SABERES TRANSDISCIPLINARES E ORGÂNICOS.

terça-feira, 5 de agosto de 2025

A Africa e o tarifaço.

 Logomarca da newsletter

Diversidade & Inclusão
4.851 subscribers

A África e o tarifaço

Mauricio Pestana
Membro do Conselho Administrativo da empresa Alicerce Educação, Presidente do Fórum Brasil Diverso, CEO do Grupo RAÇA Brasil de Comunicação, Vice Presidente do Conselho Administrativo ActionAid Brasil

O tema da semana indiscutivelmente foi o tarifaço imposto pelo governo Trump a vários países com os quais os Estados Unidos estão conectados economicamente. Entre eles está o Brasil, que tem aquele país como seu segundo maior parceiro comercial e uma promessa de taxação de alguns produtos em até 50%. Com uma retórica que envolveu questões políticas, econômicas e comerciais, os debates se sucederam muito no campo do nosso território brasileiro. Pouco se refletiu e debateu sobre outras economias, que não têm o poder de enfrentamento, mesmo que cauteloso, como o nosso. É a situação dos países da África, que, em alguns casos, são altamente dependentes da economia norte-americana.

O impacto gerado no continente africano tem sido devastador em diversos países, especialmente aqueles em desenvolvimento e mais pobres da África. Esses países enfrentam desafios econômicos e comerciais acentuados pelas medidas protecionistas americanas. O aumento das tarifas pode reduzir as exportações africanas para os EUA, afetando setores como agricultura, mineração e manufatura.

Os países africanos mais pobres são particularmente vulneráveis a essas políticas, devido à sua dependência do comércio internacional e à falta de diversificação econômica. Além disso, a imposição de tarifas pode desencadear uma série de retaliações e guerras comerciais, afetando a economia global. A incerteza econômica gerada por essas políticas pode levar a uma redução de investimentos estrangeiros, e eles não têm a que e a quem recorrer, o que será devastador.

Uma análise rápida da economia do continente mostra, por exemplo, que a África do Sul, que nem é das economias mais fracas, está sendo significativamente afetada pelas tarifas americanas. As exportações sul-africanas de produtos como frutas, vinhos e aço podem enfrentar barreiras adicionais no mercado americano. Isso pode levar a perdas significativas para o país e afetar a estabilidade econômica da região.

Outro exemplo de “não ter para onde correr” literalmente é o Lesoto, um reino montanhoso com 2,3 milhões de habitantes, totalmente cercado pela África do Sul, conhecido como a "capital do denim da África". O país tem uma economia fortemente dependente da venda de jeans para grandes marcas americanas, como Levi's e Wrangler. Apesar de ser um dos países mais pobres do mundo, de início foi o mais taxado por Trump, com uma tarifa de 50%.

Os impactos das tarifas também podem ser sentidos em outros setores, como o turismo e a infraestrutura. A redução das exportações e a incerteza econômica podem levar a uma diminuição dos investimentos em infraestrutura, afetando o desenvolvimento econômico a longo prazo. Além disso, a redução do turismo pode afetar a economia local e a geração de empregos.

Na guerra tarifária em curso hoje, em que os economistas do mundo afirmam que todos perdem, já se tem um diagnóstico de quem vai perder mais: os países pretos e pobres da África.

Artigo publicado originalmente na CNN Brasil

Nenhum comentário:

Postar um comentário