SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

sábado, 21 de junho de 2025

Quando o Amor Expulsa o Medo

Durante muito tempo, acreditei que vencer o medo era uma questão de força, de arrojo, de enfrentar a fera com os dentes cerrados. Mas a coragem, por si só, ainda pode conviver com o medo. Ó amor, não.

“No amor não há medo; antes, o perfeito amor lança fora todo medo” (1 João 4:18).

Não o empurre devagar — lança fora. Expulsão. Dissolver. Porque onde há amor, presença há. E o medo nasce da ausência: de afeto, de segurança, de sentido.

Não é à toa que a Bíblia insiste tantas vezes: “Não temas.” Essa frase se repete como quem sabe que o medo paralisa, cega, distorce. Não é um chamado à ousadia por si mesma, mas um convite à confiança, à entrega, à certeza de que o amor d'Aquele que nos criou é maior do que qualquer sombra.

E não é à toa também que o primeiro mandamento seja:

“Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento” (Mateus 22:37).

Porque é o amor que nos firma, que nos sustenta, que nos lança para fora da caverna do medo. Porque o amor perfeito — esse que vem de Deus, que não negocia com o mal nem se apoia no orgulho — é maior do que qualquer sombra.

Quem ama a Deus dessa forma — com tudo o que é — encontra abrigo, e o medo perde seu domínio.

Amar é confiar que existe um sentido mesmo quando não há explicação.

É estender a mão mesmo quando não se vê nada à frente.

É enfrentar o escuro com cuidado, não com desespero.

"A coragem nasce do amor ao próximo, e só isso. Então não se preocupe em ser corajoso, pois a coragem é um resultado, não uma causa. A causa é amor ao próximo ou falta dele."

E fez ainda mais sentido. Porque quem ama atravessa o incêndio, não por valentia, mas porque sabe que há alguém do outro lado que precisa. É o amor que coloca o corpo à frente, não a vontade de ser herói.

Talvez por isso Jesus tenha dito que, ao lado do maior mandamento — amar a Deus sobre todas as coisas —, há outro semelhante: 'Amarás o teu próximo como a ti mesmo.' Não são degraus, mas fundamentos. Juntos, esses dois resumem toda a Lei e os Profetas.

O amor a Deus nos firma.

O amor ao próximo nos move.

E, entre um e outro, o medo não tem espaço.

Percebo então que a verdadeira coragem — aquela que permanece quando o chão treme — não nasce de músculos nem de estratégias, mas do coração que ama. Do coração que se importa mais com o outro do que consigo.

E, nesse amor, há descanso, há liberdade e há, finalmente, paz.

E, se o amor lança fora o medo, ele também revela quem realmente somos.

Jesus disse: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverem amor uns aos outros” (João 13:35).

Ou seja, não é o quanto sabemos, o quanto resistimos ou o quanto conquistamos — é o quanto amamos.

O amor não é um adorno de fé — é seu sinal vital.

E talvez seja por isso que o medo, quando encontra um coração cheio de amor, se dissolve: porque ali não há espaço para o ego, para a competição. Há entrega e comunhão.

Esse amor é um fruto do Espírito — e aparece como o primeiro da lista:

“Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, espera, fé, mansidão, domínio próprio” (Gálatas 5:22-23).

Não é à toa. O amor genuíno abre caminho para tudo o que é bom.

É o amor que traz paz, que gera estabilidade, que inspira domínio próprio — até mesmo nas situações mais difíceis.

É o amor que sustenta a coragem, porque é ele que nos tira do centro e nos faz ver o outro.

E amar, à luz da Bíblia, não é apenas sentir. É fazer. É ser.

"O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha.

Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor” (1 Coríntios 13:4-5).

Esse amor é resistente, constante, humilde — e profundamente ativo.

Um amor que luta, mas sem ferir.

Que suporta, mas sem suportar.

Que se faça, mas sem anular sua identidade.

Um amor que resiste ao medo porque se apoia na verdade.

Por isso, Paulo encerra esse mesmo capítulo dizendo:

“Agora, pois, permanece a fé, a esperança e o amor, estes três; mas o maior destes é o amor” (1 Coríntios 13:13).

A fé nos faz seguir.

A esperança nos faz esperar.

Mas é o amor que nos sustenta em meio ao caminho — e que jamais passará.

E, se amamos assim, é porque fomos amados primeiro.




“Nós amamos porque Ele nos amou primeiro” (1 João 4:19).

Nosso amor não é autossuficiente; ele nasceu do encontro com o amor de Deus.

“Deus é amor; e quem permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele” (1 João 4:16).

E onde Deus está, o medo não reina.

No fim das contas, não se trata apenas de ser forte, ousado ou destemido.

Essas virtudes são maravilhosas — mas só ganham sentido verdadeiro quando nascem do amor.

Quando estamos cheios de Deus e de amor, a força — embora forjada — vem sem precisar ser forçada ou fingida. A coragem, embora lapidada, não precisa se afirmar: ela apenas permanece. E o medo, silenciosamente, se retira. Porque já não encontra onde habitar.

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