Se temos uma Universidade pública de qualidade, infelizmente milhões de pessoas pagaram ou morreram sem ter acesso a ela. Essa dívida social pode ser resgatada agora por uma Universidade presente, viva e democrática atuando nas periferias, incorporando e legitimando os saberes produzidos pelas comunidades e projetos que mudam vidas e realidades com os seus saberes, tecnologias e epistemologia que desbravam novos horizontes na formação de nossa juventude e nos lugares onde moram.
A vida humana enquanto ethos, seguindo as passagens de Walter Benjamin, busca reintroduzir a experiência pela pesquisa, ensino e extensão universitária na história coletiva, e não apenas individual, nos lugares onde moramos como missão da educação. Considerando que a educação produz a singularidade do indivíduo e sua socialização na História que resgata o presente, no passado, e constrói agora o futuro. A encarnação temporal da educação compartilhando sentidos pelo contexto social até a diferença e descontinuidade, indicando que a história é um legado comum a todos os homens; assim com os "achados arqueológicos" que encontramos em nossa jornada de aprendizagem sobre a vida e o mundo que vivemos, os diversos sinais de destruição e barbárie por onde passamos que a modernidade tenta negar em nome do progresso.
Os vários acontecimentos que nos chocam e nos levam a refletir com criticidade e agir com criatividade, por serem subjetivos nos levam a humanização no encontro com o coletivo, com o diferente e com o outro para construirmos a história juntos. A experiência pode auxiliar no enfrentamento da tensão gerada nos acontecimentos que vivemos, no processo educativo, entre a criação da singularidade do eu e sua integração a um ethos comum produzindo conhecimentos. Nesses espaços educacionais não escolares produzimos narrativas que mais que retratos científicos podem incorporar a arte como tem feito o hip hop, a grafite, o cinema e outros mostrando todo potencial da vida e transformação nas comunidades. O agora interfere na produção de palavras e imagens indo além do método científico para inovar políticas públicas, novas formas de ser, viver e conhecer um mundo em transição tecnológica, mudanças climáticas e brutais desigualdades e violências.
Contra a perfectibilidade e empatia, porque nasce da tristeza, do espírito de sacrifício, do ódio, do sofrimento dos corpos prostrados no chão, a construção da experiência, segundo Benjamin, depende de uma vontade ética inscrita em uma luta política e histórica, que impeça que essa história se repita, mostrando quanto a construção da memória pertence ao presente como esse espaço coletivo.
Não podemos depender de belas almas ou professores bons esse processo educacional como pesquisa, ensino e extensão deve ser institucionalizado nas Universidades. Parece mais fácil e menos arriscado cuidar dos que morreram muito tempo atrás, porque não ameaçam o conforto dos vivos. O que não é o caso, quando se trata dos mortos e vivos de hoje, em relação aos quais corremos o risco de tratar as lembranças dos mortos e a indignação contra os horrores passados em tantos pretextos bem vindos para nos desviar de lutar contra os assassinos do presente. É urgente educar gerações com experiências que podem salvar suas vidas, transformar e salvar as Escolas, Universidades e os lugares onde moramos no único planeta que vivemos. A História é uma superfície de luta e não o jardim da ciência para o passeio dos ociosos como descreve Benjamin. Uma educação que saiba ultrapassar a História como acúmulo de conhecimentos e conservação piedosa do passado em direção a uma História que exija uma intervenção crítica para transformação da realidade, em outras palavras, para construção de experiências. Autoformação e autoconhecimento dependem de uma memória que só adquire seu sentido mais fundamental quando mergulha suas raízes no coletivo.
A possibilidade da experiência pressupõe que o indivíduo alienado de si mesmo possa acordar no coletivo. Numa relação radical e original com o tempo: o futuro está no presente. O futuro deixa de ser projeção finalista, para no presente, articular se no passado. Cada geração tem um encontro marcado com as gerações passadas. É um movimento que não quer ficar na simples constatação dos fatos, mas quer transformar o que está inacabado (a felicidade) em algo acabado e o que está acabado (sofrimento) em algo inacabado. Contra os filósofos do progresso e da decadência, é urgente recriar a vida, recolher todo o passado no presente, pensar o agora para além de sua negatividade e de progressos tecnológicos sem humanidade. Voltar a alegria e o riso do saber para ironizar poderes e ignorâncias que destroem vidas e a Terra com a capacidade crítica e criativa dos estudantes. Educar para adaptação e autonomia capazes de mudar culturas, o mundo e o tempo. Interromper o fluxo da história oficial dos vencedores, quebrando a coerência dos seus discursos, em busca de outras formas de pensar, ser, viver em um mundo em transição tecnológica, mudanças climáticas, brutais desigualdades e violências.
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