Por Egidio Guerra
Tenho que confessar resolvi estudar o estilo de filmar de Polanski e compara-lo com outros cineastas como Scorsese , Woody Allen, e outros para decifrar enigmas do cinema contemporâneo. Essa é uma linha de pesquisa que sigo para encontrar caminhos dos temas, como foram produzidos os filmes, estilos de filmar e a luz dos porquês por de trás das câmeras.
É importante lembrar que Polanski viveu a aura mística do subterrâneo polonês durante a segunda guerra mundial, e perdeu a mãe para para os horrores de Auschwitz. Alem de ter sua segunda mulher que estava grávida assassinada ; como ele descreveu “o pior e mais prolongado golpe que sofri” Isto tem um peso considerável sobre os ângulos do olhar do homem que filma o Bebe de Rosemary , Chinatown e o Pianista! Como ele descreve “Ate onde minha memória consegue alcançar , a linha entre fantasia e realidade, sempre foi perdidamente
imprecisa”
Não são filmes sentimentais , na minha visão uma das principais características da época que vivemos, não adianta procurar injeção de animo com seus heróis falhos, “ sua cenografia alucinógena, e tratamento impávido da paranóia, histeria e violência “Não há respostas fáceis para condição humana é preciso olhá-la mais de perto! Por isso outra característica é que ele trata de pessoas reais , “ como nós “ . Isto também serve para sua relação com os atores de seus filmes . Em um cena de Chinatown , aonde um pequeno fio de cabelo de Fane Dunaway estava refletindo luz , Polanski observou secamente que aquilo “estava custando 200 dólares por minuto “ Foi lá e arrancou quando Dunaway foi a loucura” Não posso acreditar . O f.d.p arrancou meu cabelo“ Polanski retrucou “Você pode brigar comigo mas nunca estarei errado, eu sou diretor.” Nesta cena da vida real e do filme podemos pensar o cinema contemporâneo, já não era tão divas e o orçamento e o diretor importam cada vez mais que os filmes. Ele “ buscava poder através do oficio ....levando sua equipe a si mesmo ao limite” A fama e poder , aliados a sua experiência de ator profissional , sempre atualizavam a sua forma de pensar e fazer cinema, é o que vamos ver. Por isso sua obra também inclui duas adaptações uma de Shakespeare, Macbeth, e Oliver Twist de Dickens.
Porem isto não indica que ele também possa fazer cinema sem pensar muito, o novo entretenimento das massas. Não existe mais uma linha reta a seguir , uma escola como nos velhos tempos , e o pensar e o olhar da câmera por si só não explica mais os filmes. Este é um ponto importante da contemporaneidade, o cinema muda, mas a forma de pensar muda mais ainda, é preciso desenvolver um método que inclua esta complexidade quando tecnologia, linguagens, sociedade do consumo se misturam com roteiro, direção, fotografia e outros; porque agora as imagens pautam o espetáculo o que elas querem e devem ser filmadas. Figuras como o imaginário dominam a razão, o inconsciente de Freud vem as telas de forma múltipla, as relações de poder ficam mais claras e de uma certa forma o cinema liberta o pensamento de poucos referenciais.
Polanski esta no meio desta dança , o cinema se aproxima de diversas formas das realidades e se democratiza neste processo. Chega de vez a hora de contar o cotidiano e o cidadão comum.
A paixão de Polanski era maior pela técnica que pelas questões socialistas como o caso de Godard. Ele teve a maior nota em fotografia e a segunda em edição e som. O seu primeiro roteiro foi com um ex-boxeador que escrevia poesia beat mais ou menos rap. Odiava as interpretações de seus filmes que chamava de “psicioimbeciloides” porque o que olhe interessa é provocar no publico um sentimento de crise, “um abismo”, no coração da vida cotidiana. Uma estranha mistura de ansiedade e fascinação quando a câmera vagava conscientemente de um ator a outro, de um ambiente a outro, com uma musica original, em cenas fortes aonde os atores “relaxavam e se concentravam ao mesmo tempo” Este choque vindo de fora fazia o publico “pensar”
Criando situações de choque que misturavam sempre documentário e ficção. Na faculdade ele e seu câmera combinaram com uma gangue para invadir uma festa da faculdade e aterrorizar as pessoas o que Andrrzej Munk considerou “um drama proto-realista” Uma história bem contada e uma fotografia sensacional: uma colagem de cortes rápidos, movimentos de câmeras inovadores e closes perturbadores era sua forma de fazer cinema.
Polanski não se mostrou tão impressionado com a Nouvelle Vague , escreveu ele, “ me assustavam pelo seu amadorismo e por suas técnicas pavorosas “. No seu caso ele sempre gostava de fazer mímicas com as cenas cridas em seus filmes párea sentir o impacto que isto pode gerar no público.
No seu filme Repulsa do sexo, ele pega uma garota com aparência sonhadora “aonde se esconde uma esquizofrenia caótica, que vai fervendo ate chegar ao climático e derradeiro momento de fúria.” Num ritmo mais lento ele nos deixa perceber o quanto as heroínas esta sujeita as insanidades criminosas e neuroses. Uma cena simples deste filme , um close simples de uma mão, ele chegou a filmar 27 vezes. Ele tinha uma perspectiva cirúrgica do que queria e as imagens dos detalhes da loucura e da morte começavam a dominar o cinema. Não havia muita distância entre o diretor e seus personagens. Entre seus filmes e uma época que eclodiria após os traumas de duas guerras nas manifestações e processos libertários em relação ao sexo, as drogas, a paz , aos direitos das minorias que eclodiram em 1968.
O lema de Polanski era “ Quanto mais fantástico você é mas real você se torna” para ele e seus filmes. Trata-se de um cineasta incansável e insensível, que faz de tudo para conseguir uma tomada, sua liderança e instinto para o ataque são fenomenais. Nos filmes de Polanski a ação e o impacto emocional passam a ser neste caso mais importante que a reflexão o pensamento . Ele sabia que lente usar e como a iluminação aparecia na tela. As suas técnicas dominam a nossa atenção de outra forma em comparação ao cinema moderno. A Revista Time lhe chamou “ um homem do Renascimento, um pop star como autor” Era isto que ele compreende como cinema o que tinha sonhado quando saiu da Polônia. John Lennon disse que “Romam era como um mascote para nós, um garoto que corre na frente do time na final da copa “ Quem pode discordar que era inaugurava uma era boa ou ruim que se estende ate os dias de hoje ? Quais o limites do pensamento nesta nova era do cinema ? Talvez Polanski nos questione .Ele foi um dos primeiros cineastas pop star ainaugura polêmicas sobre sua vida pessoal e misturar com seus filmes.
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