Professor os nossos pais, tios e demais famiiares continuam massacrados pela falta de uma educação de qualidade, mesmo a bancária que continua sem nenhuma ousadia pedagógica como a que senhor realizou em Angico. Muito se fala em PISA e em educação em tempo integral mas como sempre falta bibliotecas, boas salas de aula, formação de professores e outros. Agora na Pandemia descobriram que falta acesso dos alunos a internet que como sempre passa a ser a grande novidade brasileira, esquecendo que sempre faltou muitas outras coisas, inclusive infelizmente a vontade de estudar e educar pela verdade, o bem, o belo e o justo alem é claro das disciplinas .
Porem como o senhor falou "quem ensina aprende"mas antes temos que ler o mundo e sua palavras de forma critica principalmente no mundo onde a curiosidade de nossos alunos são canalizadas pelas redes sociais, games e outras diversões que geram concorrência pedagógica com a escola. Isso sem falar no aumento das violências e desigualdades, crime organizado, problemas familiares e outros que entram nas escolas e salas de aula impactando a educação de diversas formas.
Humildade e curiosidade são duas grandes grandes lições que o senhor nos ensinou antes da esperança e da autonomia. Outras que prefiro ler a realidade e lembrar pelas suas próprias palavras “ Alguns desses caminhos e algumas dessas veredas, que a curiosidade às vezes quase virgem dos alunos percorre, estão grávidas de sugestões, de perguntas, que não foram percebidas antes pelo ensinante. Mas agora, ao ensinar, não como um burocrata da mente, mas reconstruindo os caminhos de sua curiosidade – razão por que seu corpo consciente, sensível, emocionado, se abre às adivinhações dos alunos, à sua ingenuidade e à sua criticidade – o ensinante que assim atua tem, no seu ensinar, um momento rico de seu aprender.”
Paulo quantos professores se dizem frerianos, esvaziando o conteúdo léxico e o significado de sua vida, ao ensinar o que não sabem, nem buscam se preparar, se capacitar e se formar muitas vezes culpam os alunos ou os governos sem compreender que a responsabilidade é também sua. Porem seguindo seus caminhos de formação que se fundou na analise critica de sua pratica é que sempre nos desafia como educadores a tornar esse processo sempre permanente. Professor aprendi que ensinar envolve necessariamente estudar, é esse ciclo que nos torna eternos alunos.
As vezes assisto vídeos seus no Youtube, leio seus livros e artigos acadêmicos escritos sobre sua obra, defendo que eles deveriam ser mais lidos e estudados no Brasil como fazem hoje vários países pela Europa e America. Igual ao futebol no Brasil todos se consideram educadores e se permitem falar qualquer coisa sem ter estudado sua obra, mas como sabe é apenas mais um capitulo de um país escravocrata que não respeita a liberdade e os direitos da maioria da população tornando a reféns de seus privilégios, violências, desigualdades e corrupção ora de direita, ora de esquerda. Ate a educação querem que se torne refém dos militares, igrejas, elites econômicas e gangues partidárias. As elites brasileiras que produziram uma das maiores concentração de renda, violências e desigualdades do mundo merecem Bolsonaro, tão brutas e ignorantes quanto ele, infelizmente o povo brasileiro paga com suas vidas e mortes.
Me lembro de nossa ultima conversa quando me ensinava a estudar lendo seus livros ou sendo despertado por um acontecimento em sala de aula ou na vida. O despertar do fazer crítico, criador, recriador, que minha curiosidade e minha experiência intelectual me conduz aprender essa realidade relacionando os vários objetos e acontecimentos neles. Uma síntese dos contrários, o ato e estudar implica sempre o de ler mesmo que neste não se esgote. De ler o mundo, de ler a palavra e assim ler a leitura do mundo anteriormente feita como quando aqui escrevo essa carta para o senhor e outros lêem.
Por isso professor lhe peço! Não posso ultrapassar uma página desse minha carta se não consegui com relativa clareza, ganhar sua significação, nem os curiosos que lêem essa correspondência. Não gaste sua memória com isso, nesse momento somos sujeitos de leitura da compreensão à comunicação. Eu não poderia escrever essa carta sem usar os princípios pedagógicos que me ensinou. Associar a experiência escolar ao cotidiano mesmo que no processo de escrever uma carta como pratica pedagógica. Da leitura à realidade concreta do mundo tangível nos leva a “leitura” que precede a leitura da palavra e que perseguindo igualmente a compreensão do objeto se faz no domínio da cotidianeidade.
O senhor ainda lembra do exemplo da nordestina que discutia, em seu círculo de cultura, uma codificação que representava um homem que, trabalhando o barro, criava com as mãos, um jarro. “Criar o jarro com o trabalho transformador sobre o barro não era apenas a forma de sobreviver, mas também de fazer cultura, de fazer arte. Foi por isso que, relendo sua leitura anterior do mundo e dos que-fazeres no mundo, aquela alfabetizanda nordestina disse segura e orgulhosa: “Faço cultura. Faço isto.” Ler o jarro ao mesmo tempo que sua vida e sociedade é ampliar a visão critica e sistêmica que educa nosso ser. Professor essa carta é pequena diante de tantos diálogos e aprendizados que tenho a ler seus livros .
Escrever essa carta para o senhor me faz recordar que “ Dificilmente se repetiam os erros e os equívocos que haviam sido cometidos e analisados. A teoria emergia molhada da prática vivida. “ Cada parte dessa carta tenho a possibilidade de aprender com meus erros e equívoco do paragrafo anterior. Gostaria muito que o senhor compreendesse meu mundo particular, pois vivemos “ imersos na realidade de seu pequeno mundo, não eram capazes de vê-la. “Tomando distância” dela, emergiram e, assim, a viram como até então jamais a tinham visto. Misturando suas palavras com a minhas, seu contexto com o meu, vivo a experiência de educador e aprendiz nessa carta. Implique que eu me aventure, me arrisque, criando e recriando meu discurso.
Eu gostaria muito que os curiosos pudessem ler essa carta, seu texto e contexto, numa linguagem simples sem ser simplista. “Assim como um pedreiro não pode prescindir de um conjunto de instrumentos de trabalho, sem os quais não levanta as paredes da casa que está sendo construída, assim também o leitor estudioso precisa de instrumentos fundamentais sem os quais não pode ler ou escrever com eficácia. Dicionários, entre eles o etimológico, o de regimes de verbos, o de regimes de substantivos e adjetivos, o filosófico, o de sinônimos e de antônimos, enciclopédias. A leitura comparativa de texto, de outro autor que trate o mesmo tema cuja linguagem seja menos complexa.” Paulo suas palavras me educam mas com elas brinco em metáforas onde possa ressignifica-las e continuar nossa leitura do mundo.
A compreensão dessa carta “do que se está lendo, estudando, não estala assim, de repente, como se fosse um milagre. A compreensão é trabalhada, é forjada, por quem lê, por quem estuda que, sendo sujeito dela, se deve instrumentar para melhor fazê-la. Por isso mesmo, ler, estudar, é um trabalho paciente, desafinar, persistente. Não é tarefa para gente demasiado apressada ou pouco humilde que, em lugar de assumir suas deficiências, as transfere para o autor ou autora do livro, considerado como impossível de ser estudado. “ São leituras como essa que me incentiva todos os dias a dialogar com o senhor, a vida e o mundo. Sim Professor eu criei um blog já tenho mais de 820 artigos compartilhando essa jornada todos os dias independente de uma escola ou Universidade bancária. Lendo, vivendo e escrevendo.
É mais um vez o senhor antecipou nossos problemas que lhe falei no inicio da carta pois nas escolas falta bibliotecas e agora internet aos nossos alunos, “reivindicar esse material é um direito e um dever de professores e estudantes.” Alem do desafio politico temos que buscar “a leitura de bons escritores, de bons romancistas, de bons poetas, dos cientistas, dos filósofos que não temem trabalhar sua linguagem à procura da boniteza, da simplicidade e da clareza.” E a partir do conselho que recebi do senhor que resolvi escrever essa carta em reposta a sua para agradece-lo. “Pensando na relação de intimidade entre pensar, ler e escrever e na necessidade que temos de viver intensamente essa relação, sugeriria a quem pretenda rigorosamente experimentá-la que, pelo menos, três vezes por semana, se entregasse à tarefa de escrever algo. Uma nota sobre uma leitura, um comentário em torno de um acontecimento de que tomou conhecimento pela imprensa, pela televisão, não importa. Uma carta para destinatário inexistente. É interessante datar os pequenos textos e guardá-los e dois ou três meses depois submetê-los a uma avaliação crítica.”
Portanto Paulo no inicio da carta comentei que os nossos pais, tios e demais familiares continuam massacrados pela falta de uma educação de qualidade, mesmo a bancária que continua sem nenhuma ousadia pedagógica como a que senhor realizou em Angico. Milhões continuam sem concluir o ensino fundamental e analfabetos. A leitura e a escrita tem esse poder silencioso de mudar a história, inclusive as cartas e os livros prepararam a Revolução francesa como nos mostra o Historiador americano Robert Darnton. E sua cartas mudam a História se conseguimos compreender que as palavras ganham vidas e mudam pessoas.
“Recusando qualquer interpretação mecanicista da História, recuso igualmente a idealista. A primeira reduz a consciência à pura cópia das estruturas materiais da sociedade; a segunda submete tudo ao todo-poderosismo da consciência. Minha posição é outra. Entendo que estas relações entre consciência e mundo são dialéticas. O que não é carreto, porém, é esperar que as transformações materiais se processem para que depois comecemos a encarar corretamente o problema da leitura e da escrita. A leitura crítica dos textos e do mundo tem que ver com a sua mudança em processo.
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