Hoje a violência se tornou cultura através dos programas policiais na TV, filmes, games e sua respectivas consequências nos comportamentos econômicos, políticos e sociais. A política também usa a violência como estratégia de medo e ataque às populações excluídas de seus direitos, incluindo o acesso a uma educação de qualidade capaz de desenvolver capacidades críticas e ter autonomia para construírem sua cidadania. A maioria de nossa população vive em estados de exclusão social provocados pelos governos, milícias e crime organizado onde impera barbáries e diversas violências que hoje fazem parte de nossa cultura destruindo vidas, comunidades, cidades e sociedades como o Rio, México, ou várias periferias e cidades brasileiras.
Porém a melhor a forma de lidar com esses absurdos e ignorâncias é fortalecer nossa educação e suas capacidades críticas e criativas como defende Adorno da Escola de Frankfurt.
Se para Adorno da Escola de Frankfurt há mais de 70 anos a cultura tinha se transformado em entretenimento, ou seja uma forma de dominar a percepção e a estética para o consumo. Neutralizando assim o desenvolvimento da consciência crítica e as forças das classes trabalhadores em se libertar das algemas da pobreza e brutais desigualdades. Imagina hoje quando a cultura dissemina a estética da violência fortalecendo a guerra entre os pobres, empoderando personagens das milícias e crime organizado, as práticas da extrema direita, a disseminação de fake news, racismos, violências contra a mulher e os indígenas, destruição da natureza e outros, dessa forma caminhamos a passos largos para várias formas de barbáries. A escola tem mínimas condições de reagir a isso como frisou Adorno.
No pensamento de Adorno a Educação pode ter a função de impedir a barbárie mas sobre qual educação ele está falando ? com certeza não se trata da educação dominada por novas tecnologias, nem por formatos que transformaram as escolas em meios para passar no vestibular, muito menos por Universidades que vendem diplomas ou formam repetidores de palavras sem as capacidades críticas e criativas, consideradas de nível superior visando transformar suas vidas e as sociedade que vivemos. Resultando assim numa Indústria Educacional incapaz de educar e fazer frente aos desafios do mundo que vivemos. Na educação para Adorno precisamos falar de amor.
Adorno e a Escola de Frankfurt nos desafia com sua Teoria crítica a pensar as relações sociais e como elas impactam sobre o funcionamento das escolas e seus objetivos de escolarização moldando comportamentos, práticas escolares, e currículos. Da mesma forma que a cultura se transformou numa Indústria cultural para Adorno, a educação está se transformando em Indústria educacional, o que tem fortalecido ainda mais o domínio da barbárie e de diversas violências em nossa sociedade sem amor, justiça e verdade.
Adorno busca libertar as pessoas com uma Educação para Autonomia com ações comprometidas com todos segmentos sociais incluindo é claro a voz das mulheres, negros, índios e pobres visando o desenvolvimento da consciência critica sobre a cultura e praticas libertadoras inclusivas onde possam fortalecer as várias culturas que existem, não reduzidas as formas de entretenimento.
O patrimônio educacional e cultural da humanidade pertence a todos e não é uma mercadoria exclusiva de uma classe, ele é elemento essencial para formação de identidades solidárias e comprometidas com a justiça social. Assim como os membros da Escola de Frankfurt exerceram suas pesquisas e papéis determinantes em nossa história como nos conta esse livro que tive a oportunidade de ler e compreender suas trajetórias de vidas como educadores, militantes e intelectuais.
Adorno contribui com uma visão hermenêutica sobre a Educação que foi apropriada pela pedagogia crítica na Alemanha. É importante frisar que a pesquisa social empírica, a não neutralidade da ciência, o compromisso político do pesquisador para alterar a ordem social, e a tolerância intelectual são elementos essenciais para apresentar a função da educação como antídoto a barbárie e a violência com as quais Adorno e outros membros da Escola Frankfurt conviveram durante as atrocidades da segunda guerra mundial de onde seus pensamentos emergiram.
Adorno como estudioso da Psicanálise talvez pudesse afirmar hoje como em sua época que convivemos com pessoas neuróticas que disseminam ilusões ideológicas de esquerda ou direita, defensores de Stalin ou Hitler. Essas pessoas são frutos de censuras e ameaças difundidas pelas redes sociais que vão perdendo a capacidade crítica, sem capacidade de reflexão é alienado, age como o compulsivo, faz o que se estabeleceu que deva fazer, assume sem reflexão ter que fazer como os outros para ser como os outros.
Assim como a Escola de Frankfurt era interdisciplinar misturando a ciência, a economia, a política e a arte devemos pensar a educação e o currículo de forma interdisciplinar, com um olhar sistêmico e crítico para sociedade que vivemos, complexo, fortalecendo nossas capacidades e autonomia para transformar o mundo que vivemos.
A abertura para a pluralidade de contribuições teóricas e também ideológicas é vital para contribuição de Adorno na Educação, não reduzindo aos neuróticos de esquerda e direita mencionados acima, visando ao mesmo tempo libertar a educação da indústria cultural, educacional e econômica e suas diversas relações de poder e violências.
Na época de Adorno se vivia uma profunda crise econômica, social e diria ambiental como hoje onde os modelos, métodos e ideologias apresentados eram insuficientes para compreender os desafios de sua época, e ao invés de se buscar ampliar as capacidades críticas e criativas explodiram guerras, violências e dogmas.
Adorno busca romper com as teorias tradicionais, gerar uma nova concepção no entendimento da relação teoria e prática, fundar uma ciência contextualizada, não neutra, engajada na transformação do mundo. A Teoria Crítica visava apreender a sociedade e suas instituições na totalidade da vida social concreta, buscando desvendar as relações dos acontecimentos sociais na dialética das relações sociais historicamente determinadas.
Seguindo essa jornada poderemos compreender as diversas raízes e caminhos pelos quais são produzidas as diversas violências e barbáries com uma educação, pedagogias e currículos sem capacidade crítica de se libertar e compreender os papéis e os poderes que exercem as indústrias econômica, cultural e educacional em nossa sociedade para que possamos criar novas formas de ser, viver e nos governar .
Assim, na Teoria Crítica, não existe lugar para uma crítica sem conseqüências,
“quem é capaz de exercer a crítica deve, também, ser capaz de dizer como pode ser feito de melhor forma” (Schweppenhaeuser, 2003: 18). Criticar significa ser capaz de destacar as diferenças e ser capaz de decidir com fundamento. A lógica dessa dialética do esclarecimento, conforme Adorno e Horkheimer, é uma lógica da dialética da negação, da recusa determinada de ser conformado com o estabelecido: “a finalidade última da dialética negativa é alcançar o melhor, a saber, buscar o que pode ser positivo, consiste na negação do que é estabelecido e na busca positiva de fazer de outro modo” (Schweppenhaeuser, 2003: 19). Nessa concepção, esclarecimento (crítica esclarecedora/crítica com o engajamento da razão), como projeto epistemológico, tem o sentido de permitir a libertação dos homens da sua incapacidade de perceber o que é real, “é libertá-lo da culpa auto-infligida, conseqüência de sua falta de consciência social, de ter que ser responsável individualmente pela sua própria conformação a um destino social de injustiça e de sofrimentos” (Schweppenhaeuser, 2003: 22). Essa dimensão esclarece porque, para A teoria crítica da educação de Adorno e sua apropriação para análise das questões atuais sobre currículo e práticas escolar, a crítica é a essência da democracia e não as ilusões ideológicas disseminadas por neuróticos .
Esclarece, também, o projeto de construção de uma crítica da ideologia da sociedade industrial, na qual as idéias de emancipação de todas as formas de dominação, de autonomia e cidadania plena estão interligadas, porque essas três dimensões formam a chave para explicar porque os homens, sob a aparência de vida social livre, continuam legitimando as formas tradicionais de dominação (Horkheimer e Adorno, 2003). Essa dimensão esclarece porque a Teoria Crítica é uma teoria engajada na mudança social.
“A Teoria Crítica almeja a mudança da sociedade como um todo. O seu critério normativo para alcançar a mudança pretendida é a eliminação de tudo aquilo que está deformando o homem, de tudo aquilo que oprime o incapacita para se opor à injustiça. Nesse sentido, a crítica da sociedade é uma crítica auto-reflexiva, crítica que tem que se basear no conhecimento real da realidade criticada, pois, para Adorno, a primeira empreitada da crítica é confrontar a realidade com as normas que a estruturam porque é da compreensão desta relação que se pode apreender a verdade sobre a realidade. É preciso deslindar como essas normas atuam sobre os sujeitos. Assim, a sociedade poderá ser avaliada na medida em que permitir desvendar como as relações sociais estabelecidas não possibilitam para os homens uma vida social digna e correta, e como pode ser de outra forma”.(Schweppenhaeuser, 2003: 24)
Portanto, a Teoria Crítica almeja o esclarecimento do Homem sobre a sua condição de agente histórico de produção de suas condições de vida e das relações sociais às quais está submetido, a fim de criar as condições capazes de mobilizá-lo para uma ação transformadora. Para Adorno e Horkheimer, esse empreendimento não é um mero projeto da razão, mas, sim, uma tarefa com a finalidade de diagnosticar a realidade social, negar o estabelecido pela sua iniqüidade, e criar uma conseqüente práxis social capaz de intervir na sua mudança (Horkheimer e Adorno, 2003).
Entre Utopias e distopias , entre industrias culturais e educacionais que atuam como Big Brothers, o melhor caminho é libertar pela educação nossas capacidades criticas e criativas para superar as barbáries e violências que vivemos.