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sábado, 30 de agosto de 2025

Tanques, turismo e poses para fotos: por que Kim Jong Un e Putin vão se reunir na China

 

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o líder norte-coreano Kim Jong Un sorriem durante um brinde com vinho tinto, com uma bandeira da Coreia do Norte ao fundo

Crédito,AFP via Getty Images

Legenda da foto,O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o líder norte-coreano Kim Jong Un irão se reunir em Pequim, na China

A cidade de Pequim se transformará em palco de um grande espetáculo de demonstração do poderio militar chinês na próxima quarta-feira (3/9).

Tanques e mísseis nucleares desfilarão pela Praça da Paz Celestial, na capital chinesa, enquanto jatos de combate de quinta geração passarão riscando o céu.

No desfile chinês do "Dia da Vitória", muitos olhares não estarão, contudo, atentos apenas à tecnologia de combate sendo exibida.

Eles também deve se dirigir ao líder norte-coreano Kim Jong Un e ao presidente russo, Vladimir Putin, que comparecerão ao evento como convidados do presidente chinêsXi Jinping.

Kim e Putin raramente têm viajado ao exterior nos últimos anos. O que o seu comparecimento ao evento — que marca o 80° aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial — nos diz sobre o relacionamento entre as três nações e seus planos para o futuro?

Para explicar melhor, reunimos especialistas dos serviços coreano, russo e chinês da BBC, que compartilharam suas visões sobre o desfile.

Mulheres do exército chinês uniformizadas olham na mesma direção com expressão séria

Crédito,AFP via Getty Images

Legenda da foto,Ensaios para o desfile estão em andamento em Pequim

Turismo e prestígio para a Coreia

"O encontro entre Kim e Xi será o primeiro em cerca de seis anos", diz Juna Moon, da BBC News Coreia.

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"Kim visitou a China pela última vez antes de viajar para a cúpula de Hanói [no Vietnã] em 2019, para se encontrar com Donald Trump durante o primeiro mandato [do presidente americano]", relembra ela.

"E Xi visitou Pyongyang posteriormente, no mesmo ano."

O evento atual é inédito em vários sentidos. Esta será a primeira vez em que os líderes da Coreia do Norte, da China e da Rússia serão vistos juntos, por exemplo.

É um encontro incomum para os líderes norte-coreanos. Afinal, tanto Kim Jong Un quanto seu pai e predecessor, Kim Jong Il (1941-2011), se restringiram a manter reuniões diplomáticas com apenas um governante de cada vez.

Além disso, esta é a primeira vez em que um líder norte-coreano comparece a um desfile militar chinês desde 1959.

"A visita ocorre em um momento em que a Coreia do Norte enfrenta sérias dificuldades econômicas e se prepara para aniversários políticos importantes, o que torna fundamental o auxílio chinês", explica Moon. Ela destaca os preços do arroz, que dispararam no país.

Kim Jong Un certamente deseja garantir que a ajuda chinesa faça com que o 80° aniversário de fundação do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte, em outubro, e o nono congresso do partido, esperado para o ano que vem, sejam marcados pela grandiosidade, não pela austeridade.

Kim Jong Un e Xi Jingping de pé em frente a bandeiras dos seus pais, apertando as mãos com expressão séria

Crédito,Gamma-Rapho via Getty Images

Legenda da foto,Desfile em Pequim pode aprofundar os laços entre Xi Jinping e Kim Jong Un

A participação da Coreia do Norte possivelmente envolve também uma dimensão econômica que se beneficiaria de ajuda chinesa.

"Pyongyang espera atrair grandes quantidades de turistas chineses para a recém-inaugurada Zona Turística Costeira de Wonsan Kalma, o que precisaria da bênção do Partido Comunista Chinês", destaca Moon.

Mas a viagem do líder norte-coreano para Pequim envolverá muito mais do que apenas dinheiro.

Kim geralmente gosta de equilibrar seu relacionamento entre Pequim e Moscou. Por isso, ele não deposita excessiva confiança em nenhum dos dois.

Este evento fornecerá a ele uma rara oportunidade de ser visto com os dois presidentes.

"Ao se alinhar com Xi e Putin, Kim tenta se apresentar como parceiro das superpotências e sinalizar a posição central da Coreia do Norte em um possível eixo China-Coreia do Norte-Rússia", explica Moon.

Kim Jong Un pode até esperar que o presidente Xi compareça às comemorações do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte em outubro, o que aumentaria sua importância dentro e fora do país.

Mas o que isso significa para o país vizinho, a Coreia do Sul?

"A visita de Kim também é amplamente interpretada como uma reação estratégica à crescente cooperação entre os Estados Unidos, a Coreia do Sul e o Japão", afirma Moon, "e um sinal de que Pyongyang está pronta para aprofundar seu alinhamento tripartite com a China e a Rússia."

"Se a visita de Kim no Dia da Vitória fortalecer a cooperação entre a Coreia do Norte, a Rússia e a China, pode haver graves consequências para a segurança da Coreia do Sul", segundo ela.

"O risco de uma cooperação mais profunda, mesmo que não oficial, entre Pyongyang, Pequim e Moscou, em termos de sistemas de armas, tecnologia militar, inteligência e logística, vem crescendo progressivamente."

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