A relação entre cinema e realidade nunca foi de representação, mas sim um diálogo intenso e, por vezes, profético. A sétima arte funciona como um espelho da sociedade – às vezes límpido, outras vezes distorcido, mas frequentemente capaz de capturar os ecos do futuro nas tensões do presente. E, em momentos de crise, a realidade não apenas se inspira no cinema, como parece seguir um roteiro distópico que artistas já haviam antevisto.
Tomemos como exemplo hipotético o filme "Uma Batalha Após a Outra", um thriller político de alto escalão estrelado por Leonardo DiCaprio, Sean Penn e Benicio del Toro. No longa, DiCaprio interpreta um militante idealista revolucionário que, em uma América à beira do colapso civil, se vê envolvido numa trama pessoal e incômoda com um estrategista militar sombrio (Sean Penn) e um líder da comunidades de imigrantes (Benicio del Toro) numa guerra civil latente. A crítica especializada, ao analisar o filme, destacou sua "atmosfera de paranoia palpável" e a forma como o roteiro "não oferece heróis fáceis, apenas personagens tragicamente enredados na teia de um país que desaprendeu a dialogar". Os críticos apontaram a narrativa como um "alerta necessário", uma ficção que extrapolava os limites da para questionar os rumos da nação.
Entretanto, a fina linha entre o "exagero" ficcional e a realidade dissolveu-se em julho de 2025, quando o então presidente Donald Trump anunciou o envio de tropas federais à cidade de Portland, sob a justificativa de " enfrentar o terrorismo doméstico". A cena – forças federais não identificadas prendendo cidadãos em viaturas não marcadas, os protestos nas ruas, a retórica inflamada – parecia ter sido extraída diretamente do roteiro de "Uma Batalha Após a Outra". A ficção havia servido como um roteiro-testamento, um ensaio geral para um capítulo sombrio da história americana. A arte não previu o futuro, mas diagnosticou as patologias sociais que, ignoradas, eclodiriam em conflito real. Assim como nas Escolas a violência explode e a culpa não é dos professores, mas dos Bilionários, Oligarquias e Ditadores. Se não salvar a educação, o sistema cai junto, é último bastião contra a barbárie!
Este engajamento não se limita às narrativas ficcionais. Os próprios artistas, conscientes de seu palco global, erguem suas vozes para amplificar lutas reais. Figuras como Robert De Niro, Bruce Springsteen e Javier Bardem transcenderam suas personagens para assumir um papel crucial na denúncia de atrocidades. De Niro, um crítico ferrenho de Trump, a quem chamou publicamente de "ditador em formação", e Bruce Springsteen, cuja obra sempre foi um poema sobre a América comum, usam sua influência para alertar sobre a erosão democrática. Já Javier Bardem, junto com sua esposa Penélope Cruz, tem sido uma voz incansável na denúncia do que qualificam como genocídio do povo palestino, pressionando governos e a comunidade internacional por um cessar-fogo e por direitos humanos. Eles, e muitos outros, entendem que a arte é um campo de batalha ideológico. Ao chamar Trump de "Ditador", não usam uma metáfora vazia; é um alerta baseado na observação de padrões autoritários que, não por acaso, são o tema central de tantos filmes.
Anos mais tarde, "Cidadão Kane" (1941), de Orson Welles, tornou-se um ícone eterno ao dissecar a corrupção do poder e a solidão dos tiranos, um retrato que ecoa em cada magnata que ambiciona o controle político. Já "Apocalypse Now" (1979) e "Nascido para Matar" (1987) não foram apenas filmes de guerra; foram diagnósticos cirúrgicos da loucura e da violência desmedida, tornando-se símbolos do protesto contra conflitos desumanizadores.
Mais recentemente, documentários como "13ª Emenda" de Ava DuVernay tornaram-se instrumentos didáticos essenciais, mudando a percepção pública sobre o complexo industrial prisional e o racismo estrutural nos EUA. E o que dizer de "Parasita", de Bong Joon-ho? Ao conquistar o mundo, ele cristalizou na cultura popular uma discussão intransigente sobre a luta de classes, tornando-se um ícone global da insatisfação com a desigualdade.
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