A Comunidade econômica européia coloca bilhões de euros para resgatar sua economia das conseqüências da Pandemia, Joe Biden lidera várias frentes de vacinação e iniciativas econômicas, enquanto a China cobra no Fórum Económico digital de Davos que não vai aceitar o recuo da globalização com a reindustrialização de várias países. No meio dessa guerra que continua econômica, temos os efeitos imprevisíveis da pandemia sobre a vida de bilhões de pessoas, as mortes de milhões, e as consequências políticas, educacionais, sociais nas vidas cada vez mais virtuais no trabalho, finanças, acesso a arte, saúde e outros. Independente da pandemia, as inovações tecnológicas geram desemprego estrutural em vários setores da economia, sem somar os efeitos dos avanços em IA, Big Data, Robótica e internet das coisas. A pandemia e as mudanças climáticas, somadas aos refugiados e brutais desigualdades e violências, com respectivos avanços do tráfico de drogas e crime organizado no mundo, vivemos cenários de guerra.
Enquanto isso observamos no Brasil, o deslocamento de parte das populações ricas brasileiras para residirem em condomínios de luxo, residências em praia, fazendas e sítios na serra com acesso a trabalho, educação e saúde virtual. Nas cidades, muitas vezes nesses mesmos lugares, a expansão da Pandemia em periferias e comunidades pobres, onde milhões de pessoas vivem em casas onde é impossível o isolamento social, devido ao tamanho e proximidade das casas sem acesso às políticas públicas como saúde, educação e trabalho, em áreas cada vez mais dominados pelo crime organizado.
Quando comparamos a situação no Brasil e no mundo, vários absurdos são gritantes e bem piores que cenários de guerras; porque aqui nessas terras a guerra é contínua, entre os privilegiados e os sem direitos e oportunidades. No Brasil há cenários de guerras civis prolongadas ou estado de sítio decretado pelo crime organizado. Milhões trabalham 8 horas por dia para ganhar salário mínimo, outros por exemplo quase metade da população cearense vive com menos de 27, 5 reais por dia, enquanto elites vivem há décadas de acessar privilégios e roubar o estado, não apenas políticos mas grandes empresários com incentivos fiscais e financiamentos públicos, distantes desses privilégios pequenas empresas lutam para sobreviver, gerar trabalho e pagar impostos, invisíveis aos olhos do Estado assim como os pobres, milhares de funcionários públicos prestam um bom serviço e inventam uma classe média brasileira, enquanto outros ditos servidores públicos indicados por partidos, políticos e famílias não precisam dar resultados. Afinal no Brasil há tempos a corrupção de diversas formas é meio de vida e enriquecimento formando exércitos para guerras eleitorais e campanhas milionárias sem Democracia.
Bem, segundo palestra de Bill Gates a terceira guerra mundial seria feita por um vírus, segundo órgãos policiais e militares a terceira guerra se dá contra o tráfico internacional e terrorismo muitas vezes associados, outros analistas apontam a guerra entre Estados governados por Ditaduras contra Democracias, além é claro das guerra econômicas entre países, ricos e pobres, pretos e brancos, homens e milhares de mulheres assasinadas, guerras religiosas e étnicas, e cada vez mais guerras tecnológicas com drones, ataques cibernéticos as eleições, novas armas, e a luta por recursos naturais. Vivemos uma terceira guerra mundial que não se dá apenas entre países, mas pessoas dentro de um mesmo país ou a luta da humanidade destruindo a natureza e suas consequências como pandemia e mudanças climáticas.
É urgente visando salvar milhões de vidas, não apenas as lembradas pelo Covid19, mas milhões por outras consequências dessas guerras. Necessitamos inovar as políticas públicas e o impacto social a nível local, nacional e global e buscar a integração entre eles visando a formação de um exército que lute nessa guerra com outras “armas” e objetivos . Necessitamos pensar e agir olhando para a Terra e não apenas para os lugares que vivemos e a nação que fazemos parte. Muitos dos problemas que geram guerras estão nas ideias que escolhemos pensar o mundo e nossas formas de ser, viver e governar. Despertar novos horizontes é uma necessidade educacional e cultural para que possamos aprender com a nossa diversidade humana e ambiental. Muito mais que vencedores e perdedores que podem firmar pactos entre si, dessa vez é a humanidade e a Terra que estão em risco. Nós já criamos várias sociedades, culturas, tecnologias, conhecimentos, formas de organização política e econômica, mas vivemos a melhor hora de sair de dualidades e oposições entre modelos, para aprender a unir de forma sistêmica e complexa as melhores contribuições práticas de como podemos viver juntos e melhor na Terra. Necessitamos empreender esses caminhos gerando sinergia entre os setores, essa é a nossa forma de vencer essa guerra. O maior inimigo não é o outro e diferente, pelo contrário ele pode ser o maior aliado, quando unimos nossos caminhos e descobertas, conectando nossos caminhos para sair do labirinto da ignorância. Portanto, a maior guerra que travamos é a ética em relação às nossas escolhas e atitudes, assim como no relacionamento com os outros e a sociedade que vivemos.
Necessitamos compreender com a razão que ela sozinha não é suficiente, apenas uma parte de nosso caminho, temos que estar atentos às crenças morais, religiosas e espirituais; pois elas podem refrear ou ativar impulsos sociais, ambições desmedidas e paixões destrutivas. “Toda emancipação do espírito é perniciosa se não vier acompanhada de um maior autocontrole” segundo Goethe. Segundo Platão, e depois Freud, existem desejos terríveis por seu caráter selvagem e sem leis, e que se deixam revelar pelos seus sonhos. Platão está ciente das forças do desejo, da sedução estética, da exploração política e econômica, assim como os diálogos com os outros preservam um sentido de urgência e da insegurança social e psicológica do ético. Diante desses desafios como enraizar a ética em nossas almas e dar vida a ela em nossas atitudes ? Como podemos lidar com as situações onde podemos transgredir as normas legais e morais impunemente ? E vencer essa guerra ao mesmo tempo pessoal e coletiva que destroem o ser e a sociedade que vivemos. Ou sempre viveremos em guerras?
As leis e a moral respondem à necessidade humana visando garantir proteção mútua e a cooperação na vida social. Por outro lado como nos lembra Adam Smith “ se houver alguma sociedade entre ladrões e assassinos como nas guerras , mesmo elas precisam ao menos se abster de roubar e assinar um aos outros” Compreendemos isso como Máfias que muitas vezes nossa política, economia, crime e até mesmo religiões agem assim. Se não é esses tipos de sociedade ou guerras como podemos melhor viver e superarmos o domínio dos que agem dessa forma ? Se as pessoas buscam realizar seus desejos de qualquer forma, obter os melhores e maiores ganhos materiais e ter sucesso e aprovação dos outros a qualquer preço, elas podem fazer isso roubando, mentindo, e destruindo outras pessoas.
É suficiente nos educar sobre o que é certo ou errado na vida prática ? O que é digno de aprovação ou condenação em nossas relações com os outros ? Aprendermos o que pode tornar plena e feliz a vida humana sem guerras ? Sócrates e Jesus preferiram morrer por suas verdades e amor do que sacrificá-las para se manter vivos. Muitos consideram o auto interesse uma vida feliz e bem sucedida, e muitos são mestres em injustiças para alcançar seus objetivos. A injustiça calculada, crimes e guerras muitas vezes levam a melhor.
Em Atenas no Século V A .C também se vivia um período de conturbação incomum, marcada por instabilidades políticas, violentos conflitos de classe, e quase três décadas de guerras com cidades vizinhas. O desafio na época era prevenir o colapso das regras e exigências elementares de convivência civilizada. O Livro República de Platão tem esse pano de fundo e urgência. Essas guerras, segundo Platão só podem ser resolvidas por meio de um correto entendimento entre a alma ou psique individual - o que nos faz quem somos - e a estrutura da sociedade em que essa constituição da psique se molda. Na relação entre as guerras de nosso ser e da sociedade que vivemos necessitamos nos educar, integrando psicologia e política. O micro e macro de um pequeno grão de terra à Terra da Sabedoria.
Platão considera três classes fundamentais : governantes, militares e produtores. Necessitamos governar com sabedoria, prover a segurança com coragem e produzir riqueza com temperança. Necessitamos unir o intelecto racional, a combatividade e os apetites do corpo, todas conduzidas por Eros. A pessoa justa é aquela cuja estrutura psíquica se afirmam os princípios da justiça nas relações internas ( entre as partes da alma ) e externa com as demais pessoas. Ocorre porém numa sociedade corrompida governada por políticos hipócritas e demagogos, cheia de conflitos internos e guerras com os vizinhos, carente de educação adequada incluída de seus dirigentes, são poucos os que escapam da corrupção reinante. Muitos se deixam seduzir por miragens de riqueza, fama e prazer e são tomados pela cobiça de poder. A ordem se alimenta de falsos valores, mentiras, desprezo pelo conhecimento e hedonismo.
A busca de governantes sábios , a arte de governar e a visão do bem comum é para Platão na República o melhor caminho para vencer as guerras. Os reis filósofos e guardiões ou como denomino Protetores de uma Terra da Sabedoria. A fusão entre poder político e sabedoria e uma profunda reforma do sistema educacional não para educar Príncipes segundo Maquiavel, dirigentes ineptos e corrompidos, afeitos a hipocrisia e o abuso da arte retórica, e sim líderes para gerir a coisa pública de forma justa e competente visando o bem comum. Votados numa Democracia por aptidão moral e méritos, em vez de berço ou riquezas, e preparados para função pública unindo caráter e inteligência. Como disse Milton, o verdadeiro poeta deve fazer de sua vida um poema. Eu digo um poema capaz de conquistar mentes e corações sem guerras.