SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

terça-feira, 24 de junho de 2025

A Responsabilidade Moral Não É Coletiva.

 


Vivemos em tempos em que se tenta diluir a responsabilidade individual nas águas turbulentas de uma culpa coletiva. Como se o simples fato de fazer parte de uma sociedade imperfeita nos tornasse automaticamente cúmplices de seus homens. Recuso esse pensamento. A moralidade, para mim, é uma questão de consciência — e a consciência é pessoal, não hereditária, não estrutural, não socialmente imposta.

A ideia de que todos devemos carregar, de forma igual, o peso das injustiças que não cometemos é não apenas ilógico, mas profundamente injusto. Quem não agiu com malícia, quem não escolheu o erro, quem não teve intenção de ferir, não pode ser responsabilizado pelo mal. A ética verdadeira exige liberdade e escolha. Sem isso, não há culpa — nem méritos.

Quando dizem que a participação cívica é uma obrigação moral, me questiono: obrigações para quem? E definido por quem? O engajamento político pode ser admirável, claro — quando nasce da certeza, do desejo de contribuir, do zelo por aquilo que se crê. Mas quando é exigido como prova de pureza ética, transforma-se em coerção disfarçada de virtude. E a coerção nunca foi caminho de justiça.

O cidadão virtuoso não é aquele que grita palavras de ordem nas ruas, mas o que vive com verdade no íntimo, mesmo em silêncio. Não me convença esse moralismo que mede a retidão por engajamentos públicos. Há mais integridade, muitas vezes, em quem tem retidão no anonimato do que em quem defende causas por dever de imagem ou para escapar da “omissão moral”.

Sim, reconheço que existem injustiças. Não sou cega ao sofrimento alheio. Mas há uma linha entre a compaixão verdadeira e a canção emocional coletiva. Não se pode transformar toda a sociedade em réu, nem cada indivíduo em responsável por aquilo que não fez. Essa lógica é perigosa, porque apagou a responsabilidade real — aquela que vem da liberdade, da consciência e do caráter.

A participação cívica, quando nasce do coração, é bela. Mas só tem valor quando é escolha, e não exigência. Porque a ética imposta é moral sem alma — e nenhuma sociedade se sustenta sobre falsas queixas e obrigações forjadas.

Num mundo de vozes que acusam e dedos que apontam, ainda creio na dignidade de quem escolhe o bem em silêncio, sem aplauso nem patrulha. O verdadeiro progresso não veio da uniformização da culpa, mas da formação de indivíduos capazes de discernir e de escolher — livres, responsáveis, íntegros.

Só assim, cada um respondendo por si, podemos construir algo que valha a pena chamar de justiça. Porque, no fim, não há coletividade apenas sem indivíduos conscientes. E não há consciência onde há medo ou obrigações. Há apenas obediência cega – e essa nunca foi virtude.

Nenhum comentário:

Postar um comentário