Por *Egidio Guerra
INTRODUÇÃO.
Eu cursei Administração de Empresas na UECE na época era a melhor Faculdade de Administração de Empresas no Ceará nos anos 90. Fui fundador e primeiro presidente da primeira Empresa júnior do Ceará em 1993, onde realizamos dezenas de consultorias. Atuei como Executivo de Empresas como Coca- Cola, Brahma, Du Pont e Amro Bank. Hoje depois de estudar Economia, Psicologia e Cinema estudo Educação e como educador, pesquisador e palestrante tenho compartilhado o universo e desafios das escolas e universidades (públicas e privadas) brasileiras e americanas; onde convivi entre 2000 e 2020 com Professores e acadêmicos de Harvard, Duke, Yale, Columbia, MIT, Princeton e outras, orientando pesquisas dos estudantes sobre inovações econômicas, educacionais e sociais que cursaram 16 créditos no Brasil.
Hoje escutando diretores e professores de escolas falando da importância da gestão na Escola, me pergunto de que práticas de gestão estão falando. Organizações que aprendem, liderança como monges executivos, células de qualidade, ou várias práticas que estimulam a criatividade e o desenvolvimento pessoal? Ou as antigas práticas de gestão de controle, cobrança de metas individuais ou por setor onde trabalha, técnicas de planejamento, mapeamento de processos e projetos, reengenharia, e outras que destruíram milhares de empresas e suas culturas feitas para durar, e foram abandonadas por empresas que fabricavam coisas? É sobre essas questões que quero discutir ao longo do texto.
GESTÃO ESTRATÉGICA EM ORGANIZAÇÕES QUE APRENDEM!
As questões ora enunciadas na Introdução serão referência para discussões aqui. A resposta inicial que trago, a partir de minhas experiências vividas, é de que essas práticas não são suficientes mesmo em Empresas para inovação e competitividade sistêmica em clusters que são monitorados por planejamentos em portais on-line, as quais podem mudar os rumos das empresas e setores da economia todos os dias, diante de um mundo cada vez mais digital, disruptivo e tecnológico que abala inclusive as formas que educamos com os impactos da inteligência artificial, big data e robótica. Agora querem fazer isso com as escolas, gerando educadores tecnocratas que confundem gente com produtos feitos em escala e gestão industrial, tipo taylorismo, fordismo ou Toyotismo (LAVAL, 2004).
Sim senhores! As escolas vivem no mundo atual e não no mundo passado da gestão e suas burocracias, isso sem contar as mudanças climáticas, avanço de brutais desigualdades e violências, e para muitos marxistas, o muro de Berlim não caiu apesar de ocorrido há mais de 30 anos. Digo isso aos educadores porque as teorias e práticas, pedagógicas e de gestão tem que mudar. Muito mais que isso, temos que mudar como formamos os educadores, indo além dos limites da educação, temos que aprender novas práticas de gestão para lidar com pessoas que necessitam ampliar seu potencial e criatividade.
Esses educadores necessitam compreender os contextos econômicos, sociais e ambientais que apesar do capitalismo e suas desigualdades podem impactar a educação e seus resultados como tem feito Emília romana, Canadá e Finlândia. O avanço da criminalidade e as violências fazem parte do dia a dia das escolas, mas também a urgência das questões ecológicas, tecnológicas, sociais e do mundo do trabalho que já impactam o presente e futuro de nossos alunos, necessitando de outros caminhos em suas vidas para viver e se educarem (MORIN; MOIGNE, 2000).
Essas questões tratam dos contextos e desafios que vivemos exigindo novas formas de educar, visando ultrapassar os limites do currículo como entendemos, e gerar novas autobiografias de educadores nos relatando suas aprendizagens e de seus alunos nessa jornada. Claro que isso vale também para secretários de educação, diretores de escolas, universidades e professores que devem ser maestros dessa mudança, práticas pedagógicas e cultura organizacional.
Integrar práticas pedagógicas com o contexto do mundo que vivemos e, outros mundos que necessitamos criar é necessário, interagindo essas práticas com nossas vidas e dos alunos e alunas para criar outras razões, diálogos e currículos que dançam com as disciplinas e territórios onde as escolas e universidades atuam. Muito mais que salas de aulas, precisamos transformar o mundo e a vida em sala de aula, aprendendo a pesquisar cientificamente (Demo, 2002), gerar conhecimento e transformar em atitudes éticas capazes de impactar nossas vidas, as cidades e a Terra. Inspirado em Pedro Demo, temos o tópico seguinte, visando adentrar na questão da cientificidade no fazer escolar.
A IMPORTÂNCIA DE PESQUISAR NA ESCOLA E UNIVERSIDADE.
A pesquisa científica desperta o conhecimento da realidade complexa e nos desafia, somando a autobiografia que resgata razões e memórias que dão sentido às nossas vidas e o que fazemos no mundo, essas práticas pedagógicas da pesquisa cientifica e autobiográfica interagem conosco nas escolas, universidades e espaços educacionais não escolares (LORIGA, 2011; DOSSE, 2015)
Compreender essa jornada é essencial, inclusive usando tecnologia para entender como nos tornamos ao longo da vida em alunos e educadores, em tempos limitados ou integral, para tirar notas boas e ter uma vida boa, e outros. Compreender porque determinados assuntos nos fez estudar algo, buscar e ler livros, escolher um saber como curso universitário, uma área como profissão..., mas poderíamos ter escolhido outras? Mais de duas? Somos polímatas? (BURKE, 2020)
Nessa jornada vamos compreender como nos tornamos, quem somos, os lugares que vivemos, suas regras, métodos e desafios, onde estamos e para onde vamos. Principalmente se for um educador ou político, pois suas decisões, métodos e objetivos impactam bilhões de vidas e são mais poderosos que armas e dinheiro, porque podem ajudar a construir sociedades mais pacíficas e éticas sem violências e brutais desigualdades. Como escreveu Alexis de Tocqueville (2005) precisamos realizar a quarta educação do mundo, na qual ocorre a conscientização dos indivíduos, promovendo a democracia na vida cotidiana através da cidadania prática.
Eu citei que já atuei em empresas como Coca- Cola, Du Pont, e Ambev; escolas e universidades como Colégio Batista e SIT, mas poderia ter dito que já joguei bola, lia as leituras na missa, era muito brincalhão e tinha uma empresa que organizava festas e baile funks. A WAR SOM, meu socio e primo hoje é o dono da SKYLER.
Cada um desses ingredientes se misturou na minha vida pelos lugares que passei, aprendendo e ensinando, com os livros que escolhi ler, querendo aprender algo que a realidade me desafiava a pesquisar cientificamente, e que muitas vezes assistia filmes com esse objetivo de aprender. Esse processo me levou a lutar nas ruas, movimentos estudantis e sociais, em períodos que aprendemos que os desafios são também coletivos. O conhecimento ganhou vidas em novas palavras e linguagens que ao invés de me reduzir ao mundo das empresas, política, social ou educacional foi ampliando meu ser, minhas razões e vivências, causas, sonhos e amores baseados e nutridos por diversos valores.
Foi nessa jornada também tecnológica que aprendi a usar novas tecnologias. Cursei informática no ensino médio. Na jornada da vida a me relacionar com a natureza e espiritualidade, estudei ecologia e judaísmo. São dimensões de minha vida que buscava apreender e expressar meu ser neste mundo, comecei a criar e empreender novas ideias, projetos, organizações e redes com nas empresas os Agentes de Responsabilidade social na CNI, nos Governos como o Programa Sinergia Social, no terceiro setor a Rede de ONGs Terra da Sabedoria, nas escolas com os Grêmios, nas Universidades com as Empresas juniores , na cooperação internacional com a REDE NÓS, mercado financeiro, comunidades pobres, e cidades educadoras, mas também nas artes escrevendo meus textos em um blog “habitante de uma Terra da Sabedoria”, livros como Quando amar é Proibido e Sociedade da Paixão e fazendo meus filmes como 68 HIGH TECH. Por isso fui fazer 5 anos de faculdade de cinema, mas com um olhar econômico por ter estudado economia e atuado na cooperação internacional como Banco Mundial e ONU.
Eu sempre busquei entender de forma sistêmica, complexa, transdisciplinar, intersetorial e internacional o mundo que vivemos e seus desafios críticos, visando criar inovações em projetos e políticas públicas. Foi essa jornada que me levou à educação e me tornou um educador em busca de novas formas de ser, viver, educar, nos autogovernar com currículos que transformassem nossas autobiografias em jornadas educacionais.
Nunca perdi de vista os fios educacionais que me trouxeram até aqui, incluindo as redes que fazemos parte, nesta grande rede que é a educação para uma vida integral, atuando em todas as dimensões que podemos expressar nosso ser e nossas capacidades de superar os desafios coletivos que compartilhamos. Esse foi o fio que me fez estudar psicologia e educação, mas também de ler várias biografias e escrever minha autobiografia.
Amo compreender como vários seres humanos em seus contextos e desafios distintos em épocas diferentes, fizeram escolhas, tomaram decisões, pensaram e agiram para escrever com suas vidas e palavras o mundo que vivemos. Essas razões produziram novas ciências, tecnologias, economia, as formas como vivemos a política, entre elas o Estado e a democracia, diversas artes, espiritualidades e caminhos para nos educar, nos relacionar com a natureza, vivermos em casas e cidades, e termos pessoas que consideramos família, amigos ou interagimos pelas redes sociais. Assim sendo, compreendo que especificamente, no contexto deste estudo, a pesquisa autobiográfica se torna uma abordagem essencial para refletir sobre essa trajetória de vida pessoal, profissional e político-social, pois nos leva a refletir sobre nossa aprendizagem ao mesmo tempo nos desafia a pesquisar os desafios que encontramos na jornada e seguir em frente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa prática pedagógica e didática de aprender com a vida, a Escola, Universidade e outros espaços educacionais não escolares que compartilhamos nos desafia todos dias a aprender, gerar conhecimento, reescrever nossas biografias, expandindo nossos seres, superando desafios coletivos, e gestando nessa jornada novos currículos, caminhos de aprendizagem e educadores.
Eu acredito em uma educação que gere várias oportunidades, escolhas e desafios para pessoas em movimentos presenciais e virtuais, em lógicas complexas, incertas e singulares, aprendendo a descobrir e criar o mundo, a ter visões sistêmicas, não fragmentadas e lineares, expressarem seus seres de diversas formas em todos ambientes e espaços que vive, incluindo as redes sociais e as nuvens que devem interagir e produzir singularidades (MORIN, 2005)
Necessitamos de bússolas para nos guiar diante de incertezas, e labirintos para nos achar e perder em busca de inovações e novos horizontes. Na tessitura da rede educacional, ajudando a compor novas conexões de sentido sobre o que será uma nova educação, e que transforme ou inspire o planejamento e implementação de novas políticas públicas. O meu cérebro e vida também desenvolve “minha big data” e produz inteligência ao longo da vida, muito melhor que as capacidades dos computadores atuais, pesquisamos e aprendemos muito melhor que o Google ou a Alexia, fazemos isso por bilhões de meios e neurônios, caminhos diversos e múltiplos que nos educam ao mesmo tempo nos tornam quem somos, ampliando nossas capacidades de transformar o mundo que vivemos.
Referências
BURKE, Peter. O polímata: Uma história cultural de Leonardo da Vinci a Susan Sontag. São Paulo: Editora Unesp, 2020.
DEMO, Pedro. Educar pela Pesquisa. Campinas: Autores Associados, 2002.
DOSSE, François. O Desafio Biográfico: escrever uma vida. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2015.
LAVAL, Christian. A Escola Não É uma Empresa: o neoliberalismo em ataque ao ensino público. Londrina: Editora Planta, 2004.
LORIGA, Sabina. O Pequeno X: da biografia à história. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011.
MORIN, Edgar. Introdução ao Pensamento Complexo. Porto Alegre: Sulina, 2005.
MORIN, Edgar; MOIGNE, Jean-Louis Le. A Inteligência da Complexidade. São Paulo: Peirópolis, 2000.
*Egidio Guerra é formado em Cinema pela UFC, Administração pela UECE, Mestrando em Educação pela PUCPR e acadêmico de Pedagogia pela UFC. Fellow Ashoka, Consultor do Banco Mundial e ONU. Fundador das Empresas juniores, eleito pela Revista Exame Empreendedor de um novo Brasil, recebeu do Presidente da UNESCO em Bilbao na Espanha uma comenda por seus projetos educacionais e impactos na juventude global. CEO da Ecossistema digital e Diretor executivo do Vale de inovação global em Políticas públicas e impacto social.
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