse com paixão, sabedoria e coragem aquilo a que iria se dedicar e lógico que não prejudicasse a vida de ninguém. Nessa escola, a comunidade trabalharia em conjunto para tornar realidade aquele projeto. Eles administrariam em conjunto os recursos gerados pela cooperativa, deveria se construir bibliotecas, quadras de esportes ou um piano para um jovem talento que despertara!
Em tudo o que fosse adquirido, seria usado o poder da barganha da cooperativa e em troca da compra direta, deteriam recursos que a empresa produtora gastaria com o comércio e a publicidade!
Todos os coordenadores, eleitos por voto direto e seus projetos deveriam ser apreciados por todos, nos computadores disponíveis. Eles receberiam o mesmo salário de um trabalhador de cooperativa, apenas tinham funções diferentes.
A terceira escola que completa a triplica era a “Cidadão do Mundo”, disponibilizaria ensinamentos para que o jovem melhor organizasse a sua vida e tivesse uma amplitude de conhecimento que tornaria o seu espirito livre para tornar aquela Sociedade, a mais justa do mundo pois estava sedimentada no saber! A forma de organização do Cidadão do Mundo é seu currículo adotado pela Sociedade Cidadão do Mundo...
Quando Nicolau concluiu a apresentação, fez suas últimas ressalvas: lembrou que o banco, em virtude do adiantamento dos recursos, seria sócio do empreendimento com 50% de participação e que o controle sobre este projeto seria dado ao Estado.
O sentimento que tive naquele momento, ao ver Nicolau roubar e alterar em seu favor meu projeto, apesar de tudo que tínhamos feito juntos na juventude, que neste período lhe ofereci gratuitamente em nossas batalhas pela vida, era de raiva, revolta...E muitos da época tinham feito isto por exemplo na Secretaria de Juventudes como Maracanau.
Era a traição, que batia em minha porta e em troca me deixava um cheque! Roubava meu projeto e deste sonho tirava a alma, pois o seu maior significado estava em criar comunidades independentes que não perderiam a sua autoridade para um Estado distante dos reais problemas das comunidades e quer que pessoas respondam por vidas, que não conhecem e nem respeitam como a sua! E da Sociedade Cidadão do Mundo querer torná-lo mais um meio para o capital crescesse sem trabalhar, tirando a oportunidade de que esta comunidade traçasse seus rumos, procurando equalizar a realização dos sonhos dos que a cercavam.
Indignado, corri no meio dos seguranças e fui até o palco onde estava Nicolau, sendo aplaudido. Ao me ver ele pediu automaticamente uma salva de palmas para o autor do projeto. Tirei de suas mãos o microfone e comecei a falar: Bem os senhores sabem, que Nicolau é candidato de um partido de centro, é por isso que eu quero falar! As mesmas atitudes que o levaram ao escolher um partido de centro, têm a mesma essência dos que o fizeram roubar o meu projeto e dele tirar a alma, ou seja, a entrega aos bancos (cinqüenta por cento) do trabalho de cada um que hoje aqui está. E garantir a esses mesmos bancos, metade do controle de seus destinos, pois a outra metade é entregue ao Estado. Este, ao se propor organizar o trabalho voluntário, quer na verdade, tirar a liberdade de seu espírito! Pois se a essência do trabalho que edifica a alma é dizer o que fazer, quando e para quem vou trabalhar. E de que forma e em nome de quem ? , no nome de que sonhos este trabalho deverá frutificar?
Esta atitude de Nicolau é semelhante a um governo que quer organizar o trabalho voluntário, sem dar ao povo de sua nação, através de sua política econômica, condições para que a sua alma se liberte do assistencialismo, alegando palavras que só têm significado na lógica que domina o seu ego!
São palavras vazias, para quem precisa trabalhar, pensar, comer, se divertir... E como Nicolau, tirou inclusive do trabalho puro, o sentimento que o engrandece a liberdade... Para os que compõem os partidos do centro, faço esta homenagem:
Não tivestes duvida ao escolher, o centro, como centro das atenções, afinal nada é tão convincente e ao mesmo tempo contradição, quanto o meio do campo! Não é cobrado por atacar nem por defender, alega fazer os dois, mas não respondem pela falta de gol’s e nem pelos levados. Apenas passa a bola, ora para a direita, ora para esquerda, as vezes para frente ou para trás e isto sabiamente não te comprometes. Queria eu te definir entre a busca do poder, da arte política e desvendar teus princípios, morais e éticos, por quais valores você luta, a que deuses presta homenagem! Não adianta subestimar a inteligência do povo pois nunca sairá vencendo, a arrogante ciência política, que te defende, buscando te defender, não esclarece de que lado está, apenas tenta justificar teus atos. Porém não me ensinas que teu compromisso é com a Revolução, que não sustentaria as contradições e por isso não te sustentaria.
Enquanto existir a fome, o desemprego, a miséria, os sem-terra, dependendo dos sem-valores, sem posição, a vida fará protestos mais ricos em argumentos, pois nós nos dirigimos aos sujeitos e o centro se dirige às coisas, que ora são as que dominam os senhores, a partir da ideologia que vocês seguem!
Do nosso lado, existirão idéias, que não terão vergonha de dizer quem são ou porque estão presentes! Enquanto tu centro do nada, sob o prisma do valor de uma vida humana, vier me explicar que a economia esta globalizada, que o Welfare State morreu, que a dívida externa deve ser priorizada... Isto não faz sentido, porque a lógica que criou estes conceitos, só tem valor quando defende a vida. Hoje, ao contrário, mata através deles, milhares de pessoas, utilizando um canibalismo moderno, aquele que se não morde com os dentes, arranca pedaços de vida com a “razão”! O desemprego é um ritual bárbaro, que é celebrado por empresários e políticos que entoam o seu cântico, recitam os seus atos, conclamando a morte, pois sem trabalhar não há sobrevivência, vida...
Mas a alma humana reage em seu seio com filmes tais como “Tudo ou Nada”, onde homens resolveram fazer strip-tease, como a última reação na busca de um trabalho digno para garantir a sobrevivência. Fazem isso com entusiasmo, porque é o limite de sua escolha, de sua paixão para enaltecer o trabalho! Não o fazem como os políticos e empresários, sem limites, pensando que são deuses, realizam o strip-tease de suas consciências e seus corações, assim descobrem o quanto são vazios, por esta razão, matam a vida, através da morte já anunciada do trabalho... que sem soluções continuam, pois estamos nas mãos da política de centro, não há meia-vida, nem meia-morte! Porque na era moderna, da realidade virtual, falta amor, coragem, compaixão, sobra egoísmo, resta-nos fé, que dela nasce a coragem, amor e sabedoria, como óbolo àqueles que enxergam tudo isto que estamos escrevendo. Enquanto os outros que não querem ver, igual à Idade Antiga, ainda não se libertaram da arte de enganar à si mesmos e de fazer da hipocrisia, a arte do saber.
Você, centro, continua sendo o centro das atenções, porque ninguém te conhece, te define, por esta razão nem amamos, nem odiamos. Infelizmente tu continua a satisfazer teu ego, a cegar ideias, a legitimar a hipocrisia pelo Estado e os agentes financeiros, no dia-a-dia onde todos acham as coisas erradas. Porém, poucos se propõem a mudar e dentre estes poucos está a direita que muda para pior; a esquerda que constrói esperanças e o centro que torna as esperanças piores, pois não as realizam, junto com a direita, executam o projeto e mantém o controle! Mas com o passar do tempo não esconde a sua essência, que tenta neutralizar as questões vitais, para dar um espaço onde falta coragem, para que a vida se transforme em Ideologia, para nós conseguirmos, sem olhar através de suas linguagens, qual o significado que concretizam em nome de seus valores, em nome de seus deuses!
Ao final o público ao invés de aplaudir, homenageou o discurso com o silêncio, que o fazia pensar!
Rasguei o cheque e entreguei o projeto ao presidente da Associação dos Moradores daquela comunidade. Agora eles poderiam fazer dele o que quisessem. A Democracia, a liberdade davam ao seu espírito a oportunidade de escolher o caminho!
Peguei a fita, que o rapaz do som, estava gravando os discursos, a fim de transcrever para o meu diário aquele discurso... Ôpa! Lá vem mais uma frase solta, neste diário, essa agora parece mais um texto...
Ao ver uma rosa murcha, não sei se decepcionada, fiquei a imaginar

O JARDIM

O que fazer para que o jardim floresça?
Colocar mais água nas plantas fortes,
Para que elas impulsionem as fracas,
Correndo o risco delas sufocá-las,
Passando seus fortes galhos sobre as plantas fracas!
Poderia também dividir a água igualmente,
Mas, mesmo assim, as fortes
Poderiam crescer mais rapidamente!
Dar a água só para as fracas
E correr o risco de matar,
Sem oxigênio as fortes,
Até que elas se tornem iguais
Ou deixar de dar água ao jardim
Para ver como a natureza responde!
Será que por Natureza surgem plantas fortes e fracas?
Ou é o descuido do homem com a plantação?
As vezes podem surgir assim.
Poderíamos a isso responder
Quando encontramos a primeira rosa,
A rosa pura!
Será que era pura e o que veio depois
A tornou ou ela tornou-se impura...
Ou será que nossos olhos enxergam essa pureza,
Onde não existe, só os nossos olhos!
Ou o jardim não obedece a nenhuma lei,
Porque ele próprio não se reconhece!
Ou reconhecendo a si mesmo apenas floresce!

Resolvi, antes de ir embora daquele comício, aproveitar a oportunidade para fazer a minha entrevista com Nicolau. Porém ela seria bem simples pois já tinha visto muito!
Aproveitaria também, para durante essas perguntas dar uma contribuição ao meu amigo Michel que estava realizando uma pesquisa sobre a relação entre Ideologia e Linguagem. Ele buscava uma metodologia de interpretação dos valores, a partir da praxes e do discurso! Era desejo dele, fazer uma interpretação da causalidade da linguagem , sua relação com os valores e o desenvolvimento de nossa subjetividade pelas relações sociais!
Ao escolhermos tomar uma atitude, em relação à outra, no curso de nossa vida, realizamos uma seleção que está relacionada com os nossos valores. Tomamos atitudes fundamentadas em nossa visão de mundo e que expressam assim, do lugar que ocupamos na sociedade, o que cremos ser o papel das outras pessoas, quando a elas nos dirigimos através de nossa linguagem. Linguagem esta que está fundamentada em uma lógica.
Ele partiu da premissa de que o Ser Humano tem um compromisso universal com a razão, mesmo que seja com a busca da razão de viver. Isto nos leva ao plano da metafísica, da lógica , da linguística, e do materialismo histórico, para discutir de que forma a lógica da linguagem que utilizamos é impulsionada pelo objetivo implícito que atribuímos à nossa viva, o valor que tentaremos atingir através de nossos atos, sendo estes alicerces para a construção da subjetividade que se comunica com a totalidade da fé, do Deus Absoluto, através dos valores!
As linguagens e suas respectiva ideologias, identificam formas de ver o mundo, de atribuir significados a realidade onde a subjetividade de cada um de nós, se expressa a partir de seus valores e de suas relações sociais. Tendo a priore esta premissa, identificamos cinco linguagens: Filosófica, Cientifica, Política, Artística e Religiosa. A interconexão entre elas compõe a realidade, através das diversas formas de expressão da existência humana: o Trabalho, a Educação, a Arte, a Política, a Religião... frutos do amor e do prazer. Como disse a célebre Rachel de Queiroz: “... a maior aspiração do ser humano é o amor”.
Assim se constrói a busca da expressão da totalidade do ser humano que, do confronto com o movimento ético de sua sociedade, constrói e é construído. A isso denominamos “caos”, porém o Caos é a nossa ignorância de não conseguir enxergar a totalidade, quer seja de linguagens, de áreas de expressão da existência humana, da relação entre o espírito, a natureza e o homem , de sua coragem, amor e sabedoria para encontrar esta totalidade. Talvez só a conseguiremos analisando diversas sociedades e os valores que as movimentaram. Ao uni-las, elas trazem, em comum, a expressão concreta do Ser, do Ser Absoluto.
Portanto nunca foi tão urgente discutir esta relação, dentro de um processo histórico, observamos o predomínio de uma dessas linguagens! A metodologia parte da utilização das mesmas palavras em contextos diferentes, com objetivos diferentes. Observamos assim a construção da subjetividade na pós-modernidade com suas Tribos e seus deuses, num momento necessário, pois um determinado tipo de “holismo” quer garantir as suas respostas, se apoderando da crença humana em seu favor. A crença, bem presente da linguagem religiosa, hoje pretende dominar todas as esferas da ação humana. Senão vejamos, hoje a lógica da física quântica quer expandir sua área de ação, para, por exemplo, explicar o ser humano e as empresas adotam uma linguagem religiosa para garantir o compromisso de seus funcionários. Palavras como verdade e fé passam a ter os mesmos significados, o que nos coloca mais uma vez no limite da História e da razão!
Ou seja, o homem na maioria das vezes procurou uma resposta interna, para solucionar esta questão! Foi quando podemos perceber que ocorreram os maiores saltos da humanidade, pois de uma forma consciente ele encontrou em sua descoberta, a proximidade entre fé e verdade, libertando seu espírito de dogmas, leis e sistemas. Porém quando esta questão serviu de discurso político para algumas instituições ou pessoas, como a Igreja na Inquisição, Hitler e sua fé verdadeira na raça pura, sempre levou os povos por caminhos desconhecidos, onde imperavam o fanatismo, que não mais questiona seus pressupostos e sua validade. Igual a uma praga, quer dominar a tudo e a todos, em nome de seus deuses-objetos que limitam seu questionamento aos dogmas, ao mesmo tempo, usando a ciência para tratar como verdade e falar de suas crenças, numa linguagem religiosa, como ali se trata da feliz descoberta da totalidade, o que justificaria qualquer ação em nome desse deus-objeto.
Quando observamos o terrorismo, o mercado financeiro comandando nações entregues aos seus interesses, a política sendo objeto desses interesses, a arte ficando sem espaço com o avanço da mídia e do entretenimento global e a educação sendo aprisionadas por currículos que só reproduzem a ideologia e adestram trabalhadores. É hora de perguntar a que Deus estamos servindo, em nossa ociosidade e ação que reproduzem essa mesma ideologia. A quem entregamos nossa capacidade de pensar e de encontrar o absoluto? A quem entregamos a capacidade de criar a arte e neles lançamos a nossa vida em sua busca?
Eu adorava ajudar Michel em suas pesquisas porque com ele, pude descobrir o real prazer da busca da verdade, tão investigada pelos grandes filósofos, cujo êxtase seria alcançado quando encontrasse com Amy, a minha face da arte.
Ao descer do palanque, ainda escutando o silêncio, vi Nicolau e David, planejando o que iria falar, guardei no bolso a fita que o rapaz do som me dera do discurso e me dirigi até eles. Chegando lá, os dois viraram os rostos ao me verem e saíram. Pedi um minuto, porque se fossem embora eu poderia continuar com o meu discurso na imprensa. Então eles voltaram e perguntaram:
- O que você ainda quer?
- Só algumas perguntas, eles são muito importantes para mim.
- Diga logo e nos deixe em paz. Você acabou de jogar por água abaixo nossos sonhos.
- É sobre eles que eu quero falar David. O que você busca no mercado financeiro e financiando políticos?
- Eu busco poder de decidir a utilidade das coisas, quero priorizá-las de acordo com a minha ascensão, pois só assim posso me diferenciar dos outros. É desta forma que o meu Ser se realiza, tendo poder para determinar o que é útil para outras pessoas. Me coloco em ascensão sobre eles e controlo os seus destinos. Toda criação deve se sujeitar às minhas normas, já que meu espírito não cria, ele se apodera proibindo o criar e sem novas criações posso continuar a dominar. Os outros espíritos estarão presos em sua liberdade!
- Você sabia que assim está criando uma doença? O trabalho é o lugar onde o homem realiza a sua força vital. Ao criar, ele decide a utilidade de seus esforços e não precisa que alguém faça isto por ele. Pois o fruto do trabalho pertence ao seu criador e quando você o tira de seu domínio, a vida se transforma em doença. David silenciou.
- E você Nicolau busca o poder em nome da justiça, para proporcionar igualdade de oportunidades, onde poderemos de fato ter critérios justos para nossas analises? Um mendigo que nada teve é um criminoso, justo com o que o mundo lhe ofereceu! A justiça cria seus meios, a AIDS que brota da África, mata na Europa, como o El Nino atinge o Nordeste do Brasil!
- Vejo a política como um ato em nome de determinado valor, é ela uma decisão concreta de transformar a sua vida, para que possamos alcançar a justiça que você fala. Isso que procuro fazer é superior. Tem mais valor que qualquer função obediente ao comando do ato. Infelizmente errei ao tentar transformar minha intenção em sucesso, pois o sucesso comprovou a minha intenção que é superior a essa, mais ainda tive tempo de perceber que o objetivo inicial que tive, é maior, pois me traz mais satisfação que o sucesso. O sucesso tem pouca durabilidade e não vive sozinho, só podendo pertencer a poucas pessoas, por definição. Respondeu Nicolau.
- Muito obrigado, vocês me ajudaram bastante. Não lhes procurarei mais, façam o que quiserem. Na vida todos temos o livre arbítrio, mas os aconselho a procurarem nossos amigos para verem o que estão fazendo. Assim talvez poderemos voltar aos ideais da nossa juventude e oxalá retornássemos ao caminho certo e confirmarmos a infância de nossos valores!
Saímos em silencio. Corri até o meu apartamento, queria decifrar e procurar entender o mais rápido possível o que constava, no diário, daquele baú que achei na praia! Já sabia que a bandeira era da Grécia e, com certeza, aquele diário estava escrito em grego!

CRÍTICA AOS CURRÍCULOS ESCOLARES E A PROCURA DE RESPOSTAS AO DIÁRIO GREGO...

Resolvi procurar Michel, só ele poderia me ajudar. Liguei para ele e marquei o nosso encontro. Iria almoçar próximo a rodoviária e logo em seguida poderia viajar para encontrar Bin, que a uma hora dessas deve estar preocupado comigo. A vontade de ver o diário, o comício, valeram, porém já perdi tempo demais.
Cheguei no restaurante no horário, mais Michel não havia chegado. Foi quando escutei uma buzina e o seu grito lá de fora me esperando.
- Entra logo, Isaac, se não o guarda me multa. Quero lhe mostrar uma coisa, depois agente almoça! Tudo bem?
Paramos no Bosque da Liberdade, ali perto. O dia estava frio e sem sol. Sentamo-nos num banquinho e começamos a conversar.
- Michel, desde a juventude me acostumei com o ritmo imprevisto de suas descobertas. Lembro na escola, enquanto você recriava nosso currículo, de acordo com as suas descobertas. Adorei quando você propôs a professora trocar matemática por ir ao shopping fazer compras e português por amizades! Todos riram mais eu entendi que não era uma piada!
- É incrível que a minha “brincadeira” continue a mesma! Além daquela pesquisa sobre ideologia e linguagem, continuo a tentar modificar currículos e, com base neles, criar novas instituições que proporcionem a sua realização. Você não acreditará onde hoje estou ensinando, propositalmente?
- Puxa aonde?
- Sou professor de Empreendedorismo nos Cursos de Administração de Empresas, Economia, Psicologia, Pedagogia , Cinema e Direito! O que você acha?
- Acho que é um bom lugar, para começar a mudar o mundo já que lá, é de onde sairão os futuros donos do capital, como seus executivos ou empresários, economistas, educadores, psicólogos, cineastas, advogados e aqueles que cuidarão dos direitos dos cidadãos. Puxa, se você conseguisse desenvolver neles a busca da Filosofia, sua revolução seria maior que a russa. Pois por decisão própria o espírito se libertaria e se veria como pessoa e não como uma coisa, o capital!
Um pequeno grupo de executivos no lugar certo poderia mudar o mundo! Porém eles, além de habilidade técnica, para melhor comandar implantação de novos conceitos, teriam que ter habilidade política, para desenvolver a melhor estratégia e implantá-la de acordo com a nossa cultura! Mas tenho impressão que o melhor caminho é o retorno consagrado ao inverso, o eterno retorno. Mais por isso mesmo continue, desculpe. Falei demais, me fale sobre seus projetos. Pois nos livros consta de tudo e quanto mais interpretado eles forem, mais realidade se tornarão.
- Bem, Isaac! Você se lembra daquelas cartas que eu mandava para empresários, reitores de universidades, pedindo ajuda para os meus projetos?
- Claro que me lembro!
- Eles não me responderam. Agora muitos deles querem utilizá-las para falar sobre os meus projetos, só porque eles se tornaram conhecidos. É uma forma de responder mais uma vez sem atitudes às críticas que eu faço, através de meus projetos. Me interrogo por que eles não respondem com novas instituições, não tem como justificar as que existem!
- Puxa, Michel me fale logo sobre o seu projeto, deixe de mandar recados. Eu quero conhecê-lo!
- Tá bem é a Sociedade Executivo Global! O nome é adequado à mídia, gostou? E não necessariamente só formaremos executivos, a metodologia se adequa, também a outros cursos, pois o administrador necessita de cultura geral. Quantos problemas não chegarão em sua mesa e para resolvê-los os mais variados conhecimentos se farão necessários.
O jovem executivo escolhe uma unidade de negócio como, por exemplo, fazer um cinema com filmes para executivos ou gerenciar um programa de Trainee. Ele desenvolverá o negócio desde a criação, o gerenciamento e o acompanhamento de resultados. Deverá receber treinamento adequado para executar essas funções e será avaliada a sua ação, medindo o seu desempenho, a partir dos processos que ele executar em sua unidade de negócio. Eles receberão financiamento para o seu projeto, através dos órgãos que compõe o conselho da sociedade ou através da venda de ações para empresas clientes que irão usufruir dos seus serviços. Então comercializarão seus produtos no mercado ou entre os estudantes membros de outras unidades de negocio da Sociedade Executivo Global.
Os resultados, renderão financeiramente para ele uma participação nos lucros, lembrando que a empresa tem um empréstimo que deverá ser pago. Ao mesmo tempo ele também estará recebendo uma formação prática e lançando mais uma empresa no mercado.
Cada unidade de negócio envolve uma área de formação do executivo, portanto a UN de grupos de estudos prestarão serviços para a UN de realização de Encontros de estudantes, que por sua vez facilitará um serviço para UN de Trainee e vice-versa, gerando, com isso, uma sinergia na organização. A outra formação necessária é a teórica, envolvendo pesquisa, debates, visitas a empresas etc. ... o resultado, fazendo parte do currículo do membro da entidade.
Este currículo, servirá de indicação para fazer parte de programa de Trainee oferecidos a empresas! Essa entidade tem em seu conselho representantes dos professores, dos estudantes e dos empresários, além de entidades que fazem rodízio em seu apoio à iniciativa. Possuirá a diretoria executiva e um staff que rege um negócio, desde a seleção de jovens executivos, capacitação desses, organização das UNs e sua prestação de serviço de mercado. Além do financiamento de entidade que se dará através dos seguintes negócios geridos pela diretoria:
Primeiro – Programa de Trainee
Segundo – Programa de Formação de Executivos
Terceiro – Programa de Mídia (jornal, radio, TV, revista, trade)
Quarto – Percentual sobre os Faturamentos das UN
Quinto – Contribuições simbólicas dos membros e investimentos nas ações da SEG, através de empresas e instituições
Sexto – Implantação das quatros dimensões de um negócio, através do estudo da cadeia do valor
Sétimo – Programa de parceria, que é realizar uma pesquisa sobre o consumo da juventude em diversos setores. Inicialmente dos alunos de administração & economia. No fim, negociar com essas empresas, um por setor, a parceria para aumentar a sua participação neste segmento, através do desenvolvimento de ações de marketing.

- O que você acha, Isaac?
- Olhe esse modelo, de sistema que você bolou é fantástico! Ele poderá servir de cédula para organização de uma nova estrutura econômica nacional e sem desperdícios, que atenderá a todos os setores da sociedade, proporcionando para o ganho da sobrevivência, a igualdade de oportunidades necessárias para redefinir as bases de nossa cultura no trabalho. Essa ação quebrará o atual modelo, onde só os que são “filhos de papai”, dispõem de todas as condições para agir na sociedade. E, a exemplo dos reis, a competência não se transfere por hereditariedade. Mais uma vez o proletariado é que tem que pagar as contas pela incompetência dos outros!
Por outro lado, é uma pena a situação dos “filhos de papai”, que tem que seguir os destinos de seus pais... Quantos atletas, artistas, de lá poderiam surgir ao invés de comandarem a esfera econômica! Pois nesta esfera é preciso ter muito claro a importância das outras, para não fazer com que o indivíduo seja assassinado e torne-se um objeto, inclusive os próprios empresários. O maior objeto do capital!
Após tanta conversa, Michel convidou-me a ir ao carro para me mostrar o que, além do Projeto Sociedade Executivo Global, desde o início do nosso encontro queria me apresentar e ouvir minha opinião. Tinha outro projetos como Empreendedores de Sonhos, Terra da Sabedoria, FUTURE,...
- Isaac, chegamos. Está vendo essas montagens? Foram meus alunos que fizeram. Todos estes quadros, esculturas... Pedi para eles representarem a Educação, vista sobre o prisma de cada um deles. Através da arte, eu poderia entrar em sintonia com seus desejos e angústias e atuar melhor! Eu queria lhe mostrar só uma! Vamos descer, está exposta naquela sala!
Ao chegarmos lá vi um estudante preso, numa cela. As grades eram os currículos das universidades.
- Michel, me explique. Não entendi. O currículo não é uma técnica?
- Não, Isaac, os currículos são instrumentos de uma opção sócio-política, que trazem na escolha das disciplinas e conteúdos, as relações de poder e controle presentes na sociedade, transferidas através do processo de organização do conhecimento escolar! O currículo não é concebido como um meio neutro de transmissão de conhecimentos desinteressados, mas como um mecanismo essencial de constituição de identidades individuais e sociais atravessadas por relações de poder. É necessário, por isto, a sua inter-relação com uma política cultural, a vida cotidiana e a cultura popular. Por esta razão é que você está vendo ao redor da prisão, o mundo como ele é, na representação do aluno com jornais de vários lugares, sendo o chão e as grades daquela criança miserável que também está presa. Um que precisa que o mundo mude para não morrer, o aluno que poderia fazer algo esta preso na grade curricular, olhando um para o outro! O tema de sua reprodução não poderia ser outro. “AS GRADES SÃO DE PAPEL!”Temos que lutar . Fiquei uns dez minutos só pensando e glorificando aquela arte, o que ela expressava em tão poucos símbolos, mas de uma profundidade em suas inter-relações, que dali poderíamos tirar muitas explicações! Daí lembrei que tinha algo, que ainda estava sem explicações o Baú e o diário que encontrei, lá na praia! Puxei-o de minha pasta e perguntei...
- Michel, você pode me ajudar a traduzir este diário que encontrei. Ela pegou-o olhou por diversas vezes, abriu várias paginas e disse.
- Bem Isaac é grego, porém preciso de tempo para traduzir, se quiser deixar comigo quando terminar eu te ligo. Mas para matar um pouco a tua curiosidade em todas as páginas que abri e olhei rapidamente estava escrito a palavra SABEDORIA. Deve significar algo para você. Para mim, significa a minha vida!
- É Michel, era sobre isto que eu queria lhe falar por último. Fiz sua pesquisa sobre ideologia e linguagem e vi sua relação de valores com David e Nicolau. Aqui estão as anotações, mas gostaria de fazer com vocês as perguntas. Você acha que iria escapar já que você é o principal símbolo do que podemos encontrar para a expressão humana Educação? Queria saber que deuses ou valores você segue!
- Pode perguntar, mas você já sabe quais são! No entanto, já estou com fome. Vamos almoçar no restaurante universitário e, após, lhe respondo.
- Concordo. Assim, poderemos contemplar aquela preciosidade de construção arquitetônica. Após o almoço, me dirigi ao Michel.
- Já que você aceitou o desafio, antes eu queria lhe lembrar a sua hipótese para esta pesquisa. Quero confirmar com você se é isto mesmo!
- Claro! Disse Michel.
- Os valores e as condições materiais históricas vão atribuir sentido a vida, que são expressos pelas oportunidades e seleção que fazemos ao escolhermos nossos objetivos e os conhecimentos limitados necessários para atingi-los. É este o momento subjetivo, os valores, que tornam possível a escolha, ao lado das condições materiais históricas ?
Começamos a busca da realização desses objetivos em nossas relações e nas instituições que existem. Onde poderão ser frustadas ou obter sucesso. Com esta praxes da procura pela realização do Sujeito, abstraímos pela prática, os conceitos que nos cercam, que o medo, leva-nos a aceitar inconscientemente e confirmá-los ou a coragem nos levará a entender que sistemas de crenças constam nestes conceitos e instituições que nos cercam. Em busca de encontrar a hegemonia gramsciana Estes, junto com a linguagem e a descoberta de seus significados, formam um todo coerente para aqueles objetivos, expressão dos valores, a Ideologia.
Esta Ideologia será transmitida pela linguagem que, ao mesmo tempo, transmite determinado significado, dando à palavra oculta o sentido maior do discurso, na relação entre as palavras! A Ideologia, como já disse, será abrigada por instituições e pela comunicação, que julgarão as atitudes, as praxes, punindo-as, castrando ou livrando-as. A Dialética da palavra, que descobre e oculta, não poderá ser artefato da memória, mas deve ser questionada para ver que valores elas trabalham por eles e reproduzem aquilo que chamamos de Sistema.
A magia do Sistema pode ser descoberta por nós! Podemos, dentro de cada lugar que o homem ocupa, as instituições e as áreas de expressão humana, educação, empresas, arte, religião, política, explicar os seus atos pelos valores que seguem... e priorizam em suas decisões. Não é isso Michel?
- É exatamente a hipótese que pesquiso, Isaac!
- Michel...
- Espere! Antes que inicie suas perguntas quero lhe falar sobre uma das conclusões, que já pude perceber nos processos que hoje definem essas relações de valores em nossa Sociedade. Existe hoje uma ética que valoriza o capital, não apenas no sentido de meios de produção e relações de poder que está obrigando a religião, as ciências, a aderirem à lógica do Capital. O que pode acabar tendo nos valores que o capital defende o Único Deus que a humanidade seguirá! Ou provocar o choque de valores, que as instituições representam. É isso que esperamos.
- Eu também, salientei.
- Michel, você me lembrou bem a palavra sabedoria, encontrada “n” vezes no diário grego. A que valor ela segue?
- Hoje, Sabedoria é ciência e infelizmente é a utilidade ao deus capital. Porém, sabedoria é liberdade de espírito. No sentido grego, uma liberdade de espírito, regida pela lógica, ou da linguagem, segundo os socráticos, ou pela imaginação segundo os Pré-Socráticos.
Na Grécia essa sabedoria, realizada através da linguagem. Iniciou-se no estudo lógico da Linguagem como um instrumento eficiente para disciplinar o pensamento. Platão indica que estar nos limites da lógica, da linguagem é estar próximo a discussão da Metafísica, pois em Crátilo se pressupõe que a linguagem é imposta pela Natureza, já que está de acordo com a metafísica das idéias, que rege, de fora, a mente humana, com os valores da justiça, verdade, cuja continuidade encontramos em Kant, com os estudos da Razão Pura. Porém essa lei geral, extensiva, natural que domina o ser, foi contraposta pelos Pré-Socráticos, eles que achavam que a linguagem era singular, produto histórico e, por isso, intensiva na revelação do conhecer!
- Eu acho que o livre arbítrio unifica essas questões, falei. Pois a linguagem nos leva a conhecer o que é absoluto!
- É, Deus! Disse Michel.
- Michel, sempre dizem que os cientistas só amam seus objetos de estudo, ao ponto de suas paixões criarem objetos que os destróem, como a Bomba H? Se assemelha com a paixão humana?
- É. Somente algumas vezes, nos lembramos que toda técnica deve ser subordinada a uma visão intencional mais ampla, como no amor, a paixão é intensa, momentânea, tomamos atitudes movidos pela emoção, que na maioria das vezes não brota do amor! É algo que nos agrada intensamente. Bem que poderíamos só viver de paixão, esse desejo que se distancia do amor! Não é o meu caso! Estudo, para encontrar coisas simples, que me permitam ver mais! Infelizmente o mundo que nos cerca investiu no complexo, para glorificar os que vivem nele e ocultar as verdadeiras razões pelas quais vivemos cercados por tantas misérias.
A minha contribuição é para que o homem não se esconda atrás de suas ideologias, de conceitos complexos e sim, claro em suas intenções, nos valores que seguem ou que deixa de seguir.
- Michel, quando puder me liga, que eu vou buscar as traduções. Pode deixar que eu fico aqui. Daqui vou até a rodoviária, meu ônibus sai as dezessete horas.
Já entrando no carro, Michel se despediu de Isaac, a conversa para eles estava tão boa que não perceberam o tempo passar enquanto conversavam almoçaram e passearam pelos jardins da Universidade e o mundo simples estava seguindo seu ritmo, com sua canção do jeito que se comportou desde a criação! Somos um filme a rodar direto, sem parar. Somos os espectadores e os atores que estão sendo filmados ao mesmo tempo, sem saber! E, de vez em quando, lembramos que a nossa vida é parte de um filme maior, quando na maioria das vezes, não percebemos isto, o significado do filme passa despercebido, sem que o sintamos. Só assim, poderíamos encontrar a leis que regem a vida. Devemos aprender a pesquisar e criar um método que só terá validade para essa pesquisa, a mais importante de nossas vidas: a descoberta de quem somos e de nossa ligação direta com o absoluto.
Por fim, gostaria de lembrar que o absoluto do qual falo, não é semelhante àquele que a religião tornou um instrumento para “estar” com ele. Porém, a minha visita a Bin, visava tentar esclarecer essa questão.