Por João Victor Martins Oliveira Guerra e Egidio Guerra.
Vamos brincar de Lego? Só que as peças não se acoplam mecanicamente e sim organicamente. Muito mais que montar um desenho que conhecemos, gera um desenho que não conhecemos, mas que expande o ser terra tecnologia-espírito ao se integrar com o corpo comunidades-cidades que habitamos. Como casca de cebola, o micro e o macro juntos, hologramas, seu desenvolvimento depende mais de nossas consciências e inteligências do que da política, cultura e moral de uma época.
Primeiro, vamos dialogar sobre conceitos transversais que são necessários no diálogo entre tecnologia, meio ambiente e espiritualidade. Conceitos como imunidade, sintropia, sustentabilidade e justiça interligam esses espaços que tratamos de forma distinta, e coloca o tempo não linear na perspectiva da trajetória do ser humano e do lugar onde vive.
“A história da humanidade é a história do ser. O sistema imune, tal como o cérebro, cria, grava e protege nossa individualidade”. - Irun R. Chohen no livro “Cuidando do Jardim de Adão”.
Essa história da humanidade e do ser acontece em ecossistemas ambientais, sociais e mentais. No decorrer do tempo histórico, nós geramos e denominamos esses tipos de corpos, comunidades e cidades que ganharam forma de acordo com as concepções de imunidade, justiça, segurança e sintropia de uma época.
No momento de uma transição civilizacional que vivemos, queremos dialogar sobre as formas e regras dos elementos e materiais que montaram nossas vidas e cidades que habitamos, e assim discutir sobre essas regras que ligaram os componentes que nos tornam quem somos e onde vivemos. Brincar de fazer Ciência, Economia, Política e Direitos é o melhor caminho antropológico e experiências para libertarmos nossas vidas e imaginações dos modelos que nos aprisionam. Ciência das vidas. Vidas como fluxos que tecem umas às outras numa grande malha. E a ciência como brincar de experimentar e experienciar. Os instrumentos musicais limitam as músicas que é capaz de gerar. Da mesma forma, que os tipos de tecnologia que criamos limitam nossas vidas e lugares onde vivemos.
Nós podemos continuar a tocar essa música em nossas vidas e cidades com poucos instrumentos; que tocam de forma linear indefinidamente e de forma repetitiva, continuando a gerar cânceres sociais, ambientais e pessoais. Melhor será expandir nossa espiritualidade e energia , assim como faz os ecossistemas, onde componentes diversos com regras diferentes, tocam músicas como orquestras, dialogando de forma mais ampla com nossos corpos e a Terra. Essa jornada em nossas vidas e cidades tem o poder de transcender a necessidade de regras e métodos fixos para gerar segurança, justiça, imunidade e sintropia como consequência do diálogo e da capacidade de integrar de forma orgânica a diversidade do qual somos um.
No desenvolvimento do Lego do nosso ser e das nossas cidades. Até o robô tem se libertado criando novas formas de dançar, mas a linguagem têm nos aprisionado a reduzir nosso pensamento, as palavras que nos tornam reféns de uma lógica de ser e viver, por isso é necessário criar novas palavras e metáforas para imaginar e criar novas formas de ser, viver e governar. É necessário ter regras de como seres e coisas vivem e se conectam, o passado impõe algumas delas mas é preciso evoluir e criar novas regras, assim como acasos e novas atitudes podem fazer emergir novos mundos e vidas .
Um estágio definido de evolução contém em si estruturas e esquemas dinâmicos que estão no princípio da evolução das formas. O ser evolui por convergência e por adaptação a si mesmo; unifica-se internamente segundo um princípio de ressonância interna. As regras geram compatibilidade ou incompatibilidade entre seres e coisas. O desenvolvimento de uma estrutura única ou um ser singular é fruto de uma convergência que gera determinadas formas de segurança e justiça para aqueles que detém o poder e a técnica de moldar estruturas de produção e instituições. Numa época determinada não há uma pluralidade infinita de sistemas funcionais possíveis. As espécies técnicas existem em número muito mais restrito que os usos a que se destinam objetos técnicos. As necessidades humanas se diversificam ao infinito, mas as direções de convergência das espécies técnicas e os lugares que vivemos são em números finitos.
Do modo abstrato ao concreto nossas vozes se difundiram nos rádios e telefones, acopladas aos olhares se transformaram em televisão, fotografia e cinema, depois inserimos a linguagem, os dedos e os teclados ao som e as telas, nasceu o computador e a internet , e com consoles nossa capacidade de interagir e gerar realidade virtual nos Games. Agora imagina tudo isso se unindo aos robôs e nossos corpos robotizados com inteligência artificial, Big Data, internet das coisas e viagens pelo espaço ? Quais transformações acontecerão em nossos seres e cidades ? além das quais já ocorreram graças ao rádio, telefone, TV, computador, internet e games? sem esquecer os navios, trens, carros, aviões e suas diversas formas de energia.
O mundo caminha para novas possibilidades de inovação do ser e da Terra, mas essas possibilidades, assim como a evolução e genética, são manifestações externas de contingências internas de nossos seres. Entre a coerência do trabalho técnico e a coerência do sistema de necessidades, prevalece essa última. As normas e regras vêm de fora para seres que ainda não realizaram sua coerência interna, mas depois emerge a respectiva autocriação e autonomia dos seres. Porém, hoje objetos técnicos têm o poder de moldar civilizações.
Incluímos nos objetos técnicos detalhes decorativos ou acessórios, aspectos inessenciais feitos sob medida, por serem contingentes e superficiais. De uma ordem analítica para uma ordem sintética, do artesanato à indústria, os seres foram moldados pelos "Legos" de sua época. Sistemas complexos têm surgido da acoplação de vários sistemas completos mas que jogaram o ser num vazio existencial. Aumentamos a complexidade de nossos objetos técnicos e sociedades visando aumentar a segurança e reduzir riscos, mas os efeitos e consequências sistêmicas por imposições econômicas e políticas, ampliam incertezas e riscos. Objetos e cidades que vivemos são carregados de inferências psíquicas e sociais, de forma continua e descontinua, devemos buscar inovar agregando componentes e dimensões humanas que transformam nosso ser e a terra que vivemos; ampliando nossa convergência interna e externa de um pequeno grão de terra á Terra da Sabedoria.
O mundo e a vida é feita por jornadas como essa que estamos vivendo no Século XXI, e outras que vivemos no passado do nosso DNA. Sim VALE a pena continuar caminhando em busca da vida, inovando o ser e a Terra.
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