SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

Domínio de sala de aula: Conhecendo cada aluno com princípios e práticas pedagógicas.


A igualdade das inteligências pode surpreender a todos colocando em suspenso a hierarquia dos títulos, nas Universidades ou nas Escolas. A educação é uma aventura na "floresta de coisas e signos” onde os números, as palavras, as artes, os poderes, nosso corpo, a natureza, as tecnologias, a espiritualidade nos desafiam a explicá-los e construir sentidos em nossas vidas. 



A curiosidade e as diversas formas de aprender de cada pessoa sempre será o caminho do despertar das inteligências, e da mesma forma que aprendemos a falar podemos aprender diversas ciências e linguagens para conhecer o mundo e expressar quem somos. Necessitamos tomar a palavra e expressar com igualdade, revelando nosso processo de aprendizado e conhecimentos. Claro que o tempo livre, não confundir com o tempo de descanso, é essencial para brincar com a vida e os saberes, dialogarmos com o mundo e com os outros, atuando como pequenas máquinas de destruir hierarquias e produzir igualdade de inteligências em um mundo desigual.



“No fundo, o que eu tentei fazer por meio da escrita foi romper as barreiras entre as disciplinas e entre palavras de cima para baixo, para constituir o que hoje gosto de chamar de planos de igualdade, esses pequenos tecidos de um mundo da palavra igualitária.” Hoje infelizmente a palavra liberada é das redes sociais, carregadas de ódio, uma palavra que é desigual e violenta que tem invadido a sala de aula por comportamentos “tik tok” e mimetismos múltiplos. Muitas vezes também queremos que os alunos aprendam de forma autoritária repetindo as palavras ou buscando decifrar nossas explicações de sábios. Quando devemos todos aprender e ensinar com a circulação das palavras, os cruzamentos de palavras, todas as formas de apropriação de palavras do outro, a cultura do outro sempre está no cerne de processos de emancipação, e pela fala e escuta do outro. Não existe a palavra dos intelectuais e a do povo. Somos todos intelectuais aprendendo com a igualdade das inteligências. Abrir disciplinas e buscar diálogo entre palavras e pensamentos que compartilham um ecossistema educacional, uma floresta de coisas e signos, onde todos partilham essa sensibilidade e aprendizagem uns com os outros.



Escrever e falar é pensar, carrega em si uma certa política, formas de compreender a si e sua relação com o outro e com o mundo. A igualdade não é algo que se acredita é algo que se vive e verifica em nossas relações. A igualdade rompe com métodos estabelecidos, exige o ato livre de criação e compartilhar ideias, é contrário ao ethos pedagógico sempre de disciplinar e determinar regras. Mudar o mundo necessita mudar a escola e para mudar a escola é preciso mudar o mundo. Por isso a conquista do tempo livre na escola e no mundo é central para a emancipação do ser. O tempo livre é uma prática autodidata quando as pessoas decidem dispor do tempo que não tinham.


 

A escola com 20 minutos de recreio sem espaços e brinquedos para brincar, focada apenas no conteúdo sem diversos princípios e práticas pedagógicas para educar, sem conhecer e compreender a singularidade de cada ser e como os processos econômicos e sociais impactam sua aprendizagem. Essa escola do século XXI é a mesma tecnologia social que foi inventada há mais de 200 anos quando a sala de aula era o único lugar para transmissão dos conhecimentos, isso era baseado nos mosteiros e os professores como padres. Não existiam livros, televisão, carros para viajar, computadores e agora celulares e inteligência artificial, tudo isso impacta a educação. Da mesma forma que a pobreza, o crime, a destruição de famílias e lares, o consumo, as redes sociais, a política das desigualdades e os fascismos. Hoje por onde andamos, o que falamos, ouvimos, vemos, e sentimos, produzem várias sínteses sensíveis que impactam a formação do nosso ser que não se resume à escola e seus conteúdos.


A educação não é um processo de aprendizagem das condições em que se deve obedecer e reconhecer inferioridades pelo domínio, grito e adestramento de conteúdos para avaliações. A oposição entre um saber útil e um considerado como não útil como vemos agora no novo ensino médio é a imposição de um modelo de servidão quando devemos preparar modelos e vidas de igualdade e liberdade. A escola hoje trabalha como um modelo de progresso do saber na marcha do tempo afirmando as desigualdades como seu processo de organização. A escola se torna uma espécie de modelo da sociedade, ou a sociedade, um modelo para escola. Há apenas a marcha do tempo, das coisas, o progresso, o desenvolvimento – e aqueles que acompanham e aqueles que não acompanham, aqueles que têm sucesso e aqueles que não tem sucesso. Há algo de terrível nisso aprendemos a obedecer e servir a quem desprezamos, a quem usa as violências e desigualdades para manter seus poderes, depois passamos a nos desprezar no sistema que legitima e impõe as desigualdades, passamos a nos considerar impotentes e incapazes, e nos acostumamos no lugar onde os poderes nos coloca. Isso não é educar! Usar esses poderes para ter domínio em sala de aula não é educar. Educar passa pela jornada de construção do domínio e autonomia de cada um em seus processos de aprender e expressar seu ser, necessitamos para isso ter princípios e práticas pedagógicas que aprendam a lidar com as diferenças em planos de igualdade de inteligências e sensibilidades.     



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