Novos processos têm o papel de mudar a estratégia e a cultura de uma organização, por isso que o mundo da administração investe tanto em teorias de gestão. Não existe qualidade sem os círculos de gestão em qualidade, ou seja sem os processos que lhe dão vida, distribui tarefas, capacita, e integra com outras ações dando corpo à estratégia.
Observamos que todo processo em si carrega uma prática pedagógica, pois se aprende fazendo, mas pensando o que isso impacta na organização. Nosso dever de compreender como essa relação se dá numa creche privada nos ensina importantes lições sobre o impacto dos processos e estratégia na gestão educacional.
Porém é importante comparar modelos ou casos para ver as diferenças e os impactos da gestão em relação aos contextos econômicos e sociais diferentes onde atuam, visando definir os melhores processos e estratégias para cada organização. Por exemplo, sabemos que as melhores creches do mundo ficam em Emilia Romagna na Itália que tem uma trajetória longa de políticas sociais e cooperativismo implantada por seus governos. Essas creches de “cem linguagens das crianças” emergem numa cultura democrática, onde a vida e a expressão de cada ser é um valor. Essa cultura se transforma em processos e estratégias horizontais alicerçadas na prática pedagógica de fortalecer a autonomia e diversos caminhos de aprendizagem das crianças.
Quando comparamos com as creches privadas que pesquisamos observamos que o peso maior dos resultados dos processos e estratégia ficam sobre a responsabilidade do professor. O auxílio da direção, técnicos, coordenação pedagógica, família e comunidade tem pouca integração e baixo trabalho em rede. Se compararmos com as creches públicas apresentadas por outra equipe, observamos que a estabilidade do concurso tende a fortalecer o trabalho em equipe, processos e estratégia melhor compartilhada. Porém como sabemos as creches públicas são poucas e não atendem nem 30 % da demanda, onde 60 % de nossas crianças cearenses vivem na pobreza. Portanto essas creches públicas em Fortaleza tem qualidade, mas assim como as escolas profissionalizantes de ensino médio são privilégios de milhares diante da exclusão de 5, 6 milhões de cearenses que não concluíram o ensino médio.
Outro fator importante na comparação entre casos é que as creches privadas dependem das mensalidades que tem seus limites financeiros de acordo com cada bairro onde atuam. Isso difere de uma creche pública que atua dentro de uma rede grande que tem orçamento garantido, outros apoios técnicos e estruturas para implantar os processos e a estratégia da gestão escolar. Existem também creches que fazem parte de redes privadas com várias escolas como Farias Brito. Elas têm uma estrutura econômica que impacta em seus processos e estratégia.
É importante lembrar que não existem processos e estratégias sem pessoas, são elas que com suas capacidades dão vida a organização e a gestão educacional. Elas têm o poder de fazer toda diferença, como sabemos grandes empresas como IBM foram derrotados pela Microsoft na época bem pequena. Hoje Tesla e aplicativos como UBER, Airbnb, Netflix e Facebook desafiam grandes empresas na indústria automobilística, Hoteleiro e Mídia. Além disso, sabemos que educação é serviço. Hoje com uso das tecnologias nas nuvens podemos ampliar escala e reduzir custos principalmente burocráticos, marketing e outros . O diferencial dessas pequenas empresas vitoriosas foram seus processos, estratégias e pessoas.
Portanto, nossa pesquisa nas creches privadas e pequenas nos ensinou que com pessoas, mesmo em pequena escala , é possível usar processos e estratégias, somadas a práticas pedagógicas progressistas que conseguem criar uma gestão educacional com bons resultados econômicos e educacionais. Essas creches existem há décadas mantendo sua missão, formando professores, inovando, educando crianças com a participação ativa dos pais e relacionamento duradouro com suas comunidades. Ao longo de suas histórias as pessoas, processos e estratégias mudaram, incorporaram metodologias ativas, tecnologias, outros recursos e espaços de aprendizagem, e formas diversas de interação com a família e comunidade.
Um dos aspectos mais relevantes são processos que são desenvolvidos para acompanhar cada aluno em sua singularidade, o que é mais difícil numa creche pública e ou numa grande rede privada. A estratégia de estimular outros caminhos de aprendizagem e avaliação, transformando em processos feitos por equipes, integra a gestão educacional num processo de auto gestão com maior velocidade e respostas aos desafios educacionais. Por fim as creches privadas como pequenas organizações se inventam todos os dias, podem se tornam grandes integrando redes, pautando políticas públicas educacionais em parceria com as comunidades como bolsas que ampliam sua sustentabilidade econômica e social. O maior desafio das creches é profissionalizar a gestão, atuando em rede com outras creches para que possam ampliar suas capacidades econômicas, sem perder a qualidade de educar cada aluno em sua singularidade. E mais uma vez precisamos de pessoas, processos e estratégia para isso.
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